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Calaspia - O Espírito da Fé Livro 1
Calaspia - O Espírito da Fé Livro 1
Calaspia - O Espírito da Fé Livro 1
E-book254 páginas3 horas

Calaspia - O Espírito da Fé Livro 1

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Sobre este e-book

Fé é uma palavra pequena. Mas a verdadeira fé nem sempre é fácil, pois pequenos acontecimentos podem desafiá-la.

Para Eric, a fé fazia parte da vida cotidiana, pois ela estava cravada no coração de seu povo. Mas quando não testada por muito tempo, ela pode se tornar complacente e fraca.

Nancy tinha a sua fé testada diariamente. Ela acreditava na bondade inerente do mundo, mas é difícil se manter otimista quando todo dia é um desafio para conseguir respirar.

Através do tempo e de mundos diferentes, eles terão que encontrar força e fé um no outro (e em um poder superior a eles). Mas será que eles conseguirão ter as vidas às quais foram destinados?

IdiomaPortuguês
Data de lançamento27 de jan. de 2021
ISBN9781071585498
Calaspia - O Espírito da Fé Livro 1

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    Calaspia - O Espírito da Fé Livro 1 - A.D. McLain

    Dedico este livro à minha família por permitir que eu me dedicasse à minha paixão.

    Prólogo

    Duzentos anos antes...

    Ela estava sozinha. Adeline olhava com saudade o lago que ficava do outro lado do campo. Mais alguns quilômetros e ela estaria no portal. Ela se sentia enjoada. Nos últimos dias, ela se sentia mais confortável naquele lugar do que em sua própria casa. Por que ele não a deixava em paz? Aquele homem estava obcecado e eles nem eram da mesma espécie; ela era da água e ele era da terra. Por que Gelick estava obcecado por ela? Ela não fazia a menor ideia. Aquilo era completamente assustador.

    Ela olhava para o reflexo do sol da tarde que estava em um tom de ameixa refletindo nas águas tranquilas, e desejou que alguma solução surgisse. Por mais que ela desfrutasse de suas horas na Terra, ela não podia continuar gastando todo o seu tempo nela. Tampouco podia permitir que ele a afastasse de sua família e de seus amigos. Mas é claro que isso era mais difícil do que parecia, pois mesmo com o seu espírito animal de enguia, ela ainda tinha um lado humano e precisava passar um tempo fora da água. E embora estivesse testando seriamente todos os limites conhecidos do tempo gasto em sua forma híbrida de enguia raramente emergindo (exceto por necessidade), ele sempre parecia saber quando ela emergiria. Se ela não o conhecesse, diria que ele acampava perto da água para esperá-la.

    Adeline deu um pulo quando uma mão a agarrou pela cintura. Gelick sorriu se desculpando e deu um passo para o lado.

    - Me desculpe por ter te assustado. Como foi a sua tarde? Ouvi dizer que você tem visitado esses lagos aqui da Terra novamente. Tem certeza de que você deveria fazer isso? As coisas estão ficando cada vez mais perigosas para a nossa espécie.

    Se distanciando um pouco dele, Adeline se virou para encará-lo. Ela se arrepiou. Era muito ruim que ele sempre a encontrasse, mas como ele poderia saber sobre as viagens dela através do portal? De alguma forma, ele encontrou uma maneira de monitorar os movimentos e as atividades dela. Ele tomou liberdade sobre coisas que não eram da conta dele!

    Silenciosamente, ela pediu para que o irmão voltasse para casa, mas não tinha como saber se ele a ouvira. Bry ainda estava no lago e a comunicação entre Calaspia e a Terra era difícil e esporádica. Alguns pensamentos conseguiam passar, mas não era confiável. Mas, mesmo assim, ela enviou o pedido. Nesse meio tempo, ela olhou em volta procurando uma saída. A água estava a uns trinta metros de distância. Ela poderia ir até lá, mas ele a alcançaria facilmente antes que ela conseguisse chegar.

    Ela sacudiu a cabeça se perguntando o que havia de errado com ela. Ok, ele era assustador, mas isso não significava que ele a machucaria. Ele realmente parecia preocupado com a segurança dela. Talvez ele simplesmente tivesse ouvido alguém falar sobre as visitas dela, já que ele não conseguia rastreá-la quando ela estava debaixo d’água.

