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Euclides socialista: Obras Esquecidas
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E-book70 páginas52 minutos

Euclides socialista: Obras Esquecidas

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Sobre este e-book

Quem diria que Euclides da Cunha, o mais renomado intelectual militar do Brasil, era um socialista? Assim como Lima Barreto, Oswald de Andrade, Tarsila Amaral e outros grandes literatos brasileiros, Euclides também teve sua militância política apagada da história.

Poucos sabem, mas o autor do clássico Os Sertões foi preso e expulso do Exército, em 1888, por um ato de rebeldia ao quebrar seu sabre numa cerimônia com o ministro da Guerra do Império, Tomás Coelho. Após esse ocorrido, o ex-militar largou a farda e se envolveu com ideias mais iconoclastas, passando a assinar seus artigos e crônicas no jornal A Província de São Paulo, antigo Estadão, com o pseudônimo do anarquista Joseph-Pierre Proudhon, a quem se referia como um dos pensadores mais originais de seu tempo.

Dois anos depois de ter publicado sua obra mais renomada, em 1904, Euclides começa a defender o legado intelectual do comunista alemão Karl Marx, "este inflexível adversário de Proudhon", quando lembra, num artigo histórico, que: "o caráter revolucionário do socialismo está apenas no seu programa radical. Revolução: transformação. Para conseguir, basta-lhe erguer a consciência do proletário (…) Porque a revolução não é um meio, é um fim; embora, às vezes, lhe seja um meio termo, a revolta. Mas esta sem a forma dramática e ruidosa de outrora. As festas do primeiro de maio são, quanto a este último ponto, bem expressivas. Para abalar a terra inteira, basta que a grande legião em marcha pratique um ato simplíssimo: cruzar os braços… Porque o seu triunfo é inevitável".
IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de set. de 2019
ISBN9788569536611
Euclides socialista: Obras Esquecidas

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    Euclides socialista - Euclides da Cunha

    Freyre

    Euclides Socialista

    Obras Esquecidas

    PREFÁCIO

    Walnice Nogueira Galvão

    Professora Emérita da FFLCH-USP

    Este livro oferece ao leitor uma seleção dos textos de Euclides da Cunha mais diretamente ligados ao socialismo.

    Um socialismo de base já se revelava nos quatro sonetos dedicados a protagonistas da Revolução Francesa, que compôs ainda em 1883, quando mal saía da adolescência. Em seu republicanismo ardente, demonstram admiração por quem, coisa inédita na História, apeou do poder uma classe e conduziu um rei à guilhotina, liquidando a monarquia e instituindo a República. Tais líderes, cada um agraciado com um soneto em que seu nome fornece o título, são Danton, Marat, Robespierre e Saint-Just.

    Este volume estampa artigos resolutamente dedicados a fazer propaganda republicana. Mesmo depois de vitoriosa a República, Euclides persistiria no comentário cerrado e acirrado ao tumultuado dia-a-dia do novo regime. Parte desses artigos foi subscrita pelo pseudônimo de Proudhon. A escolha do pseudônimo implica numa declaração de princípios, já que se trata de um famoso teórico daquilo que ficou conhecido como socialismo utópico, em contraposição ao socialismo científico de Marx e discípulos. Proudhon, teórico e reformador francês, também foi inspirador do anarquismo. Outros socialistas utópicos são Robert Owen, Saint-Simon e Fourier, mas é Proudhon o autor de uma das mais célebres frases do pensamento revolucionário: A propriedade é um roubo.

    Euclides, ativista engajado na campanha pela abolição do cativeiro, pela derrubada do trono e pela instauração da República, fora expulso da Escola Militar da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, por praticar um ato de insubordinação contra o regime monárquico então vigente. Por isso, passaria uns tempos em São Paulo, acolhido no reduto republicano que era o jornal A Província (hoje O Estado de S. Paulo). É ali que inicia sua colaboração na grande imprensa, e especialmente nesse jornal, a quem seria fiel pelo resto da vida. Entrega-se de saída, como vimos, à violenta propaganda republicana.

    Mais tarde, seria o enviado especial do jornal à Guerra de Canudos, para o qual escreveria as reportagens recolhidas postumamente no volume Diário de uma expedição. O interesse maior dessas reportagens é que nelas reside o embrião de Os sertões, que absorveu cinco anos de elaboração, acrescido que foi de estudos de ambição enciclopédica, procurando versar todo o saber de seu tempo, desde as ciências até às humanidades.

    Vão ainda no presente volume outros textos, bem mais conhecidos que os artigos de Proudhon. Um deles, sem título, foi publicado a 1º. de maio de 1892 e comenta justamente o significado do Dia do Trabalho, prestando homenagem ao proletariado.

    Por seu lado, Um velho problema avança mais na consideração das relações de exploração entre o capital e o trabalho, chegando a citar Karl Marx. Neste, Euclides preconiza a greve como arma de luta. É o texto em que vai mais fundo em suas reflexões sobre teoria política, que assumem os contornos de um socialismo romântico.

    Já da fase amazônica é Judas Ahasverus que é, sem favor, um dos mais belos textos da literatura brasileira. Trata-se de uma ousada interpretação da malhação de Judas em sábado de Aleluia, visto como o ritual do bode expiatório em que se projeta a existência degradada do seringueiro, escravizado ao patrão pelas dívidas.

    Nota-se que o socialismo de Euclides surge sempre misturado ao nacionalismo, o que dificulta nossa avaliação, já que hoje predomina o componente internacionalista ou universal do socialismo. Entretanto, a grande tarefa de sua geração foi justamente dedicar-se a mapear o território do Brasil e de seus viventes, então ainda em grande parte desconhecidos. Ele e seus contemporâneos eram todos patriotas, consagrados a conhecer e a fazer conhecer o país.

    Apesar disso, nota-se mais ainda e acima dos laivos nacionalistas sua preocupação com os oprimidos, alinhando-se destemidamente com os canudenses primeiro e com os seringueiros da Amazônia depois. Nesta vertente destaca-se o senso de missão e o alcance de seu pensamento visionário.

    São essas as linhas de força atravessando Os sertões, sua obra máxima, que é um libelo, acusando o Brasil de genocídio – termo que ainda não existia ao tempo –, ou seja, de, a qualquer pretexto ou problema, recorrer ao massacre.

    A preocupação socialista contamina até sua pouco conhecida poesia, musa cedo abandonada deste grande prosador. Dos mais claros e significativos é o comentário manuscrito que acompanha seu poema Os grandes enjeitados:

    "Uma noite passávamos, eu e um amigo, em frente ao Cassino – em noite

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