Reminiscências
De Luciano Gama
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Sobre este e-book
Alguns, tenho a certeza de surgir neles, durante a leitura, o desejo de entrar na história para conhecer as pessoas descritas pelas lembranças do autor.
Pelo menos, numa das crônicas escritas nesse livro, o desfecho ferverá os neurônios dos leitores curiosos. Não duvido nada se alguns não vão querer fazer alguma coisa na prática para satisfazer a curiosidade.
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Reminiscências - Luciano Gama
Sumário
TAPEAÇÃO, NÃO!
Alfredo residia na orla marítima, desfrutando das atrações e conforto que oferece uma grande cidade. Um razoável emprego, namorada firme de alguns anos de comprometimento. Tinha ambições de estabilizar-se, almejando posições que lhe dessem melhores condições de vida para poder assumir maiores responsabilidades.
Deparou no jornal local um edital de concurso público, de empresa estatal, oferecendo tudo o que pedia: bom salário, posição social, estabilidade e outras vantagens.
Não titubeou. Fez a inscrição, estudou as matérias exigidas, prestou concurso e foi aprovado.
Designado para a trabalhar em filial de cidade muito distante de sua moradia, aceitou a nomeação.
Despediu-se da namorada, fazendo mil promessas. O namoro continuaria à distância, cartas seriam constantes.
Viajou para nova cidade de avião, fazendo duas baldeações, tamanha era a distância.
Alojou-se provisoriamente em uma pensão da cidade onde também estavam morando outros colegas de trabalho. Absteve-se de se instalar em residência fixa, por se tratar de moradia provisória.
Na realidade estava nomeado para exercer suas funções em caráter efetivo em localidade da região, cuja filial seria inaugurada em breve. A permanência ali, momentânea, era apenas um estágio.
A cidade do estágio era um local bem diferente do que estava acostumado. Luz elétrica e fornecimento de água precários e inconstantes, ruas sem pavimentação com poeira abundante, frio de bater o queixo, no inverno, e calor de suar em bica, no verão.
Para suportar tantas agruras, Alfredo além de cumprir seu estágio participava de atividades esportivas, compondo um dos times da empresa de futebol de salão, como se denominava o futsal de hoje.
Isso ainda era pouco. Precisava de algo mais para encher o tempo. Que tal uma namoradinha para as horas vagas?
Quando lhe ocorreu esse pensamento é porque já estava de olho numa garotinha graciosa, muito bonita, atraente, vistosa, que estudava no colégio ali bem perto do seu local de trabalho e também morava próximo. Seu nome, Janete, filha do delegado de polícia.
Planejou tudo com detalhe, namorar até a data do término do estágio, quando iria para outra cidade do entorno. Assim o tempo passa sem que se perceba.
Conhecedor da técnica, feita a investida necessária, não teve dificuldade para iniciar o namoro.
Passavam momentos agradáveis e felizes, frequentando sua casa sem a menor cerimônia. Iam juntos, com a assistência da família, a bailes. Tornaram-se frequentadores assíduos dos eventos sociais da comunidade.
Passaram-se verões e invernos chegando o dia da transferência para seu posto efetivo na filial para a qual estava designado.
Momento difícil, hora da verdade. Alfredo não tinha mais idade para molecagens. Não tinha vocação para marinheiro que, conforme dizem, tem um amor em cada porto.
Tentou usar habilidade, mas não existe jeito fácil para isso. Preferiu ser honesto, seguir seus princípios e falar a verdade. Encontrou com Janete e colocou-a a par de tudo. Confessou ter namorada em sua terra, acrescentando que estava ali para se despedir pois fora transferido para outra cidade.
Ambos sentiram-se mal. Janete, decepcionada, baixou a cabeça, deixou escorrer uma lágrima, voltou para sua casa sozinha, desejando que o mundo acabasse naquele instante.
Alfredo ficou aborrecido, sentindo-se culpado de alguma coisa que fez e não conseguia arrepender-se. Agi errado? Perguntava-se. Os pensamentos eram confusos, embaralhados.