Devaneios: um olhar para dentro
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Devaneios - Franciéle Fialio Alves
DIA INTERNACIONAL DA MULHER
7 de março de 2019
Hoje enquanto dava aula aos meus alunos do quarto ano e preparava uma surpresa para comemorarmos o Dia da Mulher percebi que o meu dia não estava sendo dos melhores, pois os meus alunos estavam muito dispersos, agitados, sem entender os conteúdos e tudo ficou difícil, o mundo começou a girar ao meu redor, bateu um desespero, eu não sabia mais o que fazer.
Os meus pensamentos já não se encontravam mais, o limite havia chegado, e isso após duas semanas do início do ano letivo, já me encontrei desesperada. O que seria de mim nos próximos meses? Como solucionar os inúmeros problemas encontrados durante a sondagem com os alunos? Será que os problemas eram deles ou eram meus?
Não sabia mais o que pensar, o mundo girou muito depressa e pensei que iria cair no chão. É muito triste você se planejar, se programar com tanto amor, entusiasmo, vontade de trabalhar, de fazer algo bom, chegar e se deparar com a crueldade da vida real.
O dia não havia começado à tarde. Durante a manhã, eu já havia viajado para trabalhar em um município vizinho. Já nem sinto mais o trânsito e as curvas do caminho, pois o corpo já está acostumado e apenas segue, os enjoos do início já sumiram e a coragem apareceu, a coragem de enfrentar tudo o que viesse pela frente chegou.
E como ia dizendo durante a manhã já havia enfrentado reunião de pais, despedida de uma colega, reclamação de alunos, conversas cansativas, entre tantas outras situações que levam ao esgotamento, pois nessa escola que trabalho no turno da manhã exerço o cargo de vice-diretora, o que não torna a vida mais fácil, muito pelo contrário. Mas que tem me trazido grande aperfeiçoamento mental, moral, profissional, pessoal. Resumindo, de certa forma, foi maravilhoso poder vivenciar isso tudo há mais de dois anos, uma experiência proporcionada em maior parte, por uma grande amiga e incentivadora minha, que por muitas vezes, me trata como uma mãe, assunto para outra ocasião.
Por aqui, continuo relatando um dia mais que comum para uma simples mulher de 31 anos, com pouco mais de um metro e meio, cinquenta quilos, e que iniciou sua vida sem nenhum status social ou família abastada, moradora de bairro, descendente de negros e índios… Só para ter uma ideia de como não foi nada fácil chegar até aqui. A caminhada foi dura, longa e para muitos não cheguei muito longe, mas para mim cheguei longe demais, onde eu nunca imaginava que chegasse, onde ninguém acreditava, onde talvez quase ninguém quisesse.
Ser mulher nunca foi fácil para mim, mas tenho certeza que escolhi isso antes de nascer, pois se Deus me perguntou qual sexo preferia ter eu respondi feminino, mas por quê? Pra que se maltratar assim? Sabe por quê? Porque assim eu poderia evoluir mais rapidamente, porque assim eu não iniciaria por cima, pelo fácil, pelo agradável. Eu iniciaria sendo mulher, sendo descendente de negros, sendo de origem humilde, sendo guerreira, lutando contra tudo e todos que não acreditassem ser possível, contra todos que duvidavam.
Orgulho-me tanto de ser quem sou, da pessoa que me torno a cada dia, pensando sempre no bem das pessoas, por mais que muitos não enxerguem, não está no nível de evolução e entendimento deles. Porque eu me conheço, eu sei dos meus pensamentos, desejos, crenças e amores. Eu sei o quanto lutei pra chegar até aqui, de quantas barreiras precisei quebrar para dizer: Eu posso! Eu sou! Eu quero!
O que toda mulher faz, é lutar todos os dias pelo que acredita, é ser forte quando ninguém leva fé, é ter amor quando todos esperam que odeie. É também gritar quando todos esperem que se abaixe, que se renda. É fazer o que quiser, quando quiser, a hora que quiser, o quanto quiser. É ser livre, ser abençoada por Deus e bonita por natureza
. É ser leve, mesmo não sendo magra, é sorrir mesmo que os dentes já não sejam brancos, é ser tudo o que não esperam dela, é ser ela mesma. Sem silicone, com lipo, com dietas malucas, com tudo o que tem direito, por tudo o quanto lutou.
Escolhi ser mulher para ser mãe, ainda não sou de fato, mas nasci para isso, nasci para sangrar por até sete dias e não morrer, sentir inúmeras dores no colo do útero, para ter seios fartos, para amamentar um bebê, para gerar vidas, para ser bonita, para ser bela, para ser amada, idolatrada, aceita.
