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Super-heróis: um fenômeno dos quadrinhos
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Super-heróis: um fenômeno dos quadrinhos
E-book188 páginas3 horas

Super-heróis: um fenômeno dos quadrinhos

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Super-heróis: um fenômeno dos quadrinhos é uma coletânea de artigos do autor, roteirista e editor Wellington Srbek, resultado de duas décadas de um extenso trabalho de análise e produção de textos sobre super-heróis. Os artigos aqui reunidos buscam mapear momentos significativos da trajetória dos quadrinhos desde a criação dos super-heróis na década de 1930 até a sua transposição para outras mídias, contemplando a ascensão de popularidade do gênero na década de 1980 e, também, uma de suas piores fases na década seguinte.

Em uma linha do tempo, os artigos começam com a origem dos super-heróis e Srbek conta sobre o surgimento e desenvolvimento de heróis como Superman, Homem-Aranha e Miracleman para revelar o panorama do gênero. Ele nos mostra como os mutantes e as sagas dos X-Men mudaram o rumo dos quadrinhos, assim como os trabalhos de Alan Moore. Também muito bem explorada, é a renovação dos quadrinhos na década 1980, com a retomada de clássicos do gênero, até a inegável convergência midiática atual que têm trazido a popularidade de super-heróis novamente.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de nov. de 2017
ISBN9788563223548
Super-heróis: um fenômeno dos quadrinhos

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    Super-heróis - Wellington Srbek

    Sobre este livro e seu supertema

    Nós, leitores e leitoras de quadrinhos, muitas vezes temos um gênero preferido, que acompanhamos e ao qual dedicamos uma atenção especial; pode ser o terror, o faroeste ou a ficção & fantasia, por exemplo. No meu caso, por muito tempo foram os quadrinhos de super-heróis. Seguindo a trilha dos desenhos animados de minha infância, em 1987 comecei a colecionar e ler quadrinhos da Marvel e DC. E o que no início foi apenas uma diversão tornou-se, com o tempo, pesquisa e reflexão.

    Super-heróis: um fenômeno dos quadrinhos é resultado de duas décadas de análise e produção de textos sobre super-heróis. Um trabalho que começou em 1995, quando fui convidado a escrever críticas de quadrinhos para um jornal de Minas Gerais. Embora os super-heróis não tenham feito parte de minhas pesquisas de mestrado e doutorado, eu voltaria a escrever sobre eles em 2008, para o blog Mais Quadrinhos. Assim sendo, este livro reúne textos escritos em momentos diferentes, para veículos diferentes.

    Reunidos aqui, esses artigos contam uma história dos super-heróis no século XX, desde seu surgimento no final dos anos 1930, passando por seu desenvolvimento nos anos 1950 e 1960, dando maior ênfase a seu auge nos anos 1980, seguindo por uma de suas piores fases na década seguinte, antes de se reinventarem novamente ao final do século passado. Nas páginas a seguir, encontramos Superman, Batman, Homem-Aranha, X-Men e muitos outros heróis e vilões das HQs, que também têm feito enorme sucesso no cinema e na TV. E numa interação de diferentes gêneros e linguagens, encontramos ainda personagens do terror e da fantasia que influenciaram os novos caminhos criativos que os quadrinhos de super-heróis traçaram.

    Sendo uma coletânea de artigos, este livro não tem a pretensão de ser uma história total dos super-heróis. Trata-se, na verdade, de um panorama que busca mapear alguns dos momentos mais significativos na rica trajetória desse gênero, entre 1938 e 2000. Assim, os textos que se seguem valorizam os autores e obras que, no século passado, fizeram dos quadrinhos de super-heróis uma aventura apaixonante e envolvente. Além de meus textos originais, revisados e organizados para esta coletânea, as fontes e referências das análises foram sempre as próprias HQs analisadas, em suas edições ou reedições em inglês.

    Mistura de pesquisa, crítica e história, Super-heróis: um fenômeno dos quadrinhos é um livro para quem quer saber mais sobre esses fascinantes personagens e também descobrir algumas das obras-primas desse fantástico gênero. A todos, então, uma ótima leitura!

