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Adultos com síndrome de Down: A deficiência mental como produção social
Adultos com síndrome de Down: A deficiência mental como produção social
Adultos com síndrome de Down: A deficiência mental como produção social
E-book251 páginas4 horas

Adultos com síndrome de Down: A deficiência mental como produção social

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Sobre este e-book

Livro que trata a deficiência mental como condição que se estabelece mediante as relações sociais. Apoiada na abordagem histórico-cultural, sobretudo nas contribuições de Vygotsky, a autora mostra que, mesmo diante de alterações orgânicas – sejam elas estruturais ou funcionais do sistema nervoso – é na interação em sociedade que o indivíduo vai se desenvolver, ou não, como deficiente mental.
São apresentadas histórias de vida de alguns adultos com síndrome de Down que, em diferentes contextos, frequentaram o ensino comum e chegaram à universidade. O olhar atento a essas e a outras histórias de ruptura pode nos ajudar a entender como a constituição dos seres humanos, mesmo em circunstâncias de desvantagem, está sempre vinculada à relação com os demais.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento30 de jun. de 2020
ISBN9786556500058
Adultos com síndrome de Down: A deficiência mental como produção social

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    Adultos com síndrome de Down - Maria Sylvia C. Carneiro

    seguir.

    1

    A ABORDAGEM HISTÓRICO-CULTURAL E OS ESTUDOS DE DEFECTOLOGIA

    [13]

    Sabemos bem que, ao darmos o primeiro passo, não poderemos evitar cometer muitos e sérios erros. Porém, todo o problema reside em que o primeiro passo seja dado em uma direção correta. O resto virá a seu tempo. O incorreto será eliminado, o que falta será agregado.

    Vygotsky; trad. nossa

    A contribuição de Vygotsky para a construção de uma nova psicologia, embasada nos princípios do materialismo histórico e dialético, é bastante significativa, na medida em que a perspectiva por ele apontada rompe com o dualismo psicofísico presente nas teorias psicológicas de sua época. De um lado, um grupo baseado em pressupostos empiristas, que via a psicologia como ciência natural que devia se ocupar dos comportamentos observáveis, entendidos como habilidades mecanicamente constituídas, e limitava-se à análise dos processos mais elementares, desconsiderando os fenômenos complexos da atividade consciente, especificamente humana. De outro, um grupo inspirado em princípios idealistas, que a entendia como ciência mental, postulando que a vida psíquica humana não poderia ser objeto de estudo da ciência objetiva. Por isso, detinha-se na descrição subjetiva dos fenômenos psíquicos tipicamente humanos.

    Com uma produção de mais de 180 trabalhos (monografias, teses, relatórios, cursos, prólogos etc.) em dez anos de estudo, no período entre 1924 e 1934, a atualidade da obra de Vygotsky é assim comentada por Shuare (1990, pp. 57-58):

    Podemos dizer que, se algo distingue a atitude dos psicólogos contemporâneos de Vygotsky, é que voltamos a ele não como um cientista do passado, um personagem da história da psicologia, mas como um pensador de hoje e estudamos suas obras como se não houvessem sido escritas há mais de meio século, mas agora.

    O contexto histórico-cultural

    O contexto histórico e cultural em que Vygotsky viveu (1896-1934) era propício para sua proposta inovadora. A ciência e seus avanços eram bastante valorizados na sociedade soviética pós-revolucionária, uma vez que poderiam apontar soluções para os problemas sociais e econômicos então existentes. Rego (1995, p. 27) sintetiza esse contexto, afirmando:

    A atmosfera de sua época era de grande inquietação e estímulo para a busca de respostas às exigências de uma sociedade em franco processo de transformação. Um bom exemplo dessas aspirações era o enorme poder atribuído à educação, que se traduzia no esforço de elaboração de programas educacionais eficientes, que erradicassem o analfabetismo e oferecessem melhores oportunidades aos cidadãos.

    Até os 15 anos, Vygotsky estudou em casa, com um tutor particular. Filho de uma família de origem judaica, vivia com os pais e os sete irmãos, frequentando a biblioteca de sua casa e uma biblioteca pública. O acesso a fontes variadas de informações, aliado ao aprendizado de diferentes línguas (alemão, latim, hebraico, francês e inglês), contribuiu para a sólida formação intelectual de Vygotsky. De 1914 a 1917, estudou Direito na Universidade de Moscou. Nesse mesmo período, assistia a aulas de história, filosofia, psicologia e literatura na Universidade Popular de Shanyavskii.

    No final dos anos 1920, Vygotsky viajou por toda a União Soviética, dedicando-se à docência, principalmente à formação de educadores, e à ajuda na constituição de novos laboratórios de investigação. No início dos anos 1930, começou a assistir às aulas de medicina, especialmente de neurologia. Seu interesse pela medicina parece ter iniciado a partir de seu desejo de conhecer mais sobre as desordens neurológicas relacionadas com a fala e o pensamento, já manifestado em 1929 em seus escritos sobre a afasia.

    Essas breves informações sobre o seu percurso acadêmico[14] mostram claramente que Vygotsky circulou por diferentes áreas do conhecimento: arte, literatura, linguística, filosofia, antropologia, psicologia, neurologia, defectologia e temas relacionados à educação.

    Vygotsky iniciou sua atuação profissional aos 21 anos, após a Revolução Russa de 1917. Em Gomel (cidade onde viveu parte da infância até a juventude), no período de 1917 a 1923, lecionou e proferiu palestras sobre temas relacionados à literatura e à psicologia em várias instituições. Nessa época já aparece também seu interesse por questões ligadas à pedagogia.[15]

    Seu interesse pela psicologia iniciou-se a partir de seu contato, no trabalho voltado à formação de professores, com problemas de desenvolvimento fora do padrão normal apresentados por crianças cegas, surdas, deficientes mentais etc. Tal experiência o impulsionou a buscar alternativas que pudessem ajudar o desenvolvimento de crianças com essas e outras deficiências. Porém, seus estudos no campo da defectologia (que serão tratados mais adiante neste capítulo) tinham como objetivo não só contribuir para a compreensão do desenvolvimento dessas crianças, mas revelam-se também uma excelente oportunidade de compreensão dos processos mentais humanos, assunto que viria a ser o foco de suas pesquisas

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