Maria, uma vida de desventuras
De Amélia Ruivo
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Maria, uma vida de desventuras - Amélia Ruivo
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Capítulo Um
Ela nasceu no dia 7 de novembro do ano de 1.960, em uma família de cinco irmãos, era a caçula, seu nome era Maria Aparecida, seus irmãos se chamavam Célia, Sílvia, Luciano e Elza.
A família morava em um sítio na zona rural da cidade de Sengés, no norte do Paraná, gente muito humilde, eram lavradores. Sua mãe, Lucinda, ajudava na roça, plantava horta e criava galinhas, sempre muito ocupada com os afazeres domésticos, esquecia de si própria, não ligava para a beleza, não se produzia, mal arrumava os cabelos, acordava de madrugada e já ia ajudar o esposo nos afazeres do sítio, as hortaliças mais bonitas sempre saíam de sua horta, e os animais mais viçosos eram os de seu sítio.
Lucinda tinha apenas vinte e cinco anos e já tinha cinco filhos, pois havia se casado muito jovem com José, homem da roça, que nunca soube demonstrar sentimentos, por essa razão Lucinda se sentia menosprezada, ela era somente uma ajudante no sítio, servindo apenas como uma fêmea para procriação. José ficava durante todo o dia nas plantações, levava a comida para o dia todo e voltava somente a tardezinha, quando Lucinda já havia dado conta de todas as tarefas do sítio, o marido só a via como mulher quando queria satisfazer suas necessidades sexuais e nada mais.
Certo dia, José saiu às pressas para ir à lavoura e acabou esquecendo a marmita que a esposa havia deixado preparada, ela estava dando comida para os animais do sítio e não viu quando ele saiu, só percebeu que o esposo tinha se esquecido quando foi preparar o almoço para os filhos. Ela preparou a comida rapidamente, pediu para que Célia cuidasse dos irmãos menores, pegou a marmita que José havia esquecido, colocou-a em uma sacola feita de tecido que era usada para transportar os alimentos, pegou a filha caçula, que era apenas um bebê que, se ficasse com os irmãos, poderia dar trabalho, e foi ao encontro do marido na lavoura, pois não queria que ele ficasse com fome.
Chegando lá, não avistou José, que não estava no lugar de costume. Começou a procurar pelo esposo, foi quando o encontrou, mas para a surpresa de Lucinda, José não estava sozinho, tinha uma mulher com ele, era a filha de um senhor que morava em um sítio vizinho, era mãe solteira e havia chegado a pouco tempo da cidade, mulher bem cuidada e bonita, os dois estavam abraçados e não restou dúvida da traição de José.
Lucinda não disse nada ao marido, voltou para a casa calada e resolveu fazer a maior desgraça em sua vida e na vida de seus filhos, foi até a casa de sua cunhada, Maria de Almeida, e entregou Maria Aparecida para que ela criasse. Chegando em casa, deu uma surra nos outros quatro filhos, trancou-se em casa e atirou com uma espingarda contra o próprio peito, vindo a falecer algumas horas depois.
Quando José soube da notícia, pouco se abalou, voltou para a casa que já estava cheia de vizinhos e começou os preparativos para o velório, dizendo apenas que ela tinha estragado a própria vida e ele não podia fazer nada a respeito, como se ele não fosse o culpado pelo ato da esposa. E assim começa a triste história de Maria Aparecida Dias.
Os cinco irmãos foram separados, Célia e Elza foram morar com a avó paterna, Dona Madalena; Silvia foi morar com a avó materna, Dona Chica; Luciano ficou morando com seu pai que, pouco tempo depois, casou-se com a amante e a levou para morar na casa que Lucinda tinha ajudado a construir. Por fim, Maria ficou com sua tia, com quem sua mãe a havia deixado no dia em que se matou.
Quando sua mãe a deixou, Maria tinha apenas seis meses de vida, sua tia era casada com um homem chamado Idalécio e tinha mais quatro filhas, Sônia, Marta, Ester e Luíza. A tia, Maria de Almeida, era irmã de José, pai de Maria Aparecida e falou para o irmão que iria criar o bebê como se fosse uma de suas filhas. José não se importou, pois tudo o que ele mais queria no momento era se ver livre dos filhos e viver com a amante sem ter empecilhos.
A vida no sítio era muito difícil, eles viviam em situação bem modesta, todos começavam a trabalhar muito cedo, tirando leite, carpindo quintal, fazendo farinha e costurando. Dona Maria de Almeida, como era conhecida pelas redondezas, era uma mulher muito severa com as filhas e não seria diferente com a sobrinha. No início, a menina era bem tratada, mas isso não continuaria por muito tempo.
Maria foi crescendo com suas primas e as tratava como irmãs, pois, desde que começou a entender as coisas, sua tia a obrigava a chamá-la de mãe e as primas de irmãs, dizia que Lucinda não poderia ser chamada de mãe, por ter feito o que fez com sua própria vida.
Quando Maria completou sete anos, a família mudou-se para a cidade de Itararé, interior de São Paulo, venderam o sítio e compraram uma casa. O tio Idalécio continuou trabalhando na roça, mas agora como empregado; a tia fazia costuras para ajudar na renda; Marta e Ester começaram a trabalhar como empregadas domésticas em casas de família; e Sônia, a mais velha, já havia se casado e ido morar com a família do marido.
Maria tinha sete anos e Luíza, a prima mais nova, tinha onze. As duas eram inseparáveis e brincavam sempre que dava tempo, pois desde muito cedo sua tia a fazia trabalhar nos afazeres domésticos, por mais que tentassem fazer parecer que Maria era um membro da casa, sempre havia uma diferença no tratamento entre as irmãs.
A única pessoa que a tratava com carinho era seu tio Idalécio, ele fazia de tudo para que ela ficasse feliz, todas as manhãs, antes de sair para a roça, deixava um pouco do virado de ovo ou feijão, que fazia para o café, para que ela comesse, pois se dependesse da