Oficina de Filosofia III: PARA ENTENDER A POLÍTICA: Democracia, Liberdade, Igualdade e o maior movimento identitário de todos os tempos
De Diogo Bogéa
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Sobre este e-book
Os desafios de uma espécie "espinhosa" e extremamente dependente para organizar sua problemática convivência. É esse o desafio fundamental da "política" desde as primeiras Revoluções da humanidade: a "Revolução Imaginativa", que dá aos humanos a incrível capacidade de falar sobre coisas que não existem, e a "Revolução Agrícola", da qual herdamos noções ainda hoje importantes como "propriedade", "lar" e "família", mas também uma brutal desigualdade material. Passando pela invenção da "Democracia" na Grécia Antiga; a aventura da seita judaica que dominou meio mundo; o surgimento do capitalismo e a chegada de um novo Deus – o dinheiro! –; e as disputas entre o partido da Liberdade e o partido da Igualdade – mais conhecidos como "direita" e "esquerda" –, com seu fascinante estilo narrativo, o doutor em Filosofia Diogo Bogéa nos conduz através das grandes questões políticas que unem e dividem a humanidade. Por fim, nos mostra a força do maior movimento identitário de todos os tempos e apresenta alguns dos movimentos sociais contemporâneos que contestam seu domínio.
Diogo Bogéa é graduado em História na UERJ-FFP. Mestre e Doutor em Filosofia pela PUC-Rio. Professor Adjunto de Filosofia e Psicanálise na Faculdade de Educação da UERJ. Professor Voluntário de Psicanálise na Pós-Graduação em Psicanálise e Ciências Humanas da Universidade Cândido Mendes. Autor de "Metafísica da vontade, metafísica do impossível: a dimensão pulsional como terceiro excluído".
SOBRE ANIMAIS E POLÍTICOS I (Uma espécie espinhosa)
O espinhoso Schopenhauer
As primeiras revoluções da humanidade
A Revolução Agrícola
Desigualdades
A caminho da democracia
Democracia?
Os sofistas e Platão.
A Seita
SOBRE ANIMAIS E POLÍTICOS II (Liberdade e Igualdade)...34
O capital
Revoluções Liberais
O partido da liberdade
O partido da igualdade
Liberdade? Igualdade?
Igualdade?
Liberdade e servidão
SOBRE ANIMAIS E POLÍTICOS III (Desafios Contemporâneos)
O maior movimento identitário do mundo e seus contestadores
A escravidão africana – de mouros a portugueses
O racismo europeu
Um padrão-ideal de humano
Herança colonial
Um problemático universalismo
Movimentos de contestação
Conclusão: A Micropolítica
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Oficina de Filosofia II: E se a realidade não for bem o que parece? Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOficina de Filosofia I: Como filósofos, alquimistas e cientistas transformaram nossa maneira de ver o mundo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOficina de Filosofia: o que a Filosofia pode fazer por nossas vidas? Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
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Oficina de Filosofia III - Diogo Bogéa
Copyright © Diogo Bogéa
Revisão: L. Araujo
Capa: Denise Ferreira
Diagramação: Paulo Barbosa
Coordenação Editorial : Samanta Peixoto
Editora Víés é uma marca da CJT EDITORA E TECNOLOGIA LTDA
Rua Mário Portela, 106 - Laranjeiras
Rio de Janeiro - RJ - CEP: 22241-000
www.editoravies.com.br
Contato e envio de originais: contato@grupocjt.com.br
É proibida a reprodução deste livro sem a prévia autorização do autor e da editora.
Sobre o Autor
Diogo Bogéa é graduado em História na UERJ-FFP. Mestre e Doutor em Filosofia pela PUC-Rio. Professor Adjunto de Filosofia e Psicanálise na Faculdade de Educação da UERJ. Professor Voluntário de Psicanálise na Pós-Graduação em Psicanálise e Ciências Humanas da Universidade Cândido Mendes. Autor de "Metafísica da vontade, metafísica do impossível: a dimensão pulsional como terceiro excluído".
IMPORTANTE
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ÍNDICE
SOBRE ANIMAIS E POLÍTICOS I (Uma espécie espinhosa)
O espinhoso Schopenhauer
As primeiras revoluções da humanidade
A Revolução Agrícola
Desigualdades
A caminho da democracia
Democracia?
Os sofistas e Platão.
A Seita
SOBRE ANIMAIS E POLÍTICOS II (Liberdade e Igualdade)...34
O capital
Revoluções Liberais
O partido da liberdade
O partido da igualdade
Liberdade? Igualdade?
Igualdade?
Liberdade e servidão
SOBRE ANIMAIS E POLÍTICOS III (Desafios Contemporâneos)
O maior movimento identitário do mundo e seus contestadores
A escravidão africana – de mouros a portugueses
O racismo europeu
Um padrão-ideal de humano
Herança colonial
Um problemático universalismo
Movimentos de contestação
Conclusão: A Micropolítica
Agradecimentos
A cada volume da coleção Oficina de Filosofia, os agradecimentos se multiplicam.
