Identidade, Psicologia e Gênero
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Sobre este e-book
A autora traz uma perspectiva de ampliação para esse assunto, demonstrando sua produção como um processo contínuo e contingente. Cada pessoa tem à sua disposição referenciais culturais e possibilidades materiais para colocar em elaboração uma produção singular de si mesmo. A partir de uma perspectiva da Psicologia Social Crítica, o livro traz à luz a necessidade de se pensar a identidade indissociável do gênero.
A identidade, enquanto elemento da experiência objetiva e subjetiva das pessoas, é sempre de gênero. Portanto, não serve bem à Psicologia um conceito de identidade que não guarde o gênero como elemento constitutivo. E, para discutir os termos dessa relação, a autora trabalhou com uma extensa produção de artigos científicos brasileiros, a partir da qual mostra que a identidade é sempre produzida num campo de tensão. Que elas se apresentam como plataforma de reivindicação de direitos por coletividades subalternizadas e precarizadas de nossa sociedade, ao mesmo tempo que servem como exercício de autonomia individual. A identidade é um efeito desse processo de produção generificado, ao mesmo tempo que produz efeitos concretos na vida dos sujeitos.
Por sua proposta, este livro é do interesse de todos aqueles que pensam e desejam conhecer mais sobre os processos de constituição de sujeitos. Estudantes e profissionais que buscam um olhar situado, objetivamente posicionado para os limites normativos do gênero e para as formas contemporâneas de promoção de existências que caminhem com um mínimo de dominação.:
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Identidade, Psicologia e Gênero - Brenda Fischer Sarcinelli Pacheco
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO PSI
Para Didi, Tetéo e Grandão,
sempre no coração e na memória.
Para Diogo, que, novamente, em tudo me apoiou.
Agradecimentos
A escrita deste trabalho não seria possível sem o enorme apoio institucional, familiar, dos amigos e companheiros de trabalho que estiveram presentes nesse percurso. Gostaria de agradecer a todos, e dizer o quanto foram fundamentais.
Preciso agradecer de forma ampla e particular aos professores e aos demais profissionais do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que participam da minha formação desde agosto de 1999, quando comecei o curso de graduação em Psicologia. Particularmente aos professores do Programa de Pós-Graduação em Psicologia, em que realizei meu mestrado e doutorado.
Especialmente, quero agradecer à professora Hebe Signorini Gonçalves, porque alguns encontros mudam nossa vida. Foram anos intensos; difíceis, mas felizes, por muitas e variadas razões. Obrigada.
A cada um que participou do nosso grupo de pesquisa, vocês compuseram minha capacidade de pensamento e escrita. Todos vocês têm meu carinho e gratidão. Muitos de vocês se tornaram grandes amigos nesta vida e só por isso esse processo já seria um sucesso e uma realização.
Quero agradecer à minha família: mãe, pai, irmão, cunhada, tios e tias, primos e primas que apoiaram anos de trabalho e fala monotemáticos. Especialmente aos meus avós, Adir, Theonilla e Reginaldo, que hoje me acompanham em memória.
Agradeço ao Diogo, meu marido, companheiro de aventuras e finais de semana acadêmicos, que com amor e muita paciência apoiou o trabalho de pesquisa e escrita para a elaboração deste livro.
O que vale para a escrita e a relação amorosa vale também para a vida.
Só vale a pena na medida em que se ignora como terminará.
(Michel Foucault)
PREFÁCIO
Como já mostrou-nos a maestria de Silvia Federici, a dominação masculina sempre se fez acompanhar pela resistência feminina. É uma luta de séculos. Mas foi o feminismo dos anos 70, nas suas vertentes acadêmica e militante, que logrou impulsionar mais fortemente o questionamento das identidades sexuais. Esse movimento serviu para colocar em questão parte da produção acadêmica – aquela que referendava a diferença sexual como uma derivação necessária do biológico – e as construções culturais que reviviam no cotidiano essas mesmas diferenças, fixando homens e mulheres em posições ora hierárquicas, ora antagônicas, quase nunca igualitárias. Reconhecer essa longa trajetória é reconhecer que a transformação a que hoje assistimos no campo do gênero é um processo de muitas vozes.
