Amarga Pitanga
De Eduardo Bote
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Amarga Pitanga - Eduardo Bote
Amarga Pitanga
Eduardo Bote
Amarga Pitanga
Copyright © 2020 Eduardo Bote
Capa — Eduardo Moura, 2020
Todos os direitos reservados.
Para minha mãe
Primeiramente queria levantar-se tranquilo e imperturbado, vestir-se e, sobretudo, tomar o café da manhã; e somente depois pensar no resto, pois se dava conta de que, na cama, com suas reflexões, não chegaria a nada de sensato.
Franz Kafka — A metamorfose
Capítulo um
Ela encarava a pequena aranha retinta que subia pela parede cor de creme, sem graça, de seu quarto. Estava deitada na cama, com os pés para cima e encostados na mesma parede que tanto detestava. Queria muito que a tia tivesse pintado o quarto de uma cor mais alegre – rosa talvez. Aceitaria até amarelo canário, mesmo que não gostasse muito. Só queria livrar-se da cor de creme. Parecia cor de unha sem esmalte, como tinha dito para a avó alguns dias antes.
A aranha percorreu um trecho, parou por menos de um segundo e continuou seguindo pela parede. Fez mais algumas pausas e finalmente entrou atrás de um quadro pequeno onde havia pinceladas flores brancas, flores tão sem vida e tão sem graça quanto a cor do quarto. Cor de creme... Como a pequena garota de doze anos odiava aquela cor, aquele quarto, aquela casa! Queria morar com a mãe, no bairro Velho Engenho. Sentia tanta falta da varanda e das flores cheirosas, das pitangueiras carregadas com os pequenos frutos, do balanço velho amarrado com uma corda áspera numa das vigas de madeira da varanda... E sentia falta também da sala de estar com o grande tapete azul onde deitava ler revistas e falar coisas engraçadas com a mãe, da cozinha sempre impregnada com cheiros de temperos, de bolos, de pão caseiro, de compotas e de feijão... Porém, acima de tudo, sentia falta do quarto – um cômodo pequeno, porém bem organizado e com as paredes pintadas de azul.
Se pudesse, colocaria todas as roupas (velhas, as novas não queria) numa das malas caras da avó e iria correndo para a casa onde crescera ao lado da mãe. Só queria sentar no balanço mais uma vez e sentir o cheiro das pitangas esmagadas no gramado e depois correr até a cozinha para tomar café com leite.
Ao invés disso, estava absorta olhando a maldita aranha andando pela parede mais uma vez. O aracnídeo abandonou a segurança que havia atrás do quadro das flores brancas e continuou andando, aparentemente sem rumo, pela parede cor de creme. Pela odiosa parede cor de creme. Como essa parede era horrível! Não só essa, mas todas as outras três. E não só essas, mas também as paredes da sala de estar, do banheiro, dos outros quartos e da cozinha. Até mesmo as paredes da lavanderia – de lajotas brancas e azuis – eram horríveis! Tudo parecia ruim nessa casa. Era tudo sem vida, sem energia e sem ânimo.
Como ela sentia falta da varanda...
Ao pensar nisso outra vez, lembrou-se também que a vizinha, Dona Carla, sempre aparecia às quartas-feiras e trazia consigo a capelinha de Nossa Senhora, um livreto de orações e um bolo cheiroso. Ela fazia bolo de fubá cremoso como ninguém. Só de pensar nisso, a menina ficou com água na boca.
E seus olhos focaram a aranha pela terceira vez. Sem ter desaparecido atrás de outro quadro (havia mais um), o pequeno ser de oito patas aproximou-se da porta e ali ficou por algum tempo. A garota virou a cabeça para o lado, para enxergar melhor, e balançou os pés sem muita vontade. Só queria ficar ali o dia todo.
Mesmo com a janela aberta, o quarto estava abafado e o ar parecia rançoso, difícil e péssimo de ser respirado. O verão tinha acabado de começar e o sol aparecia logo nas primeiras horas da manhã, acordando quem tivesse apenas cortinas e não