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Dicionário da Querida Amazônia: Em busca da "harmonia pluriforme"
Dicionário da Querida Amazônia: Em busca da "harmonia pluriforme"
Dicionário da Querida Amazônia: Em busca da "harmonia pluriforme"
E-book196 páginas2 horas

Dicionário da Querida Amazônia: Em busca da "harmonia pluriforme"

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Sobre este e-book

Na Constituição Apostólica Episcopalis Communio, de 2018, o Papa Francisco redefiniu a função dos sínodos na Igreja católica: "Para os padres sinodais pedimos, antes de mais nada, do Espírito Santo, o dom da escuta: escuta de Deus, até ouvir com Ele o grito do povo; escuta do povo, até respirar nele a vontade a que Deus nos chama" (EC 6). Dois anos depois de sua convocação, entre os dias 6 e 27 de outubro de 2019, realizou-se o Sínodo para a Amazônia em Roma, com o tema: "Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral". No final do Sínodo, as conclusões da assembleia foram votadas e compiladas em um Documento Final (DFSA), que foi entregue ao Papa Francisco. Este deu a sua ressonância ao evento sinodal através da Exortação Apostólica Pós-Sinodal que denominou Querida Amazônia (2020). Por meio de múltiplas escutas de "assembleias", "fóruns" e "rodas de conversa" pré-sinodais, o Sínodo foi um kairós, que fez ouvir a voz de Deus (cf. Hb 3,15) na voz dos últimos. Esses últimos, segundo a Exortação Querida Amazônia, "são os principais interlocutores, dos quais primeiro devemos aprender, a quem temos de escutar por um dever de justiça e a quem devemos pedir autorização para poder apresentar as nossas propostas. A sua palavra, as suas esperanças, os seus receios deveriam ser a voz mais forte em qualquer mesa de diálogo sobre a Amazônia" (QA 26). O processo pós-sinodal pode mostrar que a voz de Deus na voz dos últimos é "a razão da nossa esperança" (1Pd 3,15). O Dicionário da Querida Amazônia de Paulo Suess compila, por meio de 40 palavras-chave, todas essas discussões.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento5 de ago. de 2021
ISBN9786555622751
Dicionário da Querida Amazônia: Em busca da "harmonia pluriforme"

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    Dicionário da Querida Amazônia - Paulo Suess

    Prece pelo mundo a partir da Amazônia

    Que o Deus da vida

    e Criador do universo,

    o Espírito Santo, Pai dos pobres

    e da harmonia pluriforme,

    e o Cristo encarnado do amor maior

    nos proporcionem discernimento,

    criatividade, misericórdia e coragem

    para encontrar novos caminhos

    de fraternidade universal

    na Igreja e no mundo

    por meio do Sínodo da Amazônia!

    Os novos caminhos

    e a ecologia integral,

    a esperança dos povos do mundo

    e a vida das comunidades amazônicas:

    tudo e todos estejam interligados,

    para que nossa casa comum

    se torne um lar de solidariedade

    enquanto caminhamos

    rumo ao Reino!

    I.

    SIGLAS E ABREVIAÇÕES

    AL Amoris Laetitia . Exortação Apostólica Pós-Sinodal sobre o amor na família, 2016.

    AG Ad Gentes . Decreto sobre a atividade missionária da Igreja, Concílio Vaticano II, 1965.

    CA Centesimus Annus . Carta Encíclica no centenário da Rerum Novarum , 1991.

    ChV Christus Vivit . Exortação Apostólica Pós-Sinodal para os jovens e para todo o povo de Deus.

    CIgC Catecismo da Igreja Católica . Ed. CNBB, 2013.

    CV Caritas in Veritate . Carta Encíclica sobre o desenvolvimento humano integral na caridade e na verdade, 2009.

    DAp Documento de Aparecida . V Conferência Geral do Episcopado Latino- Americano e do Caribe, 2007.

    DFAS Discurso do Papa Francisco por ocasião da Abertura do Sínodo, Saudação Inicial (07.10.2019).

