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E-book260 páginas3 horas

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Sobre este e-book

"Quando eu era pequena, pensava que em algum ponto da vida eu chegaria ao topo da montanha. Sabe, o lugar onde você está finalmente feliz. A noite em que recebi aplausos em pé ao final da peça da escola, foi a noite que atingi o topo. O problema é que ninguém nunca me disse que eu deveria descer a montanha também."

Finalmente, tudo está dando certo para a Jazmine Crawford, de 13 anos. Após ser invisível por anos, ela está fazendo amigos, conversando com sua mãe e saindo com o Liam. Mas o que acontece quando todos a sua volta mudam? Retomar o contato com sua avó irá ajudá-la ou apenas piorar a situação? E quem irá fazer com que a arrogante Angela receba o que ela merece?

IdiomaPortuguês
Data de lançamento27 de abr. de 2021
ISBN9798201829735
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    Pré-visualização do livro

    Invencível - Cecily Anne Paterson

    Capítulo 1

    No dia após tudo acontecer, eu começo a sonhar.

    Não estou falando sobre, "siga seus sonhos ou sonhe grande a alcance o alto", nem esse tipo de coisa que as pessoas escrevem em fotos de nuvens, montanhas ou gatinhos enfrentando enormes bolas de lã e postam por toda a internet. Estou falando de sonhos específicos, noturnos. Sonhos que falam, lutam, viajam. Sonhos que se lançam sobre você, agarram-no pelo cabelo, amarram-no à cama e então saltam em seu peito até doer.  

    Pesadelos. 

    Vocês poderiam pensar que, depois da morte do meu pai, eu teria sonhado com isso. Poderiam achar que, depois de nos mudarmos tantas vezes, eu visitaria as casas antigas enquanto durmisse. Poderiam imaginar que, depois de todo o bullying na escola, eu teria algum tipo de material para o meu cérebro reproduzir quando as luzes se apagassem. 

    Mas, não. Eu não sonhei, pelo menos não que eu tenha me lembrado na manhã seguinte, desde o funeral do papai. Durante quatro anos minha mente esteve quieta e vazia. Eu ia para a cama, fechava os olhos, revirava um pouco e levantava na manhã seguinte.

    Até agora.

    Agora estou compensando pelo tempo perdido. Eu sou uma passageira noturna em busca de um passeio mal-assombrado. Um diferente a cada noite. Eu acordo no escuro, ofegante e exausta; coberta de terror ou horror, dependendo da especialidade do passeio.

    Algumas noites, pessoas sem rostos me perseguem por shoppings e tentam me matar.

    Outras vezes, monstros com caudas verdes e olhos negros escorrendo pus me seguem por florestas e tentam me matar. 

    Outras noites, estou andando com meus amigos; Gabi de um lado, Liam de outro. Dou um passo atrás por um minuto, chamo-os para observar uma árvore exótica, com folhas azuis vibrantes, e quando eles se viram, seus olhos estão ameaçadores e eles tentam me matar.

    As noites em que tenho um descanso de toda a matança e morte são as que estou no meio de uma tempestade num afloramento rochoso, no topo de uma montanha. O vento uiva e a chuva quase me derruba, mas continuo no topo, olhando para as nuvens de tempestade abaixo. Nessas noites eu sei que venci, mas o sonho não temina aí. Ele se arrasta continuamente enquanto eu desço pela superfície da rocha; meus pés sobre pedras cobertas de musgo e, em seguida, abro caminho pela floresta lamacenta, suja e úmida, até ver a luz nas árvores. 

    Acordo com a claridade do sol, suada, cansada e levemente sem fôlego.

    Quando eu saio da cama, o piso de linóleo sob meus pés é surpreendentemente reconfortante. Há uma aderência em cada passo, um aperto minúsculo com os dedos do pés. Como se minhas solas estivessem se agarrando ao que é sólido, agradável e real.

    Na manhã após a primeira noite de sonhos, conto tudo para minha mãe. Ela está sentada sonolenta com seu roupão, ambas as mãos abraçando uma xícara de chá; na mesa uma tigela de cereal intocada.

