Educação Inclusiva Sob Múltiplos Olhares: Ações na Educação Profissional e Tecnológica
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Educação Inclusiva Sob Múltiplos Olhares - Juliani Natalia dos Santos
Farroupilha.
PREFÁCIO
DENTRE FRIOS E AMORES A ESPERANÇA SE FEZ BELA: DESAFIOS DA INCLUSÃO EM TEMPOS DE INCERTEZAS
Numa tarde fria de setembro de 2018, recebi o convite a prefaciar a obra Educação inclusiva sob múltiplos olhares: ações na educação profissional e tecnológica em processo de diagramação pela Paco Editorial. Com a delicadeza que lhe é habitual, uma das autoras me brinda com o convite, o qual explicito honra e felicidade no recebimento. O convite me remete a uma série de momentos charneiras
¹ que vivi ao longo de meu trajeto formativo² e que me impulsionaram a conhecer os colegas do Napne/Iffar, campus Santo Augusto.
Bem, possivelmente, este convite tenha ocorrido tendo em vista que, em 2007, eu ter sentido necessidade de realizar alguma formação no campo da educação especial, isso, devido às dificuldades para ensinar alguns estudantes que, hoje, denominá-los-ia de pessoas com necessidades específicas. Felizmente, naquele momento, encontrei edital que me proporcionou a realização do Curso de Especialização em Educação Especial/Altas Habilidades Superdotação. Logo após esse primeiro passo formativo, acredito que um segundo momento bem marcante em minha vida aconteceu com o convite que recebi, por volta de novembro de 2012, para compor a equipe de gestão do Instituto Federal Farroupilha à frente da coordenação de ações inclusivas na Reitoria do Iffar. Ambos os momentos me colocaram frente a possibilidades singulares de aprendizagens e mobilização de saberes.
Assumir a coordenação de ações inclusivas me fez interagir com os núcleos de atendimentos a pessoas com necessidades educativas especiais (Napnes), já instituídos no Instituto Federal Farroupilha.³ Um destes núcleos era o Napne/SA, e na época quem estava à frente da coordenação dele era Juliani Natalia dos Santos que, posteriormente, veio fazer mestrado comigo, fato esse que nos tornou parceiros de muitas outras jornadas, mas isso já é uma outra história. Voltemos... Quantas conversas, sonhos e desilusões trocamos ao telefone, pensando a inclusão no Iffar. O Napne/SA sempre teve um caráter proativo, questionador, realmente preocupado com a inclusão que viviam/faziam; um grupo multidisciplinar muito preocupado com a inclusão. Hoje, novamente, sou pego de surpresa e este grupo nos brinda com uma obra potente, cheia de vigor e esperança.
O que os leitores encontrarão neste livro? São sete capítulos recheados de vida. Seus autores não se escondem, nos mostram o que têm realizado para fazer a diferença no que tange à pessoa com deficiência. Fazer inclusão não é algo simples, nem trivial. Incluir, não é algo simplório ou trivial. A vida não é, ou não deveria ser, simplória. Existir com vitalidade é trabalhoso, exige cuidado e atenção, e fazer inclusão também. Esses colegas, de diversas áreas de conhecimento, fazem a verdadeira interdisciplinaridade. Fazem inclusão, porque vivem, porque não se escondem, porque acreditam que incluir é um direito e um dever. Direito de quem apresenta uma necessidade específica, dever de quem interage com gente; dever de quem precisa parar de esconder-se e pensar a inclusão antes de o estudante/pessoa chegar à instituição ou estabelecimento de ensino. Alguns dizem não vou adaptar minha escola porque os alunos com ‘deficiência’ ainda não chegaram aqui
. Ledo engano, justamente não chegaram até aqui porque nós não abrimos nossas portas para que eles chegassem.
