Reencarnação e Karma
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Sobre este e-book
A doutrina da reencarnação sempre foi tida como verdadeira por grande parte da humanidade. É uma luz impossível de se extinguir, ainda que a sua trémula chama possa dar a ideia de que se vai apagar por um instante. O reavivar do interesse pelo tema no mundo ocidental é um exemplo disso. Em momento algum da história existiu um período em que a humanidade não aceitasse a doutrina do renascimento numa das suas formas. Foi assim há mil anos - dois mil - cinco mil -, e é assim hoje.
As leis naturais universais explicam que se a alma é imortal, deve tê-lo sido sempre. Não é possível transformar algo mortal em imortal, tal como não é possível transformar o nada em algo. Uma vida futura implica, naturalmente, uma vida passada: experiências necessárias à educação da alma e à progressão necessária ao usufruto dos estados superiores do ser.
William Walker Atkinson explora o conceito da reencarnação ao longo da história, desde a teoria egípcia da alma até aos ensinamentos de Platão sobre a perspetiva moderna espiritual da vida eterna. Repleto de argumentos e evidências que apoiam a ideia de que a alma é como «um viajante numa longa jornada», esta obra é um olhar fascinante sobre algumas questões que a humanidade coloca desde a Antiguidade.
TODO O FIM É UM RECOMEÇO E UM BEM ABSOLUTO.
NÃO EXISTE NENHUM INFERNO A NÃO SER O NOSSO MEDO.
William Walker Atkinson
Foi uma das principais figuras do Movimento do Novo Pensamento. Pouco se sabe sobre os seus primeiros anos de vida, exceto que nasceu em Maryland, nos EUA, em 5 de dezembro de 1862. Alcançou sucesso no mundo dos negócios e da advocacia, mas o stresse acumulado ao longo dos anos viria a provocar-lhe um colapso físico e mental e a ruína financeira. Ao procurar restabelecer-se, iniciou uma transformação crucial através de princípios de saúde perfeita, vigor mental e prosperidade material. Escreveu, então, uma longa série de artigos sobre as verdades e revelações que descobrira. Em simultâneo, fundou a Escola Atkinson de Ciências Mentais. William Walker Atkinson morreu em 22 de novembro de 1932, na Califórnia. É considerado um dos verdadeiros grandes nomes do Movimento do Novo Pensamento.
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Reencarnação e Karma - William Walker Atkinson
Ficha Técnica
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para Alma dos Livros
Título: Reencarnação e Karma
Título original: Reincarnation and the Law of Karma
Autor: William Walker Atkinson
Tradução: Carla Ribeiro
Revisão: Silvina de Sousa
Paginação: Maria João Gomes
Capa: Patrícia Silva/Alma dos Livros
Imagem de capa: Shutterstock
Impressão e acabamento: Multitipo – Artes Gráficas, Lda.
ISBN: 978-989-8999-49-8
1.ª edição em papel: julho de 2020
Todos os direitos reservados.
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Capítulo Um
AS PRIMEIRAS RAÇAS
O termo «reencarnação» significa a encarnação repetida, ou corporização na carne, da alma ou parte imaterial da natureza humana. O vocábulo «metempsicose» é frequentemente utilizado com o mesmo sentido, sendo a definição deste último a seguinte: «A passagem da alma, enquanto essência imortal, aquando da morte do corpo, para outro corpo vivo.» Utiliza-se por vezes a expressão «transmigração de almas», mas quase sempre no sentido de «passagem de um corpo para outro». Mas o vocábulo «transmigração» é em determinadas ocasiões associado à crença de certas raças subdesenvolvidas que defendiam que a alma do homem passava amiúde para o corpo de animais inferiores, como castigo pelos pecados cometidos durante a vida humana. Esta crença é, porém, desacreditada pelos adeptos da reencarnação ou metempsicose, e não tem ligação à sua filosofia ou crenças – as ideias brotaram de uma fonte diferente e nada tendo em comum.
Existem bastantes formas de crença – muitos graus de doutrina – quanto à reencarnação, como veremos à medida que avançarmos, mas há um princípio básico e fundamental subjacente a todos os matizes de opinião e divisões das escolas. Esta crença primordial pode ser exprimida como a doutrina de que o homem possui algo imaterial (chamado alma, espírito, eu interior ou muitos outros nomes) que não perece aquando da morte ou desintegração do corpo, mas persiste enquanto entidade e, após um maior ou menor intervalo de repouso, reencarna, ou renasce, noutro corpo – o de um bebé por nascer –, de onde passa a viver uma nova vida no corpo, mais ou menos inconsciente das existências passadas, mas contendo a «essência» ou os resultados das vidas anteriores, cujas experiências contribuirão para moldar o seu novo «carácter» ou «personalidade». Geralmente, considera-se que o renascimento é governado pela lei da atração, sob um ou outro nome, e que essa lei atua de acordo com a estrita justiça, no sentido de atrair a alma que reencarna a um corpo e condições consonantes com as tendências da vida passada, sendo que os pais atraem também uma alma ligada a eles por alguns laços do passado, e sendo a lei universal, uniforme e equitativa para todos os envolvidos na situação. Esta é uma afirmação geral da doutrina tal como é normalmente defendida pelos mais inteligentes dos seus adeptos.