No texto O que é um autor?
¹, Foucault afirma o autor como aquele que desaparece no texto, para ao longo da escrita reafirmar a própria existência. Um texto, qualquer texto, é na sua concepção uma escrita a muitas mãos, dado que o texto repercute muito daquilo que o antecede: as ideias, as vozes, a cultura, outros pensadores, tudo isso habita uma escrita que faz subsumir o autor que existe na composição do texto, no esgrimir dos argumentos, na lapidação das palavras, na escolha, enfim, do que se vai dizer e do que se vai silenciar. O texto de Brenda, a que o leitor agora tem acesso, resulta desse exercício: Brenda busca nos seus interlocutores aquilo que pode auxiliá-la a encontrar a resposta à pergunta que a instiga – afinal, como as questões de gênero impactam o tema da identidade?
Mas, para compreender o desafio a que a autora se lança, convém retroceder algo no tempo. As pesquisas prévias de Brenda a levaram a indagar os efeitos das transformações legais sobre a masculinidade. Operando junto a homens acusados de violência contra suas companheiras, ela foi capaz de ver que homens e mulheres sofrem o impacto da desconstrução dos lugares rígidos que as relações hierárquicas de gênero destinaram a uns e outros. Se nunca duvidamos da dominação e de seus efeitos de constrangimento sobre a identidade da mulher, as conquistas recentes serviram, também, para mostrar que o homem, endereçado (agora legalmente) ao lugar de violento acusa constrangimentos similares, estranha-se nesse lugar, desencontra-se de si. Numa palavra, enfrenta dilemas identitários.
Assim é que a escrita de Brenda tem o mérito de fazer falar não apenas um conjunto amplo de autores do campo de gênero, como também os sujeitos afetados pelas transformações recentes, alargando as consequências dessas mesmas transformações. Como diz a autora nas conclusões do trabalho, o conceito de identidade é potente tanto para produzir dominação e controle, precariedade e restrição das opções de vida, quanto para produzir alternativas e liberdade para os sujeitos
.² (PACHECO, 2021, p. 165).
De mãos dadas com esse efeito sobre os sujeitos singulares, o avanço dos estudos sobre a questão de gênero carregam uma indagação à própria psicologia, visto que não mais autorizam tratar o conceito de identidade a partir de qualquer postura essencialista. Trata-se, antes, de tomá-lo como conceito aberto, em permanente construção, como querem os pensadores pós-estruturalistas. Afinal, o sujeito não é sempre, para os outros e para si próprio, uma obra em mutação permanente? Assim colocada, a questão nos permite repensar a própria psicologia e alguns de seus cânones, fazendo-a navegar em mares mais abertos e levando os psicólogos a empreender a busca do sujeito lá onde ele se encontra, não no lugar que lhe predestinamos.
Mas há, ainda, uma última armadilha. Pois, se a identidade não é dada, nem está pronta previamente, mas é passível de constante transformação, onde o homem ancora seu gregarismo? Estaríamos condenados a transitar entre grupos que nos espelham, buscando os iguais a cada passo relevante no processo de construção da subjetividade?
A autora mostra que não. Do mesmo modo que os textos consultados e buscados também na plataforma Google acadêmico, apontam para uma produtiva inconstância, para um processo em curso, em que posturas diversas e eventualmente antagônicas convivem entre si, mostrando que a diversidade pode superar os conceitos estabelecidos, também, assim, circula o sujeito: em meio à multiplicidade de escolhas e de projetos de si. Trata-se, portanto, de uma questão que é política na sua essência: a questão da diferença. Este seria o grande legado da escrita da autora.
Rio de Janeiro, maio de 2021
Prof.ª Dr.ª Hebe Signorini Gonçalves
Universidade Federal do Rio de Janeiro
REFERÊNCIAS
FOUCAULT, M. O que é um autor? In: FOUCAULT, M. Ditos & Escritos III. Tradução de Inês Autran Dourado Barbosa. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009. p. 264-298.
