O que há de errado com essa cidade?
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Sobre este e-book
Uma grande reviravolta transcorre e Anne talvez consiga parar tudo...mas sempre terá alguém para impedi-la.
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O que há de errado com essa cidade? - Eduardo Fogaça
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Prólogo
As paredes descascadas, a pintura desbotada, o maço de cigarros e a garrafa de vodka em cima da mesa de cabeceira eram provas de que Anne não era mais a mesma. Duvidava de que alguém fosse o mesmo naquela pacata cidade. Não depois do amanhecer, a cidade conheceu o sangue e a fúria.
Ela lembrava-se dos seus tempos de criança, no tempo em que tudo eram arco-íris e algodões doces. À época em que sonhava ser uma advogada, ou uma contadora, não devia ter mais de 12 anos. Lembrava-se de sua irmã, que na época fazia cursinho para o vestibular. Não que ela tenha passado, ou ao menos feito a prova, mas tinha lembranças felizes de sua esperança, que um dia venceria na vida, como os próprios pais não venceram.
Serviu-se de meio copo de vodka e meio copo de refrigerante. Quando levou o copo à boca, sentiu o calor transpassar seu corpo, da cabeça aos pés, aquele gosto doce, mais familiar ainda após o atentado. Pegou o maço de cigarros, acendeu um só para ver a fumaça saindo de sua boca, não conseguia parar de fumar, quanto mais fumasse melhor, morreria mais cedo.
Desceu cambaleando até a cozinha, estava bêbada, mal conseguia ver os degraus da escada. Por sorte, conseguiu chegar ao final sem nenhum ferimento. Pegou um prato de dentro do armário e serviu-se do macarrão do dia anterior. Na última semana, a lembrança de que estava sozinha, que não tinha mais família, por alguma razão, a tinha atormentado muito mais, talvez porque tivesse ido ao parque e visto as famílias felizes e perfeitas, mãe, pai, geralmente dois filhos, e um cachorro. Era seu sonho.
Nunca tivera uma família perfeita, sua mãe e seu pai viviam brigando. Não se lembrava de quantas vezes o pai tinha sido levado a delegacia por maus tratos.
Lembrava-se da vez em que o pai havia sido preso por pouco mais de 2 meses, havia dado uma surra em Anne e em seus irmãos, na época Anne tinha doze anos, Sofia 7, e Pedro 14, sua mãe não havia levantado um dedo para defendê-los, também estava com medo. Quem ligara para a polícia fora seu vizinho, Cláudio, que só ouvia os berros vindos do segundo andar da casa. A polícia demorou 10 minutos, tempo suficiente para que Anne estivesse com um olho roxo, a boca sangrando e alguns hematomas. Tinha medo.
No depoimento ela havia dito que eles haviam brigado, o que não era totalmente mentira, disse que o pai já havia o feito outras vezes e que sempre se livrava da cadeia pagando uma pequena fiança. Neste dia fez um pedido ao delegado, pediu que o pai fosse preso e que nunca mais voltasse para casa. Ele atendeu metade do seu pedido.
Ao decorrer dos anos, Anne já não sentia tanto medo do pai, conseguia confrontá-lo. Uma vez havia dado uma facada nele, eles haviam brigado feio, tinha uma vaga lembrança de o pai empurrá-la para cima da pia. Pegou uma faca do escorredor de louças e empurrou-a bem fundo no braço do pai. Esperava que ele ficasse com a cicatriz para sempre.
Na escola não era uma boa aluna, talvez por causa dos problemas em casa, Anne gostava de cabular aulas para fumar, beber e jogar jogos de azar. Não tinha dificuldade com as matérias, até gostava de algumas, mas o que poderia fazer, ser igual aos pais?
O telefone tocou, Anne despertou no susto, sentia-se enjoada, viu as duas garrafas de vodka vazias no chão ao lado da cama e concluiu que não ficaria bem o resto do dia. Tomou um remédio e foi se vestir, não lembrava-se da noite anterior. Não sentia vontade de comer, onde estava a tigela de macarrão que havia feito?Pegou as chaves, trancou o apartamento e