E. D. Walker, um célebre autor inglês que escreveu sobre o tema, apresenta a seguinte bela ideia dos ensinamentos gerais: «A reencarnação ensina que a alma entra nesta vida, não como criação nova, mas após um longo percurso de existências anteriores nesta Terra e noutros locais, onde adquiriu as atuais peculiaridades inerentes, e que está a caminho de transformações futuras que a alma está agora a moldar. Alega que a infância traz à Terra, não um pergaminho em branco para o início de um registo terreno, nem uma mera coesão de forças atómicas numa breve personalidade, que não tardará a dissolver-se de novo nos elementos, mas que tem inscritas histórias ancestrais, algumas semelhantes ao cenário atual, a maioria diferentes, e retrocedendo ao mais remoto passado. Estas inscrições são geralmente indecifráveis, exceto na influência na moldagem do novo percurso; porém, tal como as imagens fotográficas invisíveis feitas pelo Sol de tudo o que vê, quando bem reveladas no laboratório da consciência, tornar-se-ão visíveis. A fase atual da vida será também armazenada nos cofres secretos da memória, pelos seus efeitos inconscientes sobre as vidas seguintes. Todas as qualidades que possuímos, em corpo, mente e alma, resultam da nossa utilização de oportunidades antigas. Somos o herdeiro de todas as eras
e os únicos responsáveis pelas nossas heranças. Pois estas condições resultam de causas distantes geradas pelos nossos eus mais antigos, e o futuro flui através da divina lei de causa e efeito do impulso acumulado dos nossos ímpetos passados. No universo, não existe favoritismo, mas todos têm os mesmos eternos recursos de crescimento. Aqueles que atualmente ocupam uma elevada posição mundana podem no futuro ver-se mergulhados num ambiente humilde. Só os traços interiores da alma são companheiros permanentes. O madraço rico pode ser o mendigo da próxima vida; e o trabalhador diligente do presente espalha as sementes da futura grandeza.
O sofrimento corajosamente suportado hoje gerará um tesouro de paciência e fortaleza noutra vida; as provações darão origem à força; a abnegação deve desenvolver a vontade; os gostos cultivados nesta existência darão, de algum modo, fruto nas seguintes; e as energias adquiridas manifestar-se-ão sempre que possível pela lei da parcimónia, na qual se baseiam os princípios da física. Reciprocamente, os hábitos inconscientes, os impulsos incontroláveis, as tendências peculiares, as atividades favoritas e as amizades profundas do presente procedem de vastas atividades anteriores.»
A doutrina da reencarnação – metempsicose – renascimento – sempre foi tida como verdadeira por grande parte da raça humana. Seguindo a lei invariável das mudanças cíclicas – a oscilação do pêndulo do pensamento –, por vezes pareceu esmorecer em certas partes do mundo, sucedendo-lhe um novo renascimento e interesse entre os descendentes do mesmo povo. É uma luz impossível de extinguir e, ainda que a sua trémula chama possa dar a ideia de que se vai apagar por um momento, a mudança dos ventos mentais permite-lhe reacender-se a partir da centelha escondida e, vede!, irromper uma vez mais em nova vida e vigor. O reavivar do interesse pelo tema no mundo ocidental, que todos os observadores atentos constataram, é outro exemplo da atuação da lei cíclica. Começa a parecer que os ocultistas têm razão ao preverem que, antes do despertar de um novo século, o mundo ocidental terá abraçado uma vez mais as doutrinas do renascimento – a velha e rejeitada verdade, em tempos tão querida pela humanidade, restabelecer-se-á nas boas graças do povo e avançará de novo para a posição de ensinamento «ortodoxo», para voltar a ser talvez cristalizada em razão da sua «ortodoxia» e, ainda, perder apoiantes e esmorecer, à medida que o pêndulo recua para o outro extremo do pensamento.
Mas o ensinamento da reencarnação nunca desapareceu por completo – nalgumas partes do mundo, a lâmpada foi mantida bem acesa –, em momento algum da história humana existiu um período em que a maioria não aceitasse a doutrina do renascimento, numa das suas formas. Foi assim há mil anos – dois mil – cinco mil – e é assim hoje. Neste século
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, quase dois terços da raça aderem firmes ao ensinamento, e uma profusão de hindus e outros povos orientais agarram-se teimosamente a ele. é também possível encontrar vestígios da doutrina entre outras etnias no Oriente e no Ocidente. Assim, a reencarnação não é uma «verdade esquecida» nem uma «doutrina descartada», mas sim uma plenamente viva e vigorosa, destinada a desempenhar um papel importante na história do pensamento ocidental durante o século
xx
.
