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Minha história Saltando Fogueiras
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E-book264 páginas3 horas

Minha história Saltando Fogueiras

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Sobre este e-book

Para muitos, um desconhecido, mas para a história recente do país um dos homens mais importantes, e que deu uma imprescindível contribuição para que o Brasil desse um rumo à sua economia, num momento de extrema dificuldade. Talvez um dos mais importantes parnaibanos vivos e foi peça importante para a economia nacional no Banco Central na gestão dos ex-ministros Dilson Funaro, Luíz Carlos Bresser Pereira e Maílson da Nóbrega. Esta é a sua história e para quem não sabe, saltar fogueiras é transpor obstáculos. Saltando Fogueiras é uma obra biográfica na qual o autor, Antônio de Pádua Seixas nos mostra com humor, humildade, inteligência e muita sensibilidade as fogueiras que saltou em sua jornada até aqui. E não foram poucas.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento17 de abr. de 2021
ISBN9786586178982
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    bom dia, me chamo Paulo Coriolano, achei fantástico o livro. até porque fala do outro lado da família do meu Avó(Raimundo Coriolano da Silva " mundinho"). esse q não tive a oportunidade de conhecer!
    gostaria muito de ter mais informções.
    contato: paulo_coriolano@hotmail.com

Pré-visualização do livro

Minha história Saltando Fogueiras - Antônio de Pádua Seixas

Capa

Por Antônio de Pádua Seixas

2a edição

2020

Titulo original em português: Minha História - Saltando Fogueiras.

Copyright O 2020, by Antônio de Pádua Seixas

Todos os direitos reservados: proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo eletrônico, especialmente por sistemas gráficos. A violação dos Direitos do Autor é crime, mediante a Lei dos Direitos Autorais 9.610/98.

Diretor Editorial: Peterson Magalhaes

Editora: Chris Donizete

Publisher: Katarina Ferrer

Revisão: Sérgio Pereira Couto

Diagramação e Capa: Bruna Peres

Soul Editora ME

Rua Conceição da Barra, 67

Jardim São Paulo - Sede própria CEP: 02039-030

E-mail: originais@souleditora.com.br www.souleditora.com.br

Telefone: (11) 2952-6092

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD

P125m

Pádua, Antônio de

Minha história: saltando fogueiras / Antônio de Pádua. - São Paulo : Soul, 2020.

248 p. : il. ; 16cm x 23cm.

ISBN: 978-85-94170-91-0 (Impresso)

ISBN: 978-65-86178-98-2 (Digital)

1. Autobiografia. I. Titulo.

2020-483

CDD 920

CDU 929

Elaborado por Odílio Hilario Moreira Junior - CRB-8/9949

Índice para catálogo sistemático:

1. Autobiografia 920

2. Autobiografia 929

Dedico este livro

Aos meus Pais:

Luiz Gonzaga de Seixas e Sebastiana da Silva Seixas

(in memoriam);

Aos meus filhos:

Wellington César Brandão Seixas (in memoriam),

Dennis Luiz Albuquerque de Seixas, Deborah Albuquerque de Seixas,

Luís Felipe da Silva Seixas, Ana Carolina da Silva Seixas

e Alan Yutaka Tutia (enteado);

Às minhas netas e meus netos:

Welleuda Barroso Brandão Seixas, Valentina Seixas Prado de Souza,

Tomás Seixas Pinto, Luiz Eduardo Meier e Seixas e Bernardo Seixas Oliveira;

À minha ex-esposa:

Yêda de Albuquerque ;

Aos meus irmãos:

Luiz Paulo de Seixas, Maria do Rosário Seixas Alberti

e à todas as amigas e amigos que, mesmo sem saber, muito me

ajudaram a saltar várias fogueiras ao longo de minha jornada.

