A Toga Contra o Voto: O STF no Impeachment da Presidente Dilma
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Sobre este e-book
O presente livro destina-se a advogados, estudantes de Direito, estudantes de Ciência política e todos que se interessam por questões relacionadas à judicialização da política e ao processo de impeachment de Dilma Rousseff.
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A Toga Contra o Voto - Pedro de Araújo Fernandes
Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2018 dos autores
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Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
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COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO SOCIOLOGIA DO DIREITO
O desafio feito à democracia foi respondido vigorosamente. Sua recuperação tornou-se legítima através do movimento realizado pelas Forças Armadas, já estando restabelecido o poder de governo pela forma constitucional.
(Ministro Ribeiro da Costa, presidente do Supremo Tribunal Federal, em 04 de abril de 1964)
PREFÁCIO
A obra publicada pela Editora Appris, de autoria do professor Pedro Fernandes de Araújo, é um importante reconhecimento de um estudo pautado em investigação científica e com uma perspectiva crítica. Tais variáveis de reconhecimento estão estruturadas neste livro, a respeito do impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016. O estudioso irá privilegiar como objeto o tema da judicialização.
O leitor encontrará na obra toda uma gama de teorias em torno da judicialização. Destaca-se a mais para o leitor toda a trajetória do seu processo político. Ele traz, também, para reflexão, a ida dos conflitos sociais aos tribunais superiores. Nesse sistema, destaca-se, por exemplo, a concepção de judicialização que foi reconhecida e estruturada por Luiz Werneck Vianna a respeito de uma visão política otimista do processo de judicialização. Vianna pontua, por exemplo, o fenômeno político em torno dos tenentes da Revolução de 30 para compreender a judicialização no Brasil do final do século XX.
O trabalho corajoso e inovador do professor Pedro de Araújo Fernandes culmina, dentre as teorias de judicialização examinadas, na teoria da megapolítica moldada pelo estudioso canadense Ran Hirschl. Esse estudioso, no capítulo quinto de sua obra Juristocracy, desenha como as elites, diante de um limite de crise institucional, apelam para o campo do Judiciário diante de um quadro político conflitivo.
O leitor terá a oportunidade, além das teorias de judicialização examinadas, de ter todo um percurso detalhado dos procedimentos do impeachment da presidente Dilma Rousseff como eles foram pautados pelo Supremo Tribunal Federal. Questiona-se, assim, o seu fundamento democrático. O esforço teórico prático dispendido pelo autor prefaciado em termos de uma sistematização do processo de impeachment no Brasil equivale ao trabalho de 2017, de Cass R. Sunstein, Impeachment – A citizen’s Guide (Harvard).
Pontua-se, ainda, que o professor Pedro Fernandes sistematiza para a leitura decisões como o caso Delcidio Amaral, para exame e discussão crítica.
Toda a obra ora editada, A toga contra o voto: o STF no impeachment da presidente Dilma, com o seu objeto da megapolítica, contribui na compreensão da profunda crise democrática vivenciada principalmente pela sociedade americana. A teoria constitucional estadunidense tem avançado na análise dessa crise institucional ao modelar parâmetros de análise. É o caso de Jack Balkin ao distinguir rot constitution de constitutional crisis. Em rot constitution, Balkin vê a fragmentação do campo constitucional e o espaço político. Mas a noção de megapolítica pode ganhar novos focos ao enquadrá-la na obra How democracies dies, de 2018, da editora Crown/Penguin, de autoria de Stevan Levistsky e Daniel Zbatt.
Por último, desejo parabenizar a importante iniciativa da Editora Appris pela edição da obra ora prefaciada. O professor Pedro Fernandes de Araújo destaca-se usando o seu próprio termo de protagonismo
, ao abrir a possibilidade de compreensão da judicialização em seus vários naipes institucionais, ao abrir a possibilidade de articular a megapolítica com o espectro do campo conflitivo destacado pela discussão de crise constitucional.
