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Pisando em cacos de vidro
Pisando em cacos de vidro
Pisando em cacos de vidro
E-book123 páginas1 hora

Pisando em cacos de vidro

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Sobre este e-book

Olhando o nosso reflexo nesse espelho, percebemos exatamente o que ele tem para nos dizer. Vemos claramente, tudo aquilo o que queríamos esconder, vemos tudo o que precisamos mudar. Percebemos os nossos erros. Vemos as nossas falhas. Por mais que tentemos, não conseguimos desviar os nossos olhos do terrível reflexo. O espelho nos prende. Tudo o que conseguimos é ir ao mais profundo da nossa alma e lá descobrimos o lado negro que existe dentro de cada um de nós. Este livro é uma catarse que soma uma vida inteira de buscas e sonhos e que ao final nos presenteia com algo maior que tudo. Pisando em Cacos de Vidro é uma ficção que nos leva a conhecer de perto a realidade de cada um de nós, com erros, acertos e a certeza de um novo amanhã.
IdiomaPortuguês
EditoraLitteris
Data de lançamento12 de abr. de 2019
ISBN9788537404140
Pisando em cacos de vidro
Autor

M. Cristina Oliveira

M. Cristina Oliveira mora no Rio de Janeiro. Começou sua carreira literária em dezembro 2013 quando lançou seu primeiro livro e desde então não parou mais. Este é o seu terceiro livro. Alguns de seus poemas fazem parte de diversas antologias publicada no exterior. Acredita no poder transformador da literatura, por isso sua meta é influenciar através das suas histórias e dos seus poemas.

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    Pisando em cacos de vidro - M. Cristina Oliveira

    Capítulo 1

    Histórias para serem contadas

    Purifica o teu coração antes de permitires que o amor entre nele, pois até o mel mais doce azeda num recipiente sujo. (Pitágoras)

    Algumas vezes olhamos o espelho e não percebemos as imperfeições em nosso rosto. Estamos tão focados em outros detalhes que não nos damos conta que algo está errado. Vemos nossa roupa, vemos nossos sapatos e observamos o nosso cabelo. Olhamos e não nos vemos, vemos e não nos percebemos. Agora sou obrigado a ver-me por inteiro. Agora não posso desviar os meus olhos, nem a minha cabeça; preciso encarar o que me faz tanto mal. Tenho que ver o que recusei a enxergar, durante muito tempo em minha vida. (Victor Rangel)

    Tempo presente

    Montreal – Canadá

    Victor – setenta e cinco anos

    O diálogo entre as diferentes gerações é o mais lindo poema de amor escrito nas páginas da nossa vida. (M. Cristina Oliveira)

    – Posso sentar aqui? Já não sou o mesmo. Estou ficando velho.

    – Claro, vô! Senta aqui! Alex bateu com a mão na beirada da cama, indicando o lugar.

    – Obrigado! – Victor sentou-se na beirada da cama de Alexsandra e ajeitou a bengala ao seu lado. Setenta e cinco anos, um tombo no banheiro no ano passado, um derrame dois anos atrás e uma dor na coluna, obrigavam-no a fazer uso de uma bengala que ele carinhosamente chamava de Belinha. – Belinha também está cansada, tenho abusado da coitada, fazendo-a trabalhar além do necessário. – Ele passou a mão carinhosamente na bengala e riu para a neta que deitada na cama o olhava com carinho. Olhou em volta, percebendo as roupas sujas jogadas no chão, sapatos sem pares em um canto do quarto bastante desorganizado. Riu, sem mostrar os dentes e balançou a cabeça levemente.

    – Tudo bem, vô? Você está legal? – Perguntou preocupada vendo a dificuldade do avô.

    – Sim, sim. Estou bem. Ficando velho e cansado. Mas estou preocupado com você. – Victor segurou a mão da neta que se estendeu para tocar em seu ombro. Segurou firme, embora tivesse um leve tremor e sorriu.

    – Preocupado por que, vô?

    – Quando amamos alguém, desejamos o melhor para essa pessoa, e no momento sei que as coisas não andam muito bem com você. O que está acontecendo?