Agradeço às pessoas a seguir nominadas pela inestimável

ajuda que me deram na construção deste livro. Sem elas,

dificilmente essa tarefa teria se completado:

Ismael dos Anjos, jornalista e editor de conteúdo;

Aline Pessoa, designer responsável pelo projeto gráfico;

Maria do Socorro Carvalho, por sua especial

contribuição ao conteúdo do Capítulo 4.

PREFÁCIO

Ao longo da narrativa enfeixada nesta autobiografia vemos ser construído, com a despretensão e o à vontade de quem a escreveu, o retrato de Antônio de Pádua Seixas, pessoa admirável em sua enganadora simplicidade, sua inteireza moral e seu desmedido coração que põe em tudo que faz e pensa.

É uma trajetória rica, variada e complexa, que vai do menino de Parnaíba ao encanecido cidadão (ancião não é palavra que se lhe aplique) de São Paulo. E por mais que a vida tenha dado voltas, Seixas não perdeu, da criança que era, a vivacidade de espírito, a curiosidade da mente e a ânsia de conhecimento e de novas experiências.

Pode-se resumir esse conjunto de características num dístico simples: amor pela vida. A todas as procelas e dificuldades que a ele se antepuseram, Seixas respondeu e responde com sua vitalidade, sua inquietude, seu ânimo inquebrantável e sua vontade de superação.

Mesmo considerando o desvelo que vota à sua Parnaíba, Seixas é na realidade um homem do mundo, que nada de braçadas em qualquer lugar onde esteja: Rio de Janeiro, São Paulo, Berlim, Los Angeles, Nova Iorque, Tietê e São Sebastião da Amoreira. E assim como se adapta a tantos lugares diferentes, consegue cativar os que com ele convivem e se encantam com seu jeito simples, simpático e franco. Não fosse essa invejável capacidade de granjear e manter amigos, os problemas que enfrentou e logrou contornar no Banespa (caberia explicar a sigla) de Los Angeles e de Nova Iorque — para ficar apenas nesses — teriam sido talvez intransponíveis.

Mas essas qualidades mostram apenas um lado do biografado. Não comporiam seu retrato de corpo inteiro, se ignorássemos seja ele possuidor de uma inteligência de escol, de conhecimento vasto no campo em que pelejou com tanto sucesso — do que o Brasil dele se fez devedor — e não detenha a integridade de caráter e o empenho por uma causa ou uma atividade que desempenhasse.

Com efeito, de Seixas pode-se dizer que, pela dedicação, conhecimento e trabalho incessante, honrou o título tão denegrido de servidor público, aquele que, à sombra dos próceres que se sucedem, logra ordenar e construir a estrutura administrativa, burocrática e legal que põe de pé e torna operantes as leis, as normas e as resoluções.

Mas convenhamos que tal devoção, se lhe deu relevo no aspecto funcional e tornou suas ações bem sucedidas profissionalmente, demasiadamente o prejudicou pelo lado pessoal, sacrificando as primeiras famílias que constituiu e criando-lhe obstáculos e frustrações seguidas.

As presentes páginas não oferecem literatura ociosa produzida por um cidadão desocupado que busca preencher suas horas de aposentadoria; são a ilustração acabada de uma pessoa estuante de vida, que nunca esmoreceu perante um embaraço e que logrou afirmar-se quando postas em causa suas ações. E cujo coração sempre se mostrou presente em todos os momentos e jamais o afastou das amizades, da arte, da vida e do amor. Principalmente do amor, que meu amigo Seixas é um incurável romântico.

Antenor Araken C. Farias

MINHA HISTÓRIA:

SALTANDO FOGUEIRAS

Não sei exatamente porque resolvi escrever sobre minha vida. Talvez para deixar algo sobre ela para meus filhos e netos, para que saibam mais sobre mim, meus erros, meus acertos, meus fracassos, minhas conquistas, meu todo...

Espero que não me julguem, sou imperfeito como todo ser humano. Só peço que me entendam e me aceitem, como procurei fazer com todos, a cada passo da minha caminhada. Nada mais.

