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Crítica ao fetichismo da individualidade
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Crítica ao fetichismo da individualidade
E-book311 páginas4 horas

Crítica ao fetichismo da individualidade

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Newton Duarte comenta na introdução deste livro que o episódio bíblico sobre o bezerro de ouro é uma das mais antigas referências ao fenômeno que depois veio a ser chamado de fetichismo. Na narrativa bíblica, Moisés destrói o bezerro de ouro, reduzindo-o a pó, obriga o povo a beber água com esse mesmo pó e ordena "que matem cada um a seu irmão, seu amigo, seu vizinho", ocorrendo o assassinato de cerca de três mil homens. A intensidade do castigo foi proporcional ao significado social, político e psicológico do fetichismo. No século XIX, dois alemães fazem uma crítica também contundente ao fetichismo: Ludwig Feuerbach, mostrando que todo deus é um fetiche, pois os deuses são todos criados pelos seres humanos, e Karl Marx, revelando o segredo do fetichismo das mercadorias e expondo a essência alienante da sociedade capitalista.
Esta coletânea foi organizada com o propósito de mostrar a necessidade da crítica ao fetichismo da individualidade nos campos da educação, da psicologia e das demais ciências voltadas para os diversos aspectos da vida humana.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de abr. de 2022
ISBN9786588717660
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    Crítica ao fetichismo da individualidade - Newton Duarte

    1.

    PERSPECTIVA MARXIANA DO PROBLEMA SUBJETIVIDADE–INTERSUBJETIVIDADE

    *

    Dermeval Saviani**

    Feliz e oportuna a iniciativa de debater o problema da subjetividade em sua relação com a intersubjetividade no contexto atual, marcado pela crise da política interpretada por uns como retorno ao individualismo apolítico e, por outros, como exigência de se desenvolver uma nova forma de fazer política apoiada em individualidades autogeridas (SÈVE, 1989, pp. 172-173).

    No que se refere à perspectiva marxiana¹, essa iniciativa é particularmente adequada em razão do estereótipo que se disseminou, por certo com o concurso de determinadas correntes marxistas, segundo o qual Marx e os marxistas teriam colocado todo o peso de suas análises na estrutura econômica, reduzindo a subjetividade a mero reflexo das determinações materiais. Além de acertada, a iniciativa é também particularmente feliz porque, como veremos, em Marx a questão da subjetividade se manifesta como indissociável da intersubjetividade.

    O problema da subjetividade, cujo conceito será considerado, neste texto, correlato da individualidade, é central no pensamento de Marx, fazendo-se presente desde suas primeiras reflexões até as formulações mais amadurecidas expressas nas notas que prepararam a obra sistemática d’O capital.

    Não obstante essa centralidade, as leituras da obra de Marx que acabaram por prevalecer tenderam, se não a excluir, a relegar para um plano secundário o problema da individualidade.

    Nesse quadro, enquanto a sociologia, entendida como ciência da sociedade, não teve maiores dificuldades em incorporar Marx como uma referência clássica ao lado de Durkheim e Weber, a psicologia, compreendida como ciência da subjetividade, sempre teve dificuldade em lidar com as ideias de Marx.

    O testemunho de Lucien Sève, que procurou articular explicitamente a psicologia com o marxismo, o que se materializou na obra Marxismo e teoria da personalidade, publicada em 1969 (SÈVE, 1973), é revelador. Em um texto publicado na França em 1987, depois incluído numa coletânea brasileira (SILVEIRA & DORAY, 1989), diz ele que, apaixonado pela psicologia, esperava que ela fizesse ciência a partir do próprio conteúdo da existência, a fim de contribuir para sua revolução (SÈVE, 1989, p. 151). Mas, em vez disso, ela ignorava tudo dos problemas da vida para mergulhar na mania classificatória quando pretendia ocupar-se da personalidade. Por isso a psicologia lhe parecia incuravelmente conservadora (idem, ibidem). E, se a psicanálise lhe parecia bem mais voltada para a existência concreta ao esclarecer nossos mistérios infantis e a arquitetura de nossos desejos, ela nada dizia sobre a formidável complexidade de uma crise de adolescência e fechava os olhos diante das imensas especificidades da vida adulta. Contraposto a isso, Lucien Sève considerava atraente o "misto de lucidez global e de paixão transformadora em relação à vida real que diferenciava a cultura marxista de qualquer outra. Mas como explicar que não houvesse, aparentemente, uma psicologia marxista?" (idem, pp. 151-152). Na direção da resposta a essa pergunta, uma primeira iluminação lhe adveio da leitura do livro de Politzer, A crise da psicologia contemporânea, publicado em 1947. E seu depoimento nos dá, por fim, o quadro de precariedade em que se encontrava a chamada cultura ocidental no que se refere à relação entre psicologia e marxismo nas primeiras décadas da segunda metade do século

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