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Pasme, Excelência!: Estórias de um advogado insólito
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Pasme, Excelência!: Estórias de um advogado insólito
E-book143 páginas1 hora

Pasme, Excelência!: Estórias de um advogado insólito

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Sobre este e-book

Esta obra vem demonstrar que nem tudo no poder judiciário é o que, para o senso comum, parecer ser, pois conta passagens em que estigmas são derrubados, onde comportamentos preconcebidos não fizeram a menor diferença no resultado das ações, de modo a mostrar para o leitor que o direito, na prática, é simples e de fácil entendimento.
Pasme, Excelência! – Estórias de um advogado insólito, conta um pouco dos bastidores do judiciário, situações divertidas, outras nem tanto, vividas por um advogado em audiências e em viagens com clientes para a realização de trabalhos em sessões judiciais; mostra como se dá o convívio com colegas de profissão, com clientes e com juízes e, de certa forma, ensina lições de advocacia e de direito sem o uso do vocabulário jurídico, muitas vezes complexo e incompreensível, narrando de forma leve e descontraída, estórias incomuns ocorridas no ambiente jurídico.
Boa leitura.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento12 de jul. de 2021
ISBN9786586369427
Pasme, Excelência!: Estórias de um advogado insólito

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    Pasme, Excelência! - Luiz Carlos Lopes Leão

    capítulo 1

    Que fome!

    ¹

    Totalmente quebrado financeiramente, Júlio César Antunes, a duras penas, terminou a faculdade de direito. Devendo a Deus e a todo mundo, passou de primeira no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e, no dia da cerimônia de entrega das carteiras da Ordem, que seria em Goiânia, capital do estado de Goiás, nem sequer tinha condição financeira de ir de carro para lá. Então, ele e uma colega – outra quebrada na época, a Gláucia –, que também receberia sua carteira naquela data, pegaram uma carona no carro do dr. Marcos Flávio, que os levaria ao evento. No entanto, o amigo advogado participaria antes de uma audiência numa cidade localizada a cerca de 150 quilômetros da capital.

    Júlio César, Gláucia, Marcos Flávio e sua namorada, Maura, saíram de Oby Guaçu às 5, passaram por Goiânia, deram entrada na papelada necessária na OAB para o recebimento das carteiras, tiraram fotos, colocaram as digitais em alguns documentos e seguiram para a cidade do interior para acompanhar a audiência, que estava marcada para as 11 horas. A cerimônia de entrega das carteiras seria à noite.

    No caminho, muita correria. O dr. Marcos Flávio acelerava bastante seu automóvel Gol, pois temia não chegar a tempo para a audiência. A estrada estava em bom estado de conservação, mas sair de Goiânia era complicado – primeiro, pelo trânsito pesado e, segundo, pela grande quantidade de pardais, loucos para multar os motoristas que ousassem passar a uma velocidade superior a 60 km/h em vários trechos.

    Chegaram ao local da audiência, em Tera Guaibim, por volta das 10h40. A pressa foi tanta, que nem sequer tiveram tempo de lanchar. Naquele momento, não compensava procurar um lugar para comerem, pois o horário de início da audiência estava próximo e, se lanchassem por volta das 10h40, não teriam fome no almoço. Então, resolveram esperar.

    O dr. Marcos Flávio era uma pessoa muito animada, tinha ótimo papo, era muito culto e excelente contador de histórias, mas, como os demais, estava com fome e, portanto, calado. Dos quatro que estavam na viagem, o único que tinha obrigação de participar da audiência era ele, mas Júlio César e Gláucia queriam entrar, também (sabe como são os advogados novatos…). Já a namorada do dr. Marcos Flávio, Maura, que também trabalhava no meio jurídico, queria entrar na sala de audiências para ser solidária com os amigos.

    O relógio marcou 11 horas, e nada de chamarem a audiência. A juíza nem havia chegado à Vara do Trabalho. Deu 11h30, e nada. Meio-dia, nenhum sinal de audiência. Por volta de meio-dia e meia a fome era tremenda; podia-se ouvir, sem muito esforço, o roncar de estômagos.

    Finalmente, às 13 horas, anunciaram a tão aguardada audiência. Entraram os quatro na sala – o dr.Marcos Flávio sentou-se na cadeira reservada ao advogado da reclamada, e os outros três sentaram-se nas cadeiras destinadas aos visitantes.

    Eis que adentrou a sala uma senhora muito simpática, com um vestido jeans, calçando uma espécie de chinelo azul, que se sentou na poltrona do magistrado. Surpresa geral dos três visitantes quando perceberam que aquela senhora era a juíza! Eles esperavam uma pessoa vestida com roupa social e cheia de não-me-toques; no entanto, a magistrada se apresentara de uma forma simples e sem pompas.

    Bom. Muito bom! Gostaram da juíza. Uma surpresa boa. O problema era a fome.

