Mula sem cabeça

De Batuta Ribeiro

Baseado na lenda do folclore brasileiro, dois caçadores são contratos por um padre para pegar uma besta do inferno que está aterrorizando o povoado de um vilarejo.

• Idioma: Português
• Editora: Editora 101 Seleções
• Data de lançamento: 11 de fev. de 2019

Pré-visualização do livro

Parte 1

Naquela manhã, Camila Reis passeava pela rua.

Usava o novo vestido azul.

Por onde passava, recebia olhares cheios de desejo e ouvia gracejos de homens de todos os tipos e idades.

Não havia um que não parava o que estava fazendo e reparava nas curvas do corpo de Camila Reis.

E que homem deixaria de reparar em seus cabelos vermelhos?

Naqueles olhos verdes e claros?

Naquela pele branca e fresca?

Nas sardas do decote e das bochechas?

Ela caminhava devagar, de queixo erguido, encaracolando os cabelos com os dedos, ignorando os homens, mas apreciando o desejo deles por ela.

Camila Reis parou ao ver o circo montado.

Caminhou até lá e comprou uma entrada.

Passou pelas jaulas dos bichos.

Viu leões, chimpanzés e um filhote de elefante.

Depois entrou na casa de espelhos.

Passando pelos espelhos, ela se viu alta, depois baixa. Se viu bem gorda, depois bem magra. Seu rosto se esticou e depois afinou, por fim ela parou diante de um espelho normal e ali ficou admirando o próprio reflexo.

Ficou de lado, de costas, sorriu e fez pose de séria.

— Como eu sou linda.

Da casa de espelhos Camila Reis foi para o picadeiro.

Sentou-se e assistiu a apresentação dos trapezistas, dos malabaristas e do mágico.

Terminada as apresentações, Camila Reis levantou-se e saiu da lona e caminhou para ir embora, mas parou ao ver os letreiros de uma placa, que dizia:

QUER CONHECER O SEU FUTURO?

A placa de madeira estava encostada ao lado de uma entrada de uma tenda de lona, mais afastada do local do circo.

Camila Reis caminhou até a tenda e olhou pela abertura e viu uma pequena luz amarela lá dentro.

Entrou e achou uma senhora vestida de preto sentada atrás de um caldeirão fumegante.

— Olá.

A velha ergueu a cabeça e tirou as mechas brancas da frente dos olhos que pareciam cristais de vidro.

— O que deseja, linda menina?

— A senhora pode ver o futuro?

— Posso.

— E quanto é?

Camila Reis tirou uma bolsinha do bolso do vestido e abriu.

— Não é nada.

— Nada?

— É de graça. Só que devo adverti-la que isso é perigoso.

— O que é perigoso?

— O futuro revelado pela água do caldeirão nem sempre é o futuro que você gostaria de ter.

— Não tenho medo do futuro.

— Quem temeria o futuro com uma beleza igual a sua? – a velha roçou as costas dos dedos finos no rosto de Camila Reis – você é muito linda, minha menina. Parece uma princesa de conto de fadas.

— Obrigada.

Em um movimento rápido, a velha pinçou um fio de cabelo vermelho de Camila Reis.

— Olhe na água para ver o seu futuro – jogou o fio de cabelo vermelho dentro do caldeirão e a água borbulhou e a tenda foi tomada por uma densa fumaça.

Quando a fumaça dissipou-se, Camila Reis viu uma figura dentro da água do