    DFEM Discurso do Papa Francisco em vídeo para o Encontro Mundial da Juventude Indígena. Panamá, 17-21.01.2019. In: L´Osservatore Romano , n. 4 (ed. port. 22.01.2019).

    DFMP Discurso do Papa Francisco por ocasião do II Encontro Mundial dos Movimentos Populares, Bolívia, Santa Cruz de la Sierra, 09.07.2015.

    DFPM Discurso do Papa Francisco aos Povos da Amazônia, Puerto Maldonado/Peru (Coliseu, 19.01.2018).

    DFSA Documento Final do Sínodo para a Amazônia, 2019.

    DPb Documento de Puebla . III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, 1979.

    DPSA Documento Preparatório do Sínodo para Amazônia, 2ª ed., CNBB, 2018.

    EC Episcopalis Communio . Constituição Apostólica, 2018.

    EG Evangelii Gaudium . Exortação Apostólica Pós-Sinodal sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual, 2013.

    GeE Gaudete et Exsultate . Exortação Apostólica sobre o chamado à santidade no mundo atual, 2018.

    GS Gaudium et Spes . Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo de hoje, Concílio Vaticano II, 1965.

    ILSA Instrumentum Laboris do Sínodo para a Amazônia, 2019.

    LG Lumen Gentium . Constituição Dogmática sobre a Igreja, Concílio Vaticano II, 1964.

    LS Laudato Si´ . Carta Encíclica sobre o cuidado da Casa Comum, 2015.

    OE Orientalium Ecclesiarum . Decreto sobre as Igrejas Orientais Católicas, Concílio Vaticano II, 1964.

    PDV Pastores Dabo Vobis . Exortação Apostólica sobre a formação dos sacerdotes nas circunstâncias atuais, 1992.

    PIAV Povos Indígenas em Isolamento (esp.: Aislamento) Voluntário.

    PO Presbyterorum Ordinis . Decreto sobre o ministério e a vida dos presbíteros, Concílio Vaticano II, 1965.

    PP Populorum Progressio . Carta Encíclica sobre o desenvolvimento dos povos, 1967.

    QA Querida Amazônia , Exortação Apostólica Pós-Sinodal ao povo de Deus e a todas as pessoas de boa vontade, 2020.

    REPAM. Rede Eclesial Pan-Amazônica.

    SC Sacrosanctum Concilium . Constituição sobre a Sagrada Liturgia, Concílio Vaticano II, 1963.

    SCae Sacerdotalis Caelibatus . Carta Encíclica sobre o celibato sacerdotal, 1967.

    VC Vita Consecrata . Exortação Apostólica Pós-Sinodal sobre a vida consagrada e a sua missão na Igreja e no mundo, 1996.

    II.

    INTRODUÇÃO

    Este Dicionário da Querida Amazônia foi escrito para pastores e leigos, catequistas e religiosos, enfim, para todo o povo de Deus saborear, estudar e divulgar, por meio de 40 palavras-chave, a proposta do Sínodo para a Amazônia para a região e o mundo. A Amazônia representa uma das maiores reservas de biodiversidade do planeta Terra, que hoje é disputada por interesses comerciais, por mentalidades extrativistas e por aventureiros em busca de um novo Eldorado. As águas estão sendo tratadas como se fossem mercadoria negociável pelas empresas (DAp 84). Amazônia é um espelho de toda a humanidade que, em defesa da vida, exige mudanças estruturais e pessoais de todos os seres humanos, dos Estados e da Igreja (DPSA 2). Esse pulmão da humanidade não pode ser substituído por um respirador mecânico importado da China. Qual é o papel da Igreja local e universal em defesa dessa Amazônia? O Sínodo para a Amazônia procurou dar a essa pergunta o início de uma resposta.

