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O 6º continente: Precedido de Antigo doente dos hospitais de Paris
O 6º continente: Precedido de Antigo doente dos hospitais de Paris
O 6º continente: Precedido de Antigo doente dos hospitais de Paris
E-book155 páginas1 hora

O 6º continente: Precedido de Antigo doente dos hospitais de Paris

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Sobre este e-book

A ascensão de uma família que - de uma pequena manufatura de sabão a uma tentacular multinacional de tendência mafiosa - alcança fortuna na indústria da limpeza e se torna em um século a fonte da mais espantosa poluição que a espécie humana já produziu. É esta, em suma, a história contada por Daniel Pennac na peça O 6º continente, encenada na França por Lilo Baur.
Das praias da Grécia aos bordéis de Bangkok, passando pelas águas marítimas desse 6º continente - um golfo de lixo em pleno Pacífico -, a peça narra o itinerário da família cujo destino é emblemático de seu século, encarnando ao mesmo tempo seus paradoxos e sintomas. Os personagens, oscilando sempre entre o entusiasmo cego quanto ao futuro e o realismo pragmático de uma relação eficaz no presente, são figuras quase arquetípicas de uma sociedade burguesa cuja boa consciência repousa numa mescla não só de má-fé, cinismo e resignação, mas também de ignorância e ingenuidade. E mostram que a limpeza - associada aqui ao gosto do luxo e à obsessão quase obscena por tudo o que é puro, direito e íntegro - pode acabar por secretar a mais abominável das imundícies, um abismo sujo e corrupto em que se evolui como numa terra triste e desolada.
O 6º continente é antecedido, nesta edição, pela novela Antigo Doente dos Hospitais de Paris, subintitulado Monólogo gesticulatório. Nele, Gérard Galvan, como num desabafo, conta que vinte anos antes, em um plantão como interno num hospital universitário de Paris, viveu uma noite de loucura que lhe transtornou a mente e o lançou num estado de profunda confusão. Naquela noite, um paciente acumulou tal quantidade de sintomas, que lançou os especialistas uns contra os outros sem que nenhum pudesse chegar a nenhum diagnóstico definitivo. Um ambiente de pesadelo e impotência. Mas tudo é contado de modo hilariante, como uma sombria história sobre cartões de visita na qual a doença faz, literalmente, morrer de rir.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de jun. de 2014
ISBN9788581223971
O 6º continente: Precedido de Antigo doente dos hospitais de Paris

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    O 6º continente - Daniel Pennac

    Daniel Pennac

    O 6º CONTINENTE

    precedido de

    ANTIGO DOENTE DOS HOSPITAIS DE PARIS

    Tradução de Carlos Nougué

    A Judith e a Fabrice Parker

    SUMÁRIO

    Para pular o Sumário, clique aqui.

    ANTIGO DOENTE DOS HOSPITAIS DE PARIS

    Personagens

    Capítulo 1

    Capítulo 2

    Capítulo 3

    Capítulo 4

    Capítulo 5

    Capítulo 6

    Capítulo 7

    Capítulo 8

    Capítulo 9

    Capítulo 10

    Capítulo 11

    Capítulo 12

    Capítulo 13

    O 6º CONTINENTE

    Agradecimentos

    Advertência

    Personagens

    1 - Théo despojado

    2 - Théo em sua ilhota

    3 - A fábrica de sabão

    4 - Concepção e nascimento de Théo

    Transição

    5 - Educação de Théo

    Transição

    6 - O encontro do padrinho

    Transição

    7 - Aparição de Apémanta

    Transição

    8 - A mina

    Transição

    9 - Enterro da avó

    Transição

    10 - A linha

    11 - Natal

    Transição

    12 - O lixo municipal

    Transição

    13 - Théo e Apémanta

    Transição

    14 - No início

    Transição

    15 - Aeroporto de Hong Kong

    Transição

    16 - Sala de massagem

    Transição

    17 - Preservativo e cartas de amor

    18 - Tentativa de conciliação

    Dupla transição

    19 - Ritual iniciático dos VIPs

    Transição

    20 - A condecoração do pai

    21 - Vigília fúnebre

    Transição

    22 - A autópsia do pai

    Transição

    23 - O casamento

    Transição

    24 - Théo expulso do paraíso

    25 - O exílio de Théo

    26 - O porquê de um casamento

    27 - Turismo

    Transição

    28 - Reabilitação de Théo

    29 - O suicídio

    30 - Conclusão de Apémanta

    Créditos

    O Autor

    ANTIGO DOENTE DOS HOSPITAIS DE PARIS

    Monólogo gesticulatório

    Para Yves-Marie Kervran e Catherine Ardouin

    Minha gratidão a Jean-Claude Cotillard, que recitou este monólogo no palco do Pôle culturel d’Alfortville.

    PERSONAGENS

    Gérard Galvan, antigo interno num hospital universitário de Paris, e aquele que tem a infelicidade de escutá-lo.

    1

    – Faz vinte anos hoje, senhor. Uma espécie de aniversário. Preciso contá-lo a alguém... Tem um minuto? Pelo que me disseram, o senhor é escritor. Isso deveria interessá-lo... Não? Sim? Afinal de contas, ninguém está nem aí; nem o senhor nem ninguém mais... Café?