    Wellington Srbek

    Primeira parte:

    Origem e desenvolvimento dos super-heróis

    Um Super-Homem de quase 80 anos

    Embora traga a data de junho de 1938, consta que o n°1 da revista Action Comics foi lançado no dia 18 de abril. Em sua capa colorida e explosiva, um então desconhecido personagem usa sua força para levantar e destroçar um carro. Era a primeira vez que aquele herói fantasiado em azul, vermelho e amarelo, com o grande S no peito, surgia para conquistar os leitores de quadrinhos. Nascia, naquele momento, um dos principais ícones da cultura ocidental: o Superman, ou Super-Homem (como nós o chamávamos antigamente por aqui). Com o sucesso de vendas que se seguiu, nasceu também toda uma linhagem de personagens e um novo gênero de quadrinhos: os super-heróis.

    O Homem do Amanhã ou Homem de Aço foi criado, no início dos anos 1930, por Jerry Siegel e Joe Shuster, dois fãs de histórias de ficção científica. Inicialmente, tratava-se não de um herói, mas sim de um tirano do futuro, com poderes sobre-humanos. Porém, o protagonista de The Reign of the Super-Man foi logo reformulado para se tornar o herói de uma série de tiras. Inspirados pelos mundos alienígenas e pelas tramas apocalípticas dos livretos e revistas, Siegel e Shuster fizeram de seu novo herói o único sobrevivente de um distante planeta destruído por um cataclismo natural. E assim, vestindo sua capa e malha colante, Superman passou a enfrentar gângsteres e outros bandidos. Contudo, os jovens quadrinistas tiveram dificuldades para encontrar um editor que se interessasse em publicar um personagem tão original para a época.

    Finalmente, a editora Detective Comics (mais tarde National Periodical e depois DC Comics) mostrou interesse em comprar os direitos de publicação do Superman. A condição era que as tiras fossem adaptadas para o formato comic book, com o qual ganhariam destaque na nova revista que a editora planejava lançar: a Action Comics. Siegel e Shuster não titubearam, fazendo as alterações pedidas e vendendo os direitos sobre seu personagem pelo valor de 130 dólares (embora nos últimos anos esse acordo original tenha sido questionado judicialmente). Já então imune a balas e possuindo força e agilidade sobre-humanas, em suas primeiras HQs, Superman não voava, tendo que pular sobre os prédios da cidade de Metropolis (cujo nome os autores pegaram emprestado do filme homônimo do diretor Fritz Lang).

    De qualquer forma, o novo personagem era bastante diferente dos heróis que o precederam, como Tarzan, Mandrake ou Fantasma. Ele tinha algo a mais. E foram justamente o visual chamativo e os inusitados poderes as razões de seu sucesso imediato junto aos jovens leitores norte-americanos. Afinal, quem naquela época (ou mesmo hoje) não gostaria de se destacar na multidão de anônimos e ter poderes que pudessem resolver todos os problemas? É bom lembrar que, no fim dos anos 1930, os Estados Unidos se recuperavam de uma terrível crise econômica iniciada no final da década anterior. A falência de inúmeras empresas, a fome e o desemprego endêmicos forneceram os elementos para um quadro de pessimismo e desesperança. Assim, nada mais oportuno que um personagem que fizesse as pessoas se sentirem capazes de superar quaisquer dificuldades.

    Além disso, outra característica que favoreceu o sucesso do Homem de Aço foi o fato de ele se desdobrar entre a vida de super-herói e a de homem comum. A pacata figura do repórter Clark Kent contribuiu para a identificação do público com o personagem, sugerindo que, na imagem de qualquer homem comum, pode se esconder um super-homem. Para completar, no ano que precedeu a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), só alguém mais rápido que uma bala e mais forte que uma locomotiva poderia vencer as ameaças que se anunciavam. E se em sua primeira aventura Superman é chamado de o campeão dos oprimidos, por extensão, ele acabaria sendo proclamado o defensor de valores como lei, ordem, democracia e liberdade, tornando-se mais tarde o garoto-propaganda do american way of life.

    Possuidor de poderes milagrosos e vindo do céu para promover o bem da Humanidade, é evidente que o imaginário cristão ocidental teve influência na criação daquele super-humano. Contudo, ao invés de ser um ente divino, Karl-El é o único sobrevivente de uma raça de seres superevoluídos, cujo planeta explodiu. Sua herança kryptoniana e a inspiração na ficção científica tornaram-no fisicamente superior aos seres humanos. Um exemplo de que, na Era Moderna, já não são os deuses que promovem a glória dos heróis, mas sim a natureza e a ciência que explicam seus poderes. Logo, na primeira página de Action Comics n°1, ensaia-se uma explicação pseudocientífica para os incríveis poderes de Clark Kent, onde o personagem é comparado às formigas e aos gafanhotos, proporcionalmente muito mais fortes que os humanos.

