Nós o Povo, Consentindo a uma Democracia mais Profunda
De John Buck e Sharon Villines
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Sobre este e-book
A segunda edição foi publicada a 7 de Setembro de 2017. Tem ~450 páginas ainda que nem todas as secções precisem de tradução já que são específicas dos EUA.
A Sociocracia é um método de governação e desenho organização baseado na colaboração e tomada de decisão por consentimento. O método evoluiu a partir dos métodos de tomada de decisão dos Quaker e foi então integrado com a cibernética e pensamento sistémico para o trazer para o mundo corporativo. O livro inclui o texto a explicar a história e a teoria, 3 textos originals de sociólogos e empreendedores que desenvolveram as ideias, estatutos de exemplo para empresas e organizações sem fins lucrativos, guias para usar as técnicas, um glossário, uma bibliografia e um index. Este é o único livro sobre este tópico e deverá estar disponível durante muito tempo.
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Nós o Povo, Consentindo a uma Democracia mais Profunda - John Buck
LOUVORES À SOCIOCRACIA E À PRIMEIRA EDIÇÂO DO LIVRO NÒS O POVO
A sociocracia é a melhor abordagem, que eu vi, ao design organizacional em vinte anos de consultoria.
Ira Chaleff, Presidente de Executive Coaching & Consulting Associates
A nossa compreensão de como o mundo funciona foi fundamentalmente alterada quando o modelo mecânico de sistemas lineares fechados foi substituído pela cibernética e teoria de complexidade. A sociocracia é um método de governação que utiliza estas novas ciências para desenhar organizações que são tão poderosas, auto-organizadas e auto-correctivas tal como o mundo natural, incluindo as abelhas.
A Declaração de Independência dos Estados Unidos da América certifica que todos os seres humanos são criados igualmente e com os mesmos direitos inquestionáveis de vida, liberdade e a procura da felicidade. Em prática, contudo, estes direitos existem apenas para a maioria, os ricos ou proprietários. Nós o Povo explica como a sociocracia assegura estes direitos para todas as pessoas. A sociocracia partilha os valores da democracia, mas desenha organizações mais inclusivas e eficientes. Faz com que negócios orientados ao lucro sejam mais rentáveis e com que organizações sem fins lucrativos sejam mais eficazes. E com que todas as pessoas sejam mais felizes.
No nosso trabalho com comunidades religiosas e organizações sem fins lucrativos, a sociocracia provou ser profundamente eficaz na melhoria das relações de trabalho e produtividade. Mostrando a ambos o como e o porquê, este livro define o caminho.
Dr. Kent Smith, Professor CHARIS, Universidade Cristã de Abilene, Abilene, Texas
Enquanto marinheiro na Marinha, questionava porque é que os oficiais não ouviam as nossas ideias. Como oficial, questionava-me porque é que não conseguia que os marinheiros partilhassem as suas ideias comigo. Com mais de 20 anos de experiência, posso dizer-lhe que a sociocracia resolve este problema pelos dois lados.
Richard Heitfield, Presidente, Creative Urethanes, Winchester, Virginia
A sociocracia é um processo que parece natural. É como obter um novo jogo da loja de brinquedos. Em alguns jogos você sofre a tentar perceber o livro de instruções. Noutros jogos começa a jogar em 15 minutos - a sociocracia é como estes últimos. Uma pessoa que chega a uma empresa consegue rapidamente adaptar-se.
Joe Garrison, Padaria e Café Blue Scorcher, Cooperativa de Trabalhadores, Astoria, Oregon
Nós vemos que a sociocracia é um modelo muito melhor entre os adultos na nossa escola porque estamos a ser mais criativos e a trabalhar juntos de uma forma muito melhor do que antes
Renee Owen, Diretor Executivo, Escola Comunitária Rainbow, Asheville, North Carolina
Nós adoptámos a sociocracia há 15 anos atrás e de repende tinhamos as pessoas com energia empoderadas e a fazer decisões. Tínhamos menos reuniões, as nossas decisões eram melhores e a concretização era mais forte porque todos estavam envolvidos.
Paul Kervick, Presidente, Living Well Group, Vermont
A sociocracia reforça a nossa forma transparente de trabalhar e melhora o compromisso de todas as pessoas.
