Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Antologia poética
Antologia poética
Antologia poética
E-book361 páginas2 horas

Antologia poética

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Reunião de poemas feita pelo autor no auge da forma, Antologia poética retorna em novo projeto, com posfácio de Zélia Duncan.
 
Até 1962, quando esta antologia foi lançada, a obra poética de Carlos Drummond de Andrade, então com 60 anos, era formada pelos seguintes livros: Alguma poesia, Brejo das almas, Sentimento do mundo, José, A rosa do povo, Novos poemas, Claro enigma, Fazendeiro do ar, Viola de bolso, Viola de bolso novamente encordoada, A vida passada a limpo e Lição de coisas. Todos hoje são clássicos da nossa literatura.
Para tornar esta coletânea algo especial, já bastaria o fato de o próprio Drummond haver selecionado os poemas que a compõem. Mas a maneira como ele a organizou, dividindo-a em seções temáticas, faz dela um verdadeiro mapa da sensibilidade do poeta, que indica os caminhos não apenas de sua produção passada, mas também do que ainda estava por escrever.
São ao todo nove seções, com poemas sobre: 1) o indivíduo; 2) a terra natal; 3) a família; 4) os amigos; 5) o mundo social e político; 6) o amor; 7) a própria poesia; 8) divertimentos poéticos; 9) a condição existencial.
A esta amplitude temática, rara em qualquer escritor, soma-se uma grande variedade formal e notável competência técnica, o que faz de Drummond, sem dúvida, um dos poetas mais completos da língua portuguesa de ontem e de hoje.
As novas edições da obra de Carlos Drummond de Andrade têm seus textos fixados por especialistas, com acesso inédito ao acervo de exemplares anotados e manuscritos que ele deixou. Em Antologia poética, o leitor encontrará um posfácioda cantora e compositora Zélia Duncan, e também bibliografias selecionadas de e sobre Drummond; e a seção intitulada "Na época do lançamento", uma cronologia dos três anos imediatamente anteriores e posteriores à primeira publicação do livro.
Bibliografias completas, uma cronologia de vida e obra do poeta e as variantes no processo de fixação dos textos encontram-se disponíveis por meio do código QR localizado na quarta capa deste volume.
IdiomaPortuguês
EditoraRecord
Data de lançamento4 de abr. de 2022
ISBN9786555875027
Antologia poética

Leia mais títulos de Carlos Drummond De Andrade

Relacionado a Antologia poética

Ebooks relacionados

Poesia para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de Antologia poética

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Antologia poética - Carlos Drummond de Andrade

    Carlos Drummond de Andrade. Antologia poética. Record.Antologia poética. Carlos Drummond de Andrade.

    POSFÁCIO DE

    ZÉLIA DUNCAN

    nova edição

    Editora Record. Rio de Janeiro, São Paulo.

    2022

    CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO

    SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

    A566a

    Andrade, Carlos Drummond de, 1902-1987

    Antologia poética [recurso eletrônico] / Carlos Drummond de Andrade; posfácio Zélia Duncan. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Record, 2022.

    recurso digital

    Formato: epub

    Requisitos do sistema: adobe digital editions

    Modo de acesso: world wide web

    ISBN 978-65-5587-502-7 (recurso eletrônico)

    1. Poesia brasileira. 2. Livros eletrônicos. I. Duncan, Zélia. II. Título.

    22-76497

    CDD: 869.1

    CDU: 82-1(81)

    Meri Gleice Rodrigues de Souza – Bibliotecária – CRB-7/6439

    Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond

    www.carlosdrummond.com.br

    Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, armazenamento ou transmissão de partes deste livro, através de quaisquer meios, sem prévia autorização por escrito.

    Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

    Direitos exclusivos desta edição reservados pela

    EDITORA RECORD LTDA.

    Rua Argentina, 171 – Rio de Janeiro, RJ – 20921-380 – Tel.: (21) 2585-2000.

    Produzido no Brasil

    Cópia não autorizada é crime. Respeite o direito autora. ABDR Associação brasileira de direitos reprográficos. Editora filiada.

    ISBN 978-65-5587-502-7

    Seja um leitor preferencial Record.

    Cadastre-se em www.record.com.br e receba informações sobre nossos lançamentos e nossas promoções.

