A ponte
De Carol Peace
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Sobre este e-book
Quanto suportará a humanidade antes de sua metamorfose?
A única forma de saber é avançando com a (r)evolução.
"A Ponte" é um conto que se passa em um futuro (não tão distante) devastado pela guerra e pela ganância das grandes corporações. Theo Moraes é um jovem sem qualquer perspectiva para o hoje (e tampouco para o amanhã) que deseja apenas sobreviver em um mundo dominado por uma ditadura cruel. O que acontecerá quando ele se perder numa densa trama de identidade e de conspirações genéticas? Será mesmo que a vitória é do mais apto? Ou, quem sabe, o futuro pertença aos excluídos? Leia e descubra de qual lado você vai querer estar.
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A ponte - Carol Peace
Não há nada mais cruel do que a realidade. A vida, meus caros, não fica melhor com o passar do tempo, ela só piora, acreditem. Na verdade, não me considero pessimista; acredito que sou bastante realista. Ah, claro! Antes que você pergunte, meu nome é Theo Moraes e vou ser o seu narrador.
Estava trabalhando na mesma intensidade de sempre, esfregando os azulejos sujos de sempre. Ouvi uma sirene alta e, antes que conseguisse erguer os olhos, senti algo sendo enfiado sobre a minha cabeça; um saco de pano sujo, para ser mais exato.
Quando dei por mim, novamente, estava num cômodo muito pequeno. Respirar estava bastante difícil e eu conseguia sentir ao menos uma costela fora do lugar certo (doía bastante). Quando a porta se abriu, me encolhi mais ainda no meu canto, temendo o pior.
— Dum, saia daí. Agora! — o carcereiro gritou, me puxando pelo pé para me jogar no meio do corredor iluminado. Estava com os braços sobre minha cabeça, tentando me proteger, contudo, os chutes terminaram acertando as minhas costelas. Levantei num pulo torto, tentando evitar a morte certa. Percebi vários outros dums (era assim que chamavam caras azarados como eu) e logo me enfiei na fila. Como sempre me falaram na academia: quando você está num lugar em que a mentalidade de cardume impera, vire o peixe mais estúpido que você conseguir!
Logo as televisões que estavam dispostas nas paredes se acenderam. A bandeira da Corporação tremulou ao vento e eu já sabia o que estava por vir: finalmente iria realizar meu sonho de virar esterco! Estava exultante por isso.
— Vocês estão aqui para receber uma designação. Você tem muita sorte, por se submeter ao bem maior. Vida longa à corporação!
Cerrei meus punhos, na vã tentativa de me defender, no entanto, não pude reagir enquanto colocavam outro saco sujo sobre minha cabeça. Debati-me por alguns segundos até sentir um forte cheiro de uvas podres… e a consciência me deixou na mão de novo.
Acordei de sobressalto numa cela maior do que a anterior. Ao menos nessa havia luz e um cobertor. Abracei-me com firmeza aos meus joelhos e acordei com o barulho de alguma coisa sendo jogada no chão. Um pedaço de pão e uma gororoba cinza – comi porque aquela poderia ser minha última refeição da vida. Morrer de barriga vazia para quê, não é mesmo amigos?
— Dum. Nome completo — olhei para cima e não consegui distinguir as feições do cara.
— Theo Moraes, senhor — respondi e me cutuquei mentalmente por falar senhor (os anos de escola militar no Território 8 me transformaram num robô, o que posso fazer?).
— Você é militar? — Eu quase ri da pergunta.
— Estudante graduado, senhor — quase soltei meu número de matrícula na resposta.
— Por isso você sabe apanhar — ah, claro, isso deve ter sido um elogio. — Por quanto tempo?
— Quinze anos.
— Siga a fila e vá para o tratamento.
Com o convite formal, levantei e passei pelo