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Antologia poética
Antologia poética
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E-book228 páginas2 horas

Antologia poética

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Sobre este e-book

Esta antologia apresenta um amplo panorama da obra rimbaudiana, reunindo 25 de seus poemas – inclusive algumas obras-primas já clássicas, como "O barco bêbado" –, mais dois poemas do Álbum Zútico, quatro textos de Iluminações e dois textos de Uma temporada no inferno. A edição bilíngue valoriza ainda mais as primorosas traduções do poeta Afonso Henriques Neto, que também comenta na apresentação do volume os desafios de traduzir Rimbaud, com diversos exemplos das diferentes soluções encontradas por outros tradutores, e ainda narra sua experiência bastante particular de recriar poeticamente os versos do autor francês em língua portuguesa, sempre com o mesmo encanto e entusiasmo despertados desde a primeira leitura, na juventude. As notícias biográficas e as notas sobre os poemas traduzidos ajudam a contextualizar melhor a obra e os critérios de seleção para esta antologia, ampliando o alcance do livro e estimulando novas leituras – afinal os versos do jovem poeta transcendem o tempo e atravessam gerações, com o mesmo vigor de quando foram criados. Nas palavras de Henry Miller, "[...] para mim essas frases jamais perderão sua força. Cada vez que as reencontro sinto a mesma emoção, o mesmo júbilo, o mesmo medo de enlouquecer se me detiver nelas por tempo longo demais. Quantos escritores são capazes de provocar esse efeito? A gente encontra trechos inesquecíveis, certas frases marcantes, mas em Rimbaud são incontáveis, espalhadas por todas as páginas, como joias caídas de uma arca saqueada."
IdiomaPortuguês
Editora7Letras
Data de lançamento26 de nov. de 2020
ISBN9786559050185
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    Pré-visualização do livro

    Antologia poética - Arthur Rimbaud

    Sumário

    Sobre a antologia de Rimbaud e a tradução poética

    Notícias biográficas

    25 poemas da obra poética e dos últimos versos

    Sensation

    Sensação

    Bal de pendus

    Baile dos enforcados

    Le forgeron

    O ferreiro

    Vénus Anadyomène

    Vênus Anadiomene

    Première soirée

    Primeira tarde

    Roman

    Romance

    Rêvé pour l’hiver

    Sonho para o inverno

    Le dormeur du val

    O adormecido do vale

    Au Cabaret-Vert,

    cinq heures du soir

    No Cabaré Verde,

    cinco horas da tarde

    Ma bohème

    (Fantaisie)

    Minha boêmia

    (Fantasia)