PACHECO, B. F. S. Identidade, Psicologia e gênero. Curitiba: Appris, 2021.
Sumário
PARA COMEÇAR 17
1
UMA PERSPECTIVA GENERIFICADA DA IDENTIDADE 21
1.1 Sujeitos generificados ou dos modos de produção de
subjetividades generificadas 22
1.2 O gênero no campo de estudos feministas e a teoria da performatividade
de gênero 29
1.3 A desconstrução, o efeito e a différance 39
1.4 Performatividade de si – a teoria da interseccionalidade/consubstancialidade identitária 42
1.5 Por uma estética da existência 46
2
PARA UMA RELEITURA CRÍTICA DO CONCEITO DE IDENTIDADE NA PSICOLOGIA DO BRASIL 51
2.1 A psicologia do desenvolvimento e a crise da idenitdade de Erik Erikson 55
2.2 Psicologia social e a identidade social de Henri Tajfel e John Turner 67
2.3 A crise da psicologia social, seus efeitos e a identidade metamorfose 69
3
PERCURSOS DA PESQUISA 81
4
OS SENTIDOS DA IDENTIDADE 91
4.1 Identidade estratégia 91
4.1.1 Um problema atual 92
4.1.2 O velho dilema 99
4.1.3 Acesso à saúde, violência e direitos humanos 109
4.1.4 A saúde dos homens 113
4.1.5 Os direitos humanos como plataforma de reivindicação 116
4.2 Autonomia identitária 121
4.2.1 Uma crítica queer à Psicologia 125
4.2.2 Despatologizando o gênero 130
4.2.3 Autonomia, os limites entre a determinação cultural e a agência pessoal 137
4.3 Identidade efeito 143
4.3.1 A biopolítica da identidade 144
4.3.2 Um outro olhar psicanalítico para a transexualidade 154
4.3.3 Os efeitos da identidade efeito 156
5
CONCLUSÃO 167
REFERÊNCIAS 173
Anexo 1
Relação de artigos – Identidade Estratégia 187
Anexo 2
Relação de artigos – Autonomia identitária 191
Anexo 3
Relação de artigos – Identidade Efeito 195
PARA COMEÇAR
No percurso profissional e acadêmico que conduziu a realização deste livro, tive a oportunidade de trabalhar na clínica particular, em instituições de saúde mental e no judiciário, locais onde me deparei com questões e problemas diversos entre si, que refletem a pluralidade do campo psicológico. A partir do trabalho no judiciário, junto aos grupos reflexivos com acusados de violência doméstica e familiar contra a mulher, desenvolvi minha pesquisa de mestrado, na qual discuti os modos de produção de subjetividade acionados pela participação dos acusados nos grupos³. A prática profissional junto às partes envolvidas nos processos trazia à tona cotidianamente a produção de identidades e seu questionamento, quando as pessoas se viam envolvidas em processos criminais. A masculinidade foi um dos temas centrais da minha dissertação de mestrado, pois era em sua identidade de gênero que os homens participantes do grupo pautavam suas queixas e argumentações defensivas nos grupos reflexivos. Além disso, era em torno do gênero, particularmente da masculinidade, que nós, profissionais do judiciário, buscávamos construir algum espaço de reflexão junto aos acusados. Não coube naquele momento discutir a identidade, que se apresentou como questão, mas precisou esperar até que a oportunidade se apresentasse, chegando agora a estas páginas.