    O Superman, contudo, nem sempre foi o mesmo. Ao longo das décadas, sua biografia, seus poderes, suas fraquezas e seu visual foram sendo estabelecidos e remodelados pelos roteiristas e desenhistas, sempre em busca de uma nova aventura tão surpreendente quanto sua primeira aparição em 1938. Com o crescente sucesso das revistas em que aparecia, o Homem de Aço foi parar em seriados no rádio, em filmes e animações para o cinema e a TV. Isso contribuiu para o aumento de sua popularidade, fornecendo novos elementos à sua mitologia e tornando-o um ícone internacionalmente conhecido. Como se não bastasse, inspiradas no sucesso do personagem, diversas editoras lançaram outros super-heróis, consolidando esse gênero de quadrinhos e aumentando a concorrência para o kryptoniano.

    Porém, após quase oitenta anos de aventuras, romances e dramas, além dos vários plágios e asneiras editoriais, Superman (ou o Super-Homem) já não tem a mesma força. Nas últimas décadas, por exemplo, o herói teve seu passado apagado e reescrito, seus poderes redefinidos ou perdidos, foi dado como morto, mudou de cor, foi dividido em dois, clonado e casou-se com sua eterna namorada, Lois Lane. O resultado final de tudo isso, é claro, só poderia ser o desgaste e a crescente irrelevância daquele que foi o primeiro e o mais popular dos super-heróis. Uma prova de que há desafios que nem mesmo um super-homem pode superar...

    Super-heróis: um fenômeno dos quadrinhos

    Poucos gêneros de quadrinhos alcançaram o sucesso mercadológico e a renovável popularidade das HQs de super-heróis. Com seus superpoderes, roupas colantes coloridas e aventuras cheias de ação física, Superman e a miríade de personagens que se seguiu a ele são um fenômeno cultural que merece ser abordado de uma forma mais atenta. Sem desconsiderar a pura paixão que motiva os leitores a acompanharem as aventuras de seu herói favorito em revistas, animações, filmes e jogos, os super-heróis podem ser vistos em termos mais objetivos, sendo analisados de forma conceitual.

    De início, seria interessante fazer-se um recorte espaço-temporal, que situe esse tal fenômeno cultural. No caso dos super-heróis, podemos localizar sua origem histórica no mercado norte-americano de quadrinhos, em abril de 1938, quando foi lançado o primeiro número da revista Action Comics. Afinal, aquela edição trazia já em sua capa a estreia do Superman, personagem criado pelos jovens Jerry Siegel e Joe Shuster, considerado consensualmente como o primeiro dos super-heróis. Contextualizadas numa grande metrópole norte-americana dos anos 1930, mas trazendo elementos de ficção científica, as primeiras HQs do Homem de Aço foram um sucesso imediato, ganhando nos anos seguintes versões em episódios radiofônicos e animações para o cinema, além, é claro, de influenciarem o surgimento de outros personagens do mesmo gênero.

    Podemos dizer que, desde seu surgimento, os quadrinhos de super-heróis mostraram-se bastante permeáveis a influências de outros gêneros, como as tiras de aventura, os filmes de gângsteres e as histórias de ficção científica. Mas o que havia de especial nas HQs do Superman, que garantiu seu avassalador sucesso com o público infantojuvenil? Na minha opinião, foram exatamente os três fatores que caracterizaram o gênero super-herói desde sua origem (e que se mantêm presentes até hoje, apesar de algumas mudanças e revisões ao longo do tempo):

    1. Tramas maniqueístas baseadas na ação física. Em outras palavras, é a versão para entretenimento do velho conflito entre o bem e o mal. São aventuras que mostram o protagonista (o herói que representa valores positivos) enfrentando um ou mais antagonistas (os vilões que representam valores negativos) para defender a integridade física de personagens coadjuvantes (como a mocinha em perigo que representaria o prêmio a ser conquistado) e garantir a manutenção da ordem social estabelecida (pois, no final, vencida a ameaça, tudo deve voltar à normalidade representada pelo jeito americano). Na maioria das vezes, a resolução do conflito iniciado com o surgimento do vilão e os eventos acarretados por seu plano maquiavélico se dá através de ação física, com o herói colocando em prática suas habilidades atléticas e especialmente a força de seus músculos.

    Até este ponto, temos uma descrição da dinâmica das HQs de super-heróis que já estava presente, por exemplo, nas tiras de aventura dos anos 1930. Na verdade, porém, o que realmente destacou o novo gênero foram as duas características seguintes.

    2. Um elenco de personagens principais com poderes e/ou habilidades

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