Em primeiro lugar, agradeço a Camila, minha companheira de vida, por estar do meu lado a cada momento dessa jornada, me ajudando a cada passo.
Devo agradecimentos especiais aos tantos amigos que se mostraram entusiasmados apoiadores do Canal Oficina de Filosofia: Pedro Pimenta, Rafael Frazão, Rodrigo Galvão, Mariana Bonfim, Ines Telles, Virgínia Goudinho, Rozely Vigas, Pedro Custodio, Amando Puente, Diego Moraes, Marcela Ramos, Carlos Natan, Lívia Mariana, Deyvid Felix, Amanda Gleyce, Debora Carballo, Thiago Domingues e Tatiane Curi, que a cada visualização e comentário dão forças imprescindíveis para a continuidade da Oficina.
Ao editor Guilherme Tolomei, por acreditar no projeto desde o dia 01 e mover mundos e fundos para fazê-lo acontecer.
Aos queridos alunos dos Cursos da Oficina de Filosofia: Rafaela Quiroga, Allini Cristini, Maria Rosa, Ney Coelho, Caio Carius, Beatriz Beraldo e Elenir Silveira.
Aos amigos Dhonis, Nádia, Edgar, Filipe e Douglas pelas conversas filosóficas semanais.
Ao querido amigo Emanoel Taboas, parceiro fundamental de todo o projeto Oficina de Filosofia! Diretor
do Canal, idealizador e parceiro nos Cursos da Oficina, divulgador número 1, e ainda faz o melhor carbonara da cidade... o que mais se pode esperar?
À Ana, pela escuta e pelos plot-twists que, diante do impossível, desbloqueiam possibilidades.
Ao Victor Mayrinck pela arte incrível do Canal Oficina de Filosofia.
Ao Marcio Francisco, que se dispôs generosamente a ser o primeiro leitor de todos os Oficina.
Ao João Dias pela grande generosidade. Sem seu trabalho as lives da Oficina não teriam sido possíveis.
Ao Eduardo Marinho, que não apenas me lembrou que o mundo lá fora é muito maior, mas atendeu carinhosamente ao meu convite e participou de uma live memorável, especial, altamente inspiradora no Canal Oficina de Filosofia.
Ao João Pedro, não mais apenas pelos cafés filosóficos – ele que nem bebe café... – mas agora também pela leitura atenta e pelos longos e preciosos comentários ao Oficina I e ao Oficina II.
À Debora e ao Francês (Luiz Gustavo), pela amizade, pelo carinho, pelo incentivo e pelo tanto que me ensinaram e seguem ensinando.
Ao Thiago e a Leila, não apenas por terem presenteado minha família com o exemplar do Mundo de Sofia
que anos depois me levaria para a Filosofia, mas por todo o apoio a este atual projeto.
À Lilian e ao Marcelo por terem apostado contra todas as chances para me trazer de volta para a Filosofia quando estive muito perto de desistir.
Ao poeta e amigo Filipe Pamplona, por me lembrar que há ainda muitas novas odes
a serem escritas e vividas.
Ao poeta Samuel Malentacchi, pela insistência na coragem de escrever à beira de abismos.
Ao John Aquino por lutar por uma Filosofia Brasileira.
À Nelma, pelas colaborações passadas.
À Dani e ao Anselmo, pela força de sempre.
Ao Evaldo e à Denise, pelo apoio incansável.
À Fabiana de Freitas, nossa companheira de viagens e grande divulgadora do livro.
À Lina e Fábio, pelos incentivos.
Ao MD Magno pela inspiração.
5. Sobre animais e políticos
É opinião geral dos filósofos que as paixões atormentadoras da vida humana são como vícios, em que incidimos, por culpa nossa. Eis por que costuma-se escarnecê-las, deplorá-las ou censurá-las abertamente. Há, até, os que afetam odiá-las, por parecerem mais santos do que os outros. Acreditam agir com pureza divina e atingir o máximo da sabedoria, prodigalizando mil louvores a uma pretensa natureza humana, que não existe em parte nenhuma, e denegrindo a que existe realmente. Esses tais veem os homens, não como são, mas como queriam que fossem. Daí que, em lugar de uma Ética, a mor parte das vezes fizeram uma Sátira, e jamais conceberam uma política praticável, porém arquiteturaram mais uma Quimera, boa para ser aplicada no país da Utopia ou a essa idade de ouro na qual a arte dos políticos era, certamente, mais que supérflua. Por isso, deu-se em acreditar que, de todas as ciências suscetíveis de aplicação, a política é aquela em que a teoria mais difere da prática e que nenhuma espécie de homens é menos própria ao governo do Estado do que os teóricos ou os filósofos.