    Atendimento e venda direta ao leitor:

    sac@record.com.br

    SUMÁRIO

    Nota da primeira edição

    um eu todo retorcido

    Poema de sete faces [ap]*

    Soneto da perdida esperança [ba]

    Poema patético [ba]

    Dentaduras duplas [sm]

    A bruxa [jo]

    José [jo]

    A mão suja [jo]

    A flor e a náusea [rp]

    Consolo na praia [rp]

    Idade madura [rp]

    Versos à boca da noite [rp]

    Indicações [rp]

    Os últimos dias [rp]

    Aspiração [ce]

    A música barata [lc]

    Estrambote melancólico [fa]

    Nudez [vl]

    O enterrado vivo [fa]

    uma província: esta

    Cidadezinha qualquer [ap]

    Romaria [ap]

    Confidência do itabirano [sm]

    Evocação mariana [ce]

    Canção da Moça-Fantasma de Belo Horizonte [sm]

    Morte de Neco Andrade [fa]

    Estampas de Vila Rica [ce]

    Prece de mineiro no Rio [vl]

    a família que me dei

    Retrato de família [rp]

    Os bens e o sangue [ce]

    Infância [ap]

    Viagem na família [jo]

    Convívio [ce]

    Perguntas [ce]

    Carta [ce]

    A mesa [ce]

    Ser [ce]

    A Luis Mauricio, infante [fa]

    cantar de amigos

    Ode no cinquentenário do poeta brasileiro [sm]

    Mário de Andrade desce aos infernos [rp]

    Viagem de Américo Facó [fa]

    Conhecimento de Jorge de Lima [fa]

    A mão [lc]

    A Federico García Lorca [np]

    Canto ao homem do povo Charlie Chaplin [rp]

    na praça de convites

    Coração numeroso [ap]

    Sentimento do mundo [sm]

    Lembrança do mundo antigo [sm]

    Elegia 1938 [sm]

    Mãos dadas [sm]

    Congresso Internacional do Medo [sm]

    Nosso tempo [rp]

    O elefante [rp]

    Desaparecimento de Luísa Porto [np]

    Morte do leiteiro [rp]

    Os ombros suportam o mundo [sm]

    Anúncio da rosa [rp]

    Contemplação no banco [ce]

    Canção amiga [np]

    amar-amaro

    O amor bate na aorta [ba]

    Quadrilha [ap]

    Necrológio dos desiludidos do amor [ba]

    Não se mate [ba]

    O mito [rp]

    Caso do vestido [rp]

    Campo de flores [ce]

    Escada [fa]

    Estâncias [np]

    Ciclo [vl]

    Véspera [vl]

    Instante [vl]

    Os poderes infernais [vl]

    Soneto do pássaro [vl]

    O quarto em desordem [fa]

    Amar [ce]

    Entre o ser e as coisas [ce]

    Tarde de maio [ce]

    Fraga e sombra [ce]

    Canção para álbum de moça [ce]

    Rapto [ce]

    Memória [ce]

    Amar-amaro [lc]

    poesia contemplada

    O lutador [jo]

    Procura da poesia [rp]

    Brinde no banquete das musas [fa]

    Oficina irritada [ce]

    Poema-orelha [vl]

    Conclusão [fa]

    uma, duas argolinhas

    Sinal de apito [ap]

    Política literária [ap]

    Os materiais da vida [vl]

    Áporo [rp]

    Caso pluvioso [vb]

    tentativa de exploração e de interpretação do estar-no-mundo

    No meio do caminho [ap]

    Os mortos de sobrecasaca [sm]

    Os animais do presépio [ce]

    Cantiga de enganar [ce]

    Tristeza no céu [jo]

    Rola mundo [rp]

    A máquina do mundo [ce]

    Jardim [np]

    Composição [np]

    Cerâmica [lc]

    Relógio do Rosário [ce]

    Domicílio [fa]

    Canto esponjoso [np]

    O arco [np]

    Especulações em torno da palavra homem [vl]

    Descoberta [lc]

    Eterno [fa]

    Maralto [vb]

    A um hotel em demolição [vl]

    A ingaia ciência [ce]

    Segredo [ba]

    Vida menor [rp]

    Resíduo [rp]

    Movimento da espada [rp]

    Intimação [lc]

    Canto negro [ce]

    Os dois vigários [lc]

    Elegia [fa]

    Posfácio, por Zélia Duncan

    Cronologia: Na época do lançamento (1959-1965)

    Bibliografia de Carlos Drummond de Andrade

    Bibliografia sobre Carlos Drummond de Andrade (seleta)

    Índice de primeiros versos

    Nota

    * Abreviaturas dos livros: Alguma poesia [ap], Brejo das almas [ba], Sentimento do mundo [sm], José [jo], A rosa do povo [rp], Novos poemas [np], Claro enigma [ce], Viola de bolso [vb], Fazendeiro do ar [fa], A vida passada a limpo [vl] e Lição de coisas [lc]. [N. do E.]

