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O cabelo de Dalila
O cabelo de Dalila
O cabelo de Dalila
E-book83 páginas1 hora

O cabelo de Dalila

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Sobre este e-book

Você está deitado em sua cama, enquanto uma chuva bate eternamente sobre o telhado de zinco. Ao seu lado, a mulher com quem você divide a mesma cama, a mesma chuva, a mesma vida, mal se move sob um cobertor que ambos compartilham e disputam. O que você tem de seu são esse quarto e suas memórias, as que você honestamente possui, e que se revolvem em sua mente, ao som da chuva. O Cabelo de Dalila é ao mesmo tempo um ensaio e a comprovação do ensaio, que demonstra que tudo que temos de nosso nesse mundo é o presente. O significado desse presente somente pode ser compreendido como a totalização de todos os momentos que o criaram, feita sob um teto e a chuva que nele bate. Neste universo, a literatura é convertida em uma operação de cálculo diferencial, na qual a variável desconhecida tende a zero e o nosso presente assume seu valor absoluto.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento16 de out. de 2013
ISBN9788581741789
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    O cabelo de Dalila - Paulo Ribeiro

    Parece que anda dormindo, que minha sogra aplicava ao meu sogro, não se ajusta a mim, que decidi permanecer na cama nesta manhã de chuva.

    Parar acordado e aproveitar o morninho das cobertas é mesmo a melhor ideia, embora Dalila aqui ao meu lado.

    As cobertas estão quentinhas, morninhas, boas de ficar.

    Deus que decida logo qual é o melhor ruído: se o que bate no zinco, ou as batidas do coração de Nossa Senhora mãe de Jesus.

    Deus que se decida: o zinco ou os pingos que rebatem na janela?!?

    Não vou levantar. A chuvinha bate no telhado e o som do zinco me faz melhor. Consigo então sentir tanto o ódio que tenho dela. Vai Dalila querer ficar também no morninho das cobertas?

    Odeio esta mulher de todo o coração. Odeio esta mulher que me aprisiona até numa manhãzinha de chuva que bate no zinco. O coração de Nossa Senhora.

    Deus é amor. Ou Deus é ódio?

    Uma parte de mim nauseia deste corpo ao meu lado.

    Levanta, Dalila! Você não merece nem a chuva que soa com um bom ritmo no zinco.

    Um bem-estar e angústia é possível?

    O coração de Nossa Senhora mãe de Jesus e o coração deste homem que sente nojo e a detesta bem de manhã.

    Há 35 anos vivo com Dalila.

    Sou bom em datas: em 1936, nasceu a sua santa mãe. A mãezinha de Jesus, como ela diz da Glétia.

    Glétia é a minha sogra e haverá muito o que contar.

    Dizem que o pai de Dalila disse que a nascidinha era um filho que ele gostaria de ter.

    Este não é, nunca foi de Jesus.

    Placenta e originais. Ambos prematuros ou em seu tempo?

    É o que vamos saber aqui enquanto o ritmo da chuva deixa estas cobertas ainda mais morninhas. Ela não se mexe. Finge que dorme o sono dos justos, mas também está ali a me odiar.

    É o que melhor sabemos fazer eu e Dalila: conviver para aumentar a insatisfação um do outro.

    Chuvinha.

    Pra falar deste romance, passemos logo a como se alimentavam os porcos: partia-se as melancias em toradas e os porcos trituravam aquela melancia, nervosos, sôfregos. E era aquela baba vermelha misturada com sementes a escorrer.

    A melancia era bem engolida e os porcos comiam mais, comiam até se fartar.

    Gilas, morangas, abóboras, melancia, o ritual era o mesmo, embora a diferença daquela pasta para o mastigar do milho. Com o milho havia menos desperdício, era mais em seco e sem encharcar tanto os cochões de madeira bruta em fileira.

    Os Remígios eram exímios em alimentar os porcos. Trabalhavam bem nos chiqueiros e diziam que os porcos se folgavam mesmo quando havia milho do tempo. Queriam dizer o milho colhido, o milho verde, porque o milho seco havia, ficava em montanhas no que o Rozeno chamava de silo.

    Ô, petulante!

    Não passava de uma meia-água nos fundos do Matadouro, e feita de tábuas simples e bem enripada para evitar o vento e a chuva.

    As crianças se agachavam e ficavam admiradas com os porcos sôfregos, nervosos na hora de se alimentar.

    O cheiro dos cabelos de Dalila chega bem aqui. Estamos deitados a ouvir a chuvinha que nesta manhã cai. Ambos inertes. Parece que andando dormindo.

    A imagem do velho Rozeno com a chuva no telhado faz o seu ruído ser melhor.

    O velhote gostava de bichos, de vaca, boi, mas o natural nele, vocação, eram os porcos. Usava calças ainda de botão e enfartou de uma forma memorável, que é o que eu estou a pensar.

    Enfartou de forma memorável pelo seguinte: depois de enfartado, esgarçou bem a blusa de baixo, que era de Banlon. Morreu sorrindo o Seu Rozeno.

    O Rozeno é o marido da Glétia e, no tempo da Legalidade, ficava dormindo com a cabeça em fuzil. Dizem que foi depois da Legalidade que o Matadouro progrediu com o dinheiro do Brizola não usado e o Seu Rozeno usava um colete da cor do guará.

    Chove, chuva. Chove sem parar e não quisemos ter filhos.

    Na mesa da sala, com seis cadeiras de ferro, brancas, com estofado marrom, há um jarrão para água fresca.

    O vinho, o sangue, que é miolo de melancia é mais fácil de descrever. A baba dos porcos com o sangue da melancia (diziam os Remígios) e sementes só.

    Desprezavam a casca, o que era mais superfície.

    Dalila no morninho. Querendo encostar a perna.

    Sai mais pra lá!!

    Um sem pernas fica debaixo de um neon de uma loja. Um azul bonito nele, coisa de arrepiar.

    Um homem sem perna. Um homem de calçote aleijado. Será que o colete do Rozeno ficaria folgado nele, neste sem perna do neon??

    Agora é pra valer. A chuva está mais forte, torrencial.

    Eu não vou levantar daqui até amanhã. Não vou. Ah, mas não!!

    Com a chuva consigo lembrar. É da boa memória que se leva um casamento aos confins. Lembra-se mais e odeia-se mais.

    O livro é um Steinbeck de quinto escalão. Enredo: dono de um mundão de terra, milhões de campo e um Matadouro que decide se comunizar.

    Romance de 30?

    Ora, vá lamber um sabão!

    Chove a chuva e a chuva se mistura com a memória.

    Espera-se que ela vá levantar.

    Dalila.

    A cozinha do céu da noite, cheguei a escrever pra essa aí.

    Bulhufas!

    De repente,

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