Gênero e Sexualidade: Interfaces Educativas
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Gênero e Sexualidade - Eliane Rose Maio
Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2018 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.
Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS:DIVERSIDADE DE GÊNERO, SEXUAL, ÉTNICO-RACIAL E INCLUSÃO SOCIAL
Dedicamos este livro a TODAS as mulheres!
Àquelas que lutaram e lutam por uma sociedade
mais humana e justa para todas as pessoas.
Àquelas que acreditam que o mundo será
mais digno a partir da luta feminista!
DESCONSTRUINDO AMÉLIA
(PITTY, 2009)
Já é tarde, tudo está certo
Cada coisa posta em seu lugar
Filho dorme, ela arruma o uniforme
Tudo pronto pra quando despertar
O ensejo a fez tão prendada
Ela foi educada pra cuidar e servir
De costume, esquecia-se dela
Sempre a última a sair
Disfarça e segue em frente
Todo dia até cansar (Uhu!)
E eis que de repente ela resolve então mudar
Vira a mesa, assume o jogo
Faz questão de se cuidar (Uhu!)
Nem serva, nem objeto
Já não quer ser o outro
Hoje ela é um também
A despeito de tanto mestrado
Ganha menos que o namorado
E não entende porque
Tem talento de equilibrista
Ela é muita, se você quer saber
Hoje aos 30 é melhor que aos 18
Nem Balzac poderia prever
Depois do lar, do trabalho e dos filhos
Ainda vai pra night ferver
Disfarça e segue em frente
Todo dia até cansar (Uhu!)
E eis que de repente ela resolve então mudar
Vira a mesa, assume o jogo
Faz questão de se cuidar (Uhu!)
Nem serva, nem objeto
Já não quer ser o outro
Hoje ela é um também
Uhu, uhu, uhu
Uhu, uhu, uhu
Disfarça e segue em frente
Todo dia até cansar (Uhu!)
E eis que de repente ela resolve então mudar
Vira a mesa, assume o jogo
Faz questão de se cuidar (Uhu!)
Nem serva, nem objeto
Já não quer ser o outro
Hoje ela é um também.
AGRADECIMENTOS
Agradecer, ao se organizar uma escrita, parece impossível, pois seriam tantos fatos, ocasiões e pessoas, que se poderia cair no esquecimento...
Agradecemos, principalmente, à professora Eliane Maio, cuja proposta contaminou
a todos/as e nos trouxe brilho no olhar para que começássemos este livro.
Como nosso objetivo principal é falar sobre gênero e sexualidades, entrecruzando com as lutas feministas, escolhemos agradecer às mulheres, bravas e destemidas, que muito lutaram para que estivéssemos aqui, lutando e escrevendo sobre os temas que ainda continuam sendo considerados polêmicos. Por alguns motivos, entre eles, seria essa força da mulher, que vem eclodindo e apagando o patriarcalismo que sempre as oprimiu e ainda oprime!
Obrigada, MULHERES, que lutam, cotidianamente, para que a vida seja mais justa para todas as pessoas!
Agradecemos e vibramos por essa força e garra!
Os/As autores/as
PREFÁCIO
FONTE – ilustração de Luciele Franco, intitulada Asas
(2017).
Os debates em torno do tema Sexualidade e Educação têm circulado de modo predominantemente polarizado nas mídias e redes sociais. No entanto o campo teórico em que se apresenta essa discussão é marcado por uma pluralidade de vozes não uníssonas, epistemologias e opções metodológicas que, por fim, levam a pensar que se trata de uma teia de redações e ideias que, por se colocarem a partir de diferentes lugares de fala e pontos de vista, acabam por mostrar que a área dialoga constantemente e possui uma interlocução ativa e consistente.
Em Gênero e sexualidade: interfaces educativas, é possível encontrar uma multiplicidade de opções teóricas e metodológicas sobre a categoria gênero, como instrumento de análise, assim como de temas mais clássicos do feminismo como as desigualdades de gênero. Toda a publicação é permeada de transgressões ao sistema hétero-cis-normativo e em relação à educação disciplinar dos corpos, desde o momento em que a discussão se coloca até a introdução de temáticas avançadas das questões de gênero, como os temas relacionados com a ocupação dos espaços educacionais por mulheres transexuais e travestis. Existe, portanto, um esforço das/os autoras/es que participam da coletânea, no sentido de estabelecer deslocamentos em relação às opções metodológicas e epistemológicas das áreas de conhecimento de onde vieram, assim como de mostrar que a discussão sobre as desigualdades de gênero dentro da educação tem uma função libertadora para as identidades que destoam das regras sociais padronizadas. O livro insere-se em um contexto em que, no que se refere ao gênero e sexualidade, ‘estar’ e ‘não estar’ passa a ser uma grande disputa política da atualidade, dentro de um quadro de grandes avanços dos direitos das mulheres, negras, trans, cis, lésbicas, personagens principais deste livro. Nesse sentido, as questões de gênero são transgressoras a partir do momento mesmo em que se colocam.