Paul Stork, Diretor, Strategic Design Agency Fabrique, Netherlands
Sociocracy.info
6827 Fourth Street NW Room 213
Washington, DC 20012
contact@sociocracy.info
Copyright © 2017 John Buck, Sharon Villines
Tradução coordenada por Diogo Cordovil da Silva Cordeiro
Todos os direitos reservados incluindo o direito de reprodução total ou em parte em qualquer forma.
ISBN: 978-0-9792827-5-1 (eBook, Portuguese)
Nós o Povo: Consentindo a uma Democracia Mais Profunda, Um guia para os métodos e princípios sociocráticos / por John Buck e Sharon Villines
Segunda edição, revista e expandida
Includes illustrations, appendices, glossary, index.
Buck, John
Villines, Sharon
Endenburg, Gerard
Boeke, Kees
Boeke, Beatrice
Ward, Lester Frank
Cordeiro, Diogo Cordovil S.
1. Sociocracy. 2. Organizational Design. 3. Leadership. 4. Dynamic Governance. 5. Effective Management. 6. Cybernetics.
Créditos da capa: Abelhas © por Sharon Villines
Citações da Capa de Honeybee Democracy (Democracia das Abelhas) por Thomas D. Seeley.
Ilustrações 4.1, 5.1, 6.3, e 8.1 usadas com permissão do Sociocratisch Centrum; re-desenhadas e digitalizadas por Jason Forrest.
NOTA DOS TRADUTORES E REVISORES
A tradução deste livro para a língua portuguesa resulta de uma colaboração entre pessoas de dois países onde a língua portuguesa é a língua oficial (Brasil e Portugal). Procurou-se assim seguir o acordo ortográfico na maioria das vezes e em alguns casos, utilizar palavras que podiam ser compreendidas nos dois países.
Ainda assim, a decisão por optar por uma variante ou outra (entre português de Portugal e do Brasil) foi oscilando ao longo do processo, tendo-se decidido procurar fazer duas versões. Como a maioria dos tradutores que se juntaram eram de Portugal, optou-se por avançar primeiro com a tradução para português de Portugal. Fica em aberto a possibilidade de adaptação/tradução para Português do Brasil.
Este processo de tradução adotou princípios de transparência, autogestão das traduções e revisões, tendo-se realizado algumas reuniões de círculo, estabelecido um livro de registos e tomado várias decisões por consentimento.
Para qualquer questão e sugestão relacionada com as traduções, por favor contactar o coordenador das traduções.
Coordenação de Processo de Tradução
Diogo Cordovil S. Cordeiro – diogo@diogocordeiro.pt
Responsável pelos registos
Marianne Osório
Tradutores
Diogo Cordovil S. Cordeiro
Sónia Torres
Natália Santos
Maria Poppe
Marianne Osório
Rita Norte
Amandine Gameiro
Revisores
Diogo Cordovil S. Cordeiro
Marianne Osório
Graça Gonçalves
Conteúdos
Sobre este Livro
Sobre os Autores
PARTE I: Revisitando a Governança
Capítulo 1: Porque Precisamos de Outra -ocracia
– por John Buck
Capítulo 2: Porque Precisamos de Outra -ocracia
– por Sharon Villines
Capítulo 3: A ideia de uma Sociocracia
Capítulo 4: Cibernética & Sociocracia
PARTE II: Religando o Poder Organizacional
Capítulo 5: Tomada de Decisão Inclusiva
Capítulo 6: Desenvolvendo Qualidade
Capítulo 7: Dirigir & Estruturar
Capítulo 8: Novas Estratégias de Liderança
Capítulo 9: Organizações Livres & Auto-Otimizadas
PARTE III: Organizando as Nossas Forças
Capítulo 10: Círculos & Implementação
Capítulo 11: Consentimento & Rondas
A História de Sara por Tena Meadows O’Rear
Capítulo 12: Elegendo Pessoas
Capítulo 13: Organizar o Trabalho
Capítulo 14: Dinheiro como Medida
POSFÁCIO
Convite para Partilhar
Centros Sociocráticos, Formação & Consultores
ANEXOS
Sociocracia por Lester Frank Ward
Sociocracia: Democracia como ela Pode Ser por Kees Boeke
Razões para uma Nova Estrutura Social por Gerard Endenburg
Sociocracia para Um por Sharon Villines
Estatutos para uma Empresa Sociocrática
Estatutos para uma Organização Sociocrática sem fins lucrativos
Guias para Implementar a Sociocracia
O Processo de Implementação
Círculos e Agentes
O Processo de Eleição
Reuniões de Círculo
Rondas
Desenvolvimento de Políticas
Resolver Objeções & Construir Consentimento
Conceber o Processo de Trabalho
Guia para Livros de Registos
GLOSSÁRIO
BIBLIOGRAFIA
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EM MEMÓRIA DE
Kees e Betty Boeke
Anna e Gerardus Endenburg
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Sobre este Livro
Nós, o Povo apresenta um método de governança que dá às pessoas o poder de consentir ou objetar às condições sob as quais elas vivem e trabalham. Como a democracia, valoriza a liberdade e a equidade. Contudo, ao contrário da democracia, não é baseada na regra da maioria, no voto, ou na liderança autocrática. A sociocracia está desenhada para permitir que grupos de pessoas governem-se a si próprios colaborativamente — partilhando conhecimento, resolvendo problemas e construindo consentimento. Como isso é feito é a história neste livro.
