Espero que eu não me apaixone por você
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Sobre este e-book
O detetive Spero é contratado por Matilda, a mulher barbada do Gran Circus Tempus, para investigar a morte suspeita do marido dela, Chang, o atirador de facas, amante de Rosie, a incrível mulher mais tatuada do mundo, por sua vez casada com Baltazar, o acordeonista. Ao trabalhar no caso, Spero fuma e bebe enquanto pensa em Martha, seu amor perdido, e se encanta por uma figura misteriosa que vê em seu bar preferido todas as noites. Porém, a trama é mais complicada e perigosa do que o detetive esperava, o que pode colocar em risco sua sanidade, além da própria vida.
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Espero que eu não me apaixone por você - Cesar Alcázar
Copyright © 2023 Cesar Alcázar.
Todos os direitos dessa edição reservados à AVEC Editora.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos ou em cópia reprográfica, sem a autorização prévia da editora.
Editor: Artur Vecchi
Diagramação: Bethânia Helder
Capa: Images by dgim-studio and pch.vector on Freepik
Foto do autor: Antonio Mainieri da Cunha Pinto
Revisão: Gabriela Coiradas
Adaptação para eBOOK: Luciana Minuzzi
Dados Internacionais de catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
A 349
Alcázar, Cesar
Espero que eu não me apaixone por você / Cesar Alcázar. – Porto Alegre : Avec, 2023.
ISBN 978-85-5447-169-9
1. Ficção brasileira I. Título
CDD 869.93
____________
Índice para catálogo sistemático:
1. Ficção: Literatura brasileira 869.93
1ª edição, 2023
AVEC Editora
Caixa Postal 6325
CEP 90035-970 – Porto Alegre – RS
contato@aveceditora.com.br
www.aveceditora.com.br
Twitter: @aveceditora
Instagram: /aveceditora
Facebook: /aveceditora
Sumário
I
II
III
IV
V
VI
VII
VIII
IX
X
XI
XII
XIII
XIV
XV
XVI
XVII
XVIII
XIX
XX
I
Percebi que não estava mais sozinho no escritório quando vi o reflexo da mulher nos vidros da janela. Dizem que, na hora da morte, recortes da vida passam diante dos nossos olhos. Essa imagem com certeza faz parte da minha seleção. Girei a cadeira e olhei para ela. Alta, vestida como uma dançarina de flamenco, tinha a barba longa e lisa de um pirata malaio.
– É o senhor Spero, detetive?
– Eu mesmo. Detetive Spero ao seu dispor, madame. Em que posso ajudar?
– Desculpe aparecer assim, sem hora marcada e depois do horário de expediente. Na verdade, eu nem pretendia falar com um detetive, mas vi a placa na entrada do prédio e por sorte enxerguei o senhor na janela.
– Não tem problema, o sindicato não vai se importar se eu não falar nada.
– Fico contente, não queria incomodar. Eu…
Acendi um cigarro e ofereci outro a ela, que o recusou com um aceno de mão. Talvez fosse a luz do neon que invadia a sala, o letreiro do hotel ao lado ficava quase dentro do meu escritório, ou talvez fosse o uísque do fim de tarde, quem sabe, mas pensei por um segundo que estivesse sonhando.
— … então resolvi entrar e falar com o senhor.
— Hein? Ah, entendi. E sobre o que seria, senhora…?
— Chang. Matilda Chang. Trabalho no Gran Circus Tempus. É sobre meu marido.
— Ah, o safado anda pulando a cerca?
— Ele está morto, senhor Spero.
— Hum, bem, então não está pulando a cerca. Meus pêsames, senhora Chang. E qual é o nome do seu falecido marido?
– Danny Chang. Metade chinês, metade irlandês. Ele era atirador de facas do Tempus. Eu tinha apenas 19 anos quando o conheci. Aqueles olhinhos sedutores me deixaram embasbacada, se é que me entende. Nós nos casamos pouco depois. Uma vida viajando pelo mundo. Pensei que envelheceria junto com ele, mas a morte…
A morte. Às vezes me pergunto como vai ser a minha. Vinte anos atrás, quando namorava a Martha e sonhava escrever para ganhar a vida, achava que seria de tuberculose, ou cirrose, algo romântico. Na Espanha, os morteiros me amedrontavam, ou cair nas mãos dos fascistas. Agora, trabalhando como detetive, o mais provável é uma faca ou um tiro em um beco escuro.
— Está me ouvindo, detetive?
— Claro, senhora Shane.
— Chang.
— Ah, sim, claro. Desculpe. E o que a polícia disse?
– Que foi um acidente.
– Acidente, é?
– Mas duvido que ele tenha tropeçado e caído sobre as próprias facas dentro de casa.
— Hum.
— As duas portas do nosso vagão estavam trancadas por dentro, então a polícia concluiu que não tinha mais ninguém com ele na hora do acidente
.
— Humm.
— Não aceito que tenha sido um acidente.
— Hummm, entendo. Bom, é no mínimo estranho. Ele devia ter habilidade pra trabalhar nessa profissão. Não me parece o tipo que sairia correndo com uma faca afiada na mão.
— E era o melhor do ramo.
— Eu gostaria de ter assistido.
— O senhor gosta de ir ao circo?
— Não, tenho medo de palhaços. Mas gostaria de ter assistido seu marido.
— Tem medo de palhaços?
— Trauma de infância. Ele tinha algum inimigo?
– Estou mais preocupada com as amizades
dele, se é que me entende.
– Não entendo.
– Quero dizer que o senhor tinha razão em perguntar se ele pulava a cerca
.
— A-há.
— Mas não é como o senhor está pensando. Pra falar a verdade, eu não me importava que o Danny tivesse outras. Nunca cobrei exclusividade dele. Eu mesma tive minha cota de casos. O amor é uma coisa, o desejo é outra, e nós dois sabíamos bem disso. Mas nem todo mundo sabe…
Amor e desejo. Ah, Martha. Martha dançando ao som da jukebox. Martha passeando ao meu lado no píer. O corpo nu de Martha à luz da lua entre as dunas. Eram dias e noites de alegria, tempos em que eu queria ser um escritor. Mas eu pensava que ser um bêbado idiota fazia parte do pacote, então os dias e noites de tristeza começaram.
– Detetive, o senhor sabe o que é o amor?
– Hein?
— Garanto que não é ter a posse do outro. E tenho certeza que é isso o que aquela víbora queria.
– Quem?
— Rosie, a Pequena. É uma colega do circo.
— Ela era uma das amizades
?
— A maior delas. Embora ela fosse a menor, mas acho que isso não vem ao caso.
— Não entendi.
— Não importa. O que importa é que o senhor precisa dar uma prensa nela.
— Não é bem minha linha de atuação, senhora Chang. Não saio por aí intimidando mulheres.
— A Rosie não é qualquer mulher. É o diabo em pessoa.
— Ninguém é tão horrível assim. Bom, talvez os malditos fascistas.
— O