Sabemos que a escrita sobre as relações desiguais de gênero foram impulsionadas por movimentos feministas, inicialmente de mulheres brancas que eram exploradas nas fábricas lucrativas da Europa do século XIX. No Brasil, mulheres brancas, predominantemente de classe média, que manifestavam o desejo de estarem no ensino superior foram às ruas no início do século XX, o que é considerado um marco para os movimentos feministas no País. Portanto a luta feminista se torna pública quando as mulheres ocupam o espaço público. A escola seria mais um desses espaços a ser ocupado, assim como a pesquisa.
Os capítulos que seguem nos mostram que facetas da desigualdade de gênero e da pluralidade de expressões e comportamentos sexuais já estavam presentes em representações rupestres na pré-história brasileira, indicando que havia outras formas de se relacionar que não a monogâmica, assim como outros papéis desempenhados pelas mulheres que não os do padrão cis-hétero-normativo.
É evidente que a ampla publicização da possibilidade de outras formas de vida e expressão do gênero e da sexualidade, por meio da escrita-pesquisa, impulsionou um movimento contrário conservador, no sentido de levar novamente esse debate para o espaço restrito do âmbito privado e familiar. Um espaço em que historicamente as mulheres sofreram e ainda sofrem violências, abusos e diferentes modos de aprisionamento, em silêncio. A pauta do gênero associada à educação parece se enquadrar, portanto, em um movimento também de romper o silêncio histórico. Nesse sentido, temos pesquisas que buscam desnaturalizar as relações mostradas em representações literárias e televisivas, como é o caso da análise sobre a telenovela mexicana, mostrando a objetificação da mulher dentro das disputas masculinas e os papéis sociais estabelecidos dentro do binário de gênero estabelecido naquela sociedade. Questões sobre as tramas de aprisionamento da mulher dentro de padrões de beleza e comportamento estabelecidos como femininos estão presentes fortemente na análise dos autores. Da mesma forma, são trazidas à colação produções artísticas questionadoras das regras sociais de gênero e sexualidade, como os trabalhos centrados em compreender os sentidos do filme O sorriso de Mona Lisa, assim como a análise sobre a homossexualidade no livro A confissão de Lúcio, de Mário de Sá Carneiro. Também, a reflexão sobre gênero e deficiência é aqui contemplada a partir de marcos teóricos da educação.
A voz das mulheres negras aparece por meio da discussão de métodos pedagógicos de fortalecimento das identidades negras dentro do espaço escolar, da mesma forma que se insere o texto sobre as transexualidades e travestilidades, discutindo diferentes trajetórias trans dentro da Universidade Estadual de Maringá.
A predominância de autoras mulheres traz para o livro também um sentido militante e pessoal: mulheres que atuam na educação fundamental e superior, mulheres estudantes, mulheres trans e mulheres negras falam a partir de suas experiências dentro da educação.
Asas
, a imagem dessa epígrafe, inspira-me a falar a partir da mesma veia transgressora que permeia o texto. Uma imagem que discute o binômio aprisionamento/liberdade. Uma denúncia da opressão histórica sobre as mulheres. A permanência do pensamento livre, apesar disso. Afinal, a explosão de vozes dissidentes do binário e do padrão normativo cis-heterossexual habita no seio da discussão da liberdade na democracia brasileira. Quem pode falar? Onde e quando pode falar? As fontes antes marginalizadas na academia tomam lugar central nas análises e, portanto, lançam o olhar para teorias consideradas periféricas de análise, assim como o tema do aprisionamento das mulheres em padrões de gênero torna-se o centro da discussão e desloca o poder de fala das mulheres para o espaço público.
Deixando-se guiar pela imagem de Luciele, mulher, advogada, estudante, percebo a importância que as publicações questionadoras de normas e padrões de gênero têm no sentido de fazer existir, publicamente e em espaços privilegiados, as mulheres cujas identidades são negadas pelo padrão binário, assim como atuam na função de consolidar a ideia de que esses padrões são construídos e cristalizados socialmente, a partir, por exemplo, de esquemas de ensino de boas maneiras
para as mulheres e afirmações recorrentes dos machismos naturalizados pelas mídias comerciais. Em outras palavras, a existência de publicações como esta nos indica que algumas correntes já foram quebradas.
