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A Maldição de Sekhmet: Conjuradores de Syndrial, #3
A Maldição de Sekhmet: Conjuradores de Syndrial, #3
A Maldição de Sekhmet: Conjuradores de Syndrial, #3
E-book395 páginas5 horas

A Maldição de Sekhmet: Conjuradores de Syndrial, #3

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Sobre este e-book

Nathan se prepara para lutar contra um conjurador poderoso, mas a verdadeira ameaça a Syndrial toma todos de surpresa. Quando escreve sobre assassinatos que começam a se tornar realidade, ele precisa deter um assassino que está mais próximo do que imagina. O tempo está contra ele. 

Para salvar Syndrial de uma ameaça destruidora, Nathan e seu irmão terão que trabalhar com alguns aliados incomuns. À medida que enfrentam adversários antigos e novos, eles descobrem segredos que são um pouco familiares demais para Nathan. Sua habilidade de Escritor tem sido uma ferramenta poderosa, mas, desta vez, pode ser uma maldição.

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento18 de ago. de 2023
ISBN9781667461687
A Maldição de Sekhmet: Conjuradores de Syndrial, #3

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    A Maldição de Sekhmet - Rain Oxford

    Anteriormente em Conjuradores de Syndrial...

    Eu era um cara completamente normal. Trabalhava em um sebo de livros enquanto fazia a faculdade de literatura. No tempo livre, eu praticava fuga de salas, jogava jogos de estratégia, lia, escrevia ficção criminal e desfrutava de um vício saudável em café. Eu também era amaldiçoado; todos de quem gostava se feriam.

    Meu irmão, Luca, era meu melhor amigo e um chato de marca maior. Ele era brilhante, adorava tudo que dizia respeito à história antiga e ficava ao meu lado quando todos os outros se afastavam com medo da minha maldição. Conseguíamos resolver qualquer problema juntos.

    No dia do meu aniversário de vinte e quatro anos, caímos por um portal e chegamos a um mundo chamado Syndrial. Syndrial era cheio de magia e monstros, comandado por diversos deuses. O Egito Antigo se originara da cultura daquele mundo. As pessoas que faziam magia eram chamadas de conjuradoras e todos sabiam sobre os deuses. A maioria das pessoas vivia em cidades, e cada cidade tinha um templo cheio de padres e que rodeava uma pirâmide.

    Todas as crianças em Syndrial eram testadas entre os aniversários de cinco e dez anos para ver se tinham magia. Os garotos encontrados com magia forte o suficiente eram admitidos no templo para serem treinados. As garotas com magia eram exiladas para o deserto. Quando um aprendiz estava pronto, passava por uma série de provas que estavam sua mente e sua magia. A finalidade dessas provas era ganhar um dos deuses, que então lhe daria uma habilidade especial em troca de lealdade. O garoto se tornaria um padre e seria chamado por seu título, que era baseado em sua habilidade.

    Quando Luca e eu aparecemos no meio de uma das cidades, fomos levados para os padres e testados. Eu tinha magia, mas Luca não. A primeira resposta deles fora matar Luca, com o que não concordei. Portanto, eles decidiram matar nós dois. Porém, antes que conseguissem, a deusa Ísis apareceu e disse-nos que ela e os outros deuses precisavam de nossa ajuda. Fui cético.

    Ísis escreveu os nomes de verdade de todas as pessoas e deuses de Syndrial. Em Syndrial, os nomes eram poder e mesmo um conjurador ruim conseguiria matar alguém com o nome da pessoa. Um conjurador poderoso conseguiria controlar os deuses. Portanto, os nativos de Syndrial recebiam nomes falsos quando nasciam e seus nomes de verdade eram mantidos em segredo.

    No fim das contas, eu nascera em Syndrial, mas fora enviado embora no dia do meu nascimento e meu nome não fora incluído no livro. Isso significava que o livro não podia ser usado contra mim e, quando ele foi roubado, os deuses queriam que eu o recuperasse. Eles acreditavam que um semideus chamado Pintor o roubara.

