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A Maldição do Lago
A Maldição do Lago
A Maldição do Lago
E-book298 páginas4 horas

A Maldição do Lago

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Sobre este e-book

Um lago encantado. Uma maldição. Uma história de amor paranormal.

Adán é um jovem confuso e incompreendido que luta para encontrar sua própria identidade em uma sociedade convulsa e cheia de pressa. A sua vida se tornou uma rotina: sente-se prisioneiro do seu trabalho, e no aspecto sentimental sente um grande vazio que não mais consegue preencher com nada.

Tudo isso muda quando uma amiga de infância escreve para ele uma mensagem whatsapp e Adán retorna para o povoado onde cresceu. Ali conhece Diana, uma mulher misteriosa por quem se apaixona e que o apresenta a um mundo mágico, vendo-se envolto em paisagens oníricas, situações inexplicáveis e a lenda maldita do lago... mas, acima de tudo, em um amor mágico e puro .

Quem é Diana? Que segredo obscuro o lago esconde? Que relação Adán tem em tudo isso?

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento18 de abr. de 2021
ISBN9781071596258
A Maldição do Lago

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    A Maldição do Lago - Jairo Prieto

    A MALDIÇÃO DO LAGO

    ––––––––

    A MAGIA EXISTE, CREIA OU NÃO NELA

    A Maldição do Lago

    Escrito por Jairo P. Fernández

    Copyright © 2021 Jairo P. Fernández

    Todos os direitos reservados

    Distribuído por Babelcube, Inc.

    www.babelcube.com

    Traduzido por Gerson Aguilar

    Babelcube Books e Babelcube são marcas comerciais da Babelcube Inc.

    Dedicado à memória de Mónica Fernández Carbajo.

    Sem ela, esta história não teria sido possível.

    Você está no meu coração. Obrigado.

    Conteúdo:

    Advertência.

    1.

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    19.

    20.

    21.

    Artigo extraído de La Opinion de Zamora.

    Biografia.

    Advertência

    ––––––––

    Esta história é baseada em fatos reais, mas os nomes de algumas pessoas foram alterados para respeitar sua privacidade e a de seus familiares. O resto é verídico: os locais, as paisagens, os eventos, os fenômenos paranormais... Tudo aconteceu como eu conto, exceto por algumas reviravoltas no enredo que são estratégias narrativas simples para criar uma história redonda, divertida e bem conectada.

    O livro contém algumas cenas duras, não sexuais, especialmente ao nos aproximarmos do fim.

    Decidi escrever a história na primeira pessoa para que o leitor se coloque na pele da protagonista e conheça Diana como eu a conheci.

    Diana é a grande protagonista desta história mágica. Uma grande mulher que mudou a minha vida para sempre e graças a quem comecei na escrita. Uma mulher de coração enorme, sábia, guerreira e maga. Uma Ártemis moderna com quem vivi coisas que parecem ficção científica, mas que aconteceram realmente...

    Convido-os a conhecê-la e entrarem em seu mundo.

    O autor,

    Jai

    «Não importa quem sou. Não importa como me chamo. Podem me chamar de bruxa. Porque, de qualquer maneira, a minha natureza é esta. Desde sempre, desde o meu primeiro batimento cardíaco, desde o primeiro sopro de vida, desde o primeiro pontapé que dei no mundo.

    Sou uma daquelas mulheres que têm fogo na alma, sou uma daquelas mulheres que têm a visão e a audição de um gato, sou uma daquelas mulheres que falam com as árvores e com as formigas, sou uma daquelas mulheres que têm o cérebro de Hipátia, de Ártemis, de Madame Curie...»

    Extrato de Llamadme Bruja, de Franca Rame.

    1

    ––––––––

    «Há coisas que não têm lógica nem importância, acontecem milhares de vezes e acabam sendo esquecidas. Mas são as coisas importantes e significativas que nos deixam marcas, aquelas que permanecem para sempre na lembrança e no coração.»

    Tudo começou em um belo dia no trabalho. Eu estava sentado em frente ao computador em meu cubículo de um grande escritório, na cidade de Madri. Lembro-me de que ao lado do meu teclado havia uma estatueta do Capitão América. Eu gostava das histórias em quadrinhos, de tudo relacionado a super-heróis, e costumava ficar horas imaginando que poderia voar ou colocar uma capa mágica com a qual pudesse desaparecer e ir aonde quisesse... Pim, Pim! Recebi uma mensagem no celular da minha amiga Mamen.

    Olaaaaa! Já se esqueceu da sua melhor amiga??? Eu sempre me lembro de você, bicho. Espero que esteja tudo na santa paz.

