As linguagens dos quadrinhos
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Sobre este e-book
Cultuado no Brasil numa época em que havia poucos livros teóricos sobre o assunto, o livro de Barbieri veio mostrar aos pesquisadores que os quadrinhos são uma linguagem de características próprias, sim, mas que isso já estava provado e garantido. E que não havia, portanto, mais a necessidade de nos furtarmos da aventura de abrir bem os olhos para enxergar o que os quadrinhos comungavam com outras linguagens e que parentesco tinham com todas as outras formas de expressão baseadas na narratividade, em processos de inclusão, geração, convergência ou adequação com essas formas expressivas. Afinal, segundo o autor, "a comunicação é um ambiente geral cujos sub-ambientes, as linguagens, vivem tumultuosamente, afastando-se, aproximando-se, trocando características entre si, às vezes morrendo e outras dando vida a uma nova possibilidade expressiva".
O livro, um clássico da comunicação que por muitos anos fundamentou os estudos de quadrinhos na América Latina, foi originalmente publicado em 1991, tendo completado 25 anos em 2016, com comemorações, pompas e circunstâncias na Academia de Belas Artes de Bologna. Agora ganha sua versão em português, com tradução e revisão técnica de pesquisadores da área que com ela têm convivido nos últimos vinte anos.
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As linguagens dos quadrinhos - Daniele Barbieri
semiológico.
PRIMEIRA PARTE
LINGUAGENS DE
IMAGEM
1. ILUSTRAÇÃO
O DESENHO E ALGUMAS DE SUAS CARACTERÍSTICAS
Na verdade, mais do que falar das semelhanças, seria melhor destacar as diferenças entre quadrinhos e ilustração. Apesar de essas diferenças serem evidentes, as semelhanças se encontram num nível tão básico que nem sempre é fácil distinguir uma vinheta (separada do contexto e sem o balão) de uma ilustração.
Quando os quadrinhos são apresentados por inteiro, não há nenhum problema para realizar essa distinção: sua forma em sequência de vinhetas os distingue claramente da ilustração. Mas, se confrontamos os elementos que podemos confrontar, que são as imagens únicas, onde estão, agora, as diferenças?
Grosso modo, pode-se partir da seguinte consideração, nem sempre verdadeira, mas suficientemente comum para torná-la interessante: a imagem dos quadrinhos conta, a imagem da ilustração comenta. Em outras palavras, a ilustração é normalmente ilustração de algo, e esse algo pode em geral existir até mesmo sem a ilustração: seu papel é, portanto, proporcionar um comentário externo, que adiciona algo ao relato (ou ao texto em sentido geral) de partida. Nos quadrinhos, pelo contrário, cada vinheta tem uma função diretamente narrativa; inclusive com ausência de diálogos e de legendas (também chamadas de recordatório
ou texto em off
) ou texto narrativo, a vinheta conta um momento da ação que constitui parte integrante da história, e prescindir dela supõe prejudicar em boa medida a compreensão.
A imagem dos quadrinhos é, assim, uma imagem de ação, enquanto a imagem ilustrativa, ainda que possa ser de ação, não tem nenhuma necessidade de sê-lo; além disso, em geral, as ilustrações são mais descritivas que narrativas, tendendo a expressar não tanto a dinâmica da ação representada quanto as conotações emotivas, ambientado-as de certo modo, fazendo uso de certos estilos de figuração mais do que de outros, rodeando-a com detalhes não essenciais, mas caracterizadores. A ilustração comenta o relato fazendo-nos ver aquilo que no relato verbal não está escrito, integrando-o, enriquecendo-o. A vinheta dos quadrinhos é o relato.
E os efeitos dessa diferença de ordem comunicativa se observam. Observam-se no enquadramento, porque a ilustração privilegia habitualmente as vistas mais gerais, mais ricas e informativas — enquanto os quadrinhos privilegiam o que lhes convém no momento. Observa-se na precisão dos detalhes, mais cuidados na ilustração porque uma única imagem deve dizer tudo, enquanto nos quadrinhos é frequentemente necessário ser conciso, em cada vinheta, porque se apoia em outras nas quais se podem mostrar os detalhes. Os efeitos se descobrem em relação ao problema da decoração, à qual a ilustração pode dar muito mais espaço que os quadrinhos, porque também o estilo da decoração pode ter um fim de comentário, e porque acaba sendo muito mais difícil fazer que a ambientação conte. Em suma, em princípio, enquanto a concisão parece ser necessária nos quadrinhos, a ilustração parece preferir a abundância de signos e remissões estilísticas. A vinheta tende a ser uma imagem de leitura rápida, porque deve ser confrontada com as vinhetas que a seguem e precedem; a ilustração tende a ser uma imagem de leitura lenta, porque é única e deve trazer o máximo de informação possível.