    Relutantemente, concordei em ajudar para que eu e Luca chegássemos em casa vivos. Comecei estudando magia e, ao longo do caminho, conheci algumas pessoas estranhas, incluindo Keira, que mais tarde descobri ser a deusa gata, Bast. Ela me ajudou algumas vezes na forma felina, que era de um jaguar preto grande. Diferentemente de outros deuses que tinham recipientes, ela criara o próprio corpo. Com ele, ela conseguia mudar de forma, mas não conseguia viver com os outros deuses no reino deles.

    Todos os templos rodeavam uma pirâmide. Cada templo adorava um deus particular, exceto o Alto Templo (onde os aprendizes eram treinados). Excluindo Bast, todos os deuses tinham um recipiente mortal, que eram nativos de Syndrial e viviam sozinhos nas pirâmides, vendo durante toda a sua vida apenas o único padre que cuidava deles. Quando os deuses queriam visitar Syndrial, usavam o respectivo recipiente. O Alto Templo e a Alta Pirâmide eram terreno neutro. Os recipientes eram mantidos completamente puros, sem nunca terem permissão de sair da pirâmide sem os deuses dentro deles.

    Luca e eu acidentalmente resgatamos um feiticeiro de outro mundo preso, que me oferecera um anel e um livro mágicos em gratidão. O anel poderia me transportar para o mundo e o horário em que eu estivera por último, desde que o tivesse no dedo. O livro podia esconder ou mudar meus feitiços dentro dele caso outra pessoa colocasse as mãos nele.

    Com a ajuda de Luca, descobri que minha mãe fora o recipiente de Ísis. Também descobri que vários dos padres matavam crianças para obter o poder delas, em vez de exilá-las. Conheci o Pintor, que não parecia particularmente mau. Quando um dos padres renegados pegou Luca, imediatamente procurei o Pintor em busca de ajuda para derrotá-lo.

    O conselho dele foi fazer as provas, o que fiz. De fato, impressionei deuses suficientes nas minhas provas a ponto de poder escolher quem eu queria. Escolhi Thoth e a habilidade que ele me deu foi a de escrever. Qualquer coisa que eu escrevesse se tornaria realidade, desde que tivesse força e determinação suficientes. Eu me tornei o Escritor.

    O Pintor e eu banimos os padres assassinos para Kradga, a versão de Syndrial para o inferno. Não foi tão difícil, pois trabalhávamos muito bem juntos. O Pintor também tinha um anel mágico que o deixava imortal e suprimentos de arte mágicos que tornavam a magia dele ridiculamente eficiente. Logo depois, o disfarce do Pintor caiu e descobri que ele era meu irmão gêmeo idêntico. De forma compreensível, tive um ataque histérico, mas ele explicou tudo que resultara em suas tendências psicóticas e assassinas.

    Set engravidara nossa mãe para produzir um herdeiro que conseguisse pegar o Livro dos Nomes, que Ísis entregara ao seu recipiente. Nossa mãe nos enviou para mundos diferentes para nos proteger da Testemunha que a atacou imediatamente depois que nascemos. O Pintor sabia disso porque estivera lá... duas vezes.

    Ele sofrera abusos de todas as pessoas que deveriam ter cuidado e amado o Pintor, incluindo nosso pai. Quando Set o enviou de volta no tempo para ser treinado pelos padres, o Pintor foi um prodígio. Set ficou muito orgulhoso. Assim que o Pintor passou em suas provas, Set o recebeu. Depois, o Pintor deveria ter pegado o livro de nossa mãe, mas, em vez disso, acabou salvando-a e a nós dois. Infelizmente, ele não conseguiu impedir que a Testemunha esfaqueasse nossa mãe no peito, empurrando-a pelo portal.