    Abraço!!! :-)

    Fazia muito tempo que não sabia nada sobre a Mamen, mas sua mensagem naquele momento foi como uma salvação da lavoura para mim. Desde que haviam me promovido na empresa, mal tinha tempo para qualquer coisa que não fosse relacionada com os negócios; minha vida girava em torno de trabalho, trabalho e mais trabalho.

    Abri o chat e escrevi para ela:

    SOCORROOOOOOOOOOOO!!!

    Eu precisava desabafar, então saí para o corredor e liguei para ela.

    -O que aconteceu? Está tudo bem? -Ela perguntou depois de me perceber cansado.

    -Estou exausto!!

    -Caaaalma... Respiiiiiira...

    -Peço desculpas por não ter dado sinal de vida antes, mas... o trabalho, você sabe -coloquei uma voz abatida-. Caramba! Não aguento mais...

    -Você está com a síndrome de Burnout. Por que não vem neste fim de semana ao povoado para se desconectar um pouco?

    Minha amiga tinha razão: eu estava cansado, ou melhor, pregado. Passava o dia na frente do computador fazendo relatórios, folhas de pagamento, contabilidade... papelada e mais papelada; um trabalho rotineiro, monótono e enfadonho que não me satisfazia e, ainda por cima, haviam feito comigo um contrato «indefinido».

    -Tudo bem -respondi-, aceito sua proposta, mas com uma condição.

    -Qual?

    -A gente precisa se divertir o máximo possível.

    -Está feito, bicho.

    Naquela mesma tarde de sexta-feira, arrumei minha mala e me mandei para o povoado.

    Era final de junho e Sanabria[1] se preparava para dois meses de calor, areia e turistas com os bolsos cheios. Essa terra contém muitos mistérios e tradições antigas, como curandeiros, caçadores de lobos -aqui se encontra a maior população de lobos de toda a Europa- e todos os tipos de lendas como a Santa Companha, a bruxaria, bem como abundantes mitos e superstições, em sua maioria herdados dos povos celtas que povoaram aquelas paragens há pouco mais de dois milênios.

    As ruas do povoado trouxeram à minha mente a lembrança de tempos passados, quando eu jogava futebol com os meus amigos, as corridas de bicicleta e as travessuras e truques que fazíamos, como o dia em que queimamos o palheiro do povoado por fumarmos às escondidas, ou quando fomos pegos entrando na casa do médico para beber cerveja na torneira do bar do jardim. Que trastes nós éramos! Mas como nós nos divertíamos...

    Combinei de me encontrar à tarde com a Mamen em um bar local, para tomar uma bebida e colocarmos a conversa em dia. Quando a vi aparecer, fiquei surpreso com sua aparência provocante: uma minissaia xadrez estilo colegial, muito curta, uma camiseta decotada, ou melhor, muito decotada, tênis Nike e uma jaqueta preta com cruzes prateadas na lapela, o que lhe dava um aspecto gótico. Quando me viu, começou a cantarolar alegremente:

    -Voltaaaa, para casa voltaaaa, já é Natal...

    -Caramba, garota! Você não mudou nada! -Disse olhando para ela de cima a baixo, emocionado.

    -Você, em contrapartida, está muito velho, bicho. Deve estar fazendo algo muito errado -comentou com uma mistura de ironia e instinto de irmã mais velha. Seu comentário me quebrou no meio. Acontece que era verdade o que ela dizia: o trabalho e as preocupações haviam me passado a fatura e meus cabelos grisalhos haviam começado a aparecer-. Claro que nããão, é só brincadeira! -Acrescentou, enquanto me dava uma cotovelada na lateral do corpo. E me abraçou. E o fez com tanta força que senti seu coração batendo nas minhas costelas-. Senti muito sua falta -ela me sussurrou.

    Contou-me que havia estado em Paris trabalhando como solista e que agora queria ir morar na Irlanda, para tocar na filarmônica da cidade.

    -E como está a sua vida com as garotas? Está saindo com alguma?

    -Pshss, saindo com uma ou outra, mas nada muito sério. E você?

    Como foi a vida em Paris?

    -Oooooh, lá, lá, lá! Merveilleux! Conheci um cara enquanto dançava entre duas leoas de cowgirl. Claro que eu estava olhando para um francês e, no fim das contas, o sul-africano me impediu de conhecer o parisiense. Também conheci alguns dançarinos no palco. Um deles era um italiano muito bonito, e dançava divinamente. Mais tarde, conheci um cantor francês com longos cabelos loiros, o qual eu havia hipnotizado com minha beleza desde o palco. Foi ele quem me perseguiu, claro, embora eu o tenha dado uma conferida enquanto ele cantava. Também se interessaram por mim um arquiteto, um economista e um produtor de cinema irlandês, mas este último não me caía bem pois tinha uma namorada.

