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O ouvido do bode preto
O ouvido do bode preto
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E-book83 páginas1 hora

O ouvido do bode preto

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Sobre este e-book

O Ouvido do Bode Preto traz contos de terror social que expõem a sombra abaixo da turva superficialidade interpessoal, aquilo que enxergamos nos outros, mas falhamos em ver em nós mesmos. Entretanto, da perspectiva do Bode Preto, nem mesmo as vítimas são inocentes, e as fronteiras entre o certo e o errado são o habitat original dos personagens, não importa seu estrato.
IdiomaPortuguês
EditoraViseu
Data de lançamento1 de jan. de 2020
ISBN9788530013820
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    Pré-visualização do livro

    O ouvido do bode preto - Helvécio Furtado Junior

    www.eviseu.com

    Prefácio

    Uma vez, conversando com um velho mendigo que havia acabado assim por ter sido antes um milionário que fracassara em morrer até os setenta anos depois de ter vivido com opulência para não deixar herança, ouvi uma história que segundo ele, contam os antigos nativos do seio das religiões ocidentais.

    Nos tempos antigos, quando os conflitos religiosos resumiam-se à escaramuças em vilarejos e o cristianismo ainda não tinha atingido sucesso absoluto, as três religiões oriundas do mediterrâneo (judaísmo, islamismo, cristianismo) compartilhavam, como hoje, os mesmos espaços, porém mais harmoniosamente. E misturavam-se, inclusive. Por exemplo, os judeus tinham por hábito criar um bode preto, indo até ele após o dia de serviço e sussurrando algo no ouvido do animal. Era uma prática bastante comum, e conforme o cristianismo crescia, cresceu o interesse por ela. Porquê os judeus faziam isso? Os padres e bispos vieram a aprender que após um dia de serviço, da perspectiva judaica, era impossível que um ser humano não tivesse cometido pecado, fosse por fato ou por pensamento. Os sinoistas entendiam que o indivíduo não consegue deixar de exprimir seus feitos, sejam bons ou ruins, portanto era melhor contar os podres ao bode, que não falava, pois assim permaneciam em segredo. Os cristãos adaptaram a prática chamando-a confissão, mais ou menos na mesma época em que os padres passaram a usar vestes negras. Eles entenderam que os judeus falavam com os bodes pois precisavam confabular de si para si, ou seja, refletir. Para capitalizar este advento, o bode foi substituído por um clérigo, inadvertidamente iniciando - ou ao menos contribuindo para - o processo, hoje em dia bastante aprimorado e internalizado em nós, de vigilância e punição que furta das pessoas a capacidade de pensarem sozinhas. O bode preto, que nunca poderia pecar, foi demonizado conforme as práticas cristãs difundiam-se sobre as outras, e hoje é considerado um símbolo do anticristo.

    Agradecimentos

    Agradeço à todas as mulheres que se dispuseram a participar da minha formação enquanto indivíduo, notoriamente minha mãe e minha filha, que são as maiores contribuidoras do meu projeto de vida. Ao meu pai e aos familiares que nunca me quiseram mal e sempre me apoiaram, sou eternamente grato pelas lições e experiências. As coisas que aprendi com vocês não poderiam ter sido ensinadas por mais ninguém. O primeiro esboço dO Ouvido do Bode Preto surgiu durante as práticas propostas na disciplina Escrita Criativa, ministrada pelo Dr. Márcio Markendorf, do curso de Cinema na Federal de Santa Catarina. Por essa disciplina, e também por toda a orientação posterior, sou eternamente grato. Agradeço também aos professores Selma Goulart, Alfredo Manevy, Aglair Bernardo, e Daniele Gallindo, minha primeira orientadora, que desempenhou crucial papel em minha vida acadêmica durante um dos meus períodos mais obscuros, à qual também peço sinceras desculpas pelas imaturidades e vacilos. A todos os professores que contribuíram e que hão de contribuir para a minha eterna formação enquanto indivíduo, prometo que retribuirei à espécie tamanho investimento. Muito obrigado também à Rafaella Whitaker pelas colagens sensacionais.

    Dadas as oportunidades que recebi na minha vida, reconheço que nada mais fiz do que aproveitar e absorver o esforço de muitas outras pessoas (camponesas, comerciantes, servidoras, professoras, teóricas, cineastas e um sem fim de outras), das quais a maioria eu desconheço. Sinto que é um dever fazer valer as muitas horas de trabalho alheio que sustentam uma pessoa como eu. Sou infinitamente grato a todos os fios do tecido social sobre o qual eu me deito, com o qual me cubro, e do qual sou parte, nem melhor que a pior e nem pior que a melhor. Finalmente, agradeço à Gabriela Vasconcelos pelo zelo com nosso tesouro compartilhado, e a Ana Carolina Fernandes, por ser a pessoa mais importante que conheci na minha vida adulta.

    Apoiadores

    Alfredo Manevy

    Vinícius Antônio

    Gabriel Varalla

    Windy Kessler

    Carlos Vaz

    Vera Lúcia Goulart de Souza

    Maria Estrázulas

    Clélia Maria Campigotto

    Leandro Goulart de Souza

    Aglair Maria Bernardo

    Nairana Goulart Furtado

    Lucas dos Santos Soares

    Helvécio Ferreira Furtado

    Andréa C. Scansani

    Josias Hack

    Letícia Freitas

    Beatriz Ribeiro

    Thiago W. Mendonça

    Marcio Markendorf

    Enilson Pool da Silva

    Fernanda Spencer

    Selma Goulart Furtado

    Carlos Roberto Goulart

    Agostine Braga

    Balada

    Christina Rossetti

    Quando eu estiver morta, minha amada,

    Não cantes baladas tristes por mim;

    Não plantes rosas em minha lápide

    Nem cipreste sombrio que mate o capim

    Deixa que sobre mim a grama verdeja

    Molhada de chuva e orvalhada

    E se desejares, recorda

    E se desejares, apaga

    Eu não verei a penumbra

    Eu não sentirei a chuva

    Eu não ouvirei o rouxinol

    Cantar, como se em penúria

    E sonhando através do poente

    Que não se ergue e nem se deita

    Quem sabe eu me lembre

    E quem sabe eu me esqueça

    Anno Domini

    Na periferia de Belém viveu um senhor chamado José e sua neta Maria. O velho era carpinteiro, a criança lavava roupa pra fora e tinha que estudar. A mãe de Maria era bonita. Achou um bacana e foi embora depois que o esposo, quer dizer o pai da pequena, pereceu de pinguço. Depois de perder o filho pro gole, o velho José desgostou da marvada e nunca mais tomou. A criança cresceu longe de cachaça e dentro da igreja. Gente comum, pouco mais que estatística. Olhando para eles, nada havia de formosura que os destacasse para que fossem desejados.

    O mato onde cresceu aquela comunidade mostrava onde podia que aquele local teria sido outrora um palácio dos sentidos selvagens, mata onde a imaginação das crianças e dos adultos poderia florescer até que harmoniosamente se tornasse real. Porém, poucos percebiam a beleza natural que lutava para existir em meio ao lixo, esgoto e

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