    – ...

    – Pois bem, faz vinte anos, exatamente hoje. Eu estava de plantão na emergência do Hospital Universitário Postel-Couperin. Era um domingo, e a noite seguia o seu curso infernal: acidentes domésticos, infecções eruptivas, suicídios abortados, abortos malsucedidos, comas alcoólicos, infartos, epilepsias, embolias pulmonares, cólicas nefríticas, crianças tão quentes como uma panela de pressão, motoristas em pedaços, traficantes crivados, sem-teto à procura de abrigo, mulheres espancadas e maridos arrependidos, adolescentes sob efeito de drogas, adolescentes catatônicos... O pronto-socorro de um domingo à noite e, ainda por cima, de lua cheia. Toda essa gente recusava o alvorecer da segunda-feira por todos os meios, e eu, como sempre, injetava, obturava, puncionava, recolocava, costurava, suturava, punha sondas, fazia curativos, drenava, vedava, fazia partos e chegava até a prevenir e a diagnosticar! Em uma palavra, eu ambulatoriava. Eu sozinho era um ambulatório. Substituía Pansard, Verdier, Samuel, Desonge: Você será recompensado por isso, Galvan... Deixem pra lá, rapazes, faço-o de todo o coração. (Todos importantes, hoje.) Os mais ingênuos viam em mim um FFI idealista, por sete cédulas por mês e vinte e quatro horas por semana, em detrimento de minha saúde, de minha juventude, de minha carreira, de minha vida privada. Ah, perdoem-me, a definição: FFI, Fazendo Função de Interno. Minha família – todos médicos desde Molière, sendo a medicina a primeira doença hereditária – achava-me exemplar. Meu pai imaginava-me como um arcanjo dando cabo de um câncer linfático: A hematologia, Gérard, é o seu caminho! Eu deixava livre a imaginação de meu pai, mas caminhava por conta própria; sabia bem que nunca seria homem de uma especialidade. Minha especialidade seria a emergência: todos os males do homem, os males de todos os homens, o que é o mesmo que dizer: todas as especialidades. O campeão da clínica médica, era nisso que eu queria tornar-me. O senhor me dirá que esta era uma ambição mais que honrosa... Não? Sim? Hem?

    – ...

    – Bem, o senhor se engana. Na verdade, eu sonhava somente com uma coisa... Mal consigo dizer o que é, de tanto que é... inacreditável! Eu sonhava com meu futuro cartão de visita, senhor. Sem brincadeira. Uma verdadeira obsessão. Só pensava no dia em que poderia puxar um cartão de visita que empalideceria a todos os amantes de cartões. Era este, no fundo, o meu grande projeto!

    Françoise esposava minha ambição, e eu esposaria Françoise. Ela também era filha de médico. Esperavam que fabricássemos mais quatro ou cinco. Nesse ínterim, Françoise trabalhava no design de meu cartão. Bordava delicadas letras cursivas à moda nouvelle revue française: Você precisa de um cartão bastante simples, Gérard; você vai chegar muito longe, não pode cair no ridículo! Ela era a favor de um cartão discreto, infinitamente respeitável, vindo daqueles tempos em que o tempo não passava: Está aqui o de que você precisa, Gérard! É pouco dizer que eu sonhava com esse cartão. Em minha imaginação, mostrava-se como um estandarte cuja sombra eclipsava meus colegas e cobria todo o campo médico.

    PROFESSOR GÉRARD GALVAN

    Clínica Médica

    Em suma, um jovem imbecil. Ainda não havia posto as minhas bases e já as tomava por minha estátua.

    2

    Bem, nesse famoso domingo de lua cheia, eu estava de plantão no Hospital Universitário Postel-Couperin para tratar de cada doente como se fosse um degrau. Um ato teatral? Meu cartão de visita estava ali para dar-me o estímulo de que precisava. Ficava ensaiando, tirando-o como quem não quer nada, sem rir! Nada nas mãos, nada nos bolsos, e aqui está! O honroso cartão entre o dedo médio e o indicador: Professor Galvan.

    – Estique-se, senhor. Aqui estáááá!

    (E nada mais que clínica médica.)

    – Não, senhorita, fez bem em trazê-lo. Isto é sério: é uma paroníquia! É o seu irmão menor? Como se chama, rapazinho?

    (Letra maiúscula em Médica, talvez, e outra em Clínica. Vamos ver...)

    Enquanto volto a atenção para um impetigo, Éliane aparece com o costumeiro motociclista da via expressa. O motociclista tem no bolso a orelha e na mochila o braço.

    – Cirurgia, Éliane! Imediatamente!

    (E nada além de um número de telefone no cartão. Nada de endereço. Somente o telefone.)

    – Tome corretamente os antibióticos, senhor Machin. E principalmente não pare de tomá-los antes do fim. Éliane, quem é o próximo, minha cara?

    – Uma crise de asma aqui, mas aquele senhor ali já está esperando há muito tempo.

    (Ou talvez o e-mail. Sim, é melhor. Somente o e-mail: galvan.medint@hosto.fr.)

    Pois bem, comecei a atender no pronto-socorro às nove horas desta manhã de domingo. Fátima havia substituído Gisèle, Éliane tomou a vez de Fatima e, enquanto eu me dirigia para "aquele senhor

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