    Depois de ouvir essa história, atacamos a Testemunha e pegamos o Livro dos Nomes, que ele roubara. A Testemunha era o padre encarregado de cuidar dela. Ficamos tão furiosos que fizemos com que Ísis o levasse para que fosse castigado posteriormente.

    Foi quando descobri que as mentiras do Pintor eram muito mais profundas do que eu receara. Eu me lembrava de ter crescido com Luca, mas todas aquelas lembranças tinham sido fabricadas pelo Pintor. Ele se transformava em Luca sempre que colocava o amuleto que recebera de nossa mãe. Mas isso não era o pior. Ele só estivera comigo por um curto tempo. Quando era Luca, ele não tinha poderes e carregava todas as lembranças e fraquezas que dera a si mesmo.

    Eu poderia ter perdoado tudo isso. Eu poderia ter aceitado e amado meu irmão. Eu poderia ter curado as feridas emocionais que todos os outros tinham causado nele. Mas ele também matara meus pais adotivos e minha primeira namorada. Ele era a maldição que feria a todos de quem eu gostava.

    Eu o prendi em um livro. Era como um mundo fantasioso em que ele poderia fazer qualquer coisa que quisesse, exceto que não afetaria ninguém no mundo real. Jurei a mim mesmo que me tornaria poderoso o suficiente para salvá-lo de si mesmo antes de soltá-lo do livro.

    Quando os deuses me procuraram, querendo que eu e o Pintor recuperássemos uma espada mágica de outro deus, recusei-me a trabalhar com o Pintor. Anúbis concordou em prender o Pintor na forma de Luca, bloqueando sua magia e sua natureza assassina. Deu certo e Luca me agradeceu, dizendo que estava feliz assim.

    A Espada de Draskara era uma espada poderosa criada para matar um deus. Ela fora desenhada combinando um anel mágico e uma adaga especiais. Sempre que era sacada, ela tinha que matar alguém, caso contrário, mataria a pessoa que a sacou. Além do mais, quando ela matava alguém, transferia o poder da pessoa morta para quem a empunhava.

    Fomos atrás de Maori e descobrimos que ele não estava com a espada... e que nossa mãe ainda estava viva. Na verdade, ela estivera vivendo na Terra com seu marido feiticeiro. Sabendo que Luca e eu tínhamos o Livro dos Nomes, Maori capturou nossa mãe para fazer uma troca.

    No entanto, ao salvá-la, Luca foi capturado, pois não tinha magia. Quando levei minha mãe para um lugar seguro, tentei salvar Luca. Fracassei, mas percebi que, não importava se ele era o Pintor ou Luca, ainda era meu irmão. Eu o amava. Portanto, removi o feitiço de Anúbis e liberei o poder de Luca. O Pintor e eu derrotamos Maori com facilidade e o Pintor o matou com a espada. O Pintor absorveu as habilidades de Maori, mas não o conhecimento inerente sobre como usá-los.

    Também recebemos muita ajuda do antigo mentor do Pintor, Langril. Ele não era um homem bom, de forma alguma, mas era poderoso.

    Assim que conseguimos a Espada de Draskara, ela foi roubada pela Testemunha. Ele tinha a habilidade de não ser visto e, com a espada, poderia roubar qualquer habilidade. Como eu não tinha confiança na minha habilidade de lutar com magia, convenci Langril a me treinar. Só o que deveria a ele seria um favor.

    Enquanto esperávamos que a Testemunha revelasse seu local, o Pintor decidiu que Kradga precisava de um regente e que era responsabilidade dele. Além disso, ele poderia trabalhar em diminuir sua agressão.

    Prólogo

    O Protetor se preparava para as orações noturnas quando o Escrivão abriu a porta do pátio, assustando o velho. Porém, o Protetor se conteve, pois o novo padre estava claramente em pânico.

    — O alto conselho! Você precisa falar com o conselho!

    — Qual é o problema?

    O Escrivão balançou a cabeça, frenético demais para passar a mensagem.