O nome desta forma de governo é sociocracia, pronunciando-se socio- como em sociologia e –cracia como em democracia. Em francês, a língua em que foi criada, escreve-se sociocratie e na raiz em latim, socio ou socius, significa companheiros
. Assim, sociocracia está desenhada para que companheiros ou associados possam governar-se a si próprios colaborativamente como sócios numa sociedade.
AS ABELHAS
As abelhas espalhadas ao longo do texto foram inspiradas pelo excelente estudo Democracia das Abelhas, sobre as sociedades de abelhas surpreendentemente bem organizadas. O autor, Thomas D. Seeley, tem observado abelhas desde que era criança e continuou a estudá-las como professor na Universidade Cornell.
Num estilo autobiográfico com a precisão e detalhe de um cientista, Seeley explica em Democracia das Abelhas como as abelhas funcionam colaborativamente rumo a um único objetivo, delegando tarefas e tomando decisões por consentimento. A cada ano, à medida que o número de abelhas ultrapassa o tamanho da sua colmeia, milhares saem da colmeia e formam um enxame noutro lugar – numa planta ou poste de uma vedação.
Um grupo muito menor, com cerca de 400 abelhas, voa para fora da colmeia em diferentes direções para procurar uma nova casa. Elas retornam ao enxame para discutir o que encontraram, descrevendo e discutindo os méritos de cada descoberta através de uma dança peculiar. Em seguida, membros do grupo visitam os locais mais promissores e voltam para o debate. As abelhas dançam e visitam os vários locais até que todas os argumentos tenham sido apresentadas e todas as inspeções tenham sido feitas, então se estabelecem-se num local.
AS ABELHAS SÃO AUTO-ORGANIZADAS
Numa base diária as abelhas auto-organizam-se para completar todas as tarefas diárias trabalhando em uníssono. Não há hierarquia. As abelhas realizam tarefas de acordo com a sua idade e constituição genética. Apenas as abelhas mais velhas colhem néctar e pólen, por exemplo. Quando as coletoras voltam à colmeia outras abelhas processam o néctar em mel. O pólen coletado é uma fonte de alimento altamente energética para a rainha, para as trabalhadoras e para as abelhas emergentes. Há abelhas que que tomam conta da rainha e abelhas que fazem cera. Quando há falta de abelhas para uma tarefa, as outras desenvolvem as competências necessárias para a realizar. Além disso, as abelhas mais novas crescerão mais depressa para, por exemplo, realizar a colheita mais cedo caso a colmeia precise de mais comida.
A rainha pode pôr 2000 ovos por dia. Apesar de ela ser o centro do crescimento da população da colmeia, ela não é uma governante como o termo Rainha
pode sugerir. Não há hierarquia. Além da dança e do bater de asas serem usados para comunicar sobre uma potencial colmeia nova, também são usados para indicar fontes de alimento. Outros movimentos do corpo indicam outras necessidades.
Nós não estamos dizendo que elas se comportam sociocraticamente, mas que a sociocracia é baseada no estudo de sistemas biológicos e na forma como estes são organizados para se auto-sustentarem. Este estudo, conhecido como cibernética, é a base teórica para o método do círculo sociocrático. Estudando o mundo natural nós temos aprendido a desenhar organizações mais sustentáveis que também são auto-organizadas e auto-governadas.