Fazer inclusão é acolher as diferenças em todas as suas possibilidades. Faço inclusão quando aceito que preciso aprender o que não sei. Faço inclusão quando penso a infraestrutura da minha instituição para que esses alunos consigam acesso. Faço inclusão quando adapto meus materiais para que todos os estudantes possam ter acesso a eles. Faço inclusão quando penso que minha função como docente não é jogar conteúdos, mas fazer o possível para que o maior número de alunos aprenda. Faz inclusão quem adapta seus conteúdos para que o sujeito com necessidades específicas tenha acesso a eles. Faz inclusão quem quer, quem tem boa vontade, quem tem ética e não se esconde. Faz inclusão o gestor que sabe que gesta para a coletividade e não para si. Faz inclusão quem tem sensibilidade, quem é gente, quem pisa no barro e tem humanidade. Não faz inclusão quem não gosta de gente, quem não acredita nas pessoas, quem vê a deficiência e não vê o humano e as potencialidades que ele apresenta.
É disso que o livro trata, de sucesso, de dificuldades, de empenho, de luta. De um grupo de pessoas que enfrentam diariamente a árdua tarefa de incluir, com recursos e sem recursos, com auxílio e sem auxílio. Incluir é isso. Incluir é muito mais do que garantir vagas/cotas para as pessoas com deficiência.⁴ Incluir é garantir aprendizagem. Como fazer isso? Não existem regras. Cada caso é um caso, o importante é estudo, dedicação e querer que meus/nossos estudantes aprendam. É disso que trata essa obra. Uma versão dos diferentes caminhos possíveis para se fazer educação de qualidade, educação inclusiva, tal qual como temos feito nos Institutos federais de educação profissional e tecnológica desse país.
Uma ótima leitura a todos.
Prof. Dr. Vantoir Roberto Brancher
Notas
1. Momentos Charneira é terminologia incorporada a partir da obra Josso (2004), para a autora, charneira são divisores de águas em nossas vidas, dobradiças, encruzilhadas que tomamos e que mudam nosso trajeto formativo.
2. Vamos definir trajetos formativos a partir da obra Brancher e Oliveira (2017, p. 34) como aqueles percursos de formação ainda inconclusos, ainda em desenvolvimento, por isso mesmo não finitos, como vir a ser. Ou seja, o trajeto alia-se ao processo de construção e é elemento instituinte da formação desses indivíduos. Trajeto não está determinando o que o sujeito vai ser, ou onde irá chegar
.
3. Quem quiser conhecer um pouco desta história, recomendo a obra Brancher, Vantoir Roberto; Medeiros, Bruna de Assunção (org.). Inclusão e diversidade; repensando saberes e fazeres na educação profissional, técnica e tecnológica. Jundiaí: Paco Editorial, 2016. Ou ainda pode encontrar um pouco do que temos escrito no site do nosso grupo de pesquisa. Disponível em:
4. Mantive essa expressão porque é assim que a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008) se refere a essa população.
1. ACESSO, PERMANÊNCIA E ÊXITO DE ESTUDANTES DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA FRENTE ÀS AÇÕES AFIRMATIVAS
Ana Luisa Hentges Lorenzon
Juliani Natalia dos Santos
Paola Cavalheiro Ponciano
A evolução do sistema educacional brasileiro é marcada por fatores sociais e históricos, que se refletem ainda hoje, nas ações e nas políticas públicas que são pensadas em prol da educação. Como exemplo podemos citar a criação da Constituição Federal de 1988, a qual garante que a educação deve ser um direito de todos, tendo a família, o Estado e a sociedade como responsáveis por oferecer igualdade de condições para o acesso e permanência na escola. Da mesma forma, com a Declaração de Salamanca de 1994, esse mesmo direito é reafirmado às pessoas com deficiência, visando à inclusão social, independente das diferenças individuais.
Com isso, pode-se afirmar que é dado o livre arbítrio para qualquer pessoa, em pleno gozo de seus direitos civis, de frequentar qualquer instituição de ensino deste país, independente do gênero, orientação sexual, posição social, cor da pele ou credo religioso. Assim, abrem-se as portas às pessoas que possuem alguma deficiência, para que possam ingressar e concluir cursos com o apoio necessário. Nesta perspectiva, tem-se observado a ampliação do quantitativo de vagas e matrículas de estudantes NEE nas escolas de ensino regular (classes comuns), conforme é possível observar na Figura 1 a seguir.