Ainda não temos respostas: Reflexões sobre uma economia baseada no afeto
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Ainda não temos respostas - Maria Flávia Bastos
Parte 1
O ENSAIO
• CAPÍTULO 1
Alguns porquês de estarmos aqui
Meia-noite do décimo terceiro dia da quarentena e estou acordada pensando que ainda não entendemos direito o que está acontecendo e – o que é pior – não sabemos o que está por vir quando a péssima parte da crise pandêmica passar. E é inevitável. Se há incerteza, há ansiedade e medo. Será que podíamos ter evitado? O vírus não, mas a situação caótica – social, ambiental, política, econômica – em que estamos mergulhados, sim!
Tá certo que eu não imaginava o tamanho do caos. Mas imaginava que ele chegaria. Em muitas das aulas ou palestras que dei a executivos, fui tida como hippie ou ecochata
por dizer que nossa situação socioambiental se assemelhava a um trem em alta velocidade, pronto para cair em um precipício e ninguém, nem condutores, nem passageiros, fazia nada para parar a máquina e, pior, muitos achavam ser exagero de quem enxergava a real situação.
Mas como acredito na ciência e nos números – mesmo sendo absolutamente espiritualizada –, é preciso colocá-los aqui como se apresentavam antes da pandemia, para entendermos mais sobre o trem prestes a cair, a que me referi agora. Mesmo diante de um crescimento econômico e tecnológico, perdura no mundo a desigualdade, o que faz com que debates acerca da pobreza e das formas de promoção do desenvolvimento continuem sendo muito relevantes. O que faz com que, neste momento, possamos encontrar, juntos, saídas para um mundo, ao menos, mais solidário.
Imagine que, dos pouco mais de 7 bilhões de habitantes da terra, cerca de 10% vive abaixo da linha da pobreza (Oxfam, 2017). Na América Latina são 63 milhões de pessoas passando fome (Cepal, 2018) e, no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2016 e 2017, o número de pessoas extremamente pobres saltou de 6,6% para 7,4% dos brasileiros. Em 2018, havia no país 13,5 milhões de pessoas miseráveis (Renaux, 2019), ou seja, com uma renda mensal per capita inferior a R$ 145, ou U$S 1,9 por dia. Esse critério de classificação da miséria ou extrema pobreza é adotado pelo Banco Mundial.
Além da miséria e da fome, ainda convivemos com a desigualdade. E, embora nos alerte a Oxfam que nos últimos 15 anos o Brasil tenha tirado 28 milhões de pessoas da pobreza, também nos mostra a Organização que as pessoas super-ricas continuam sendo as mais beneficiadas, já que entre 2001 e 2015 alcançaram 61% do crescimento econômico. De acordo com seu relatório A desigualdade que nos une, seis brasileiros – todos homens brancos (Jorge Paulo Lemann, da AB Inbev; Marcel Hermmann Telles, da AB Inbev; Carlos Alberto Sicupira, da AB Inbev; Joseph Safra, do Banco Safra; Eduardo Saverin, do Facebook; e Ermirio Pereira de Moraes, do Grupo Votorantim) – concentram a mesma riqueza que os 100 milhões de pobres do país. Os 5% mais ricos do Brasil recebem por mês o mesmo que os demais 95% juntos.
E a Covid-19 vai piorar a nossa situação consideravelmente, levando milhões de pessoas para a pobreza, segundo estudos do novo relatório da Oxfam, Dignidade, não indigência (2020). A organização alerta sobre o retrocesso de uma década de luta contra a pobreza e que, dessa maneira, é urgente que lideranças governamentais e empresas se disponham a montar um plano de contingência para diminuir essa tragédia.
A desigualdade social é injusta e perversa. Lidamos com a permanência da pobreza e, por conta dela, o não cumprimento das necessidades básicas. Há ainda fome, desnutrição e doenças. As pessoas que passam por tudo isso, desprezadas e violadas em sua liberdade, vivem sob ameaça econômica e social (Sen, 2010). Superar problemas dessa magnitude é compreender e apoiar um novo desenvolvimento (Abramovay, 2012).
A pobreza limita as capacidades humanas, como também a liberdade individual. Uma das coisas mais profundas que li foi de Amartya Sen. O indiano, que é prêmio Nobel 1998, mostra que quanto mais miserável é a pessoa, menos escolhas ela pode fazer, e que um indivíduo que não faz suas escolhas não é livre e, portanto, não consegue ter dignidade. Para ele, liberdade não é passar fome, mas escolher jejuar. A pessoa pobre não se alimenta, por vezes, por uma situação de tamanha miséria em que a fome é imposta. Os projetos tradicionais de combate à pobreza acabam privando as pessoas pobres da definição daquilo que caracteriza sua situação de privação e vulnerabilidade. Esses projetos tomam o pobre como um sujeito incapaz de entender sua situação social e alterá-la, reproduzindo um viés assistencialista, mesmo que neguem fazer isso. A proposta de Sen (2010) é baseada na ideia de que populações pobres devem definir aquilo que contribui para a ampliação de sua liberdade.
Para ele e Ricardo Abramovay (2012), um economista paulistano que também admiro muitíssimo, as desigualdades perduram mesmo quando se aumenta a renda de pessoas pobres, isso porque perdura a pobreza, a falta de liberdade, as imposições. O fim dessa vicissitude está nos processos de participação das comunidades no incremento do desenvolvimento sustentável e na redução de desigualdades. Está no fim da exclusão social, na busca do pertencimento, da identidade e da coesão social.
Com os dois aprendi a me questionar e a provocar meus alunos, sobretudo os executivos, como podemos crescer sem ultrapassar os limites ambientais tão restritos? Apenas crescer economicamente poderá assegurar aos mais pobres benefícios do desenvolvimento e da cidadania que vão além dos valores monetários? Há autores que defendem um novo tipo de desenvolvimento, de crescimento mundial econômico, um crescimento que não deverá ser pautado apenas em si mesmo, mas um desenvolvimento análogo à qualidade de vida e à liberdade de formar sujeitos mais completos e plenos, que interagem, participam e influenciam o mundo em que vivem.
O desafio da economia na luta contra a pobreza – numa tentativa de reedificar a relação entre sociedade, natureza, economia e ética – será repensar os processos, desde a produção até a distribuição, bem como pensar em produtos e empresas que trarão utilidades fundamentais aos indivíduos e seus territórios. Nesse novo ciclo, parcerias entre governos, sociedade e empresas serão essenciais para a delimitação de outra dimensão: ética e valorativa, pautada muito mais em acesso social, político e humano do que em aumento da renda; como meio e não como fim.
O crescimento econômico, embora contribua em parte para a diminuição da pobreza (em sua vertente monetária), não é a receita única para a conquista da liberdade e da qualidade de vida, que se constituem em elementos importantes na superação da pobreza. Há que se valorar, na concepção do desenvolvimento, pontos que vão além da riqueza, do aumento do produto interno bruto (PIB), bem como de outras fórmulas relativas à renda. É certa sua relevância, mas é preciso estar atento para enxergar além do volume de transações econômicas em determinado contexto nacional e seus efeitos sociais (como a ampliação de empregos e o aumento da arrecadação tributária ou a inovação), mas, especialmente, por seus impactos na vida das