O QUE É UMA BOA GOVERNANÇA?
A palavra governar significa dirigir
, como os marinheiros dirigem os seus barcos para um porto seguro. Os pilotos dirigem aviões. Como povo, nós dirigimos os nossos governos, os nossos líderes e a nós mesmos. Governança é o que nós fazemos quando nós tomamos decisões sobre o nosso futuro e depois implementamos essas decisões. São os acordos que fazemos sobre como iremos viver e trabalhar juntos. A governança sociocrática é auto-governança, nos governarmos como uma sociedade.
A qualidade da governança das nossas organizações, cidades e nações determina se nós iremos atingir os nossos objetivos, ou se iremos falhar. As Nações Unidas, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial reconhecem oito características de uma boa governança:
❖ Participativa
❖ Legislada
❖ Transparente
❖ Receptiva
❖ Orientada para o Consenso
❖ Equitativa e Inclusiva
❖ Eficaz e Eficiente
❖ Responsável
A governança sociocrática está desenhada para implementar todas as oito e acrescenta uma nona: um sentido de propósito claro e envolvente; um objetivo bem definido. Como veremos, a maioria destas características de bom governo depende da inclusividade e participação.
QUEM PODE UTILIZAR A SOCIOCRACIA?
A Sociocracia pode ser utilizada para governar organizações de qualquer tipo ou tamanho: desde um negócio individual até uma corporação multinacional, uma escola de enfermagem, um sistema universitário, uma liga de bowling e uma federação de desporto internacional.
A confusão entre as palavras sociocracia e socialismo, entre outras razões, tem levado algumas organizações e consultores a usar outras nomenclaturas , incluindo Governança Dinâmica, Auto-Governança Dinâmica, Democracia por Consentimento, Democracia Direta, Governança dos Círculos, Holacracia, Holacracia Lite, Círculo Adiante, Sociocracia 3.0 e outros. Nós continuamos a usar sociocracia, governança sociocrática e organização sociocrática pois estas são palavras específicas, menos propícias a confusões com outros métodos, e ligam-se a uma tradição de quase 200 anos de pensamento sociocrático. Em muitas organizações, particularmente fora dos Estados Unidos, o termo sociocracia ainda é preferido.
Exemplos dos tipos de organizações que usam sociocracia incluem:
❖ Um fabricante de plásticos em Virginia (EUA)
❖ Associações profissionais e sociedades na América do Norte e do Sul, Austrália, e Europa
❖ Associações de proprietários e comunidades de coabitação e ecoaldeias na América do Norte e do Sul, Austrália, França, Escandinávia, e Reino Unido
❖ Um posto de cuidados de saúde em Vermont (EUA)
❖ Um grande agronegócio no Brasil
❖ Programadores de Software em vários continentes
❖ Empreendedores e startups
❖ Escolas Montessori, Waldorf e escolas públicas e privadas na América e na Holanda
❖ A escola de design de uma universidade na Califórnia (EUA)
❖ Organizações de serviços sem fins lucrativos em Virginia (EUA)
❖ Cooperativas na América do Norte e Europa
❖ Unidades de organizações governamentais em Maryland (EUA)
❖ Um grande negócio de reparação de motores em Quebec (Canadá)
❖ Uma empresa de Instalações elétricas pesadas na Holanda
❖ Congregações Cristãs, Muçulmanas e Adventistas, e outras comunidades religiosas
❖ Um centro de educação de permacultura no Canadá
❖ Ecoaldeias e comunidades internacionais na América do Norte, América do Sul, Europa, e Austrália
❖ Associações de Permacultura no Canadá e na Escócia
❖ Muitas secções do Centro Internacional de Comunicação Não Violenta
❖ Divisões da Shell e da Philips
❖ A Sociedade Paquistanesa para a Evolução da Formação ( The Pakistani Society for the Advancement of Training )
❖ A Associação de Gestão do Japão (AGJ)
❖ O Centro de Desenvolvimento de Gestão Al-Futtaim em Dubai ( The Al-Futtaim Management Development Centre Dubai )
❖ Banco Nacional do Paquistão
A Sociocracia tem sido cada vez mais incluída na linguagem das faculdades e universidades, incluindo listas de leitura para estudos em Negócios, Ciência Política, História e Sociologia. Exemplos de anos recentes incluem:
❖ Pensamento Político Americano , Universidade de Vermont
❖ Modelos de decisão pelo Pensamento Sistémico, Faculdade Elizabethtown, Kentucky
❖ A Ordem Constitucional Americana , Escola de Graduação de Políticas Públicas, Universidade de Tóquio
❖ Sociologia Americana e o Problema da Ordem: A Socialização da Autoridade, Faculdade Swarthmore
❖ Pensamento Político Americano , Universidade de Utah
❖ Primeira Governança das Nações e Administração Pública , Escola de Gestão, Faculdade de Yukon
❖ Elementos de Teoria Política , Universidade Rai, India
❖ Pensamento Sistémico e Modelos de Tomada de Decisão , Universidade de Vermont
❖ Pensamento Político Americano, Instituto de Estudos Inter-faculdades ( Intercollegiate Institute Studies Institute )
❖ Ciência Política, Universidade do Utah
❖ Site do Jogo MineCraft, na Zona dos Fãs, como um modelo de tomada de decisão usado por programadores de software Ágil
A organização internacional The Sociocracy Group (TSG), anteriormente conhecido por Centro Sociocrático, tem a sua sede em Roterdão, e continua a treinar e supervisionar a certificação de especialistas sociocráticos, desenvolvendo materiais de formação e promovendo a sociocracia. Há centros em praticamente todos os continentes a praticar formação e consultoria. Criada em 2012, a Fundação Endenburg está dedicada a aumentar a compreensão e implementação da Sociocracia internacionalmente.
EDUCAÇÃO & FORMAÇÃO
Hoje há formadores certificados e consultores a praticar (a sociocracia) por todo o mundo. Muitos consultores na área de desenvolvimento e gestão organizacional incorporaram práticas e princípios sociocráticos nos seus próprios métodos.
O Sociocracy Group tem três divisões internacionais, criadas em torno de uma combinação entre geografia e idiomas. Cada divisão tem programas ativos para pessoas que estão em processo de certificação como facilitadores, formadores e consultores em sociocracia, ou como profissionais que aplicam os princípios e métodos sociocráticos na sua própria área de atuação. A formação está a ser conduzida em muitos idiomas incluindo holandês, inglẽs, flamengo, francês, alemão, indonésio, coreano, russo, espanhol e sueco.
A SEGUNDA EDIÇÃO
A edição de 2007 de Nós, o Povo foi o primeiro livro a apresentar a história e a teoria da sociocracia desde as suas origens em meados do século XIX até ao seu desenvolvimento completo e implementação no século XXI. Foi também a primeira a discutir sociocracia no contexto da teoria de gestão geral durante o mesmo período. A segunda edição foi completamente reescrita, atualizada e expandida. A reescrita foi feita para adicionar materiais e também clarificar o texto. A intenção foi criar um texto mais fluido, fácil de ler, apropriado para uma audiência larga, com uma maior tiragem e mais fotografias.
Nós esperamos que a nova edição de Nós, o Povo seja um manual ainda mais útil para compreender e implementar a sociocracia.
O texto está organizado em quatro partes, cada uma com uma especificidade crescente, para que no final você possa estar preparado para implementar o método nas suas próprias organizações. Foi uma surpresa para nós ver quantas organizações foram capazes de avançar por si próprias. Algumas tiveram mais formação depois mas compreenderam o método perfeitamente através da leitura do texto. Se você estiver a trabalhar numa organização maior, especialmente num negócio, seria sensato ter um consultor, começar com uma série de oficinas ou mesmo cursos interinos prolongados.
Parte I: Revisitando a Governança – Primeiramente nós explicamos as nossas razões pessoais para acreditar que a nossa sociedade precisa deste novo sistema de governança. Em seguida, discutimos a história da sociocracia e o desenvolvimento dos princípios em que está baseada.
O Capítulo 4, Cibernética & Sociocracia
, foi adicionado para explicar os princípios da cibernética de forma mais profunda. Foi a ciência da cibernética que permitiu que a sociocracia avançasse de grupos relativamente pequenos para ambientes de alta produção, e todos os outros entre esses dois extremos.