    — E então foi tipo, eu não sei, meio que era real, mas na verdade não era, se é que me entende? — eu disse.  — É muito difícil de explicar. E então a coisa do tubarão se transformou em uma pessoa e eu simplesmente sabia que era meu inimigo, embora não tivesse realmente falado com ele.

    Mamãe arregala os olhos. Ela faz uma expressão de incerteza.

    — Parece assustador. Você está bem, Jazmine? — ela também faz sinais porque estou sem meu aparelho auditivo e apenas fazendo leitura labial.  — Tudo bem?

    — Sim — respondo. Mas, na verdade, não sei se isso é verdade, pois é tudo tão novo e intenso. Meu corpo parece conectado, ligeiramente vivo. Como se alguém tivesse penteado meu cabelo quinhentas vezes, picado minha pele com mil afinetes e iluminado meus olhos com luzes.

    Eu estou bem? Eu... alguma coisa. Só não sei o quê.

    A caminho da escola, sigo com os resquícios das aventuras noturnas malucas desde o ônibus até o pátio, onde as deixarei para que sejam pisadas, desmembradas e aterradas por mil pés indiferentes.

    Liam agora passou a me esperar no portão para que possamos entrar juntos. Gabi normalmente chega atrasada, mas sua entrada não passa despercebida. Hoje ela está usando uma meia listrada de arco-íris em volta da cabeça. Eu sei que é uma meia e não um lenço porque tem dedos, eles estão pendurados perto de sua orelha.

    — Você amou? — ela pergunta apontando para a cabeça. — É uma ótima ideia, não é?

    — Gabi, é uma meia — responde Liam. — Você está usando meia calça na cabeça.

    — Meia calça? — diz Olívia, que estava próxima.

    Sua irmã gêmea, Caitlin, dá uma risadinha.

    — Você usou a palavra meia calça?

    — Minha mãe trabalha na Myer — diz Liam. Ele parece ofendido, mas não sei dizer se está fingindo. — Sou especialista, sei tudo sobre todas as seções das lojas de departamento. Lingerie, cama, mesa e banho, chapelaria...

    Erin, sentada perto das gêmeas, revira os olhos; Dan, amigo de Liam, dá um gemido. 

    — Cama, mesa e banho?

    — Chapelaria?

    — Eu acho fofo, Gab — digo. — Combina com você.

    — Há! Viram só? — exclama Gabi, triunfante. — Sempre posso contar com você para ter a opinião certa — ela me diz. — Diferente de certas pessoas — ela encara Liam, mas sem maldade, e então faz uma pose. — Viram? Estou começando uma tendência. Ao final do dia todos — ela gesticula ao redor da escola — estarão usando meias na cabeça. 

    Eu sorrio para ela.

    — Você é engraçada.

    Ela franze os lábios e finge me mandar um beijo antes de dar um tapa nas mãos de Dan para ele não tocar na meia, a qual está tentando arrancar de sua cabeça.

    — Cai fora! — ela berra. — Está fora do seu limite. Apenas eu posso tocar.

    Eu observo seus olhos, brilhando com humor. Os de Liam, igualmente. Ele está provocando Gabi, tentando tirar sua meia, mas é apenas brincadeira, é amigável. É um pequeno alívio. Não que eu pensasse que eles realmente me matariam, mas, desde que os sonhos começaram, existe uma interrogação no fundo da minha mente. 

    Posso genuinamente confiar neles? Ou então, o que me assusta ainda mais: Por que o meu subconsciente estaria pensando nessas coisas?

    Liam invade meus pensamentos.

    — Beleza, então nos vemos mais tarde? Você vai para a cantina no intervalo?

    — Hum... não — respondo. — Minha mãe preparou bacon e rolinho de ovo para mim.

    — Encontro-a do lado de fora do bloco C, então. Você tem inglês, certo? Podemos ir juntos.

    Eu franzo a testa ligeiramente. Não me importaria de andar sozinha de vez em quando.

    — Está bem — digo mais em tom de pergunta do que de resposta.

    Ele não percebe e vai embora.

    — Depois mando mensagem.