    O Protetor se levantou, com os joelhos fracos protestando contra o esforço. Ele ignorou o medo abjeto do Escrivão e andou até a câmara do conselho com dignidade.

    Na esquina dos dois corredores, ele pressionou dois dos blocos na parede. O chão se dividiu em duas linhas retas e uma seção de cerca de três metros de largura afundou, transformando-se em degraus. Ele desceu os degraus para a sala abaixo.

    Ela era redonda, com perto de seis metros de diâmetro, e bem iluminada. Cinco tochas rodeavam três tronos sofisticados feitos de tecido azul-real e dourado. Cada um dos tronos estava ocupado por uma mulher com cabelos longos loiros, quase brancos, olhos azuis e manto prateado. Elas usavam joias de prata em volta do pescoço, nos cabelos e no manto. A vidente do passado tinha cinquenta e poucos anos, a do presente tinha vinte e poucos anos e a vidente do futuro estava na adolescência.

    — Ouvi dizer que vocês fizeram uma profecia — disse o Protetor.

    — O fim está próximo — disseram as três mulheres ao mesmo tempo.

    — A morte que varreu nosso mundo e destruiu nossas terras... — começou o Passado.

    — Está voltando para tomar o que sobrou — terminou o Futuro.

    — Syndrial já rosna, queimando de fúria — disse o Presente.

    — O que podemos fazer para impedir isso? — perguntou o Protetor.

    — Nada — disseram as três mulheres juntas.

    — Só existe um conjurador que pode nos salvar — disse o Presente.

    — Mas ele não vive aqui — disse o Passado.

    — Não conseguimos encontrá-lo — acrescentou o Futuro.

    — Como é o nome dele? — perguntou o Protetor.

    — Não sabemos.

    — Eu o encontrarei para trazê-lo para cá e salvar-nos — prometeu o Protetor. Ele saiu sem dizer mais nada. As videntes não eram conhecidas por serem confiáveis. Elas nem conseguiam distinguir gêmeos. É claro, o Pintor e o Escritor foram os únicos gêmeos nascidos em Syndrial desde... O Protetor afastou o pensamento. Ele era leal ao seu mundo e aos seus deuses acima de seus netos.

    Quando os padres tinham descoberto que ele tinha uma filha e tiraram-na dele, ele não lutara. Eles a tornaram um recipiente, que disseram ser uma honra. Ele visitara a filha em segredo, mas não a ajudara a escapar. Ele nem mesmo objetara quando tinham decidido matá-la para impedir que seu filho nascesse.

    Porém, não fora uma criança só, mas gêmeos que ela colocara no mundo. Apesar de sentir orgulho dela, ele não podia salvá-la. Felizmente, ele mantinha os segredos dela, portanto, sabia que não tinham conseguido matá-la.

    O Protetor também tinha quase certeza de que Nathan era o salvador de que seu mundo precisava.

    O som de metal próximo o assustou. Ele rapidamente olhou para as duas extremidades do corredor, mas não viu ninguém. Em seguida, uma lâmina arrastou contra a pedra ao lado dele.

    Capítulo 1

    O assassino esperou do lado de fora da janela aberta até ter certeza de que a vítima estava dormindo. Em seguida, entrou silenciosamente. A visão noturna do assassino era impecável. Ele hesitou, pois o quarto bagunçado e colorido era um pouco confuso. Depois de um momento, ele viu a vítima adormecida e avançou para cima dela como um gato que caçava.

    Quando não consegui mover a caneta, pestanejei e ergui o olhar, voltando a atenção para o mundo real. Keira estava sentada ao meu lado. Apesar de ser antiga, ela parecia ter a minha idade, com os cabelos pretos longos e lisos e os olhos cor de esmeralda. A aura dela era igualmente doce, inocente e exótica. Eu estava acostumado com a expressão divertida dela. Ela soltou minha mão. — Vamos nos atrasar.