    -Uau, vejo que você não perdeu seu tempo.

    -Não procuro por eles, são eles que se interessam por mim. Sou muito sedutora e sem perceber eu olho para eles e se derretem. Ha, ha, ha!

    -Você tem que arranjar um namorado Áries; são os mais calmos.

    -Calmos?! São hiperativos e impacientes. Tive um flerte Áries uma vez e tudo o que ele fazia era me estressar. Até que, para falar a verdade, encontrei dois interessantes pela vida. Um era muito paciente e calminho. O outro levava horas para pentear seus três fios de cabelo. E eu até que gostava disso, pois ele me dava tempo e não me impacientava. Era complexado e de vez em quando me pedia para comprar um tal spray para crescimento de cabelos. Ha, ha, ha! Ele me deixava louca com aquele spray capilar.

    -Pelo que vejo, você esteve saindo com o Homer Simpson?

    -Agora que está dizendo, ele se parecia mesmo com o Homer Simpson quando dançava. E ele mexia o pescoço como os avestruzes, aqueles engraçados de pernas brancas como as minhas.

    -Ha, ha, ha!

    -Eu conheci um de Florença uma vez, mas ele era do Leste. Não me lembro do lugar, embora ele tenha me dito que era de Florença. Super elegante e com uma mandíbula quadrada e sexy. Mas, no fim das contas, era um mulherengo e por isso não me interessou. Ele me deu o telefone e com uma voz sedutora disse «me liga». Isso foi um verdadeiro turn off. Um mulherengo que queria que eu o conquistasse. Ha, ha, ha! Não é o meu estilo ir atrás de nenhum deles. Os acomodados são mulherengos e não me interessam. Quem quiser peixe, que molhe a bunda. Se é acomodado, é mulherengo. Ha, ha, ha!

    -Qual é o local mais estranho em que você já aprontou com algum deles? -perguntei.

    -Na biblioteca -respondeu, acendendo um cigarro.

    -Sério? Na Biblioteca?

    -Wi Aaaah! Era um professor de piano do conservatório que queria me pegar, desde quando me viu vestida no Halloween, como Cleópatra, meus lábios estavam com um batom escandalosamente vermelho. Várias vezes, na verdade. Ele nunca soube quem eu era. Depois eu o encontrei em um concerto e estive prestes a contar, mas preferi não assustá-lo. Ha, ha, ha! Como disse o Humphrey Bogart, em Casablanca: «Sempre teremos Paris». Ou, no meu caso, «Sempre terei a Biblioteca Municipal». Ha, ha, ha!

    -E como está o povoado? -Mostrei interesse.

    -Entediante. Não gosto dos pontos de encontro daqui. Gosto de Jazz e de lugares elegantes. Não há nada aqui. As pessoas são insossas. Só ouvem reggaeton e techno. Tenho que ir para a Irlanda. Uma amiga polonesa me disse outro dia que eu me daria muito bem na Irlanda. Você vai rir, mas na Biblioteca eles me chamam de «a parisiense espanhola». Espero que um dia me façam um monumento. Ha, ha, ha!

    Esta é a Mamen...

    No final da tarde, saí para uma caminhada por uma trilha que circunda o povoado. As copas das árvores estavam cheias de pássaros e novos brotos. Todos os tipos de fragrâncias podiam ser distinguidos: o aroma da terra umedecido pela chuva, o cheiro de madeira velha das árvores e o frescor das flores recém-nascidas. Aqui a tranquilidade era tanta que o silêncio podia ser ouvido como um zumbido de fundo que impregnava a tudo. Você poderia se encher de paz.

    Mas a tranquilidade exterior manifestou meu constrangimento interior. Sentia uma dualidade tremenda em que minhas emoções me levavam de um extremo a outro, como se eu fosse uma veleta levada pelo vento. Por um lado, eu tinha certeza sobre algumas coisas, mas estava inseguro sobre muitas outras. Era otimista, mas às vezes pessimista. Às vezes me sentia feliz, mas muitas vezes também infeliz e isso produzia angústia existencial, como se eu fosse um completo estranho para mim mesmo. Os outros me «conheciam», mas... e eu? Eu realmente me conhecia?