    Abro a boca para falar, mas acabo acenando. Meu celular se tornou um problema. Antes, quando eu era a senhorita sem amigos, eu o usava quando precisava, praticamente nunca. Agora, minha mãe levanta as sobrancelhas toda vez que peço mais crédito, o que é sempre. Ela paga, é claro. Acho que ela tem medo de não fazê-lo. Para ela, manter a Jazmine feliz e sociável é uma questão. Uma grande questão. Algo que ela não vai atrapalhar. Às vezes eu imagino se isso vai durar, provavelmente ela também. E não estou falando sobre o celular, falo sobre a felicidade.

    Mas não há motivos para acreditar que será apenas algo temporário. Desde a produção da peça, Liam e Gabi têm estado ao meu lado o tempo todo, inclusive depois da escola. Eu sou uma parte do grupo deles. As pessoas me conhecem, mandam mensagens.

    De Gabi: Ei, você tem alguma meia de arco-íris? Quer usar amanhã comigo? Beijossssssssss.

    De Liam: Você deveria vir aqui em casa esta tarde. Podemos voltar juntos.

    De Gabi: Inacreditável! Você não vai acreditar no que aconteceu. Conto no intervalo.

    Olho minhas mensagens por debaixo da mesa. Minha bateria está fraca, cerca de 6%. Esqueci de carregar durante a noite. Não devemos trazer os celulares para a aula, mas todos trazem. A maioria dos professores ignora, porém a senhorita Patel fica brava e eu não quero aborrecimentos. O mínimo que posso fazer é poupar minha mãe de ter que vir me encontrar na sala no diretor. Depois que todos os problemas terminaram no semestre passado, ela me fez prometer que não haveria mais nenhum.

    — Apenas me conte o que está acontecendo — ela disse quando veio me encontrar nos bastidores depois que a peça acabou. Ela me abraçou, ainda emotiva e em lágrimas após os aplausos de pé e o burburinho da pós-produção. — É tudo que eu quero. Preciso saber o que está acontecendo — então ela fez em sinal para que apenas eu entendesse. — Mesmo se for ruim.

    — Você também — eu agarrei seus braços. — Nunca mais quero ter segredos.

    Então começamos tudo novamente. Vida, fase dois. As coisas são mais simples quando você não esconde nada.

    Exceto pesadelos.

    Eu respiro com dificuldade quando penso neles, um pouco enjoada. Eles não são algo que eu possa contar aos meus amigos. Ei, galera, adivinhem? Na noite passada, eu fui perseguida por um humanoide assustador com máscara de couro e cavidades oculares afundadas. Ele me encurralou nas lojas e ameaçou me esfaquear a noite toda, até eu acordar. Na noite anterior, eu estava em um barco a remo numa tempestade violenta em meio a uma onda gigante em um oceano que ficava mais cruel, barulhento e assustador a cada segundo. Ah, claro, e na terça vocês estavam prontos para me matar. Entãoooo... vocês acham isso normal? Nem um pouquinho?

    Eu imagino os olhos da Erin piscando levemente, seu rosto se virando e ela mudando de assunto. As gêmeas imediatamente iriam relatar um dos seus sonhos (aparentemente combinados) de quatro anos atrás. Liam educadamente faria uma ou duas perguntas, mas os outros garotos ergueriam as sobrancelhas, diriam algo alto e impetuoso e, em seguida, representariam a facada em alguém na grama, acrescentando mais horripilaridades. 

    A Gabi... bem, não sei o que ela faria.

    Talvez eu arrisque contar para ela. Só vou ter que esperar até que ela respire fundo entre as frases porque agora, mesmo enquanto come seus queijos e biscoitos, Gabi está com a corda toda.

    — Você não vai acreditar de jeito nenhum no que aconteceu. Quer dizer, eu esperava que a Angela dissesse algo desse tipo. Ela faria isso, certo? Algum comentário com sua voz esnobe... nem sei o quê. Mas então a senhorita Eltham chamou minha atenção. Tipo, eu não pude acreditar. Ela olhou para minha cabeça e disse:  tire isso, Gabi. Desse jeito, com aquela voz rígida. Apenas tire isso, Gabi. Então eu perguntei o porquê. Ela disse que não faz parte do uniforme da escola.