Não foi à toa que escolhi vir para esse mundo, e tenho cada vez mais certeza disso. Deus está comigo todos os dias, mostrando-me o caminho. Só preciso pedir ajuda e consolo a Ele, pegar na sua mão e a felicidade está logo ali, no abraço de um amigo, no sorriso de uma criança, num brigadeiro, num pôr do sol, no mar…
Obrigada, Deus, por mais um dia de luta, mais um dia de glória, mais um dia comum na vida de uma mulher. Que quis chorar, gritar, brigar... Sim, quis. Mas não fiz nada disso, muito pelo contrário. Saí caminhar, espairecer, pensar. E depois, sentei aqui na minha cama, com meu computador novo, que eu mesma pude comprar e me dar de aniversário há alguns dias. E escrevi essas linhas, com o apoio dos meus guias espirituais, que me auxiliam o tempo todo, pois ainda não mencionei que escolhi também ser umbandista.
Parabéns a todas as mulheres que vivem um dia de cada vez e matam um leão por dia em todos eles. Parabéns para todas que lutaram para chegar onde estão hoje. Agradeço a todas vocês por existirem.
INICIAÇÃO
Eu estava afastada dos preceitos religiosos, por inúmeros motivos que não cabe agora mencionar. Fato é que, após meus 18 anos eu não me encaixava mais no catolicismo, e isso foi muito estranho para mim. Pois, quando era criança amava cantar nas aulas de catequese, como bem lembra a minha catequista até hoje. Porém, tantas coisas aconteceram, tantas mágoas foram escurecendo o meu caminho e a minha alma, e muitos fatos me levaram ao afastamento de Deus. Cheguei a perder muitas vezes a esperança.
Até que um dia, duas colegas de trabalho que já frequentavam o ambiente, convidaram-me para ir a um Centro de Umbanda. E sem pensar muito, fui. Fui sozinha, e senti-me em casa, coloquei os pés lá dentro e nunca mais tirei. Todas as sextas-feiras eu estava lá para tomar o passe, para poder enfrentar mais uma semana. Eu tinha aula em uma cidade vizinha durante a noite e mesmo assim, saía mais cedo e corria para poder chegar antes das 22 horas, horário em que a casa fechava. Nas vezes que não deu tempo, chorei.
Eu nem sabia o quanto precisava que isso acontecesse, eu não fazia ideia do quanto isso mudaria minha vida. Foi mais fácil a partir daí? Não foi. Mas eu vejo tudo com outros olhos, as coisas estão mais claras para mim e descubro-me uma nova pessoa ao passar dos dias.
Já frequento a casa há mais ou menos três anos. E nesse tempo tive a oportunidade de redescobrir a espiritualidade. Mas, principalmente de encontrar meu lugar no mundo, de perceber o quanto a vida é importante, do quanto somos seres abençoados em ter essa evolução terrena.
Eu comecei a participar dos atendimentos. Ia até a casa, recebia o passe espiritual e retornava na próxima semana. Passados alguns meses fui convidada a participar da corrente, pois minha mediunidade estava se desenvolvendo rapidamente e eu queria fazer mais. Logo que pude, aceitei. Entrei na corrente em um dia que o trabalho foi realizado no mato, pois era uma homenagem para Oxóssi, divindade protetora das matas, e lá estava eu sentindo toda a luminosidade dos guias espirituais.
A partir daí não foi nada fácil, pois eu precisava conciliar tanta coisa com o desenvolvimento da mediunidade. Mas, eu sabia que não estava sozinha e que meus guias me dariam a força necessária. Não pude participar do primeiro batizado da casa, pois a faculdade não me permitia faltar sete dias seguidos, ainda mais em semana de avaliações finais. O batizado ocorreu em 24 de junho de 2016 e isso me abalou, não posso negar, eu queria tanto, eu tinha tanta certeza…
Mas continuei o meu desenvolvimento, continuei com a minha vida, com a minha faculdade, até que o chefe espiritual da casa marcou o meu batizado, eu mesma escolheria a data, e seria somente para mim, seria em apenas um dia para que eu pudesse participar sem prejudicar os meus estudos. Fui batizada em 7 de novembro de 2016, com minha sobrinha e mais uma criança, pois são regras da casa, um médium não poder se batizar sozinho, por isso precisava ser com, pelo menos, duas crianças. E foi. Foi lindo, foi abençoado, foi perfeito. E só me deu ainda mais certeza que eu havia escolhido o caminho certo.
Tenho aprendido tanta coisa desde então. Aprendi a servir, sem olhar a quem, a limpar o chão e gostar disso, a doar, a falar o que antes não conseguia, a ver o outro com mais compaixão, a sentir gratidão por tudo o que tenho. Foram tantas mudanças, tantas vitórias pessoais. Aprendi a cuidar mais de mim, a perceber que os problemas dos outros não são meus, que posso ajudar, mas tudo tem um limite.
Que eu sou filha de Deus, sou protegida por ele. Que eu sou filha de Ogum, por isso sou tão guerreira, que sou filha de Iemanjá, por isso tanto amor, que eu sou filha de Oxalá, por isso não perco as esperanças. Esperanças em um mundo melhor, mais bonito, mais seguro,