    - Agradeço a sua preocupação, mas os humanos tendem a ficar longe das águas profundas, então não há muito com o que se preocupar.

    - Se é assim, então por que os aldeões próximos estão falando sobre criaturas serpentinas estranhas no lago, minha Naitaka? - ele sussurrou o nome carinhosamente.

    Surpresa, ela arregalou os olhos. Ele sabia o nome que os humanos e os outros que viajavam para o outro lado tinham dado a ela. Era assim que eles chamavam o monstro do lago deles. Nem ela e nem Bry tinham contado aquilo a ninguém. Só havia uma maneira de ele saber sobre os rumores.

    - Você esteve no vilarejo?

    - Mas é claro que sim! - ele deu um passo na direção dela com o braço estendido - Eu tinha que ter certeza de que você estava segura, e não me arrependo de ter feito isso. Se você continuar, eles a encontrarão e provavelmente irão te fazer algum mal. Você tem que parar com esses passeios.

    Os olhos dela brilharam de raiva.

    - Isso não é da sua conta!

    - Não é da minha conta? Você é da minha conta!

    - Não sou não! - ela disse de forma indiferente.

    Os olhos dele brilharam felinamente por um breve momento.

    - É o Bry, não é? Ele nunca aprovou o nosso relacionamento.

    - Nós não estamos em um relacionamento! - ela gritou frustrada.

    Os olhos de Gelick se suavizaram e, gentilmente, ele colocou uma mão no braço dela.

    - Eu entendo que você esteja com medo, mas não há nenhuma razão para que as nossas espécies não possam ficar juntas.

    Ele era louco. O que mais ela poderia dizer? Ela não conseguia pensar em nenhuma maneira para ser mais clara.

    - Tire a mão da minha irmã! - Bry gritou.

    Os dedos de Gelick se dobraram e suas unhas afiadas afundaram de forma dolorosa no braço dela, mas ela não se encolheu. A dor não era nada comparada à raiva que emanava dele pressionando-a até que ela mal conseguisse respirar.

    Bry se aproximou da margem com a água ainda pingando de seu corpo. A respiração ofegante indicava a velocidade com que ele tinha nadado até lá. Os olhos de Gelick subitamente brilharam felinamente de novo. Os lábios dele se curvaram nos cantos, e ela sentiu o coração batendo na garganta.

    - Corre Bry!

    Ela puxou o braço da mão dele, o que acabou deixando arranhões irregulares e ensanguentados do cotovelo até o pulso e, então, os irmãos fugiram para a água.

    Durante a corrida, Gelick se transformou em pantera: uma fera negra e elegante, cheia de músculos e precisão. Em terra, ele tinha vantagem, pois eles não tinham chance de correr mais do que ele. Ela chamou a atenção de Bry com o olhar e sentiu o tempo parar. Bry olhou para eles e então para o lago, e chegou à mesma conclusão.

    Ela deslizou até parar e viu quando Gelick se virou para se preparar para o impacto do ataque.

    - Entre no lago! - Bry ordenou assim que as poderosas garras de Gelick cravaram em seu braço e em seu ombro.

    Eles caíram no chão e saíram rolando em um emaranhado de pelos e membros. Bry contra-atacou, mas ele não era páreo para a forma animal mais forte de Gelick. Ele não tinha garras e nem proteção, mas ele segurou a boca da pantera tentando conter os dentes dela. Com o mínimo de esforço, Gelick se livrou das mãos de Bry. Adeline gritou e voltou correndo até eles.

    Os dentes afiados de Gelick rasgaram a carne de Bry. O sangue se espalhou pela grama e pelos arbustos formando uma poça sob eles. Desesperada, ela golpeou as costas de Gelick, mas ele a jogou para o lado fazendo-a rolar até alguns arbustos de amora. Os espinhos rasgaram a pele dela quando ela se levantou rapidamente.

    Gelick ficou de pé sobre o corpo imóvel de Bry. Ele já tinha voltado à sua forma humana, mas ela ainda podia ver o sangue no rosto e nas mãos dele. Olhando para o irmão, ela procurou por sinais de respiração.