C A P Í T U L O 1

PARNAÍBA

Eram aproximadamente 7h da manhã do dia 28 de junho de 1939 quando fui acordado com a recomendação de que deveria ir à Santa Casa de Misericórdia de Parnaíba, onde meu pai estava internado há dias, vítima de uma inflamação da pleura, um tipo de película que envolve o pulmão. Eu tinha pouco menos de sete anos e relutei bastante para levantar, mas acabei ficando de pé, mesmo contrariado. Na noite anterior, minha mãe havia me dito que não precisaria ir cedo ao hospital porque meu pai havia melhorado.

Lembrei-me da cena que presenciei naquela noite, quando o Dr. Ormeu, médico de meu pai, passou pelo quarto número 16 e falou com seu então paciente:

— Luiz, você saltou uma fogueira...

Era véspera de São Pedro e, na minha terra natal — talvez no Nordeste inteiro — costumava-se usar essa expressão quando alguém transpunha um obstáculo. Recostado na cama, com barba por fazer e abatido, meu pai, Luiz Gonzaga de Seixas, respondeu levantando a mão direita com a palma espalmada na direção do médico, como a dizer:

— Calma, ainda não. Espere mais um pouco...

Quando cheguei à porta principal do hospital, fui recebido pelo Dindinho, um farmacêutico austero, muito respeitado na cidade, que era o pai de criação de minha mãe. Ele me abraçou com ternura, um gesto raro de sua parte, colocou a mão no meu ombro e falou, sem rodeios:

— Meu filho, seu pai morreu...

Lembro de ter recebido a notícia com frieza. Meu pai ficou internado por aproximadamente um mês e eu ia todos os dias visitá-lo. Sabia que devia sofrer com a agulha enorme que lhe injetavam para retirar o pus, mas, na minha inocência, não conhecia o significado da palavra morte. Fui levado para onde o corpo estava sendo velado, num caixão negro. Lembro da imagem dele morto–pálido, magro e com a barba por fazer — mas não senti nada em especial. Estava confuso, sem noção do que realmente estava acontecendo.

Minha mãe — Sebastiana da Silva Seixas, mais conhecida como Dona Babá — chorava mansamente ao lado do caixão amparada por minha tia. Quando me viu, o choro tornou-se convulsivo. Ela me abraçou com força, e ainda me recordo das lágrimas ensopando a camisa de tricoline branca que eu usava. Quando me desvencilhei do abraço de minha mãe, fiquei circulando entre os presentes, cujo número aumentava à medida que o tempo passava.

Em um dado momento, uma tia distante, que eu não conhecia bem, me chamou e estendeu-me um lenço branco, de linho, com flores azuis bordadas à mão. Ao pé do ouvido, me disse:

— Meu filho... Chore!

E chorei, mesmo sem entender porque.

O Padre chegou, fez as orações de praxe e, na hora do Pai Nosso, foi acompanhado por todos os presentes — menos minha mãe que, inconsolável, continuava chorando copiosamente. Depois do funeral, fomos para casa encontrar meus irmãos mais novos. A Maria do Rosário estava com um ano e meio de idade; Luiz Paulo, meu irmão, tinha apenas seis meses — ambos nasceram em 16 de dezembro, com um ano de diferença.

Eu não sabia que, dali para frente, minha vida seria totalmente diferente. Dormi um sono sereno, abraçado à minha mãe que ainda chorava, soluçando baixinho. Não sonhei com nada. Minha mãe, que nasceu em 1905 e ficou viúva aos 34 anos, morreu para o mundo. Embora tivesse alguns pretendentes, não quis saber de mais ninguém.

Até hoje guardo duas lembranças de meu pai com vida. Uma é essa, da última noite, com o gesto que ele fez na Santa Casa. A outra é de um dia qualquer na casa em que morávamos. Havia uma pequena área de entrada e, quando se abria o portão que dava para a rua, subia-se dois degraus. Estava brincando em um fim de tarde quando ele chegou usando um chapéu de palhinha, paletó e gravata, me tomou nos braços e me levou para dentro da casa. O que aconteceu depois eu não lembro.