A alegoria do feminismo presente em nossa imagem-epígrafe permite pensar que a voz das mulheres na educação fez/faz a importante função de trazer a público as mulheres que se encontram em piores situações de vulnerabilidade, movimento que parece ser representado pelo pássaro alçando voo, apesar das correntes. Ainda que a violência de gênero e o feminicídio permaneçam existindo em larga escala, o ânimo (alma) de transgressão permanece vivo por meio das vozes de mulheres representadas no cinema, na arte ou na literatura, assim como na atuação das mulheres pesquisadoras que aqui escrevem/falam.
Os textos não seguem uma linha teórica única e mostram possibilidades plurais de pensar a relação entre gênero, educação e sexualidade e a discussão polêmica sobre esses mesmos temas e sua inserção nos currículos escolares. As opções passam por bibliografias mais clássicas do campo da educação sexual, passando por visitações dentro da Psicologia e Filosofia, mostrando o quanto Guacira Lopes Louro ainda influencia o trânsito das/os autoras/os da Educação entre a educação sexual e as teorias mais incisivas de desconstrução do binário. Da mesma forma, notamos a presença de Simone de Beauvoir, quando é necessário discutir os papéis ‘predestinados’ das mulheres na sociedade e a predominância das teorias foucaultianas para a reflexão sobre o controle dos corpos e da sexualidade pelo poder político.
Os voos empreendidos para fora dos limites do binário e dos padrões sociais de comportamento são, portanto, guiados por modos de pensar diversos, muitas vezes divergentes entre si, mostrando que a discussão não se encerra em formatos polarizados de discussão e que as possibilidades de escuta e escrita são definidas dentro de circunscrições que levam em consideração o local, o geral, as pessoalidades e as necessidades atuais do campo da educação para a discussão sobre gênero e sexualidade.
Trata-se de um conjunto de textos que pode ser lido dentro do contexto da pluralidade de fontes como uma transgressão metodológica fundamental, o que se constitui, a meu ver, na principal contribuição do livro. Uma leitura que reafirma o pensamento livre, a existência da multiplicidade de métodos, e potencializa a voz das mulheres marginalizadas historicamente. Que os voos ao longo do texto possam ser guiados pelo mesmo movimento que anima o pássaro de Luciele.
Crishna Mirella de Andrade Correa
Doutora em Ciências Humanas
Professora do curso de Direito da Universidade Estadual de Maringá
APRESENTAÇÃO
Este livro originou-se de uma experiência coletiva na disciplina ministrada pela Prof.ª Dr.ª Eliane Rose Maio, no primeiro semestre de 2017, dentro da disciplina de Tópicos Especiais em Educação I: Gênero, Sexualidade, e Diversidade Sexual: Cinema e Educação, pelo Programa de Pós-Graduação em Educação (PPE) da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
Numa intersecção entre feminismos, estudos de gênero, teorias da educação, vivências pessoais, representações midiáticas e análises de obras, diversas inquietações fervilham, e é nesse caldo plural e diverso que o gérmen deste livro nutre-se para florescer.
Dentre as especiarias desta experimentação coletiva, temos os contextos de sala de aula, com atravessamentos das sexualidades, prazerosas e voluptuosas, que levam Mona Lisa a sorrir, dentro e fora do cinema queer, como em sua primeira menarca. Da arte rupestre às telenovelas mexicanas, da ilha de Lesbos à sala de aula, uma sala de aula para todas e todos, pessoas com deficiências, negras/os, transexuais, lésbicas, gays, bissexuais, de corpos belos, sejam eles como forem, este livro pretende potencializar inquietações.
Longe de trazer respostas, trazemos problematizações. Reflexões sobre as formas educacionais e suas intersecções com os estudos de gênero, diversidade sexual e direitos humanos.
Eliane Rose Maio
Doutora em Educação Escolar,
Professora da Universidade Estadual de Maringá.