    Olhei para janela à nossa frente. O tubarão nadava perto do vidro. Estávamos no aquário Kaiyukan em Osaka, Japão. Não eram férias especiais nem lua de mel, era um encontro casual. Nos dois meses desde que a Testemunha pegara a Espada de Draskara e estávamos sob ameaça constante, Keira e eu tínhamos experimentado algumas formas de relaxar.

    Luca e eu éramos jogadores e solucionadores de quebra-cabeças. Keira, sendo uma deusa e metamorfa de um jaguar, não estava interessada em aventuras virtuais. Portanto, achamos que seria apropriado explorar o que a Terra tinha a oferecer. Fosse um café da manhã na Itália, um lanche à tarde em um templo no Japão ou um jantar sofisticado na França, decidimos não desperdiçar um dia sequer. Keira normalmente nos transportava para nosso destino com base em fotografias da internet. Na volta, eu nos transportava para casa usando meu anel de transporte. Era uma prática valiosa.

    Guardei o caderno no bolso e levantei, mas tropecei. Ela rapidamente levantou e colocou as mãos à minha volta para me equilibrar. — Desculpe — disse eu, tentando afastar a dormência das pernas.

    Ela riu. — Você ficou sentado imóvel por horas. Não estou surpresa por estar com as pernas dormentes.

    — Aposto como você conseguiria tirar todos os nós dos meus músculos.

    — Só se tivéssemos um tempinho.

    — Tem certeza de que não quer a minha ajuda? — perguntei.

    Ela beijou minha bochecha. Keira não gostava muito de exibições públicas de afeto. — Todos os gatos de Syndrial desapareceram. Não sei o motivo, mas posso resolver. Você não deve faltar ao trabalho, é quem está custeando nossas excursões.

    Eu adorava as implicâncias dela. Passei os braços em volta dos ombros dela e Keira repousou o rosto no meu pescoço. — Volte para casa inteira.

    — Sempre volto. — O hálito quente dela fez cócegas na minha pele sensível.

    *      *      *

    Durante meu turno na livraria, considerei as possíveis causas para que os gatos de Syndrial desaparecessem. Esperei muito que minha namorada não se envolvesse em algo perigoso. Ela era poderosa, mas, mesmo assim, eu me preocupava.

    Foi uma noite de trabalho tranquila, como sempre. Eu nunca precisara que Luca me fizesse companhia, mas, depois que se fora, era um lembrete deprimente de que nossas vidas eram muito diferentes. Apesar de eu ter orgulho por meu irmão ter assumido uma responsabilidade, sentia falta dele. Eu não o vira desde que ele assumira o controle de Kradga.

    Eu não sabia se ele estava sofrendo ou aproveitando a vida sem mim. De qualquer forma, eu não queria saber.

    *      *      *

    Parei na minha cafeteria favorita a caminho de casa. Eu estava a apenas dois quarteirões do apartamento quando ouvi um clique. Não consegui pensar em um som mais perigoso naquele momento. Congelei antes que meu atacante dissesse: — Não se mexa. — O cano da arma estava pressionado contra a minha espinha, entre as omoplatas. — Recue lentamente e entre no beco.

    Fiz como ele ordenou, sem discutir. Eu era um escritor de ficção criminal, passara inúmeras horas pesquisando crimes como aquele. A forma mais fácil de o criminoso se safar era atirando em mim.

    — Dê-me a sua carteira. — Comecei a estender a mão para pegar a carteira quando ele enterrou a arma ainda mais nas minhas costas. — Devagar!

    — Ok — respondi, mantendo o tom submisso e calmo. Se eu mostrasse medo ou arrogância, isso só o deixaria nervoso e mais propenso a atirar. Eu estava pegando a carteira, mas no que encostei primeiro me deu uma ideia. Coloquei o anel no dedo e, ao mesmo tempo, eu me abaixei.