    ANTOLOGIA POÉTICA

    NOTA DA PRIMEIRA EDIÇÃO

    Ao organizar este volume, o autor não teve em mira, propriamente, selecionar poemas pela qualidade, nem pelas fases que acaso se observem em sua carreira poética. Cuidou antes de localizar, na obra publicada, certas características, preocupações e tendências que a condicionam ou definem, em conjunto. A Antologia lhe pareceu assim mais vertebrada e, por outro lado, espelho mais fiel.

    Escolhidos e agrupados os poemas sob esse critério, resultou uma Antologia que não segue a divisão por livros nem obedece a cronologia rigorosa. O texto foi distribuído em nove seções, cada uma contendo material extraído de diferentes obras, e disposto segundo uma ordem interna. O leitor encontrará assim, como pontos de partida ou matéria de poesia: 1) O indivíduo; 2) A terra natal; 3) A família; 4) Amigos; 5) O choque social; 6) O conhecimento amoroso; 7) A própria poesia; 8) Exercícios lúdicos; 9) Uma visão, ou tentativa de, da existência.

    Algumas poesias caberiam talvez em outra seção que não a escolhida, ou em mais de uma. A razão da escolha está na tônica da composição, ou no engano do autor. De qualquer modo, é uma arrumação, ou pretende ser.

    c. d. a.

    Rio de Janeiro, 1962.

    UM EU TODO RETORCIDO

    POEMA DE SETE FACES

    Quando nasci, um anjo torto

    desses que vivem na sombra

    disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

    As casas espiam os homens

    que correm atrás de mulheres.

    A tarde talvez fosse azul,

    não houvesse tantos desejos.

    O bonde passa cheio de pernas:

    pernas brancas pretas amarelas.

    Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.

    Porém meus olhos

    não perguntam nada.

    O homem atrás do bigode

    é sério, simples e forte.

    Quase não conversa.

    Tem poucos, raros amigos

    o homem atrás dos óculos e do bigode.

    Meu Deus, por que me abandonaste

    se sabias que eu não era Deus

    se sabias que eu era fraco.

    Mundo mundo vasto mundo,

    se eu me chamasse Raimundo

    seria uma rima, não seria uma solução.

    Mundo mundo vasto mundo,

    mais vasto é meu coração.

    Eu não devia te dizer

    mas essa lua

    mas esse conhaque

    botam a gente comovido como o diabo.

    SONETO DA PERDIDA ESPERANÇA

    Perdi o bonde e a esperança.

    Volto pálido para casa.

    A rua é inútil e nenhum auto

    passaria sobre meu corpo.

    Vou subir a ladeira lenta

    em que os caminhos se fundem.

    Todos eles conduzem ao

    princípio do drama e da flora.

    Não sei se estou sofrendo

    ou se é alguém que se diverte

    por que não? na noite escassa

    com um insolúvel flautim.

    Entretanto há muito tempo

    nós gritamos: sim! ao eterno.

    POEMA PATÉTICO

    Que barulho é esse na escada?

    É o amor que está acabando,

    é o homem que fechou a porta

    e se enforcou na cortina.

    Que barulho é esse na escada?

    É Guiomar que tapou os olhos

    e se assoou com estrondo.

    É a lua imóvel sobre os pratos

    e os metais que brilham na copa.

    Que barulho é esse na escada?

    É a torneira pingando água,

    é o lamento imperceptível

    de alguém que perdeu no jogo

    enquanto a banda de música

    vai baixando, baixando de tom.

    Que barulho é esse na escada?

    É a virgem com um trombone,

    a criança com um tambor,

    o bispo com uma campainha

    e alguém abafando o rumor

    que salta de meu coração.

    DENTADURAS DUPLAS

    A Onestaldo de Pennafort

    Dentaduras duplas!

    Inda não sou bem velho

    para merecer-vos...

    Há que contentar-me

    com uma ponte móvel

    e esparsas coroas.

    (Coroas sem reino,

    os reinos protéticos

    de onde proviestes

    quando produzirão

    a tripla dentadura,

    dentadura múltipla,

    a serra mecânica,

    sempre desejada,

    jamais possuída,

    que acabará

    com o tédio da boca,

    a boca que beija,

    a boca romântica?...)

    Resovin! Hecolite!

    Nomes de países?

    Fantasmas femininos?