    A que horas iremos almoçar?, pensavam. Tomara que façam um acordo ou adiem essa audiência, O dr. Marcos poderia pedir que adiassem a audiência para daqui a meia hora, já que está tudo atrasado, mesmo, falavam entre si os três espectadores. Mas o dr. Marcos Flávio não pediu o adiamento.

    Vixe, ferrou! Ah, mas deve ser rápida a audiência, foi o que pensaram os três famintos ao mesmo tempo.

    A juíza, dra. Rosana, iniciou a audiência e logo foi puxando assunto com o dr. Marcos:

    – O doutor é de Oby Guaçu? Trabalhei lá. Inclusive, o pai da minha filha é de lá.

    O dr. Marcos respondeu:

    – Que interessante, doutora!

    A juíza por certo estava num dia em que precisava conversar com alguém que não fosse servidor da Justiça do Trabalho e passou a falar do que vivera com o pai da filha dela.

    – Olha, no começo foi bom; ele e eu nos dávamos bem, mas, depois acabou não dando certo. O senhor nem acredita no que aconteceu entre nós.

    Então a juíza contou os percalços, as confusões que passara com o ex-marido, falou das qualidades e dos defeitos dele, descreveu a filha com muitos elogios. Isso durou cerca de meia hora. Quando todos pensavam que tinha acabado o assunto e que iriam partir para os trâmites da audiência, a magistrada recomeçava.

    A juíza era um amor de pessoa e o assunto talvez fosse até interessante… O problema era a fome que consumia o dr. Marcos Flávio, Júlio César, Gláucia e Maura.

    A audiência terminou às 14h30, e os quatro viajantes saíram mais do que depressa da sede da Justiça do Trabalho à procura de um restaurante para matar o que os estava matando – a fome.

    Tudo estava fechado.

    Em cidade pequena, o povo almoça cedo. Aquilo já era hora da merenda, como dizem no interior.

    Por fim, pararam numa espécie de centro comercial onde costumam servir refeições. Nenhum estabelecimento estava aberto, exceto uma portinha onde parecia funcionar um restaurante. Entraram e perguntaram:

    – Tem almoço?

    Respondeu o atendente:

    – Não. Na verdade, já estamos fechando.

    Alguém falou pelo grupo:

    – Ah, não, moço! Estamos sem comer nada desde as 5 da manhã. Tem como fazer almoço para nós?

    O atendente, muito educadamente, falou:

    – Podemos abrir uma exceção, mas vocês terão que esperar a gente fazer a comida; vai demorar um pouco.

    A resposta foi de pronto:

    – A gente espera!

    O dr. Marcos Flávio já nem conseguia animar a turma. Sentaram-se e aguardaram em silêncio.

    Cerca de meia hora depois, chegaram os almoços. Reza a lenda que os quatro nunca tinham experimentado uma comida tão boa.

    Terminaram de almoçar, pagaram a conta e fizeram questão de conhecer a cozinheira, a quem parabenizaram por aquele verdadeiro manjar dos deuses que saborearam.

    À noite, em Goiânia, numa longa cerimônia, Júlio César e Gláucia receberam suas respectivas carteiras de advogados.

    Chamou a atenção de Júlio César que, ali, uns 500 advogados recebiam suas carteiras. Diante daquela multidão, achou os discursos vazios e desnecessários, mas prestou muita atenção na grande quantidade de mulheres bonitas em seus vestidos de gala. Não pôde deixar de notar, também, a grande quantidade de homens feios em seus ternos importados, enquanto ele, trajando um terno de 500 reais, era o mais bonitinho da festa.

    Naquela noite chuvosa, os quatro colegas voltaram para Oby Guaçu, aonde chegaram de madrugada.

    A verdade é que a cerimônia de entrega das carteiras para Júlio César e Gláucia foi um acontecimento menor diante de tudo o que ocorrera naquele dia em Tera Guaibim: o atraso para o início da audiência, a juíza diferentona, a fome que passaram, a falta de restaurantes abertos na cidade e o almoço delicioso do qual nem se recordam o que foi servido… Mas que estava muito gostoso, estava!


    1. Esta é uma obra de ficção baseada em fatos reais. Todos os nomes dos personagens são fictícios. (Nota do Autor)

    capítulo 2

    Dois pastéis e duas Cocas,

    por favor!

    Após passar no exame da OAB e pegar sua carteira da Ordem, o dr. Júlio César Antunes foi trabalhar num renomado escritório de advocacia, especializado em direito do trabalho, na cidade de Oby Guaçu.

    O recém-formado estava empolgado com a advocacia e acreditava que se encontrava pronto para trabalhar em qualquer tipo de peça jurídica, inclusive em audiências difíceis, embora suas primeiras petições tivessem sido causa de muitos risos e piadas no escritório. No seu íntimo, Júlio César não entendia os motivos das chacotas com seu trabalho, pois era perspicaz, detinha certa inteligência e já não era mais um menino; porém, logo depois de observar a qualidade do trabalho dos demais advogados do escritório, percebeu que havia muito a ser melhorado da sua parte e

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