Sumário
1
POSSIBILIDADES DIDÁTICAS PARA O ENSINO DA EDUCAÇÃO
SEXUAL EM SALA DE AULA �
Berivalda de Jesus do Prado Sachi
REFERÊNCIAS
2
VOLUPTUOSIDADE E PRAZER: A HOMOSSEXUALIDADE NO LIVRO
A CONFISSÃO DE LÚCIO
Claudia Elaine Guedes de Oliveira
Teresa Kazuko Teruya
2.2 VIDA E OBRA DE MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO
2.3 A CONFISSÃO DE LÚCIO: RESUMO ANALÍTICO DA OBRA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
3
O SORRISO DE MONA LISA: UM CURSO DE BOAS MANEIRAS
DISFARÇADO DE ESCOLA
Francislayne Ruiz
Geiva Carolina Calsa
3.1 CINEMA E EDUCAÇÃO
3.2 O CINEMA E A PEDAGOGIA CULTURAL
3.3 DE FORMAÇÃO PARA LÍDERES DO AMANHÃ À FORMAÇÃO DE ESPOSAS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
4
VERDADES NÃO DITAS: UM ESTUDO SOCIAL SOBRE A MENARCA
NA DÉCADA DE 1970
Gizele Manzatto Martinez Baptista
INTRODUÇÃO
4.1 A MENARCA DESDE O CONTEXTO DA PRÉ-HISTÓRIA
4.2 RITOS DE PASSAGEM PARA ADULTECER
4.3 AS MULHERES NA DÉCADA DE 1970 E SEUS TABUS
4.4 SÉCULO XXI: A EMANCIPAÇÃO SEXUAL PRECOCE NA ADOLESCÊNCIA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
5
DEFICIÊNCIA E SEXUALIDADE: ENFOQUE NA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
Laís Bastos Marchesoni
Elsa Midori Shimazaki
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
6
PROTAGONISMO QUEER: NOSSAS HISTÓRIAS SÃO CONTADAS POR QUEM?
Lua Lamberti de Abreu
Eliane Rose Maio
REFERÊNCIAS
7
SAFO DA ILHA DE LESBOS: ALGUMAS REFLEXÕES ACERCA DA HOMOSSEXUALIDADE FEMININA
Márcia Gomes Eleutério da Luz
José Joaquim Pereira Melo
REFERÊNCIAS
8
A CONSTRUÇÃO DO GÊNERO: CENAS FEMININAS NA ARTE RUPESTRE
DA PRÉ-HISTÓRIA NO PARQUE DA SERRA DA CAPIVARA, EM SÃO
RAIMUNDO NONATO, PIAUÍ, BRASIL
Rizia Ferrelli Loures Loyola Franco
Eliane Rose Maio
8.1 A PRÉ-HISTÓRIA E AS RELAÇÕES SOCIAIS
8.2 O GÊNERO NA ARTE
8.3 A ARTE RUPESTRE NO PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CAPIVARA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
9
AS REPRESENTAÇÕES DO MACHISMO NAS TELENOVELAS MEXICANAS:
UMA PROPOSTA DE TRABALHO EM SALA DE AULA
Susana Aparecida da Silva
Célio Juvenal Costa
9.1 REPRESENTAÇÕES DO MACHISMO NA NOVELA
9.2 APLICANDO A PROPOSTA EM SALA DE AULA
REFERÊNCIAS
10
EMPODERAMENTO DE ADOLESCENTES NEGRAS: DA RAIZ DO CABELO
À RAIZ DO PROBLEMA
Marilza Aparecida Movio Yabe
10.1 COMPREENSÃO DE IDENTIDADE
10.2 EDUCAÇÃO, GÊNERO E RACISMO
10.3 A IDENTIDADE RACIAL E DE GÊNERO NO BRASIL
10.4 O PROJETO NA ESCOLA LÉO KOHLER
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
11
EXISTIR, AFIRMAR E REAFIRMAR A IDENTIDADE TRANS NO MEIO
ACADÊMICO: UM DESAFIO TRIPLO!
Clara Hanke Ercoles
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
12
A AÇÃO DA EDUCAÇÃO PARA RESISTÊNCIA AO DISPOSITIVO DE BELEZA
Ronaldo Nezo
12.1 O CORPO BELO
12.2 O PODER SOBRE OS CORPOS
12.3 EDUCAÇÃO PARA RESISTÊNCIA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
13
GÊNERO E EDUCAÇÃO: DISCUTINDO GÊNERO A PARTIR DA DISCIPLINA EDUCAÇÃO PARA O LAR
Paula Évile Cardoso
Lucimar da Luz Leite
INTRODUÇÃO
13.1 RELAÇÕES DE GÊNERO NA EDUCAÇÃO NO CURRÍCULO DOS ANOS 70 E 80
13.2 AS RELAÇÕES DE GÊNERO: NA DISCIPLINA EDUCAÇÃO PARA O LAR
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
SOBRE AS/OS AUTORAS/ES
1
POSSIBILIDADES DIDÁTICAS PARA O ENSINO DA EDUCAÇÃO SEXUAL EM SALA DE AULA
Berivalda de Jesus do Prado Sachi
Mesmo no século XXI, deliberar questões acerca da sexualidade é algo que ainda ocasiona rubor, inquietação, desconforto, ignorância, despreparo, entre outros, tanto na população em geral quanto nos(as) educadores(as), que é aqui o escopo deste capítulo. Tendo em vista essas situações, o objetivo é o de abordar questões relacionadas com a formação inicial e contínua dos(as) docentes da educação básica – Ensino Fundamental I, em relação à temática da sexualidade infantil. Portanto, propõe-se a ampliar e diversificar a sexualidade em sua dimensão histórica, cultural, ética e política, que abrange toda a formação do ser humano. Pretendo, também, desenvolver essa abordagem levando em consideração que o conhecimento e o desenvolvimento desse tema em sala de aula são de suma importância para que o(a) aluno(a) tenha uma formação plena.