    Começaram a surgir na minha mente todo o tipo de dúvidas existenciais que havia muito me atormentavam: «Deus existe? O que é Deus? O que é a vida? E este mundo? Por que eu vim para ele? Quem sou eu? E quando eu morrer, haverá algo? E se houver, o que é? Como é? Para onde vamos...?»

    Eu me encontrava como um barco à deriva, arrastado daqui para lá por uma tempestade de indecisões, que inevitavelmente me levava a um naufrágio existencial. Eu navegava sem rumo fixo e nem mesmo tinha uma bússola para me indicar o caminho a seguir.

    A única coisa que aliviava aquele desconforto era retornar à natureza. A natureza era um bálsamo para a minha alma, um refúgio de tranquilidade que me ajudava a desconectar do estresse e voltar a mim mesmo. Não sei onde li uma vez que a natureza nos ajuda a descobrir nossa própria natureza, mas a verdade é que ainda não tinha encontrado a minha, sentia como se faltasse algo, incompleto;  acho que como a maioria dos jovens que vivem neste mundo agitado e cheio de pressa.

    Uma súbita rajada de vento atingiu o meu rosto, sussurrando ao meu ouvido em um idioma estranho que o meu coração já havia a muito esquecido. Um arrepio percorreu o meu corpo. Parei para sentir aquela melodia improvisada e deixei meus pensamentos relaxarem com a quietude do ambiente.

    Não demoraria muito, pois o toque do celular se encarregou de me trazer de volta à realidade. Era o Luis, um colega de trabalho que estava passando por uma situação financeira ruim e precisava falar comigo para desabafar. Ele me dizia que estava esgotado com a hipoteca e que só vivia para trabalhar e pagar as contas.

    -As hipotecas são responsáveis por nossos males -ele explicava-. Antes, o costume era lutar muito para poder chegar aos vinte anos e constituir família. Ai daquele que a essa idade ainda não era casado, ou prestes a assumir o compromisso! Então o próximo passo era ter pelo menos três ou quatro pirralhos e partir para a fortuna. Os empréstimos chegavam aos vinte ou vinte e dois por cento, e o apartamento normalmente era pago em menos de cinco anos, não como agora, com essa maldita coisa...

    Cada vez que meu amigo dizia a palavra «crise», seu rosto se transfigurava, sua mão esquerda tremia e todo o seu corpo doía como se ele sofresse de algum tipo de fibromialgia estranha, tudo induzido pela palavra mencionada. E não era para menos, pois com a crise ele havia perdido tudo o que tinha. É por isso que ele a chamou de «a coisa»: «A coisa é a culpada por todo o nosso sofrimento, por todo o nosso desconforto. A coisa, a coisa...».

    Pim, pim! Recebi uma mensagem do trabalho:

    Olá, Adán. Precisamos de novas ideias de investimento. Envio o link de um curso de neuromarketing empresarial para este fim de semana, no Hotel Palas Atenea. Não falte.

    Saudações. A. Silvent.

    Eu respondi:

    OK. Lá estarei. Saudações.

    Eu estava agoniado. Não me deixavam em paz nem mesmo quando eu estava no povoado. Sempre gostei de passear no bosque e praticar esportes de aventura, mas o trabalho me absorvia completamente e não me sobrava mais tempo para essas atividades. Sim, é verdade que eu tinha um bom salário, um apartamento só meu e um BMW M6 Cabrio mas, pelo lado sentimental, as coisas não iam tão bem para mim: experiências frustradas que nunca chegavam a um porto seguro e, no fim das contas, sempre terminavam em naufrágio.

    Eu me sentia incompreendido.

    Sozinho, muito sozinho.

    As lágrimas rolaram pela minha bochecha até se esfumarem na terra encharcada pela chuva que caíra algumas horas antes. Se naquele momento minhas lágrimas tivessem feito brotar da terra uma flor linda e mágica que me concedesse um desejo, eu pediria para encontrar uma pessoa especial que me compreendesse.

    O sol se pôs atrás das montanhas e se acenderam as primeiras estrelas. Fiquei encarando Vênus, o planeta do amor, e em um ato inconsciente juntei minhas mãos para pedir à deusa Afrodite que me ajudasse a encontrar a minha alma gêmea.

    De repente, em resposta ao meu pedido, ouvi um estrondo e vi um resplendor de cor laranja em um estrato de nuvens a noroeste, seguido por uma bola de fogo. A esfera cruzou o céu, iluminando todo o bosque e deixando uma esteira azulada em sua passagem que foi rapidamente absorvida pela terra e pelas árvores.

    Fiquei surpreso observando-a.