Parte II: Religando o Poder Organizacional – Nós exploramos os princípios e métodos sociocráticos na medida em que eles se relacionam com vários aspetos da gestão de organizações. O trabalho de especialistas em gestão é discutido para compreender como ele se diferencia e se assemelha à sociocracia. Comparar e contrastar é uma das melhores formas de compreender as semelhanças e as diferenças.
Parte III: Organizando as nossas Forças – Explicamos com maior detalhe como os princípios da sociocracia funcionam e porque são importantes. O que oferecem a cibernética e o pensamento sistémico? Explicamos as práticas que asseguram que o método seja aplicado produtivamente.
Os Anexos contêm diversos tipos de documentos:
❖ Textos originais por Ward, Boeke e Endenburg
❖ Dois conjuntos de estatutos, um como um exemplo para negócios e um para associações e organizações sem fins lucrativos. Ambos são adaptados de corporações registadas legalmente, uma é uma empresa de Responsabilidade Limitada (LDA) e a outra é uma organização educacional de caridade sem fins lucrativos (501(c)3).
❖ Um guia para usar métodos sociocráticos pessoalmente em qualquer situação de tomada de decisão
❖ Uma diversidade de manuais ( how to’s ) para usar os métodos em reuniões e outras situações de tomada de decisão.
❖ Estes são acompanhados de um Glossário, uma Bibliografia Selecionada e o Index.
Nós compreendemos que alguns leitores estarão interessados na história completa, do início ao fim, e outros irão querer saltar logo para os capítulos sobre Como fazer
na Parte III e para os manuais de implementação nos Anexos. Por onde quer que você comece, esperamos que você regresse para ler os primeiros capítulos de modo a compreender completamente este método eficaz e enriquecedor para concretizar mais tarefas, e de maneira mais harmoniosa. Compreender a teoria vai ajudá-lo a compreender quando algo não está a funcionar e as razões para seguir a forma que está descrita.
Apesar de termos receio que algumas pessoas apenas leiam as laterais e olhem para as imagens e diagramas, essa não é a pior coisa que pode acontecer a um livro ou à sociocracia.
AGRADECIMENTOS
Desde a primeira edição em 2007 nós temos aprendido muito sobre ensinar e treinar pessoas para o uso da sociocracia a partir de interações e feedbacks em oficinas e a partir daqueles que têm implementado sociocracia nas suas organizações. Nós temos tentado incorporar o que temos aprendido no texto e estamos em dívida com todos os que têm contribuído compartilhando a sociocracia com outros.
Nós gostaríamos de agradecer particularmente a Gerard Endenburg, Annewiek Reijmer, Gilles Charest, Pieter Van der Mechè, e os muitos outros membros do Sociocracy Group, uma fundação internacional baseada na Holanda, e aos parceiros do Sociocracy Consulting Group por partilharem os seus conhecimentos técnicos, conselhos e encorajamento. Nós também gostaríamos de agradecer novamente a Ramona Buck, Gerard Endenburg e Greg Rouillard pela sua incansável revisão e comentários detalhados que permitiram completar a primeira edição.
E claro, Gerard Endenburg por trazer a sociocracia moderna à vida. E um grande agradecimento a Jan Houdjik pelas ilustrações cómicas que tanto clarificam como animam o tema.
Nós apreciamos os inúmeros leitores que contribuíram com sugestões e críticas, e nós também estamos em dívida com eles pela sua paciência esperando por esta nova edição. Um reconhecimento especial aos inúmeros membros da lista de discussão sociocracy@groups.io de todo o mundo que questionam e discutem numa base diária todas as subtilezas sobre a sociocracia que qualquer um pode levantar.
John Buck e Sharon Villines
Outono 2017
Sobre os Autores
JOHN BUCK
JohnBuck.jpgJohn Buck foi o primeiro consultor nativo da língua inglesa certificado para ensinar e implementar o Método de Organização-Circular Sociocrático (MCS. Em inglês a sigla é SCM, Sociocratic Circle-Organization Method). Depois de aprender a ler Holandês para estudar com Gerard Endenburg no Centro Sociocrático em Roterdão, ele completou um mestrado em sociologia quantitativa na Universidade George Washington. Usando uma análise quantitativa para medir os efeitos da sociocracia em trabalhadores holandeses, ele confirmou a sua eficácia em aumentar o compromisso dos trabalhadores e a produtividade organizacional.