Spinoza
Tive uma curta carreira na política. Foi no segundo ano do Ensino Médio, quando, junto com meu grupo de amigos mais próximos, me candidatei ao grêmio estudantil do Colégio Pedro II com a chapa que resolvemos chamar de Dorme-Sujos
. O nome era uma brincadeira com o fato de sermos roqueiros
, grunges
, ou seja, aqueles que nas piadas da época eram os que não tomam banho
. Antes de nos candidatarmos, havia duas chapas concorrendo aquele ano. Uma, a chapa dos playboys
, que posavam como certinhos
, limpinhos
e arrumadinhos
, representantes dos bons-costumes de fachada, enquanto sabíamos muito bem que suas festas podiam ser mais loucas do que as nossas. A outra chapa era a dos comunistas
, o pessoal engajado e um tanto megalomaníaco que achava que assumir o controle do grêmio do colégio era o primeiro passo para a revolução socialista global.
No meio dessa polarização que gerava acalorados debates, meu grupo, o grupo dos roqueiros
, resolveu concorrer. Montamos uma chapa só de sacanagem
. Nos vestíamos com grandes sacos plásticos pretos de lixo e carregávamos violões conosco o tempo todo, tocando nosso jingle
de campanha pelos corredores, no pátio e nas salas. Era um blues clássico cuja única frase de letra repetida infinitamente era Dorme Sujo
. Foi incrível. Podíamos matar várias aulas sem sermos repreendidos e ainda provocar quase todo o caos que quiséssemos – e como nós gostávamos de ser agentes do caos!
O resultado? Quase ganhamos as eleições. Ficamos em segundo, batendo por muito a chapa dos playboys
. Na verdade, só não ganhamos porque a chapa da esquerda ficou na boca da urna
convencendo as pessoas de que nós não éramos sérios e não sabíamos o que estávamos fazendo (o que era ilegal, mas ok, eles tinham razão). Desde então permaneci à margem. Nunca me filiei a grupos ou partidos políticos. E pretendo permanecer assim. Mas não deixa de ser curioso notar que minha única experiência com a política institucional parece ter bastante em comum com a política institucional que vem se fazendo no mundo nos últimos anos: um partido com riquinhos arrumadinhos
, empresários engravatados cujas festas, sabemos, são bem mais loucas do que as nossas; um partido de esquerda, com discursos não raramente descolados da realidade crível; e outsiders
brincalhões com intenções muito mais perversas do que a de um grupo de adolescentes buscando diversão, mas que encantam o público com seu jeitão alternativo
e chegam com força nas urnas.
O espinhoso Schopenhauer
O autor do livro que virou a cabeça de Nietzsche e o fez querer se tornar filósofo se chama Artur Schopenhauer. Mais um menino prodígio da Filosofia, Schopenhauer foi um ávido leitor de Kant e do pensamento oriental, sobretudo o indiano. Costumava dizer que seu livro preferido era Os Upanishads. Filho de um grande empresário, passou boa parte da adolescência viajando pelo mundo com o pai, conhecendo maravilhas - e horrores – da natureza e da humanidade e deleitando-se com as magníficas obras de arte e arquitetura que teve a oportunidade de conhecer (ao contrário de Kant, que nunca saiu de sua cidade – o professor de geografia que nunca viu uma montanha, o crítico de arte que usa jardins
como exemplo de beleza estética
). Pesava, no entanto, sobre Schopenhauer, o fardo de ter de assumir os negócios do pai – o que ele, já interessado em literatura e Filosofia, não tinha nenhum interesse em fazer!
Quando Schopenhauer contava 16 anos, seu pai se suicidou. Atirou-se do alto de um dos prédios das suas indústrias. Para a mãe de Schopenhauer, Joanna, que tinha um espírito incrivelmente vivo, artístico e sociável, a morte do marido foi uma carta de alforria. Ela, que havia desde muito cedo se visto presa a uma vida de mãe-de-família
de século XIX, mudou-se para Weimar e abriu um salão literário frequentado pelos maiores da época – incluindo Goethe! Ao ver o conflito estampando o rosto transtornado do filho, Joanna lhe escreveu: Filho, siga o seu coração. Largue essas empresas e vá se dedicar à Filosofia
. Schopenhauer, para nossa sorte, seguiu o conselho materno. Não que eles se dessem bem: a relação conturbada terminou com um outro bilhete escrito pela mãe que dizia mais ou menos algo como Você é insuportável. Fui para a casa de campo. Vá embora e não volte nunca mais. Só voltarei quando você se for
.
Schopenhauer não é muito conhecido como um filósofo político
, mas é dele uma das passagens que, a meu ver, melhor descreve os desafios da política, isto é, os desafios da convivência humana:
Um grupo de porcos-espinho se juntava em um frio dia de inverno para evitar que congelassem aquecendo-se mutuamente. No entanto, logo começaram a sentir os espinhos uns dos outros, o que os fez tornar a se afastar. Quando a necessidade de calor levou-os a se juntar outra vez, tornaram a se ferir; de modo que se moveram inquietamente de um lado para o outro entre o sofrimento do gelo e o dos espinhos, até que encontraram uma distância mediana