A individualidade para si: Contribuição a uma teoria histórico-crítica da formação do indivíduo
()
Sobre este e-book
Ao explicitar a dialética entre objetivação e apropriação e ao distinguir entre a humanização e a alienação para esclarecer o significado do conceito de gênero humano como exigência da formação da individualidade livre e universal, este livro constitui-se numa preciosa contribuição para a fundamentação filosófica da pedagogia histórico-crítica. Esta, de fato, ao definir a educação como "o ato de produzir em cada indivíduo singular a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens", indica que a formação humana consiste na passagem do indivíduo da condição em si à condição para si; do indivíduo particular condicionado pelas suas circunstâncias a um indivíduo universal, livre e racional.
Dermeval Saviani
Leia mais títulos de Newton Duarte
Os conteúdos escolares e a ressurreição dos mortos: contribuição à teoria histórico-crítica do currículo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasConhecimento escolar e luta de classes: a pedagogia histórico-crítica contra a barbárie Nota: 0 de 5 estrelas0 notasVigotski e o "aprender a aprender": crítica às apropriações neoliberais e pós-modernas da teoria vigotskiana Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMarxismo e educação: debates contemporâneos Nota: 5 de 5 estrelas5/5Crítica ao fetichismo da individualidade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSociedade do conhecimento ou sociedade das ilusões? Nota: 0 de 5 estrelas0 notasArte, conhecimento e paixão na formação humana: sete ensaios de pedagogia histórico-crítica Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Relacionado a A individualidade para si
Ebooks relacionados
Pedagogia histórico-crítica: desafios e perspectivas para uma educação transformadora Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPeriodização histórico-cultural do desenvolvimento psíquico: do nascimento à velhice Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA formação social da personalidade do professor: um enfoque vigotskiano Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA escola não é uma empresa: o neoliberalismo em ataque ao ensino público Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEstudos do cotidiano & Educação Nota: 0 de 5 estrelas0 notasProfessor: artesão ou operário? Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPensadores sociais e história da educação Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPedagogia histórico-crítica, quadragésimo ano: Novas aproximações Nota: 4 de 5 estrelas4/5A produção da escola pública contemporânea Nota: 0 de 5 estrelas0 notasManacorda e Mészáros: O papel da educação escolar na transformação social Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSociologia da Educação no Brasil: do Debate Clássico ao Contemporâneo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEm defesa da educação pública, gratuita e democrática Nota: 5 de 5 estrelas5/5Pedagogia histórico-crítica: 40 anos de luta por escola e democracia – Volume 2 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEducação para a liberdade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA pedagogia na "era das revoluções": uma análise do pensamento de Pestalozzi e Froebel Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAutoajuda, educação e práticas de si: Genealogia de uma antropotécnica Nota: 0 de 5 estrelas0 notasInfância: Fios e desafios da pesquisa Nota: 5 de 5 estrelas5/5Introdução à sociologia da educação - Nova Edição Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFundamentos da didática histórico-crítica Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Pedagogia histórico-crítica, as políticas educacionais e a Base Nacional Comum Curricular Nota: 5 de 5 estrelas5/5Indisciplina e disciplina escolar: fundamentos para o trabalho docente Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPedagogia Social e Educação Social Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTeorias e Práticas da Pedagogia Social no Brasil (v. 1) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Reconfiguração da escola: Entre a negação e a afirmação de direitos Nota: 5 de 5 estrelas5/5Tempo e Docência: Dilemas, Valores e Usos na Realidade Educacional Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPedagogia escolar: coordenação pedagógica e gestão educacional Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA mistificação pedagógica: Realidades sociais e processos ideológicos na teoria da educação Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEducação Especial e Teoria Histórico-Cultural: Contribuições para o Desenvolvimento Humano Nota: 5 de 5 estrelas5/5