    Les assis

    Os sentados

    Oraison du soir

    Oração da tarde

    Mes petites amoureuses

    Minhas pequenas namoradas

    Les poètes des sept ans

    Os poetas de sete anos

    Le cœur volé

    Coração burlado

    Voyelles

    Vogais

    L’étoile a pleuré rose au cæur de tes oreilles,

    A estrela chorou rosa no fundo de tuas orelhas,

    Ce qu’on dit au poète à propos de fleurs

    O que dizem ao poeta a respeito das flores

    Les chercheuses de poux

    As catadoras de piolhos

    Est-elle almée?... aux premières heures bleues

    É dançarina?... em horas azuis, primeiras,

    L’éternité

    A eternidade

    Chanson de la plus haute tour

    Canção da torre mais alta

    Fêtes de la faim

    Festas da fome

    Mémoire

    Memória

    Le bateau ivre

    O barco bêbado

    mais dois poemas do álbum zútico

    cocheiro ébrio e soneto do buraco do cu

    Cocher ivre

    Cocheiro ébrio

    Sonnet du trou du cul

    Par Arthur Rimbaud et Paul Verlaine

    Soneto do buraco do cu

    por Arthur Rimbaud e Paul Verlaine

    quatro textos de iluminações

    Parade

    Parada

    Being beauteous

    Being beauteous

    Phrases

    Frases

    Villes

    Cidades

    e dois textos de uma temporada no inferno

    délires

    ii

    delírios

    ii

    Faim

    Fome

    Adieu

    Adeus

    Notas sobre os poemas traduzidos

    Sobre a antologia de Rimbaud e a tradução poética

    Afonso Henriques Neto

    Antiga e repetida é a máxima do tradutor ser considerado um perfeito traidor, ainda mais quando se está em jogo a tradução poética. Os concretistas brasileiros, Haroldo de Campos à frente, repetiram exaustivamente a palavra transcriação, seguindo as pegadas de Ezra Pound, com o fim de assinalar a necessidade de se operar um malabarismo radical no campo da linguagem quando do ato da transposição de um poema de um idioma a outro. Com isso queriam, em essência, dizer que se a traição era certa, o melhor é que fosse criado um desejável ‘erro correto’ (a ‘transcriação’) diante da impossibilidade da transposição dita ‘fiel’. Era, pois, necessário sempre realizar o que Augusto de Campos chamou de uma ‘transdução’, ou seja, a tentativa de manutenção da potência do poema por meio de construções semânticas vigorosas que, mesmo se afastando em menor ou maior grau do original (mas sempre buscando compreender em profundidade as redes semânticas desse original, é claro), conseguissem transmitir alta voltagem poética por meio de ‘infiéis’ procedimentos tradutórios.

    Diante dessas tantas vezes insuperáveis dificuldades, o que fazer? Sempre me fiz esta pergunta quando de minhas tentativas de tradução de poemas que me interessaram. Publiquei várias dessas experiências em antologias e periódicos variados ao longo dos anos. Por fim, realizei um trabalho mais sistemático que resultou em um livro de traduções editado pela Azougue Editorial, no Rio de Janeiro, com o título de Fogo alto, no ano de 2009, quando me aventurei na tradução de poemas de Catulo, François Villon, William Blake, Arthur Rimbaud, Vicente Huidobro, Federico García Lorca e Allen Ginsberg, todos poetas alinhados a posições que chamei de visionárias e libertárias. Foi, para mim, uma experiência importante, pois pude colocar em prática algumas ideias que sempre me acompanharam. Primeiro, que procuraria manter a métrica e as rimas do poema original; segundo, que tentaria ser o mais fiel possível à ideia impressa em cada verso, me afastando o mínimo possível do que o poema de fato expressava, além de observar com cuidado o artesanato poético de cada verso do autor considerado com o fim de buscar algo similar em nosso idioma; e por último, procuraria colocar na tradução a maior carga poética que pudesse alcançar, para assim poder de fato homenagear o grande poeta em questão (ser o poeta desse meu poeta?). Penso que tais preocupações se afastam de certa forma daquelas apresentadas pelos concretistas a partir de uma tradição poundiana, pois na realidade sempre busquei me manter o mais possível ‘colado’ ao texto original, sem pensar muito em possíveis ‘transcriações’, ou seja, nessa interessante busca de jogos semânticos que se, de um lado, buscava manter correspondência com o modelo original, em termos de soluções formais fugiam, em variadas escalas, do poema considerado. Portanto, se essas ditas ‘transcriações’ viessem surgir em momentos pontuais do meu trabalho, seriam obviamente bem-vindas, sem que isso jamais refletisse a preocupação central. Penso que o meu aprendizado no campo da tradução se deu com mais vigor no acompanhamento do trabalho de meu pai, o poeta Alphonsus de Guimaraens Filho, que ao longo da vida sempre traduziu com maestria seus poetas favoritos, sem nunca deixar de chamar este trabalho de ‘recriações’. Apesar disso, sei que meu pai jamais deixou de buscar a maior fidelidade possível aos textos originais. Em 2005, três anos antes de sua morte, publicou em tiragem limitada um livro com uma coleção dessas traduções sob o título de Poetas de outras ­terras (Rio de Janeiro: Edições Laranjeiras). Na quarta capa do livro colocou a lição lapidar de Dante Milano: A linguagem do poeta não pode ser trasladada a outro idioma; pode-se traduzir o que o poeta quis dizer, mas nunca o que ele disse.

    Outro assunto interessante que sempre gostei de pesquisar diz respeito às grandes diferenças de soluções encontradas pelos mais diversos tradutores quando examinamos algum poema bastante famoso que tenha merecido, por tal motivo, muitas traduções. É o que acontece com O corvo, de Edgar Allan Poe, que dentre as versões que o poema ganhou em português, encontramos duas que, a meu ver, estão acima das demais, quais sejam aquelas empreendidas pelo jornalista mineiro Milton Amado e por Fernando Pessoa. Não haverá espaço neste artigo para examinarmos o longo poema O corvo, mas poderemos considerar, a título de simples exemplo dessas diferenças tradutórias, algumas soluções encontradas para dois curtos e conhecidos versos de Arthur Rimbaud:

    Ô saisons, ô châteaux

    Quelle âme est sans défauts?

