Crônicas Pandêmicas
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Sobre este e-book
Foi o que fizemos! Quando a vida nos deu uma pandemia e seus inúmeros argumentos para a escrita, fizemos este livro!
Uma coletânea de crônicas produzidas por 15 autores de diversas regiões do país, que se conhecem apenas virtualmente. Cada um com seu olhar, mas todos com o mesmo desejo de despertar em você, caro leitor, um momento de reflexão sobre 2020 – o ano que entrou para a história.
Seja num futuro próximo ou mesmo longínquo, que os textos a seguir sirvam para lembrar de todos os ensinamentos adquiridos com as tristezas, alegrias, descobertas e reinvenções consequentes da covid-19. Assim como prestar nossa singela homenagem aos que, infelizmente, não sobreviveram a ela.
Refresque-se com a limonada e boa leitura!
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Crônicas Pandêmicas - Patrícia Chirico
Posologia
Rubem Penz
Se não é aguda, é crônica.
Rubem Braga
Comecemos pelo indiscutível: a covid-19 é uma gripe, portanto, uma enfermidade aguda. Acontece que o maldito vírus se alastrou em alcance pandêmico, transformando-se, para o desespero da humanidade, num mal crônico. Muito crônico. E com consequências não só para os pulmões – os quais são os mais afetados – como também impactando a coluna, no caso, de crônicas. É nesse momento que a prosa leve e descontraída nos chega como prescrição segura ao tratamento do cérebro ao coração. A tese é minha, e este livro serve como uma luva cirúrgica para comprová-la.
Página por página (em conta-gotas), nossos abnegados cronistas oferecem o bálsamo capaz de, mesmo sem curar, amenizar o inescapável sofrimento coletivo. Podem até não estar na linha de frente, mas atuam firmes na retaguarda. São doses de graça sutil intercaladas com humor hiperbólico; conselhos serenos somados a alertas máximos; um pouco de empatia combinada com solidariedade; relatos nonsense para denunciar a falta de senso. Todos combinando a consagrada fórmula de chamar o leitor para uma conversa franca embalada por argúcia e criatividade.
Ah, cuidado! Neste livro, Roseli, Patrícia, Norma, Marcia, Jordania, Iná, Gilvânia, Fernanda, Emerson, Debora, Claudia, Camila, Barbara, Anderson e Ana Paula estão perigosamente sem máscaras. Por isso, nos contaminam com suas palavras rápidas e seus olhares espantados diante do mais grave fenômeno global vivido por nossa geração. É quando os cronistas abrem a porta do isolamento deixando escapar lembranças e inconfidências e histórias e constatações e apelos e risos – sempre – nervosos. Permitem que alguns instantes de poesia e graça baixem a temperatura excessiva dos momentos de crise. Consolam na medida em que dividem conosco a insana tranquilidade dos que jamais se entregam.
A leitura, até onde sei, é uma atividade imune às aglomerações, tornando-se uma indicação segura. A prosa rápida, igualmente, não tem contraindicações sequer para os mais atarefados administradores dos lares-escritórios-escolas-creches do pós-corona. Com vocês, Crônicas Pandêmicas – imunidade garantida contra o mau humor, pois o normal ainda vai demorar para termos de volta.
A visita
Ana Paula Gasparini
O termômetro da rua registrava 45 graus e o apartamento parecia ferver. O interfone tocou. Sobressaltada, ela puxou o gancho do aparelho e ouviu o porteiro anunciar a esperada visita. Sim, ele pode subir
, disse ansiosa. Correu até a sala e lambuzou as mãos com álcool em gel para garantir sua absoluta limpeza. Segurou cuidadosamente a máscara repousada sobre a mesa e cobriu o rosto. Ficaram de fora somente os olhos, que se moviam agitados. Após meses de isolamento social, era a primeira vez que alguém entraria em seu apartamento.
Enquanto aguardava a chegada da visita, suou de calor e nervosismo. Pensou rápido: "Vou abrir a porta. Assim ele não toca a campainha, ou melhor, não toca na campainha sem lavar as mãos. Pensou novamente:
Lavar as mãos? Abrir a torneira da pia? Não! Vou oferecer álcool. E continuou pensando:
Mas oferecer o frasco não! Vou pedir que ele estenda as mãos e eu despejo o álcool sem que…. A campainha tocou antes de seus pensamentos decidirem como ela deveria proceder.
Meu Deus, ele tocou na campainha!. O descontrole era iminente, mas ela reagiu:
Ok, eu higienizo tudo depois. Abriu então a porta. E deparou-se com ele e sua máscara abaixo do nariz. A aparição foi como o coronavírus em pessoa. Num impulso, ela bateu a porta na cara do homem, que se assustou com a reação da mulher.
Senhora!, gritou ele do lado de fora.
Senhor!, gritou ela do lado de dentro. Ele dizia:
O que houve, senhora?. Ela dizia:
Senhor Deus!". Após alguns segundos, ela se recuperou do susto e entreabriu a porta. Comunicou-se por