Para tratar de tal tema, contextualizarei a história da sexualidade, a fim de fazer um resgate histórico da educação sexual, vista como tema transversal, pelo governo, nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)¹ (BRASIL, 2011) e que, portanto, deve ser amplamente estudado.
Estudos relacionados com questões sobre a sexualidade têm seu início no século XVIII. Segundo Barroso, Bruschini (1998) e Sayão (1997), foi em meados desse século que a educação sexual começou a ser observada pelos(as) educadores(as) franceses(as). Porém, essa educação sexual tinha como objetivo combater a masturbação, porque segundo os entendimentos da época, o corpo era considerado algo santo
, por isso as pessoas, principalmente as mulheres, só deveriam aceitar a relação sexual como forma de procriar e a masturbação vinha, então, na contramão desse pensamento. Jean Jacques Rousseau (1712-1778) entendia que manter a ignorância
era a melhor forma de manter a pureza infantil. Segundo ele, o ser humano nasce bom, a sociedade é que o corrompe. Com esse pensamento, Rousseau não construiu uma corrente filosófica, mas podemos dizer que influenciou culturalmente o seu tempo (BENJAMIM, 1996).
Sobre isso, Foucault (1997, p. 9) afirma que
[...] o termo sexualidade surgiu no século XIX, marcando algo diferente do que apenas um remanejamento de vocabulário. O uso desta palavra é estabelecido em relação a outros fenômenos, como o desenvolvimento de campos de conhecimento diversos; a instauração de um conjunto de regras e de normas apoiadas em instituições religiosas, judiciárias, pedagógicas e médicas. Mudanças no modo pelo qual os indivíduos são levados a dar sentido e valor a sua conduta, desejos, prazeres, sentimentos, sensações e sonhos.
Por entender que a cultura está e sempre estará impregnada na forma de pensar e agir de um povo, Maio (2011, p. 43) diz que "após o século XVII, começam a serem modificadas as normas, regras e leis que ditavam os costumes sexuais, as quais serão descritas como inseridas no movimento do Puritanismo²".
Ainda segundo a autora, é inegável que vivemos numa tradição cultural na qual nosso corpo sofreu e ainda sofre uma série de repressões por meio de preconceitos, normas sociais, interditos, entre outras formas de cerceamento, sofrendo com isso uma rigidez postural
(MAIO, 2011, p. 38).
Ao fazer um recorte histórico da sexualidade, chega-se ao Brasil, onde, conforme cita Sayão (1997), em 1920, surgem as primeiras nuances da educação sexual, mas essa educação também tinha o olhar voltado à saúde pública, portanto, visava a combater a masturbação, as doenças venéreas³ e preparar a mulher para o papel de esposa e mãe. Dentro dessa proposta, pode-se citar, ainda, Bertha Lutz, que tenta implantar a educação sexual nas escolas, mas ainda com o cunho de proteger a infância e valorizar o casamento e a maternidade (SAYÃO, 1997).
Sobre isso, Maio (2011, p. 41) dispõe que
[...] segundo a hipótese repressiva, com a qual se costuma pensar e em que se baseiam muitas posturas frente à questão da sexualidade, a partir do século XVIII, um crescente Puritanismo passa a vigorar. Esse pensamento reduz o sexo ao utilitário e fecundo, permitindo, portanto, como única manifestação possível, a sexualidade do casal monogâmico, legítimo e procriador. Sobre as sexualidades periféricas e estéreis teria sido imposto um silêncio geral, uma intensa repressão.
Nesse contexto, é imprescindível dizer que os princípios puritanos tinham como objetivo evitar o adultério e manter a família patriarcal. O desejo sexual somente era permitido dentro