    Gelick se afastou cambaleando para longe do corpo e sorriu.

    - Isso tinha que ser feito. - ele explicou - Agora ele não pode mais envenenar seus pensamentos contra mim. Ele não pode atrapalhar o nosso amor!

    Adeline ignorou o discurso insano. Ela foi para o lado do irmão e colocou a mão trêmula sobre ele, mas ele não reagiu ao toque dela. O peito dele não se movia mais, nem mesmo para uma respiração fraca. Ele já estava morto. Ela não percebeu quando começou a chorar, apenas que suas bochechas estavam molhadas e que sua visão estava embaçada.

    Surpreso, Gelick deu um passo para trás e olhou para ela como se estivesse tentando decifrar um enigma.

    - Eu te libertei! - ele disse - Hoje deveria ser um dia feliz! Não há nada para nos separar agora!

    Incapaz de compreender a loucura dele, ela focou em se agarrar no tecido da túnica de Bry enquanto seu corpo convulsionava em soluços. Ele era mais do que seu irmão: eles eram melhores amigos. Ele foi o único que entendeu e que até compartilhou o fascínio dela pela Terra.

    Ela ouvia a voz de Gelick, mas as palavras dele foram abafadas pelos sons altos dos trovões e da chuva intensa. Quando havia começado aquela tempestade? O céu estava cheio de nuvens escuras. A eletricidade estática estalou no ar. De repente, um raio atingiu o chão perto dos pés de Gelick. Ele olhou para ela em pânico, e ela percebeu que aquele era o castigo dele. Ele violou uma das regras principais: ele havia ceifado uma vida. A energia vital dele não estava mais alinhada com as energias de Calaspia. Ela quase riu da ironia. Gelick estava certo, ela finalmente ficaria livre assim como ele tinha dito, mas só que às custas da vida do irmão. Onde estava a justiça nisso? O mundo não era bom e nem justo. A fé era uma piada, uma mentira que ela foi ensinada a acreditar. Ela teria que suportar uma eternidade da insanidade dele para ter Bry de volta. Ela nunca mais seria a mesma.

    Gelick correu, mas não se pode fugir de algo tão sério. Uma névoa negra e espessa o cercou e ela ouviu ele gritar de pavor.

    Os cabelos dela flutuaram. Seu corpo ficou pesado. O ar estava pesado. Ela cambaleava por causa da tontura, certa de que cairia ou vomitaria. Ela ouvia gritos em meio àquele turbilhão todo. Pessoas estavam se aproximando do vilarejo, mas ela não conseguia distinguir quem eram. A visão dela ficou turva e então voltou ao normal. As nuvens negras se dissiparam e Gelick havia desaparecido.

    Com um leve sorriso, sabendo que ele nunca mais poderia voltar para aquele mundo, ela fechou os olhos pela última vez em Calaspia.

    * * *

    A primeira coisa que ela percebeu foram as vozes.

    - Foi o monstro do lago! -  disse a voz rouca de um homem e então começou um burburinho.

    - Não seja ridículo! - um outro homem retrucou.

    - A garota foi encontrada à beira do lago encharcada e coberta de sangue. Quem você acha que seria o responsável?

    - Parece que algum animal selvagem deixou aquelas marcas no braço dela. - uma mulher observou.

    - E como você denomina o monstro do lago? Um animal doméstico?

    Todo mundo ficou quieto até que a ouviram gemer. Ela abriu os olhos e viu um pequeno cômodo mal iluminado por velas e cheio de pessoas. Eles a olharam com uma mistura de preocupação e medo.

    - Você pode nos contar o que aconteceu garota? - o primeiro homem perguntou preocupado.

    - Seamus! - a mulher o repreendeu - Você nem perguntou o nome dela!

    - Tá bom, tá bom! - ele cedeu - Qual é o seu nome?

    Ela abriu a boca para responder, mas não conseguiu dizer nada. Qual era o nome dela? Por que ela não conseguia se lembrar? Era como se ela estivesse sonhando momentos antes de acordar, ela sentia que sabia, mas não conseguia entender e nem manter em seus pensamentos tempo suficiente para responder.

    - Eu não sei. - ela respondeu.