    Gabi joga sua bolsa na grama com um floreio e dá outra mordida no biscoito. Na verdade, ela deveria atuar, seria incrível. Eu fico parada, esperando ela continuar. Não preciso esperar por muito tempo.

    — Então eu disse para a senhorita Eltham, desse jeito, com essa voz, bem gentil e tudo mais: mas, senhorita, é permitido usar acessórios no cabelo. — Sério, eu fui muito educada, mas ela apenas disse: Gabi, é uma meia na cabeça — Eu disse: Não, senhorita. É uma declaração de moda. ­— E ela me mandou tirar, senão eu teria que ditar a minha moda para o diretor

    Ela faz uma careta, enfia o resto do queijo na boca e se joga no banco.

    — Ah, e claro que a Angela arrogante estava rindo de mim, então eu me virei e a olhei de cara feia. Ela é uma... — Gabi vira o rosto e sua voz se torna um resmungo baixo que eu não consigo entender. Ela murmura algo e, mesmo não conseguindo ler seus lábios, sei o que ela está dizendo. Angela tem sido grosseira com a Gabi desde o último semestre, principalmente por causa da atitude dela comigo na peça e tudo o que aconteceu. Eu tento ignorar, mas a Gabi reage fortemente.

    — Você tirou a meia? — pergunta Olívia, preocupada.

    — Você não quer ver o Sr. Barry — acrescenta Caitlin, parecendo verdadeiramente assustada.

    Gabi limpa as migalhas do rosto antes de tirar a meia de arco-íris da sua bolsa e sacudi-la na frente das gêmeas.

    — Não tive escolha, tive que tirar, mas não pude acreditar. Quer dizer, beleza, é uma meia, mas ela se torna um enfeite de cabelo se eu a uso na cabeça, certo? É um acessório.

    — Sinto muito — digo. — De verdade. É bonitinha.

    Ela faz uma careta.

    — É mesmo, não é? Iria virar tendência. Na próxima semana, todos, até a estúpida da Angela, estariam com uma meia na cabeça.

    — Você quer dizer acessório — comento sorrindo. Estou definitivamente melhor em fazer piadas. 

    Ela me acerta com a meia.

    — É claro. Um acessório.

    Ocorre um breve silêncio. Um daqueles momentos em que a conversa acaba, mas ninguém começa a dizer nada novo. Não é normal para a Gabi. Ela consegue falar, e falar, e falar. Às vezes eu acho que ela não deve ter nenhum segredo, tudo simplesmente escapa de sua boca. Talvez eu devesse aprender com ela. Sento-me mais ereta e decido que sim, vou falar sobre os sonhos. Vou mesmo. Abro a boca, respiro fundo e quase começo, mas sou interrompida. É o Liam. Ele se inclina e bate no meu joelho para que ter certeza de que estou ouvindo.

    — E aí, você vem? — ele pergunta, olhando para mim, atento. — Esta tarde. Acho que deveria.

    Eu ajusto meu aparelho auditivo ligeiramente. A voz dele não é tão alta como a da Gabi.

    — Tenho que ver com minha mãe — respondo. — Mas acho que não tem problema.

    — Legal — ele sorri e seus olhos azuis perfuram meu coração.

    — Ótimo — eu sorrio de volta estupidamente. — Vai ser ótimo — Os pesadelos, de todas as formas e tamanhos, arrastam-se desajeitadamente para uma sala nos fundos do meu cérebro, onde eles se chocam, esmagados e amontoados. Eu fecho a porta e giro a chave.

    Mais tarde.

    Capítulo 2

    Nas tardes em que vou para a casa de Liam depois da escola, eu o deixo segurar minha mão quando estamos longe o suficiente da escola e ninguém possa nos ver. Hoje, ele me leva por um caminho diferente.

    — Aonde vamos? — pergunto. — Não atravessamos aqui?

    — Você vai ver — ele responde; está misterioso e no controle.

    Um pouco mais adiante, ele me puxa para um pequeno parque. Já havia passado por ali antes com minha mãe, mas nunca parado.