    Nunca: dentaduras,

    engenhos modernos,

    práticos, higiênicos,

    a vida habitável:

    a boca mordendo,

    os delirantes lábios

    apenas entreabertos

    num sorriso técnico,

    e a língua especiosa

    através dos dentes

    buscando outra língua,

    afinal sossegada...

    A serra mecânica

    não tritura amor.

    E todos os dentes

    extraídos sem dor.

    E a boca liberta

    das funções poético-

    -sofístico-dramáticas

    de que rezam filmes

    e velhos autores.

    Dentaduras duplas:

    dai-me enfim a calma

    que Bilac não teve

    para envelhecer.

    Desfibrarei convosco

    doces alimentos,

    serei casto, sóbrio,

    não vos aplicando

    na deleitação convulsa

    de uma carne triste

    em que tantas vezes

    me eu perdi.

    Largas dentaduras,

    vosso riso largo

    me consolará

    não sei quantas fomes

    ferozes, secretas

    no fundo de mim.

    Não sei quantas fomes

    jamais compensadas.

    Dentaduras alvas,

    antes amarelas

    e por que não cromadas

    e por que não de âmbar?

    de âmbar! de âmbar!

    feéricas dentaduras,

    admiráveis presas,

    mastigando lestas

    e indiferentes

    a carne da vida!

    A BRUXA

    A Emil Farhat

    Nesta cidade do Rio,

    de dois milhões de habitantes,

    estou sozinho no quarto

    estou sozinho na América.

    Estarei mesmo sozinho?

    Ainda há pouco um ruído

    anunciou vida a meu lado.

    Certo não é vida humana,

    mas é vida. E sinto a bruxa

    presa na zona de luz.

    De dois milhões de habitantes!

    E nem precisava tanto...

    Precisava de um amigo,

    desses calados, distantes,

    que leem verso de Horácio

    mas secretamente influem

    na vida, no amor, na carne.

    Estou só, não tenho amigo,

    e a essa hora tardia

    como procurar amigo?

    E nem precisava tanto.

    Precisava de mulher

    que entrasse nesse minuto,

    recebesse este carinho,

    salvasse do aniquilamento

    um minuto e um carinho loucos

    que tenho para oferecer.

    Em dois milhões de habitantes,

    quantas mulheres prováveis

    interrogam-se no espelho

    medindo o tempo perdido

    até que venha a manhã

    trazer leite, jornal e calma.

    Porém a essa hora vazia

    como descobrir mulher?

    Esta cidade do Rio!

    Tenho tanta palavra meiga,

    conheço vozes de bichos,

    sei os beijos mais violentos,

    viajei, briguei, aprendi.

    Estou cercado de olhos,

    de mãos, afetos, procuras.

    Mas se tento comunicar-me,

    o que há é apenas a noite

    e uma espantosa solidão.

    Companheiros, escutai-me!

    Essa presença agitada

    querendo romper a noite

    não é simplesmente a bruxa.

    É antes a confidência

    exalando-se de um homem.

    JOSÉ

    E agora, José?

    A festa acabou,

    a luz apagou,

    o povo sumiu,

    a noite esfriou,

    e agora, José?

    e agora, você?

    você que é sem nome,

    que zomba dos outros,

    você que faz versos,

    que ama, protesta?

    e agora, José?

    Está sem mulher,

    está sem discurso,

    está sem carinho,

    já não pode beber,

    já não pode fumar,

    cuspir já não pode,

    a noite esfriou,

    o dia não veio,

    o bonde não veio,

    o riso não veio

    não veio a utopia

    e tudo acabou

    e tudo fugiu

    e tudo mofou,

    e agora, José?

    E agora, José?

    Sua doce palavra,

    seu instante de febre,

    sua gula e jejum,

    sua biblioteca,

    sua lavra de ouro,

    seu terno de vidro,

    sua incoerência,

    seu ódio – e agora?

    Com a chave na mão

    quer abrir a porta,

    não existe porta;

    quer morrer no mar,

    mas o mar secou;

    quer ir para Minas,

    Minas não há mais.

    José, e agora?

    Se você gritasse,

    se você gemesse,

    se você tocasse

    a valsa vienense,

    se você dormisse,

    se você cansasse,

    se você morresse...

    Mas você não morre,

    você é duro, José!

    Sozinho no escuro

    qual bicho do mato,

    sem teogonia,

    sem parede nua

    para se encostar,

    sem cavalo preto

    que fuja a galope,

    você marcha, José!

    José, para onde?

    A

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1