    - Você sabe como foi ferida? - a mulher perguntou gentilmente.

    Adeline olhou para o próprio braço que encharcava de sangue o curativo simples. Ela podia sentir outros machucados também, mas ela não tinha a lembrança do que poderia ter causado eles. Ela balançou a cabeça e ignorou a frustração que sentiu das pessoas presentes. Os homens começaram a discutir entre eles novamente sobre a probabilidade de o ataque ter sido proveniente de seres marinhos ou de outros animais selvagens. A mulher os expulsou do quarto, sentou-se ao lado da cama e começou a escovar os cabelos dela gentilmente.

    - Vai ficar tudo bem, minha querida. - ela assegurou - Você está segura agora.

    Um garoto bateu levemente à porta e enfiou a cabeça para dentro do quarto.

    - Consertei a corrente mãe!

    Ao aceno da mulher, ele entrou e lhe entregou um colar.

    - Eu limpei um pouco o pingente. Tem um nome nele.

    - Obrigada! - ela lançou um sorriso rápido ao garoto, e ele deixou elas sozinhas novamente. A mãe do menino olhou atentamente para as letras intrinsecamente gravadas - Adeline. Esse é o seu nome?

    Ela sentiu uma pressão no peito, mas as palavras escaparam. Esse era o seu nome? A mulher colocou gentilmente o colar na mão dela.

    - Este colar é seu. - ela explicou - Pelo menos encontramos ele com você, mas a corrente estava quebrada.

    Ela encarou as letras gravadas no metal liso.

    - Adeline... - ela disse em voz alta, mas não sentiu nada.

    A mulher esfregou a mão no ombro dela e voltou a escovar seus cabelos.

    - Vai ficar tudo bem, minha querida. Tenho certeza de que você se lembrará de tudo com o tempo.

    "Talvez", ela pensou olhando para os machucados. No entanto, a verdadeira questão era: ela queria se lembrar?

    * * *

    O tempo não fazia sentido girando ao redor dele trazendo, levando e corrompendo suas memórias ainda estáveis, até que ele não tinha mais certeza do que era real e do que era imaginação. Ele se lembrava do rosto dela. A lembrança permanecia mesmo que ele não conseguisse se lembrar do próprio nome. Ele não sabia quem era ela. Era apenas um rosto. O sorriso lindo dela foi o suficiente para ajudá-lo a se acalmar enquanto o seu corpo e espírito gritavam pelo fim daquela existência sem sentido. Quanto tempo até eles roubarem essa memória dele também?

    As sombras rodeavam ele. Uivos permeavam a escuridão. Ele rastejou pela areia sentindo o caminho apenas pelo toque. Um relâmpago iluminou as criaturas bestiais um segundo antes de elas atacarem. As garras rasgaram a carne dele, assim como já tinham feito várias vezes. Toda vez era a mesma coisa. Ele estava com tontura e se sentia fraco. Ele não conseguiria sobreviver a muitos outros ataques. De alguma forma, elas se alimentavam da energia vital dele. Ele não tinha certeza de como sabia o que elas estavam fazendo. A memória ligada àquele conhecimento tinha se apagado. Ele as observou através dos breves momentos luminosos marcados pelos altos trovões. Ele podia ver a própria essência saindo de seu corpo e entrando no corpo delas, e fortalecendo aquelas criaturas sombrias. Fechando os olhos, a mente dele vagou e flutuou junto de ondas de energia. No momento em que ele estava prestes a desistir e a deixar que elas o levassem, ele se lembrou de algo sobre transferência de energia. Aquilo poderia ser revertido.

    Ele abriu os olhos e se afastou do ataque. A energia começou a crescer por todo o seu corpo. Ele puxou toda a energia de volta e continuou consumindo tudo o que elas tinham. Seu corpo brilhou na escuridão. As criaturas choramingaram e recuaram visivelmente enfraquecidas. Gelick sorriu. Ele não era mais a presa.

    Passando pelos corpos sem vida no chão, ele caminhou direto para um grupo de criaturas à esquerda. Elas estremeceram e deslizaram rapidamente para longe.

    - Pare! - ele ordenou.