Jose Ribas Vieira
Titular de Direito Constitucional aposentado da UFF
Titular de Direito Constitucional da UFRJ
Associado PUC-Rio
Verão de 2018
Sumário
Introdução
A judicialização da política: panorama teórico
2.1 O surgimento do termo: a judicialização da política segundo Neal Tate e Torbjörn Vallinder
2.2 Diferentes abordagens
2.3 O panorama teórico no Brasil
2.3.1 A judicialização de baixo para cima
de Luiz Werneck Vianna e Marcelo Burgos
2.3.2 O Ministério Público como protagonista da judicialização no entendimento de Rogério Bastos Arantes
2.3.3 Gisele Cittadino e a descontinuidade da história constitucional brasileira
2.3.4 As críticas de Koerner e Maciel às análises de Werneck Vianna e de Rogério Arantes e ao próprio conceito de judicialização da política
2.3.5 O resgate do conceito por Alexandre Veronese
2.3.6 A perspectiva institucionalista de Ernani Carvalho
2.3.7 As diferenças e semelhanças da judicialização da política nos governos FHC e Lula segundo Matthew Taylor e Luciano da Ros
2.3.8 Thamy Pogrebinschi e o falso silogismo da judicialização
2.3.9 A crítica de Lênio Streck e a diferença entre ativismo e judicialização
2.3.10 A visão de Leonardo Avritzer e Marjorie Corrêa
Da judicialização da política à judicialização da megapolítica
3.1 O conceito segundo Ran Hirschl
3.2 As áreas da judicialização da megapolítica
3.3 As causas da judicialização da megapolítica
3.4 A judicialização da megapolítica no Brasil
O processo de impeachment de Dilma Rousseff e o protagonismo do STF
4.1 Determinantes políticas do impeachment
4.1.1 O contexto adverso do 2º mandato de Dilma Rousseff
4.1.2 O impeachment na agenda política
4.1.3 O programa Uma Ponte para o Futuro
4.1.4 A prisão de Delcídio Amaral: a 1ª judicialização da megapolítica pelo STF no processo que levou ao impeachment
4.2 A aceitação do pedido de impeachment e a definição da sua natureza
4.2.1 O vazamento das delações de Delcídio Amaral
4.2.2 A condução coercitiva de Lula e o pedido de prisão preventiva
4.2.3 A suspensão da nomeação de Lula como ministro da Casa Civil: A 2ª judicialização da megapolítica pelo STF no processo que levou ao impeachment
4.2.4 A admissão do pedido de impeachment na Câmara dos Deputados
4.2.5 A suspensão do mandato de Eduardo Cunha: a 3ª judicialização da megapolítica pelo STF no processo que levou ao impeachment
4.2.6 O afastamento da presidente Dilma Rousseff
4.2.7 As gravações de Sérgio Machado
4.2.8 A consumação do impeachment
4.3 A judicialização da megapolítica como viabilização e ocultação de determinado projeto político
Considerações Finais
Referências
1
Introdução
Este livro examina o papel desempenhado pelo Supremo Tribunal Federal no processo que culminou com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff à luz do conceito de Judicialização da Megapolítica
, do cientista político Ran Hirschl. Pela análise das decisões do STF e do contexto político em que elas foram tomadas, demonstro que essa corte adotou um comportamento ativista que foi decisivo para a queda da ex-presidente. Essa postura ativista do STF contou com o apoio das elites políticas, econômicas e sociais do país, visto que abriu caminho para viabilizar, de forma encoberta, uma agenda política que fora seguidamente derrotada ao se apresentar mais abertamente nas disputas eleitorais nacionais. Tal desfecho sugere que as leituras positivas do fenômeno da judicialização da política na literatura nacional ‒ no período em que ele se associava à expansão de direitos nos marcos da democratização do país – podem ter subestimado os riscos que esse processo representava para o próprio regime democrático ao se deslocar para temas da megapolítica, ou seja, para temas políticos centrais.
Assim, pela análise das decisões do STF e do contexto político em que elas foram tomadas busco demonstrar que essa corte adotou uma postura que foi fundamental para a queda da ex-presidente e que, longe de poder ser explicada por uma predisposição psicológica ou comportamental dos juízes, é fruto de determinantes políticas mais amplas relacionadas à grave crise pela qual passa o país e à tentativa de responder a essa crise por meio de um projeto de orientação liberal não legitimado pelas urnas.
Nesse sentido, o livro, no seu início, apresenta uma breve revisão da literatura sobre a judicialização da política e, a seguir, introduz o conceito de judicialização da megapolítica, pouco utilizado por autores brasileiros, para analisar o processo de impeachment à luz deste conceito.
A discussão teórica sobre a judicialização da política é feita no capítulo 2. Parto da formulação conceitual de Neal Tate e Torbjörn Vallinder e passo para o panorama teórico brasileiro. Exponho o diálogo travado entre eles e destaco os pontos principais de suas teorias. Essa revisão de literatura destaca os principais argumentos dos autores brasileiros e os contrasta com a experiência recente de judicialização no país.
No capítulo 3 é apresentado o conceito de Judicialização da Megapolítica segundo Ran Hirschl e listo suas subdivisões e as condições políticas e institucionais necessárias para a ocorrência do fenômeno. Verifico, também, a