    — Olhe isso! — ele exclama. — Você gosta de jardins, certo?

    Na nossa frente está uma grande árvore com galhos ramificados, mas sem folhas. Apenas uma massa enorme e encantadora de florzinhas rosas e brancas. Parecendo um vestido de festa.

    — Uau! — exclamo. Mal consigo falar. Ando em direção a ela, paro embaixo e olho para cima. O céu azul da primavera cintila nos pequenos espaços entre as flores. Inspiro, longa e profundamente. Reconheço o cheiro, mas não consigo lembrar de onde.

    — Brisa doce — digo sonhadoramente. — Isso é uma cerejeira?

    Liam ri.

    — Quem se importa? Não tenho ideia.

    Eu alcanço um galho acima da minha cabeça e cuidadosamente colho um ramo de flores minúsculas.

    —Vou para casa pesquisar — digo voltando-me para Liam, mas, de repente, ele está bem ao meu lado. — Vê como são bonitas?

    Estendo as flores, mas ele nem olha. Em vez disso, agarra minha cintura e chega perto do meu rosto.

    — Não ligo para as flores — ele diz. — Prefiro olhar outra coisa.

    Ele se inclina e me beija, e tudo que consigo pensar é que este provavelmente é o beijo mais romântico que terei, aqui, sob esta tenda de cor e luz. É lindo, mas não é. É esquisito. Quero olhar para cima novamente e aproveitar o lugar, ficar de mãos dadas e talvez até dançar um pouco, mas Liam está pressionando seus lábios contra os meus, com mais força e por mais tempo. Tento fugir e respirar fundo, mas ele não deixa.

    — Não pare — ele diz agarrando minha blusa e colocando as mãos nas minhas costas. Suas palavras estão abafadas.

    Eu sinto um leve pânico invadindo meu estômago. Eu o afasto com firmeza, mas tento descontrair.

    — Sua mãe vai se perguntar onde nós estamos — digo com leveza limpando minha boca com as costas da mão. — Talvez devêssemos ir.

    — É com isso que você está preocupada? — ele pergunta com uma expressão de desdém. — É só a minha mãe. Se meu pai estivesse lá eu me preocuparia um pouco, mas ele está longe. Ela não conta. Podemos fazer o que quisermos. — Ele dá um passo para trás e estende a mão para mim. — Vamos.

    Eu tiro suas mãos da minha cintura e as seguro em vez disso.

    — Não sei — respondo.

    Estou envergonhada. Não é que eu não goste de beijar. Eu gosto. Na primeira noite da produção de O Jardim Secreto no semestre passado, aquela terrível noite de verdades, lágrimas, risos e felicidade, foi quando Liam me beijou pela primeira vez.

    Distantes dos aplausos, nós dançamos com os pés flutuando, sorrisos brilhantes e corações inflados. 

    — Isso, muito bem! — Liam cumprimentou o elenco que esperava para parabenizá-lo. — Foi incrível, pessoal, um trabalho fantástico! — eu o segui, meu rosto brilhava e sorria.

    — Valeu, obrigada — eu disse repetidas vezes. 

    Ondas de rostos e correntes de palavras fluíam ao meu redor. De repente, havia tantas pessoas, tanto barulho e tantas luzes. O sorriso permaneceu no meu rosto, mas por baixo dele eu estava com medo. Meu sorriso era forçado, meus olhos estavam com medo. Talvez tenha sido tudo o que eu passei naquele dia, talvez eu estivesse cansada, ou talvez não tivesse sido feita para ser uma atriz famosa. O que quer que fosse, sentia-me tonta. Fora de área. Sem ar.

    Liam virou-se em meio a multidão e o falatório. Ele deve ter visto meu rosto ficar pálido porque agarrou meu pulso e me puxou para trás.

    — A Jaz precisa se sentar — sua voz arrastou-se através dos túneis de nuvem em meu cérebro. Ele deve ter falado alto. Com força. — Saiam do caminho, preciso levá-la para dentro.

    Ele me arrastou para o camarim vazio, exceto por algumas fantasias no chão e algumas cadeiras ao lado de um

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