    — Mas que porra? — gritou o bandido. Para ele, eu desaparecera. Infelizmente, isso o assustou e ele apertou o gatilho. A bala atingiu meu braço, mas aquele era o menor dos meus problemas naquele momento.

    Caí no chão, espalhando sangue por toda parte, e rolei para ficar de costas. O bandido usava um casaco de couro com capuz, mas vi o rosto dele de relance quando seus olhos me procuraram. — Megyar — disse eu, soltando meu poder nele.

    Ele gritou e caiu no chão, contorcendo-se de dor. Eu não manteria o feitiço por muito tempo, pois era exaustivo e desnecessário, afinal, ele não levantaria em um futuro próximo. Esforcei-me para levantar, pressionando a ferida com a mão direita. Ele dobrou o corpo em posição fetal e os gritos mudaram para gemidos baixos. Tirei o anel e guardei-o novamente no bolso. Antes que eu pudesse ir embora, ele pegou a arma e mirou em mim. Eu a chutei para longe, mas não me dei ao trabalho de pegá-la.

    O pobre coitado cometera um erro ao me escolher como vítima. Peguei meu telefone e liguei para a polícia. Contei a eles que tinha acabado de ser assaltado e o local. Quando perguntaram meu nome, eu disse: — Ah, meu nome é... — e desliguei.

    Eu não tinha plano de saúde e não pretendia gastar milhares de dólares no hospital para que fizessem um curativo. Eu não gostava de hospitais. Eles não conseguiram salvar meus pais e, na única vez em que eu precisara ir a um hospital, fora para visitar pessoas feridas pela minha magia.

    Eu sabia que eles poderiam rastrear o número do meu celular, mas não estava preocupado com isso. Ser um conjurador de Syndrial me dava um plano de fuga.

    Caminhei até em casa. A adrenalina que me impedira de sentir dor estava dissipando. A dor e a letargia estavam deixando-me lento. Eu conhecia três curandeiros, mas chegar até um deles exigiria uma força que perdia rapidamente. Cheguei à porta do meu apartamento. Por sorte, eu morava no primeiro andar, caso contrário, não teria conseguido.

    Eu estava com frio e tremendo, sem dúvida entrando em choque. Encostei-me na porta para descansar por um momento. A porta à esquerda da minha abriu e minha vizinha colocou a cabeça para fora. Violet tinha vinte e poucos anos, cabelos castanhos e uma maquiagem sutil nos olhos. Apesar da aparência normal, ela era uma das pessoas mais góticas que eu já conhecera.

    — Por que está sangrando? — perguntou ela. Violet tinha uma caneta branca entre os dedos para fingir que estava fumando.

    — Como sabia que eu estava aqui fora sangrando?

    — Consigo sentir o cheiro. Sou uma vampira, lembra? Alguém tentou sacrificar você?

    — Não.

    — Ótimo. Já reivindiquei você como meu sacrifício.

    — Eu sei. Você me disse isso várias vezes.

    Naquele momento, o marido dela colocou a cabeça para fora. — Olá, Nathan. — Diferentemente de Violet, Jonas era um cara amigável e engraçado, mas não era muito brilhante. Ele tinha cabelos castanho-claros e olhos azuis. — Ei, sabia que está sangrando?

    — Eu o esfaqueei — mentiu Violet.

    Jonas riu. — Ah, querida, você tem que parar de fazer isso. Precisa de uma carona até o hospital, Nathan?

    — Não, eu mesmo vou me costurar.

    — Que legal — disse Violet. — Posso costurar você?

    — Não.

    — Se você desmaiar e afogar no seu sangue, aí posso?

    — Não.

    — Que pena. Se desmaiar, vou costurar você mesmo assim. Jonas, deixe-me esfaquear você para que possa costurá-lo.

    Ele passou o braço em volta dela. — Querida, já conversamos sobre isso. Você precisa praticar primeiro com taxidermia.