Métodos e Materiais de Ensino para você
Raciocínio lógico e matemática para concursos: Manual completo Nota: 5 de 5 estrelas5/5Aprender Inglês - Textos Paralelos - Histórias Simples (Inglês - Português) Blíngüe Nota: 4 de 5 estrelas4/5Pedagogia do oprimido Nota: 4 de 5 estrelas4/5Piaget, Vigotski, Wallon: Teorias psicogenéticas em discussão Nota: 4 de 5 estrelas4/5Sexo Sem Limites - O Prazer Da Arte Sexual Nota: 4 de 5 estrelas4/5Sou péssimo em inglês: Tudo que você precisa saber para alavancar de vez o seu aprendizado Nota: 5 de 5 estrelas5/5Mulheres Que Correm Com Os Lobos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTécnicas de Invasão: Aprenda as técnicas usadas por hackers em invasões reais Nota: 5 de 5 estrelas5/5Massagem Erótica Nota: 4 de 5 estrelas4/5Jogos e Brincadeiras para o Desenvolvimento Infantil Nota: 3 de 5 estrelas3/5Como Escrever Bem: Projeto de Pesquisa e Artigo Científico Nota: 5 de 5 estrelas5/5Ludicidade: jogos e brincadeiras de matemática para a educação infantil Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Bíblia e a Gestão de Pessoas: Trabalhando Mentes e Corações Nota: 5 de 5 estrelas5/54000 Palavras Mais Usadas Em Inglês Com Tradução E Pronúncia Nota: 5 de 5 estrelas5/5Jogos e brincadeiras na educação infantil Nota: 5 de 5 estrelas5/5BLOQUEIOS & VÍCIOS EMOCIONAIS: COMO VENCÊ-LOS? Nota: 5 de 5 estrelas5/5Ensine a criança a pensar: e pratique ações positivas com ela! Nota: 5 de 5 estrelas5/5Cérebro Turbinado Nota: 5 de 5 estrelas5/5Curso Básico De Violão Nota: 4 de 5 estrelas4/5A arte de convencer: Tenha uma comunicação eficaz e crie mais oportunidades na vida Nota: 4 de 5 estrelas4/5Manual Da Psicopedagogia Nota: 5 de 5 estrelas5/5Aprender Francês - Textos Paralelos (Português - Francês) Histórias Simples Nota: 4 de 5 estrelas4/5Temperamentos Nota: 5 de 5 estrelas5/5Pense Como Um Gênio: Os Sete Passos Para Encontrar Soluções Brilhantes Para Problemas Comuns Nota: 4 de 5 estrelas4/5
Avaliações de A individualidade para si
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
A individualidade para si - Newton Duarte
1
A dialética entre objetivação e apropriação
Meu propósito neste capítulo é o de mostrar que a relação entre os processos de objetivação e apropriação constitui a dinâmica fundamental da formação do gênero humano e dos indivíduos.
Com essa finalidade, dividi este capítulo em dois itens. No primeiro, parto da análise realizada por Marx (2004), nos Manuscritos econômico-filosóficos, a respeito do trabalho como atividade vital humana, que diferencia os seres humanos dos outros animais, para mostrar que a característica central dessa atividade reside justamente na relação dialética entre os processos de objetivação e apropriação e que essa relação é geradora do processo histórico de formação do gênero humano. Ainda que Marx e Engels (2007) não utilizem, em A ideologia alemã, a expressão atividade vital
, a análise que eles ali fazem do que seja o processo histórico expressa a mesma concepção da origem desse processo na atividade de produção dos meios de satisfação das necessidades humanas; ou seja, no trabalho, como atividade especificamente humana.
No segundo item deste capítulo, analiso a dialética entre objetivação e apropriação como dinâmica do processo de formação do indivíduo como um ser histórico e social. Procuro mostrar a importância da compreensão dessa dinâmica para a concepção marxista da individualidade, que supera as análises da ontogênese humana fundamentadas tanto no modelo biológico de interação entre organismo e meio ambiente quanto em modelos sociológicos reducionistas que concebem o indivíduo como resultante passiva de um conjunto de fatores sociais.