Não me recordo de jamais ter me dirigido a alguém o chamando de pai.

* * *

É esse o ponto de partida da minha história. Antônio de Pádua, um menino que nasceu em terras áridas e de lá saiu em busca de horizontes.

Como o besouro, mesmo sem poder, ousei voar em busca de altitudes. Naveguei sem bússola por águas desconhecidas, experimentando aventuras, e vivi etapas distintas ao longo do percurso. Fui casulo, preso dentro de mim; fui lagarta, rastejando pelo chão; me tornei borboleta — leve e colorida. Também repeti esse ciclo, tantas e tantas vezes. Saltei muitas fogueiras.

Amei muito e fui muito amado. Abandonei amores e por amores fui abandonado. Experimentei encontros e desencontros, acertos e desacertos. Não restaram nem mágoas, nem rancores.

As terras áridas cada vez mais distantes, como as lembranças...

* * *

Meu pai nasceu em 1900 e tinha 39 anos quando faleceu. Minha mãe costumava dizer que essa pneumonia — ou pleurisia — que ele tinha começara por conta do futebol. Ele já não jogava, mas atuava como juiz. Certo dia com muito vento, foi apitar uma partida em um campo que era mais areia que grama. Havia muita poeira, e ele já chegou em casa tossindo e com gripe. Daí até chegar aonde chegou, de acordo com a Dona Babá, foi um pulo.

* * *

Fui o segundo filho, mas o primeiro que nasceu e vingou. Antes de mim havia o Luiz Felipe, que morreu ainda infante. Depois de mim nasceu uma menina, batizada Maria de Nazaré, de quem eu não me lembro. mas minha mãe a descrevia como se fosse uma bênção de Deus. Loira de olhos azuis, passava por momentos de convulsão em que olhava para o nada parecendo enxergar alguma coisa que não estava ali. Depois dela veio minha irmã Maria do Rosário e meu irmão Luiz Paulo, que vingaram, e mais ninguém. O que eu conheço do meu pai é o que minha mãe falava dele, mas creio que se ele continuasse vivo, minha família teria sido bem mais numerosa.

* * *

A casa em que morei ficava na Travessa do Basson, número 32, era muito simples. Havia três quartos, uma sala de jantar, uma cozinha e um banheiro. Um quarto era ocupado pela minha mãe; outro pela minha tia Maria de Lourdes, mais conhecida como Maricota, que passava o dia ajudando minha mãe com os bordados; o terceiro era ocupado pela minha avó materna, Dona Nêga, que morava conosco. Ora dormia em uma rede, em cima da cama de minha mãe e irmãos, ora dormia na sala, lugar em que eu preferia ficar. O piso era de tijolo e precisava ser molhado antes da vassoura para que o ambiente não fosse tomado por uma poeira infernal.

Existia água encanada, mas o banheiro de chão de cimento não possuía chuveiro. Para os banhos usávamos uma tina, sempre cheia de água buscada no rio e trazida em lombo de jegue. Na época das enchentes a água ficava marrom de tanto barro, e existiam duas formas de talhá-la. Jogávamos brasas, para que o barro decantasse para o chão do pote, ou usávamos pedra ume, que causava praticamente o mesmo efeito, mas mudava o sabor da água. O corpo e os cabelos eram lavados com sabão de coco e uma cuia servia para jogarmos a água na cabeça e no corpo.

Faltava luz com muita frequência e eu fazia os deveres escolares à luz de bibiana (lamparina) a querosene. Lembro que as minhas narinas ficavam pretas de fuligem, como as chaminés das fábricas.