Buck tem uma experiência vasta em gerir centenas de trabalhadores tanto no setor governamental quanto corporativo na instalação e gestão de sistemas computacionais. Ele é diretor de divisão para a organização internacional The Sociocracy Group, LLC, e especialista em métodos de governação e desenho organizacional, servindo nos conselhos diretivos de várias organizações. Pai de três crianças, ele vive com a sua mulher em Silver Spring, MD.
SHARON VILLINES
SharonVillines.jpgSharon Villines é escritora e Mentora Emérita na SUNY Empire State College, onde ela ensinou, entre outras coisas, gestão de artes e planeamento de pequenos negócios, e serviu em inúmeros comités diretivos académicos e de governação. Ela foi presidente e provedora de reclamações da AFL-CIO, sindicato de faculdades afiliado. Ela é coautora de Orientação para a Universidade: Uma Leitura sobre como tornar-se uma Pessoa Educada (Orientation to College: A Reader on Becoming an Educated Person. Wadsworth, 2004).
Com um longo interesse em como nos auto-organizamos, Villines começou a estudar sociocracia com Buck em 2002 e agora escreve um blog, Sociocracy.info, e modera uma lista de discussão ativa sobre sociocracia. Ela usa a sua experiência em organizações não lucrativas, sindicatos de trabalho, universidades, escolas, grupos de ação política e religiosa, co-habitação, e outros empreendimentos coletivos como base para analisar e explicar a sociocracia. Atualmente vive numa comunidade de co-habitação em Washington, DC.
PARTE I: Revisitando Governança
Nós, o povo dos Estados Unidos, a fim de formar uma união mais perfeita, estabelecer a justiça, assegurar a tranquilidade doméstica, prover a defesa comum, promover o bem-estar geral e garantir as bênçãos da liberdade para nós próprios e a nossa posteridade, ordenamos e estabelecemos esta Constituição para os Estados Unidos da América.
A Constituição dos Estados Unidos da América é um dos documentos mais perduráveis já escritos. Ela resistiu ao teste de numerosos desafios e continua a servir o (país) bem sucedido, Estados Unidos da América. No entanto, quando a Constituição foi escrita, ela era muito mais experimental do que muitos de nós imaginamos. Os princípios nos quais ela foi baseada nunca haviam sido testados numa escala tão grande. Para que funcionasse, os fundadores tiveram que unir numa única nação treze estados desobedientes, repletos de pessoas exaustas da guerra e com medo de novas filiações, que não falavam uma língua comum, e que ainda estavam a romper vínculos com os seus países de origem. Foi uma tarefa gigante (Amar 2005)
Pela primeira vez um país foi formado com base nos valores de liberdade e igualdade, e governado por representantes escolhidos pelo povo, não por uma monarquia ou aristocracia de latifundiários. Mas com o passar do tempo, como iremos ver, fendas começaram a desenvolver-se.
Hoje, a sociocracia está a desenvolver um método de governança moderno e ainda mais eficiente e igualitário. Embora a democracia prospere em muitos países, ela tem duas grandes deficiências:
❖ Apoiar-se na regra ou governo da maioria
❖ Falta de compromisso em utilizar métodos científicos para medir ou avaliar as suas ações
O voto da maioria, e portanto o governo pela maioria, cria vencedores e perdedores. Ele incentiva o partidarismo e as alianças políticas, com a tomada de decisão baseada na política e não na eficiência. Por ser ineficaz em garantir um alto desempenho, a democracia geralmente não é utilizada nos negócios, instituições de saúde, no exército ou em outras organizações responsáveis por resultados mensuráveis.
A sociocracia compartilha os valores democráticos de liberdade e igualdade enquanto evita os resultados negativos do governo pela maioria usando um processo inclusivo de tomada de decisões e uma governança colaborativa. A sociocracia é baseada no método científico – teste e medição – e isso garante decisões e ações mais eficazes.
O que somente pode ser assegurado nas democracias, como na Declaração de Independência – todos os seres humanos são iguais e dotados dos direitos inalienáveis da vida, da liberdade e da busca da felicidade
– pode ser garantido pela sociocracia, que é frequentemente referida como beyond democracy (em português, o termo mais próximo seria: para além da democracia
ou uma democracia além
) ou como o próximo passo
.