Essas diferenças que a imagem nos quadrinhos mostra em comparação com a ilustração não nascem, entretanto, com os quadrinhos. Durante muito tempo, na verdade, a imagem dos quadrinhos foi muito similar à da ilustração. Se observarmos as lâminas de Little Nemo, de Winsor McCay, realizadas entre 1905 e 1911 (vejam-se as Figuras 3.1 e 10.6), comprovaremos o que estamos dizendo em relação às imagens da ilustração. Mas os caminhos que seguiam as duas linguagens eram divergentes e, já nos anos 1930, por exemplo, decididamente excludentes.
Neste capítulo pretendemos abordar um tema que se estabelece como comum à ilustração e aos quadrinhos, que é o desenho e suas técnicas. Não trataremos de todos os aspectos do desenho, nem tampouco de todas as técnicas, mas somente de alguns argumentos que nos parecem particularmente significativos, com especial atenção ao desenho a pena, fundamental para os quadrinhos.
Ao falar do desenho é verdadeiramente difícil marcar uma linha que separe a ilustração dos quadrinhos, mas com a observação assídua se observa que certas técnicas (em especial as que destacam ação e dinamismo) são mais privilegiadas pelos quadrinhos que pela ilustração. Dito isto, existe um intercâmbio tal de técnicas e formas estilísticas entre as duas linguagens que se pode considerá-las, nesse nível, praticamente uma linguagem, um só ambiente, com matizes particulares mais ou menos acentuados.
Na última seção deste capítulo (1.4), como também na de outros, abandonaremos a discussão específica do desenho para considerar exemplos de autores dos quadrinhos que recuperaram formas típicas da ilustração com fins expressivos.
1.1 O DESENHO
Nesta seção nos ocuparemos de alguns aspectos do desenho a pena, e, em especial, de dois: a modulação da linha e a relação contorno-preenchimento. É possível que pareçam dois problemas muito técnicos, próprios do desenhista: na realidade, foram escolhidos entre os inúmeros problemas desse campo de investigação precisamente pelo interesse do ponto de vista do leitor.
O modo pelo qual é modulada a linha de contorno (grossa ou fina, curva ou quebrada e assim por diante) é determinante para o efeito total do desenho e, por consequência, para o efeito total de uma história em quadrinhos, como também para a ilustração. Entender as diferenças entre os diversos modos de modular a linha nos põe em condições de entender algumas características fundamentais das imagens: por exemplo, sua dinamicidade ou estaticidade, os efeitos infantis e os pictóricos, e assim por diante.
Isso cabe também no que se refere ao preenchimento. A ausência ou presença de preenchimento, o uso de preto sólido ou de hachura e não de sombreados, a densidade ou a dilatação dos preenchimentos, são todos aspectos que o leitor pode observar facilmente e que lhe podem dar indicações preciosas sobre como se cria o efeito emotivo e narrativo geral, tanto na imagem única da ilustração quanto em uma vinheta entre as demais nos quadrinhos.
Antes de iniciar nossa discussão sobre a linha, assim como antes de iniciar qualquer outra sobre as imagens, é necessário recordar um aspecto da representação por imagens (mas também de qualquer outra representação) que comumente não se tem presente na leitura e na análise.
Dizer que as imagens não são a realidade é banal, todos o sabemos. Explicar no que diferem dela é muito mais difícil. Poderíamos dizer que as imagens estão sobre o papel e a realidade não — mas é fácil encontrar exemplos de imagens que não estão sobre o papel (cinema e televisão, por exemplo). Poderíamos, então, dizer que as imagens são bidimensionais, enquanto a realidade tem três dimensões. Mas as esculturas também são imagens, como as holografias. Poderíamos dizer que as imagens são imóveis, enquanto que a realidade se desenvolve. E o cinema, então? E o que dizer do teatro, representado por atores em carne e osso, absolutamente reais, que nos proporcionam, com a situação real da cena, a imagem de outra situação que é, justamente,