É interessante seguir a história da doutrina entre os povos antigos – desde os escuros recessos do passado. É difícil atribuir a um período específico, ou a alguma raça em particular, o crédito de ter «dado origem» à reencarnação. Apesar das opiniões decididas e das diferentes teorias dos vários autores sobre este tema, que sugerem o Egito, ou a Índia, ou a perdida Atlântida, como berço da doutrina, sentimos que essas ideias não passam de tentativas de atribuir a uma parte favorecida da raça uma crença intuitiva universal. Não acreditamos que a doutrina da reencarnação tenha «tido origem» em algum lado como doutrina nova e distinta. Cremos que terá surgido sempre e onde quer que o homem atingia um estado de desenvolvimento intelectual capaz de lhe permitir formar o conceito mental de um algo que vivia depois da morte. Seja qual for a fonte onde esta crença num «espírito» teve origem, deve admitir-se que se encontra entre todos os povos e é aparentemente uma ideia universal. E, a acompanhá-la nos povos primitivos, descobrimos que está, e sempre esteve, uma ideia mais ou menos vaga e indistinta de que, por alguma razão e de alguma maneira, um dia este «espírito» da pessoa regressa à existência terrena e toma sobre si novas vestes carnais – um novo corpo. Começa, pois, aqui a ideia da reencarnação – em toda a parte, numa certa fase do desenvolvimento mental humano. Corre paralelamente à ideia do «espírito» e parece estar ligada a esse conceito em quase todos os casos. Quando o homem evolui um pouco, começa a raciocinar que, se o «espírito» é imortal e sobrevive à morte do corpo, regressando para tomar um novo corpo, então deve ter vivido antes do último nascimento, devendo ter, portanto, uma longa cadeia de vidas atrás de si.
Este é o segundo passo. O terceiro passo é quando o homem começa a raciocinar que a próxima vida depende de algo feito, ou deixado por fazer, na vida atual. E foi sobre estas três ideias fundamentais que a doutrina da reencarnação se construiu. Os ocultistas alegam que, além desta ideia universal, mais ou menos intuitiva, a raça recebeu um pouco de instrução, de quando em vez, de certas almas avançadas que passaram para planos superiores da existência e que são chamadas mestres, adeptos, professores, guias da raça, etc. Mas, seja qual for a explicação, continua a ser verdade que o homem parece ter descoberto sozinho, em todos os tempos e locais, primeiro a ideia de um «espírito» que persiste após a morte do corpo; e, em segundo lugar, que esse «espírito» já existiu noutros corpos e regressará para ocupar um novo corpo. Perduram várias teorias relativas a «céus» e «infernos», mas, subjacente a todas, persiste esta noção de renascimento em algumas das suas fases.
Soldi, arqueólogo, publicou uma interessante série de obras relativas às crenças dos povos primitivos que desapareceram do palco da ação humana. Mostra, através dos fragmentos de entalhes e esculturas que lhes sobreviveram, que havia entre eles a ideia universal do «espírito» que vivia depois de o corpo morrer; e o conceito correspondente de que um dia esse «espírito» voltaria ao local das suas atividades anteriores. Esta crença tomava por vezes a forma de regresso ao corpo anterior, o que levou à preservação do corpo através de processos de mumificação, etc., mas, regra geral, deu lugar à convicção mais avançada de renascimento num novo corpo.
Os primeiros viajantes de África afirmaram ter descoberto, aqui e ali, provas e vestígios do que era para eles «uma estranha crença» no futuro regresso da alma a um novo corpo na Terra. Os primeiros exploradores da América depararam com teorias e tradições similares entre os índios vermelhos, das quais ainda hoje subsistem vestígios. Diz-se de uma série de tribos selvagens, em diferentes partes do mundo, que colocam os corpos dos filhos mortos à beira da estrada, para que as almas possam ter uma boa oportunidade de encontrar novos corpos em virtude da aproximação de muitas mulheres grávidas em viagem por aquela estrada. Muitos desses povos defendem a existência de uma alma complexa, composta por várias partes. Algo em que se assemelham aos egípcios, hindus, chineses, e, na verdade, a todas as filosofias ocultas e místicas. Diz-se que os ilhéus das Fiji acreditam numa alma negra e noutra branca, sendo que a primeira permanece com o corpo sepultado, desintegrando-se com ele, enquanto a alma branca deixa o corpo e vagueia como «espírito», até que, cansada de deambular, regressa à vida num novo corpo. Consta que os nativos da Gronelândia creem num corpo