    Não era a primeira vez que via tal fenômeno. Na verdade, eles eram muito comuns na área. Era uma bola de fogo, bolas de plasma ou eletricidade que geralmente se formam em dias de tempestade. E embora fosse um fenômeno natural e não houvesse nada de paranormal nisso, no fundo eu sabia que era um sinal.

    Naquela mesma noite, fiquei com a Mamen em Alcobilla, um santuário de origem celta onde se celebra uma romaria todos os anos. Dava para ver dezenas de cabanas de lona, com todos os tipos de petiscos: mexidos de com cogumelos, caldeiras cozinhando o polvo e panelas deixadas na grelha com água fervente. Famílias inteiras e grupos de jovens haviam reservado espaço naquele dia na esplanada. As pessoas estavam felizes, havia abraços, apertos de mão, reencontros...

    Os foguetes explodiram no céu atraindo pequenas nuvens e algumas crianças saíam correndo pelo campo para procurar as varetas. Lembro-me de que alguns jovens atiraram um petardo ao lado de um vovô; o susto foi tanto que ele largou a boina no chão e saiu correndo com a bengala atrás dos marmanjos.

    O gaiteiro quebrou o murmúrio com o ronco da gaita, e alguns casais começaram a dançar sevilhanas e jotas numa estranha miscelânea. Muitas famílias de Sanabria tinham parentes em Sevilha e em outras cidades andaluzas; era muito normal ver sevilhanas e joteras juntas.

    Ao reparar em um grupo de dançarinos, uma das garotas capturou completamente a minha atenção. Era morena, com cabelos pretos ondulados, olhos grandes, nariz pequeno e um sorriso encantador e brilhante que me atraiu como um farol atrai um barco em uma tempestade. Destacava-se, de alguma forma, sobre as demais pessoas.

    Nossos olhares se cruzaram e tudo se deteve.

    Apenas ela e sua dança mágica.

    Fiquei pasmo olhando para ela, parada ali, no meio das pessoas. Parecia que éramos apenas eu e ela em todo o mundo. E teria continuado assim se minha amiga Mamen não tivesse entrado no meu campo de visão, tirando-me do feitiço.

    -Venha! Vou apresentá-lo a uma amiga.

    Sorri para ela e deixei que me arrastasse pela mão até o grupo de dançarinas onde.. oh, coincidência! ... estava a garota que havia me hipnotizado com sua dança. Eu fiquei perplexo.

    -Diana, Adán. Adán, Diana -Mamen nos apresentou.

    Diana me examinou com seus olhos enormes, escuros como a noite, luminosos como dois diamantes negros no anel de uma mulher. Seu olhar causou algo estranho em mim, algo que eu não sentia havia muito tempo. Passei alguns segundos tentando entender o que havia acontecido e me foi difícil reagir.

    -O..lá... -eu disse, nervoso.

    -Imagino que você seja o valente super-herói de quem a Mamen me falou -disse Diana, com uma voz suave e aveludada.

    -Bom, sim... mas agora estou disfarçado de meu alter ego.

    -Isso eu estou vendo. He, he.

    -É verdade: sou um daqueles super-heróis que acordam princesas. He, he. 

    -Sinto muito, Superman, mas eu já estou acordada!

    -Se quiser, podemos fazer uma tentativa, em todo caso -brinquei, piscando para ela.

    -Não é preciso! Além disso, como posso ter certeza de que você seja um príncipe e não um sapo? -disse, devolvendo a piscada.

    Mamen caiu na gargalhada e me senti uma idiota completo. Ela me deu uma cortada tão grande que perdi o rumo e a vontade de soltar mais gracejos. Com algumas garotas, a coisa do super-herói havia funcionado, mas não com a Diana. Ela não parecia uma garota típica do povoado. Tinha pinta de que havia viajado e conhecido o mundo.

    Depois das apresentações, fomos beber algo em uma barraquinha. Mamen e Diana estiveram conversando sobre vários assuntos enquanto eu as ouvia, olhando para a Diana, abobado, sem dizer nada. Eu parecia um mané, mas simplesmente não conseguia falar. Cada vez que meus olhos encontravam os da Diana, um choque elétrico sacudia todo o meu corpo; era uma sensação semelhante à que você experimenta quando se deixa levar em uma montanha-russa ou quando conduz a mais de trezentos quilômetros por hora em uma pista de corrida.

    Quando nos separamos, lembro-me de que seu último olhar despertou algo em mim. Por um lado, tive a sensação de abandonar o meu deserto interior e, por outro, a impressão de ter perdido algo importante e essencial de sua vida. Era como se, até aquele momento, o meu mundo fosse em preto e branco e de repente ela tivesse acendido uma luz enchendo

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