    No dia 15 de outubro de 2017, o Papa Francisco convocou, a pedido de várias Conferências Episcopais, uma Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica. Na Constituição Apostólica Episcopalis Communio (EC), de 2018, o papa redefiniu a função dos sínodos na Igreja católica: O Sínodo dos Bispos deve sempre mais se tornar um instrumento privilegiado de escuta do povo de Deus: ‘Para os padres sinodais pedimos, antes de mais nada, do Espírito Santo, o dom da escuta: escuta de Deus, até ouvir com Ele o grito do povo; escuta do povo, até respirar nele a vontade a que Deus nos chama’ (EC 6). Dois anos depois de sua convocação, entre os dias 6 e 27 de outubro de 2019, realizou-se esse Sínodo para a Amazônia em Roma, com o tema: Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral.

    No final do Sínodo, como previsto na Episcopalis Communio, as conclusões da Assembleia foram votadas e compiladas em um Documento Final (DFSA), que foi entregue ao Papa Francisco. Este deu, como de costume, a sua ressonância ao evento sinodal através de uma Exortação Apostólica Pós-Sinodal que denominou Querida Amazônia (QA) e que faz parte do Magistério ordinário do Sucessor de Pedro (EC Art. 18, § 1).

    No Dicionário da Querida Amazônia, que o leitor tem em suas mãos, procuro facilitar e tematizar a leitura dessa Exortação Apostólica através das 40 palavras-chave que emergem do documento. Já antes de sua publicação, a Querida Amazônia causou polêmicas que procuravam influenciar na confecção de seu conteúdo. Com o Sínodo para a Amazônia, cujas discussões internas e externas repercutem no texto da Querida Amazônia, Francisco fez de três fios essenciais de seu pontificado – do método, da mensagem e da meta – um cabo marítimo para puxar o barco de São Pedro pelas águas agitadas, não só da Amazônia, mas do século XXI: a sinodalidade como método, a evangelização como mensagem e a ecologia integral, que é a vida do mundo para os contemporâneos e as futuras gerações, como meta de toda a pastoral da Igreja.

    1. Uma carta de amor com quatro sonhos

    A Exortação Apostólica Querida Amazônia, do Papa Francisco, se inscreve no gênero literário de uma Carta de Amor dirigida aos povos da Amazônia e do mundo. Nas quatro partes de sua carta, o papa fala com a sua amada Amazônia de quatro sonhos (QA 7) que procuram antecipar novas realidades e horizontes concretos nos campos social (QA 8-27), cultural (QA 28-40), ecológico (QA 41-60) e eclesial (QA 61-110) e, correspondem, em grande parte, às cinco conversões do Documento Final do Sínodo (DFSA): a conversão integral, pastoral, cultural, ecológica e sinodal.

    Nas três primeiras partes de sua Exortação, ou seja, nos seus sonhos social, cultural e ecológico, – em seu conjunto, mais corajosos e inovadores que o quarto sonho –, o papa dirige-se a todas as pessoas e ao mundo inteiro (QA 4 e 5), enquanto na quarta parte, em seu sonho eclesial, se dirige aos pastores e fiéis católicos (QA 60). As inspirações de fundo da Exortação se encontram na Encíclica Laudato Si’, na Exortação Evangelii Gaudium, no Instrumentum Laboris (Documento de Trabalho Pré-Sinodal: ILSA) e no Documento Final (DFSA) do Sínodo e, menos explicitamente, nas consultas prévias feitas ao povo de Deus. Nessas consultas foram ouvidas e sintetizadas as vozes de mais de 87 mil pessoas (cf. DFSA 3).

    Nos três primeiros sonhos da Querida Amazônia, o Papa Francisco fala com sua amada Amazônia mais ou menos assim: Além de ser uma aliada estratégica (DFSA 4), nós, a Igreja, te amamos apaixonadamente (QA 3), nós aprendemos muito de ti (QA 26 e 55) e nós te defendemos (QA 63), tua vida, teus direitos, tuas culturas e terras. Podes contar conosco para o que der e vier. Essa declaração de amor e solidariedade vale muito em uma situação na qual o avanço das motosserras, dos garimpos, da plantação de soja e da criação de gado têm aumentado a pressão sobre os territórios dos povos da Amazônia. No quarto sonho, em que o papa se dirige aos pastores e fiéis católicos (QA 60), portanto, ao público interno da Igreja, ele muda o tom, porque a Igreja está dividida. Avanços internos sinalizados pelo Sínodo não contribuíram para a almejada harmonia pluriforme (QA 61; EG 220), e obrigaram os sonhadores a cair na real.