* * *

Os anos que se seguiram à morte de meu pai foram muito difíceis. A pensão que minha mãe recebia do IAPC (Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Comerciários) era irrisória e tinha que trabalhar para completar o sustento da família. Ela e minha tia — que abdicou de um noivado para ficar ao lado da irmã e ajudá-la na batalha pela sobrevivência — varavam a noite bordando em duas máquinas Singer para ter as encomendas prontas logo às primeiras horas do dia seguinte. Como eu dormia na sala, por muitos anos ressoou em meus ouvidos o tic-tac dessas máquinas.

A diferença entre elas é que minha tia era a mulher que cuidava das coisas da rua. A minha mãe ficava dentro de casa, não saía. Recebido o pagamento, usávamos o dinheiro para comprar os mantimentos básicos necessários na quitanda do Seu Juquinha — quinhentos réis de açúcar, quinhentos de arroz, quinhentos de manteiga, leite, pão e assim por diante. Vez por outra, sem saber de onde vinha, aparecia alguém trazendo uma cesta com arroz, farinha, biscoitos e outros básicos, sempre com a mesma mensagem: foi Santo Antônio que mandou. Nunca soube ao certo quem era o remetente, mas desconfiava que minha mãe sabia. Eu suspeitava de uma tia do meu pai — uma criatura muito bondosa que tinha uma filha que se chamava Luzia e dois filhos pilotos —, mas nunca perguntei à minha mãe. Por sua vez, ela também silenciou.

Minha tia Maricota também ajudava a criar outros três sobrinhos, filhos do irmão Raimundo Coriolano da Silva, o Mundinho. Vi esse meu tio no máximo duas vezes. Ele casou com Isaura, uma pessoa de muito bom coração, boa mãe, mas muito rude, que trabalhava como lavadeira. Largou-a, foi embora e a deixou com três filhos: José, Maria de Lourdes e Luzia Tereza. Morávamos relativamente próximos, na mesma rua, e fomos educados no mesmo colégio, inclusive durante o ginásio. A diferença é que, enquanto os homens faziam científico (hoje ensino médio) ou frequentavam a União Caixeiral, escola técnica de comércio, as moças faziam Normal e se tornavam todas professoras.

O primo mais velho, José Coriolano da Silva Neto, formou-se em Contabilidade, casou-se, teve um casal de filhos e, tal como o pai, largou a família. Mudou-se para São Paulo em um pau-de-arara, e entre outras coisas, foi feirante na cidade. Depois, regressou ao Nordeste e casou-se novamente em Fortaleza. Teve outros filhos e a última notícia que tivemos é que ele estava internado num asilo de velhos naquela cidade, mas não sabíamos sequer o endereço. Anos mais tarde, almoçando com o amigo José Carlos Pereira Corrêa, o Pepê, que mora no Rio e era irmão da primeira mulher dele, fiquei sabendo que José havia falecido. Nem as irmãs dele sabiam.

A prima do meio, Lourdinha, formou-se Normalista e foi professora e diretora de escola durante muito tempo. Casou-se, teve muitos filhos, e nunca a ouvi reclamar de nada — nem mesmo quando o marido, delegado de polícia, foi assassinado por bandidos. Mora em Teresina e conseguiu a duras penas educar muito bem seus filhos, todos universitários, exceto o mais velho, alcoólatra. A cruz que Deus lhe deu, como ela costuma dizer resignada. É uma mulher de força e, dentre todos os primos, foi desde a infância aquela com quem tive mais afinidade, algo que se manteve até hoje.

A prima mais nova, Luzia Tereza, era a maluquinha da tribo. Casou-se com um irmão do marido da Lourdinha, caminhoneiro. Teve muitos filhos e, rebelde, não quis saber de estudar sequer o Normal. Está velhinha e morava até pouco tempo em uma casa com a Lurdinha, mas saiu-se à minha avó e, até hoje, continua um caso sério. Ajudo-a com uma pequena mesada.

* * *

Meu tio Mundinho aprontava muito com minha avó, Francisca Cândida da Silva, a Dona Nêga. Mas era filho homem, então ela deixava.

De tempos em tempos, aparecia um portador na porta de casa que batia palmas e perguntava

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