    Houve um silêncio. As criaturas se curvaram diante dele. Ele era o novo mestre delas.

    Trovejou e os céus libertaram uma chuva forte. As criaturas se sacudiram e fugiram em busca de abrigo. Um raio atingiu o chão a uns trinta metros de distância. Uma forma escura surgiu na areia. Gelick observou a figura: era um homem que se levantava tremulamente e que tentava, sem sucesso, correr pela areia. Medo e confusão emanavam em ondas daquele ser.

    Ignorando a tempestade, Gelick caminhou em direção ao homem. O ar zunia com uma energia tão espessa que era como se ele caminhasse pela água. As ondas de poder o golpeavam a cada passo. Um raio criou um pilar de vidro gigante ao lado dele. Gelick não prestou atenção em nada daquilo. Aquele homem... aquele homem o atraía. Ele emanava uma energia diferente. A energia vital dele era forte. Se não fosse pela tempestade, as criaturas teriam atacado aquele homem imediatamente. Realmente não importava se ele sobreviveria àquele clima, pois ele já tinha a própria morte declarada. Tudo o que restava determinar era em como ele morreria.

    - Socorro! Socorro! - o homem gritava - Eu preciso ir para casa. Como eu faço para ir para casa?

    Gelick entrou em uma nuvem de névoa fria e viu os movimentos do homem desacelerarem. Gelick continuou em seu ritmo, mas o homem parecia alheio à sua abordagem. Ele saiu da névoa e o homem deu um pulo quando viu Gelick aparecer subitamente ao seu lado.

    - Quem é você? Você pode me ajudar? Eu preciso ir...

    E essas foram as últimas palavras que ele proferiu antes dos dedos fortes de Gelick envolverem seu pescoço.

    Gelick puxou o homem para perto e o analisou. Ele cheirava à energia calaspiana, mas tinha algo faltando.

    - Quem é você?

    Completamente em pânico, o homem olhava aterrorizado.

    - Eu... - a voz do homem estava rouca por causa da mão de Gelick que apertava a sua garganta - ...eu não sei! - as lágrimas escorriam pelo seu rosto comprido e assustado.

    - Um caído. -  Gelick concluiu.

    Ele não tinha certeza de como conseguia se lembrar disso, já que ele não conseguia se lembrar da própria vida em mais do que alguns fragmentos de detalhes aleatórios. Mas ele sabia o que aquele homem era.

    Ele sentiu novamente. A fragrância calaspiana, por mais fraca que fosse, era intoxicante. Lentamente, ele extraiu a energia. Foi muito mais gratificante do que a energia escura que ele roubou das criaturas. Aquilo era mais do que sobrevivência. Era sobre prosperidade. Ele se sentiu energizado e vivo. Ele percebeu memórias de um mundo com lagos extensos e florestas exuberantes. Ele a viu... aquele rosto... ela era linda. Qual era o nome dela? Frustrado, ele se alimentou mais da energia daquele homem. Ele nem prestou atenção aos fracos apelos do homem pedindo para que ele parasse. Ele ignorou as torres de vidro iluminadas que brotavam, e os ventos uivantes que chicoteavam furiosamente suas roupas e os seus cabelos. Ele desconsiderou os sentimentos de aceleração e de desaceleração, de envelhecimento e de rejuvenescimento. Ele queria aquela memória. Ele queria saber aquele nome.

    O corpo do homem caiu. Não havia mais energia a ser tirada pois ele já estava morto. Gelick atirou o corpo para o lado e gritou no meio do redemoinho. Era uma tempestade tão poderosa, tão cheia de... energia.

    Gelick ficou parado absorvendo o poder daquela tempestade turbulenta. Aquela fonte não gerou memórias, mas o fez se sentir mais forte. Assim que o vento se acalmou, as criaturas começaram a rastejar lentamente observando-o. Ele as atingiu com seu olhar penetrante e ordenou:

    - Encontrem mais seres iguais a ele. Tragam para mim qualquer um que esteja perdido no deserto!

    Quando as criaturas saíram correndo em obediência, ele olhou para o horizonte escuro. Ele recuperaria suas memórias. Era só uma questão de tempo.

    Capítulo Um

    A luz quente do sol brilhava por entre as

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