    Na realidade do nosso mundo secularizado, podemos perguntar:

    De que depende a vida da Amazônia? Depende, de fato, da luta pelos direitos dos mais pobres, da preservação da riqueza cultural, do zelo pelos rios e pelas florestas? Na realização desses sonhos, a Igreja é uma aliada entre outras aliadas. Do sonho eclesial, cuja realização por hora oferece extremas dificuldades, não depende o futuro da humanidade. O futuro da humanidade não depende de uma Igreja com rostos novos com traços amazônicos (QA 7)

    não depende diretamente de condicionantes da Igreja católica para o celibato dos padres, nem da superação do vácuo sacramental nas regiões amazônicas afastadas dos centros urbanos. A condicionante da celebração eucarística (cf. PO 6), segundo a Igreja, necessária para a edificação de uma comunidade cristã, e que recebeu uma atenção especial no Documento Final do Sínodo (DFSA 109; 111), na Querida Amazônia, não encontrou o encaminhamento esperado.

    Pode-se relativizar a importância do sonho eclesial para a vida da Amazônia e do mundo, embora a centralização pastoral e os vácuos ministeriais nas comunidades, de fato, contribuam para grupos fundamentalistas ampliarem as suas esferas de influência. O que não se pode relativizar nesse sonho eclesial é a sua coerência e sua relevância para a própria Igreja. Ela se torna uma aliada dividida e enfraquecida, somando seus esforços em defesa da Amazônia com os de outros aliados, por outros motivos, também enfraquecidos e divididos. Na força da aliada eclesial, que é sua experiência histórica e sua motivação religiosa, está, ao mesmo tempo, a sua fraqueza, que são suas cristalizações culturais, suas contradições doutrinárias e seu tradicionalismo político embutidos nessa mesma história.

    Resumindo: A Exortação Querida Amazônia, em seus três primeiros capítulos, mostra uma contextualização importante e a ressonância profética da Encíclica Laudato Si’ na Amazônia. No entanto, decisões internas da Igreja católica que poderiam, na quarta parte do texto, fortalecer essa contextualização e sua bandeira ecológica e sociocultural, por meio de uma presença ministerial mais adequada, aguardam não só a luz verde do papa, mas, sobretudo, a reivindicação regional corajosa da voz do povo de Deus e dos pastores. Há setores eclesiais que afirmam ser essa devolução de mudanças a consensos regionais parte dos novos caminhos de conversão sinodal e de seus eixos de participação e descentralização (contextualização, regionalização, encarnação, inculturação), destacados nas consultas prévias e no Documento Final do Sínodo.

    2. Recepção harmoniosa e harmonia pluriforme

    Amazônia é a terra de grandes diversidades socioecológicas e distâncias geográficas. Não são iguais as aldeias de pescadores às de caçadores, nem as aldeias de agricultores do interior às dos cultivadores de terras sujeitas a inundações. Além disso, na Amazônia, encontram-se milhares de comunidades de indígenas, afrodescendentes, ribeirinhos e habitantes das cidades (QA 32). A Amazônia é um território plurinacional interligado, um grande bioma partilhado por nove países: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela e Guiana Francesa (DFSA 5). Sua população é estimada em 33.600.000 de habitantes, dos quais entre 2 e 2,5 milhões são indígenas (DFSA 6).

    Diversidade e distância dificultam a harmonia pluriforme (QA 61; EG 220) e a recepção harmoniosa (QA 2) que são ideais de convivência do bem viver. Também nos escritos do Papa Francisco, a construção dessa harmonia pluriforme está sempre presente como a meta de ofício de um construtor de pontes e diálogos nos campos sociopolítico, cultural, econômico e religioso. Repetidas vezes, sobretudo na Encíclica Laudato Si´, o Papa Francisco afirma "que tudo está estreitamente

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