    Abri a porta do meu apartamento e entrei nele. Eu gostava de Violet e Jonas, mas, em vários aspectos, eles pareciam crianças. No dia em que tinham se mudado para o apartamento, tentaram lavar as roupas na lava-louças com xampu. Luca e eu estávamos sempre esperando que eles incendiassem o apartamento. Keira os adorava porque amava a inocência deles.

    A sala de estar tinha um sofá azul, uma poltrona reclinável marrom, uma mesinha de centro e uma TV inteligente de cinquenta e cinco polegadas. Em um dos lados da sala de estar, havia três portas, que levavam a dois quartos e a um banheiro. A porta para a cozinha ficava na parede oposta. 

    Depois que entrei e tranquei a porta, concentrei-me na minha mãe e na casa dela, e disse: — Não há lugar como o lar — três vezes. O anel precisava ser ativado usando uma frase e fora essa que o feiticeiro que me deu a joia usara. Langril o modificara para que me levasse a qualquer lugar onde eu estivera antes, mas não quis trocar a frase. De qualquer forma, eu estava ficando acostumado com ela. Nenhum dos nativos de Syndrial a entendia e eu raramente precisava do anel na Terra, exceto para ir ao castelo de Langril para minhas aulas.

    A luz sumiu do mundo e, quando voltou, eu estava em um lugar novo. A casa era pitoresca, com um tapete escuro e paredes claras na sala de estar. Na parede à minha frente, havia uma porta para a cozinha. Um sofá bege ficava à direita da porta, juntamente com uma mesinha de centro de madeira rústica. Na parede oposta, havia uma lareira e uma televisão de cinquenta polegadas. Na parede à direita, uma porta de vidro deslizante abria para o quintal de trás.

    Minha mãe e o marido dela estavam sentados no sofá, abraçados. Minha mãe era uma mulher pequena, com cabelos ruivos longos e olhos azuis. Tudo nela, das feições suaves ao temperamento quieto, indicavam que era inofensiva.

    Christopher tinha compleição média, com um bronzeado natural e olhos cinzentos que com frequência pareciam lilás. Ele não era inofensivo. Era um feiticeiro humano que dedicara a magia à cura. Eu ficara preocupado de ele não conseguir proteger minha mãe, mas, à medida que passara a conhecê-lo, aprendi que sua aparência era enganadora. Ele era forte o suficiente para lidar com o problema da minha mãe, mas gentil o bastante para que ela não sentisse medo dele.

    Aos pés da minha mãe, estava um filhote de golden retriever, que se escondeu sob a mesinha e latiu para mim.

    Eu caí de joelhos. A dor no meu braço aumentava e meu corpo perdeu as forças que ainda tinha. Minha mãe estremeceu. — Você consegue... curar isto? — perguntei a Christopher.

    — Faça pressão sobre a ferida — disse ele, levantando-se de um salto. — Vou buscar uma poção de cura e algumas bandagens.

    — Se tiver uísque, também seria bom — disse eu. Minha mãe se ajoelhou ao meu lado e colocou as mãos no meu braço, mas nos locais errados, fazendo com que eu grunhisse.

    — Desculpe! — disse ela com pânico na voz. — Seu braço todo está coberto de sangue!

    — Eu sei. Fui assaltado.

    Chris voltou e entregou-me um frasco de poção. — Beba isto. — Ele foi até o banheiro buscar um kit de primeiros socorros. Bebi a poção, que tinha gosto de espinafre doce e a textura de xarope para tosse. Ela imediatamente aqueceu o frio que eu sentia, mas a dor demoraria muito mais para sumir. — Tire a camisa — disse Chris, sentando-se no chão ao meu lado. Eu não consegui abrir os botões, portanto, ele a rasgou. Apesar de a ferida parecer pior do que eu esperara, ela correspondia à dor.

    Eu sofrera muitos ferimentos na vida, mas aquele era meu primeiro ferimento de bala.

    Felizmente, enquanto ele limpava a ferida e fazia um curativo, a dor diminuiu. A letargia, por outro lado, aumentou.