    As diferentes versões são bem sugestivas. Em primeiro lugar, encontramos a tradução literal, que é a pior delas, por não obedecer nem a métrica (versos de seis sílabas), nem a rima:

    Ó estações, ó castelos

    Que alma é sem defeitos?

    Em seguida, citemos em série alguns tradutores que alcançaram melhor fatura:

    Castelos, estações,

    Que alma é sem senões?

    (Augusto de Campos)

    Ó temporadas, castelos,

    Mas qual alma é sem farelos?

    (Jorge de Sena)

    Ó castelos, ó sazões

    Que alma é sem senões?

    (Ivo Barroso)

    Esta cerveja! essa rua!

    A miséria que isto sua!

    (Mário Cesariny)

    Vemos nessas quatro soluções variantes formidáveis. Em primeiro lugar, há que se dizer que o único que respeitou integralmente métrica e rima do original foi Augusto de Campos. Em seguida, vimos com espanto a tradução do poeta e pintor português Mário Cesariny passar longe do original (além de se utilizar de versos de sete sílabas). Contudo, esse aparente ‘disparate’ em relação ao original tem sua razão de ser. Na época de Rimbaud havia uma conhecida marca de cerveja na França, certamente usada pelo poeta, chamada "Saison. Daí Cesariny ter traduzido saisons por cerveja" (ele já havia feito isso quando traduziu o título do famoso livro rimbaudiano Une saison en enfer por Uma cerveja no inferno). Depois, resolveu verter "châteaux por essa rua (sabe-se que havia uma rua em Charleville com o nome de Château, onde se localizavam casas de prostituição), e quelle âme est sans défauts por a miséria que isto sua". Talvez não haja exemplo maior de uma radicalíssima ‘transcriação’.

    De minha parte, ao traduzir a referida passagem, fiquei lutando com duas soluções. A primeira foi:

    Ó estações, ó castelos

    Que alma é sem cutelos?

    Contudo, depois de bastante meditar, uma vez que a palavra cutelos não me agradava muito, preferi uma segunda opção, que mantinha o hexassílabo e se aproximava mais da ideia principal do verso do poeta francês:

    Ó castelo, ó estação

    Que alma é só perfeição?

    Volto, assim, a insistir nessa necessidade de se buscar a maior fidelidade possível tanto em relação à métrica e rima dos versos (e demais preocupações aliterativas, por exemplo), quanto àquilo que de fato o poeta buscou expressar em cada passagem do poema (sem se esquecer, óbvio, da lúcida observação de Dante Milano citada anteriormente).

    Faz tempo que comecei a tentar traduzir Rimbaud. Admirava a poesia do adolescente francês, tinha sempre em mãos traduções variadas da extraordinária obra poética e, em especial, do poema O barco bêbado, o texto mais famoso do poeta e que me agrada sobremaneira. As minhas tentativas de tradução dos poemas rimbaudianos partiram, hoje bem sei, de certa insatisfação que nunca deixei de sentir ao ler as traduções existentes. Na realidade, quando gostamos muito de um escritor estrangeiro, vai chegar um momento em que começamos de modo natural a buscar a nossa própria maneira de falar em português os textos que lemos e relemos com tanto prazer ao longo da vida. No caso da poesia, a busca, como foi dito, dar-se-á na direção de uma tradução a mais fiel possível em termos léxicos e poéticos, buscando assim alcançar a produção de um poema em língua portuguesa que se apresente como possível correlato do original. Mesmo sabendo, com o poeta norte-americano Robert Frost, que é a própria poesia o que se perde na tradução. Por isso mesmo, está claro, o melhor será sempre aquele leitor que consegue ler o poema na língua original, usando a tradução tão só para tirar dúvidas sobre algumas passagens ou termos mais obscuros.

    Por seu turno, ao tratar do problema da tradução de poesia, Mário Cesariny pensa que devemos tentar merecer, entender e aplicar o ensinamento do poeta Novalis: "Uma tradução pode ser literal, livre ou mítica. As traduções míticas

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