A palavra identidade se refere a inúmeras coisas e sua polissemia permite evocar o pessoal, o íntimo e o social, o jurídico e o político num só tempo. Tantos usos e apropriações permitiram que a identidade se tornasse conceito em diferentes campos do saber científico, ao mesmo tempo que foi elevada à categoria de luta e reflexão políticas. Essa miríade de sentidos torna seu uso controverso entre pesquisadores e ativistas pelos direitos das minorias, pois se viu sua significação mudar nas últimas décadas, tornando anacrônicos, deslocados no tempo, sentidos que continuam usuais. Essa é uma das dificuldades recorrentes com os conceitos das chamadas ciências humanas: a extração de um termo coloquial para o campo dos conceitos produz um descompasso entre a chamada academia e o restante das pessoas do corpo social. Aqui tratarei dessa polissemia, problematizando a identidade para trazer luz à disputa discursiva, aos jogos de verdade, às relações de poder e às formas de relação consigo que cada sentido da identidade sustenta e produz. Propus-me a fazer uma leitura crítica de dois conceitos de identidade desenvolvidos pela Psicologia, observando sua relevância e as condições de sua emergência. Para realizar este trabalho, utilizei os artigos científicos da Psicologia Social no Brasil e a produção teórica e militante dos estudos feministas de gênero entre os anos 2013 e 2017.
Na história da Psicologia, a identidade faz parte da tradição positivista da Psicologia Social, sendo parte dos estudos desenvolvimentistas e da psicopatologia. Fortemente atrelada à ideia de normalidade, foi associada a concepções da Psicologia que contribuíram para o controle das condutas numa perspectiva moralista e reducionista, características das produções em Psicologia até a década de 1950. Tendo sido revisto a partir da crise da Psicologia Social nos 1960 e 1970, o conceito de identidade foi reformulado questionando o essencialismo, e adotando uma perspectiva processual que afirma a implicação com a mudança social no Brasil.
O campo feminista dos estudos de gênero é heterogêneo e fundamentalmente interdisciplinar, mantendo relações íntimas com as várias ciências humanas e promovendo o diálogo com outros campos do saber. Sua produção teórica participou de toda a crítica que permitiu a virada da Psicologia Social no Brasil, entre os anos de 1960 e 1970, para novos marcadores epistemológicos. Além disso, a luta política pelos direitos dos oprimidos mantém em constante revisão crítica os conceitos que vêm sustentando suas reivindicações. A partir do ativismo do movimento feminista, em que foi anunciado que o pessoal é político
, a identidade assume a condição de plataforma estratégica de reivindicações. Ao mesmo tempo, a influência do pensamento pós-estruturalista produziu a crítica ao conceito de identidade como algo que diz respeito estritamente ao campo individual.
Na interface da Psicologia com o campo de estudos feministas de gênero, tomei a identidade como questão de pesquisa, particularmente os conceitos de identidade produzidos pela Psicologia. Quais críticas os estudos feministas de gênero permitem elaborar aos conceitos analisados? Além disso, quais as consequências dessa problematização para uma possível reformulação do conceito de identidade em Psicologia?
Estamos diante de um campo de lutas em que teóricos, ativistas e teóricos/ativistas disputam espaço para reforçar uma dada formação discursiva. Nesses jogos de verdade observam-se os modos particulares da ciência, em que o mito da objetividade pouco tem a ver com a produção de verdade. Aqueles que conseguirem mais espaço de fala em eventos, mais publicações, mais financiamentos e mais citações terão maior influência no campo social. A produção da verdade científica é tão social quanto qualquer outra produção discursiva, mas produz efeitos que somente a ciência é capaz de produzir em nossa sociedade. Ela define o que é normal, influencia a legislatura e impacta o direito de cada cidadão. A produção de verdade científica sobre a identidade vai recair sobre todas as pessoas, de cientistas a atendentes de supermercado, pois em nossa sociedade a definição do normal, seja comportamental, pedagógica, jurídica ou psicológica, passa pelos conhecimentos científicos.
Em tempos globalizados, quando predomina o neoliberalismo e acirram-se as disputas mercadológicas, os sujeitos são convocados a construir suas vidas de forma independente. Imperativos de estética e beleza, sucesso profissional e ganhos financeiros são veiculados na mídia e nas conversas cotidianas, pressionando os sujeitos na construção individualizada de um projeto de vida massificado. Todos são convocados a atender ao padrão que estabelece níveis de exigência inalcançáveis, pois é produção do capitalismo, que objetiva manter em curva ascendente os níveis de consumo. Nessa apropriação capitalista da ciência como estratégia de governamentalidade, a produção científica estabelece o normal como ideal para cada esfera da vida cotidiana. A identidade não escapa desse processo, por isso a necessidade de problematizá-la. Voltar para ela o pensamento e interrogar sobre seu sentido, suas condições e seus fins⁴.