    — Eu provavelmente deveria ter avisado... poções de cura superfortes têm esse efeito sonífero.

    — Ótimo. — E desmaiei.

    *      *      *

    Acordei em um quarto de hóspedes, sentindo o aroma do café da manhã. Era um quarto pequeno, com um tapete bege, paredes verdes, um armário perto da porta e uma janela na parede oposta. Eu estava deitado em uma cama grande. Ao lado dela, havia uma mesinha. Como essa era toda a decoração do quarto, imaginei que não recebiam hóspedes com frequência. Sobre a mesinha, estava uma camisa azul. Sentei e olhei em volta antes de apalpar gentilmente meu braço. Não senti dor. Vesti a camisa e fui para a cozinha, onde minha mãe preparava ovos, bacon e panquecas. Chris estava sentado à mesa com uma xícara de café e um jornal.

    A cozinha tinha armários brancos, balcões de fórmica e aparelhos de aço inoxidável. A cortina da janela sobre a pia tinha desenhos de maçãs. Era um pouco pitoresco demais para o meu gosto.

    Keira era perfeita para mim, mas não tínhamos um relacionamento padrão. Ela era uma deusa e metamorfa de um jaguar, enquanto eu era humano e conjurador de Syndrial. Julia, minha mãe adotiva, não fora dona de casa. Desde que eu conseguia me lembrar, houvera algo de errado comigo. Depois que meus pais faleceram e Luca se juntou a mim, nossa vida foi empolgante, mas não normal. Talot, minha mãe biológica, era recipiente de Ísis, completamente inocente. Tudo que ela aprendera sobre a cultura da Terra fora com Chris, a televisão e os livros.

    Chris gesticulou para o bule de café e peguei uma xícara. Sentei-me à mesa. — Obrigado pelo curativo. Vou dar o fora daqui porque tenho certeza de que vocês dois têm coisas a fazer.

    — Não — disse minha mãe. – Fico feliz com sua visita. Eu gostaria que ficasse. Na verdade, Chris e eu temos conversado muito sobre você e seu irmão. Queremos que vocês dois se mudem para White Hills.

    Balancei a cabeça negativamente. — Não acho que vá dar certo.

    Ela pegou a minha mão. — Isto não teria acontecido se seu irmão estivesse cuidando de você, como deveria ter feito.

    — Luca tem um trabalho a fazer e precisa achar o próprio caminho.

    — Não entendi — disse ela.

    — A vida dele não pode girar em volta de mim.

    — Ela gira, como a sua gira em volta dele. Vocês precisam um do outro.

    — Isso não... — comecei.

    — Se eu puder me meter — interrompeu Chris. — Tal, Nathan precisa de espaço para superar o que aconteceu.

    — O que aconteceu? — perguntou ela, genuinamente confusa.

    — Achei que você sabia — comentei. — Ele matou meus pais adotivos.

    — E daí?

    Bebi o café e coloquei a xícara sobre a mesa com força demais. — Eu os amava! Eram a minha família. O Pintor os tirou de mim e depois mentiu para mim. Não é fácil superar. Eu o amo e trabalharei com ele, mas esse tipo de traição não se cura com alguns pedidos de desculpas. Sei que ele fará qualquer coisa para me proteger. Porém, ele não sabe o que é melhor para mim. E, ao tentar me ajudar, ele exagerará.

    — Não entendi — disse ela de novo.

    — Alguém explicou a você o que gêmeos significam para Syndrial? — perguntou Chris a mim. Balancei a cabeça negativamente. — Bem, sugiro que converse com um nativo de Syndrial sobre o assunto... que não seja sua mãe. Eles obviamente têm um conceito profundamente arraigado sobre a ligação entre gêmeos.

    — Farei isso. E tentarei visitar vocês com mais frequência. — Porém, eu não sabia se faria isso. Talot era minha mãe, mas

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