GOVERNANÇA E CIÊNCIA
A palavra democracia é baseada em demos, palavra grega para as pessoas comuns
, e significa governança determinada pela população em geral. Permitir que os cidadãos votem na adoção de leis e na eleição de representantes foi um enorme passo adiante em relação à governança por monarquias e ditadores. Mas eleições gerais por toda a população nem sempre são eficazes na criação de uma boa legislação ou escolha dos melhores líderes – ou a garantir que as pessoas eleitas se eduquem sobre questões novas antes de tomar decisões.
A sociocracia desde a sua concepção foi baseada em premissas diferentes da democracia. A palavra sociocracia vem do latim socius, que significa associados
ou companheiros
. Utilizando socius na sua forma combinatória socio-, e -cracia significando governança, sociocracia significa governança por pessoas em associação umas com as outras
. A mesma raiz, socio-, combinada com -logia, que significa o estudo de
, foi usada para nomear a Sociologia – o estudo de sociedades ou grupos sociais. Pessoas que partilham um objetivo comum – um propósito comum.
A sociocracia foi concebida na década de 1850 como um novo método de governança que seria baseado na ciência da sociologia. Nos 150 anos seguintes, a sociocracia desenvolveu-se de uma ideia à um método que permite às sociedades governarem-se para o benefício mútuo de todos.
No século 20, um grande passo para a sociocracia foi a contribuição de uma outra ciência: a cibernética, a ciência das comunicações e controlo. A cibernética é o estudo de sistemas na natureza e nas máquinas. Como os sistemas se adaptam ou se ajustam aos seus ambientes, sustentando-se em condições adversas e mutáveis? Como os sistemas e as suas partes se auto-governam, e ao mesmo tempo são governados pelo todo? A cibernética estuda o mesmo dilema das sociedades que buscam tanto um todo unificado e uma liberdade individual quanto a equidade.
O desenvolvimento da sociocracia no final do século XIX e no século XX caminhou paralelamente às descobertas científicas que fundamentalmente alteraram a nossa visão sobre o funcionamento do mundo natural. O modelo mecânico de sistema fechados foi substituído por um mundo de sistemas dinâmicos em constante mudança, capazes de se autorregular e adaptar. O cérebro adulto, que pensava-se degradar progressivamente até a morte, foi reconhecido pela sua habilidade de desenvolver novas sinapses e neurónios ao longo da vida. O caos, que era visto como aleatório e sem propósito, foi redescoberto como auto-organizador e incrivelmente poderoso e energético.
A sociocracia é hoje um método de auto-governança que nos permite controlar as condições sob as quais vivemos e trabalhamos. Ela pode ser usada por uma pessoa, duas pessoas, uma corporação, um grupo religioso, uma associação de bairro ou por uma cidade inteira. Ela cria sistemas inerentemente sustentáveis e auto-otimizadores.
TEORIA DE GESTÃO & GOVERNANÇA
Existem muitos livros sobre métodos para melhorar a gestão de empresas e outras organizações. Na nossa experiência, esses livros podem ser ainda mais valiosos se combinados com a sociocracia.
Porquê? Porque enquanto eles oferecem conhecimentos valiosos para gerir o trabalho, nenhum deles possui uma teoria fundamental de governança que transforme a maneira como os trabalhadores se comprometem uns com os outros. Sem uma nova teoria de governança, de tomada de decisões e processos de implementação, novas técnicas de gestão irão somente recriar os mesmos problemas fundamentais de organizações top-down (organizações que funcionam de cima para baixo
) que se aproveitam dos trabalhadores pois elas não são transparentes, eficazes ou responsáveis (accountable).
A maioria das nossas organizações ainda são desenhadas e geridas seguindo os modelos mecânicos do século XIX. Elas tratam as pessoas como partes de uma máquina e tentam controlá-las, ao invés de desenvolver as suas habilidades e potenciais. Muitas organizações focam na liderança e na tomada de decisões inclusiva, mas falta-lhes um sistema de retro-alimentação (feedback) ou mecanismo que garanta que isso seja sempre implementado. O que está a faltar é uma estrutura de governança que abranja o objetivo primário de organizar: mobilizar a energia de cada membro para alcançar o objetivo comum da organização.
ESCREVENDO AS NOSSAS PRÓPRIAS CONSTITUIÇÕES
A constituição é uma série de políticas que garantem os direitos e privilégios, estabelecendo limites sobre o comportamento e