A produção acadêmica sobre um tema pode ser observada em vários materiais, sejam livros, teses, dissertações, artigos ou anais de eventos. Para dar consistência à discussão trabalhei com artigos científicos produzidos no Brasil sobre a identidade e o gênero. A busca e a análise desse material foram realizadas ao longo de quatro anos de trabalho de pesquisa, mostrando claramente a característica processual do pesquisar. Do projeto de pesquisa ao levantamento e à análise do material, resultando na escrita e publicação do livro, muitos desvios foram feitos, em parte ampliando a busca, em outras partes reduzindo e dando melhor definição para as questões iniciais. Como esta discussão é acadêmica precisarei passar por algumas etapas da pesquisa, que determinam as ferramentas do pesquisar e o posicionamento situado e parcial da pesquisadora⁵. Somente com essas ferramentas poderei me debruçar sobre os sentidos da identidade localizados na literatura pesquisada e colocá-los em análise a partir de uma perspectiva crítica da Psicologia Social.
Trarei no primeiro capítulo uma releitura teórica da identidade a partir da perspectiva foucaultiana da produção de sujeitos, tomando a performatividade de gênero como processo que permite entender a produção da identidade interseccionalmente. A contribuição de Deleuze sobre o processo de produção da interioridade e a desconstrução da metafísica por Derrida nos permitem esvaziar a identidade de toda ontologia, apresentando-a como uma performatividade de si, que pode ser agenciada como prática de liberdade ou estar comprometida com estados de dominação. Essa proposta de entendimento da identidade desessencializada é o resultado da elaboração teórica da pesquisa para escrita do livro e ocupa um lugar de abertura para apresentar a fundamentação teórica que atravessa os demais capítulos.
No capítulo dois, trato dos conceitos de identidade em Psicologia. Apresento uma leitura crítica das concepções de identidade de Erick Erickson e da identidade metamorfose de Antônio Carlos Ciampa, tomando as ferramentas do campo de estudos feministas de gênero para realizar uma leitura crítica. O trabalho de Erickson pode ser situado no campo psicanalítico, enquanto o de Ciampa é parte da Psicologia Social Crítica do Brasil.
Um breve relato do percurso da pesquisa será apresentado no terceiro capítulo, no qual discuto a genealogia a partir do trabalho de Michel Foucault, que inspirou a análise do material levantado.
No quarto capítulo apresento e discuto os sentidos da identidade no campo de estudos feminista de gênero, em consonância com o material de pesquisado. A partir da leitura do material construí três categorias: a identidade estratégia, a autonomia identitária e a identidade efeito, a partir das quais problematizo a identidade.
Por fim, as conclusões trarão os aspectos teórico e político da identidade, que sendo performativamente construída produz efeitos materiais na vida cotidiana das pessoas.
1
UMA PERSPECTIVA GENERIFICADA
DA IDENTIDADE
Para discutir a identidade, propus-me a pensar uma Psicologia articulada aos estudos feministas de gênero. Dentro da pluralidade do campo psicológico, este trabalho alinha-se à Psicologia Social Crítica, que foi influenciada pelo desenvolvimento do campo de estudos feministas de gênero. Ao longo da pesquisa desenvolvida, observei que a identidade está relacionada à singularização dos modos de subjetivação próprios de uma dada cultura. Neste capítulo apresentarei a articulação teórica que permite propor que os modos de subjetivação produzem a identidade em um espaço de interiorização, referente à quarta dobra da subjetivação⁶, daí a identidade ser um efeito produzido pelo trabalho do sujeito sobre si mesmo. Os estudos feministas de gênero mostram-se necessários para essa compreensão da identidade, pois a performatividade de gênero é o modelo adotado aqui de