A relação entre objetivação e apropriação: dinâmica própria da atividade vital humana e geradora do processo histórico
Nos Manuscritos econômico-filosóficos, Marx (2004, p. 84) distingue o ser humano dos demais animais por meio das características próprias da atividade vital
humana, que é o trabalho. A centralidade da atividade vital para o desenvolvimento dos seres humanos é o que torna tão problemática a inversão produzida pela alienação do trabalho, que transforma essa atividade em simples meio de sobrevivência do indivíduo, em vez de se constituir na atividade que o humaniza. Dessa maneira, por causa da sociedade capitalista:
o trabalho, a atividade vital, a vida produtiva mesma aparece ao homem apenas como um meio para a satisfação de uma carência, a necessidade de manutenção da existência física. A vida produtiva é, porém, a vida genérica. É a vida engendradora de vida. No modo (Art) da atividade vital encontra-se o caráter inteiro de uma species, seu caráter genérico, e a atividade consciente é o caráter genérico do homem. [Na sociedade capitalista:] A vida mesma aparece como meio de vida [idem, ibidem, intervenção nossa entre colchetes].
A atividade vital é antes de tudo aquela que reproduz a vida, é aquela que toda espécie animal (e também o gênero humano) precisa realizar para existir e para reproduzir a si própria como espécie. A atividade vital é a base a partir da qual cada membro de uma espécie reproduz a si próprio como ser singular e, em consequência, reproduz a própria espécie. No caso do ser humano, a mera sobrevivência física dos indivíduos e sua reprodução biológica por meio do nascimento de seres humanos asseguram a continuidade da espécie biológica, mas não asseguram a reprodução do gênero humano, com suas características historicamente constituídas. O trabalho, como atividade vital humana, não é apenas uma atividade que assegura a sobrevivência do indivíduo que a realiza e de outros imediatamente próximos a ele, mas uma atividade que assegura a existência da sociedade.
Essas duas funções da atividade vital humana, assegurar a existência individual e assegurar a existência da sociedade, tornam-se, na sociedade capitalista, funções alienadamente separadas e até antagônicas. Marx mostra que, nas relações sociais capitalistas, nas quais o trabalho, atividade vital, é transformado em mercadoria, essa atividade não se apresenta ao indivíduo como aquilo que ela deveria ser, a principal forma de objetivação e desenvolvimento de sua individualidade humana. O trabalho alienado não deixa de ser uma atividade objetivante, no entanto, na condição de atividade transformada em mercadoria, sua realização tem para o trabalhador não o sentido de sua objetivação como ser humano, mas, sim, o sentido de um meio (o único) que ele tem para assegurar sua existência. Nas palavras de Marx (idem, ibidem), o trabalho alienado aliena o trabalhador de si mesmo, de sua própria função ativa, de sua atividade vital
e "faz-lhe da vida genérica apenas um meio da vida individual".
Para Marx, a atividade vital humana não é apenas uma atividade que assegura a existência física do indivíduo, mas aquela que reproduz as características fundamentais do gênero humano. Na medida, porém, em que o trabalhador, para poder sobreviver, tem como única alternativa a venda de sua força de trabalho, de sua atividade vital, esta se transforma em meio para satisfazer uma única necessidade, a de sobrevivência. Mas a atividade vital humana se caracteriza, em sua essência, por ser uma atividade que reproduz o ser humano como ser genérico, o qual se distingue dos animais por possuir uma atividade vital livre e consciente:
O animal é imediatamente um com sua atividade vital. Não se distingue dela. É ela. O homem faz da sua atividade vital mesma um objeto da sua vontade e da sua consciência. Ele tem atividade vital consciente. Esta não é uma determinidade (Bestimmtheit) com a qual ele coincide imediatamente. A atividade vital consciente distingue o homem imediatamente da atividade vital animal. Justamente, [e] só por isso, ele é um ser genérico. Ou ele somente é um ser consciente, isto é, sua própria vida lhe é objeto, precisamente porque é um ser genérico. Eis porque a sua atividade é livre [idem, ibidem].
Entretanto, na sociedade capitalista, o indivíduo trabalhador tem que vender sua atividade vital para obter o salário sem o qual ele não pode sobreviver. Esse ato de venda da sua atividade vital a aliena do próprio trabalhador e, nesse sentido, o trabalho alienado "inverte a relação, a tal ponto que o homem, precisamente porque é um ser consciente, faz da sua atividade vital, da sua essência, apenas um meio para a sua existência" (idem, p.