    – Meus pais não me entendem. Só pensam neles. – Alexsandra soltou a mão do avô e secou uma lágrima. – Sabe, vô? Eu odeio tudo isso. Eu não posso fazer nada. Quero sair, conhecer o mundo. Quero ser mais do que eles querem que eu seja. Estou cansada de ouvir meus pais dizendo não para tudo o que peço. Se quero dormir na casa de uma amiga, minha mãe faz um interrogatório danado e meu pai fica ligando para ver se o que eu estou dizendo é verdade. Minhas amigas podem tudo, menos eu... Chatos, meus pais são muito chatos. Às vezes eu os odeio. Queria ter outros pais. – Afirmou, ao pegar o enorme travesseiro rosa e colocá-lo sobre o seu colo. – Por que os pais são assim? – Perguntou chorosa. Victor deu três tapinhas na mão da neta e sorriu com carinho.

    – Pais... São complicados, não é mesmo?

    – Se são! São exagerados e possessivos. Às vezes eu acho que eles querem desgraçar com a minha vida.

    – É por isso que esse quarto está tão desorganizado? – Deu uma risadinha.

    – Depois eu arrumo, vô!

    – Continua fugindo de casa para encontrar os amigos? – Ela balançou a cabeça, afirmando com vergonha. Não conseguia esconder nada dele. Sentiu o rosto ficar vermelho e desviou o olhar para a porta.

    – Às vezes eu preciso fugir deles... Como o senhor sabe disso? – Olhou para o avô, que parecia entender o que ela estava sentindo.

    – Você é muito parecida comigo, também já fui assim como você. Entendo exatamente o que você está sentindo. – Victor balançou a cabeça e sorriu com amor para a neta que o olhava assustada. – Pode não parecer, Alex, mas já tive a sua idade. Quinze anos, muitos sonhos... Meus pais agiam exatamente como os seus estão agindo hoje com você. Eu me sentia sufocado e infeliz. Queria ganhar o mundo e a minha liberdade.

    – Sério? O que o senhor fez? Fugiu de casa? Foi viver a sua vida? Conta, vô! – Ela ajeitou-se na cama e cruzou os braços sobre o peito. – Conta logo vai.

    – Tem certeza que vai querer ouvir histórias de um velho?

    – Claro, vô! Conta logo!

    – Calma! Irei contar. – Victor ajeitou os óculos no rosto, levantou-se e caminhou até a cadeira que estava encostada na parede do outro lado da cama. Os olhos arregalados de Alexsandra observavam cada passo lento do avô. Ele caminhava como se o mundo parasse para ele realizar as suas pequenas tarefas. Mancava da perna direita, que ficou levemente mais curta, depois do tombo que levara no banheiro no ano passado. Ficou quase dois meses no hospital. Batera com a cabeça e com a coluna fortemente no chão molhado. Enquanto se tratava, sua família fizera de tudo para viesse morar com eles, mas, teimoso e cabeça dura como era, preferiu ficar em sua casa, onde suas memórias permaneciam. Sua bengala era sua fiel companheira, desde que voltou a andar e ele a apelidou carinhosamente. Era engraçado, pois, ele falava da bengala como se estivesse falando de uma pessoa amiga.

    – Aonde você vai, vô? – Perguntou ao vê-lo caminhando em direção à porta. Ela amava quando o avô vinha passar o fim de semana com a família. Seus pais ficavam carinhosos e menos exigentes. Não chamavam tanto a sua atenção e procuravam se comportar como os melhores pais do mundo. Alex riu ao pensar nisso e voltou a sua atenção para o avô.

    – Vou me ajeitar na cadeira, menina. Minha coluna já não é mais a mesma. – Ele arrastou a cadeira para bem perto da cama, sentou-se e sorriu. – Preciso me encostar, a velhice tem suas dificuldades. Chegar à minha idade depois de um tombo no banheiro e depois de um derrame não é para qualquer um. Só para os teimosos e para os que possuem uma aliada como eu possuo. – Bateu sua bengala com força no chão. – Minha Belinha. – Alex riu. – Bom, agora está melhor! Passa-me um travesseiro. – Disse estendendo a mão. – Vou colocar nas minhas costas e assim ficarei mais confortável. – Alex inclinou o corpo e lhe entregou um travesseiro com a fronha rosa e lilás.

    – Estou pronto para falar por horas. – Riu alto, como sempre fazia. Alex lembrou-se que nunca vira o avô sem aquele sorriso. – Colocou o travesseiro no encosto da cadeira e se balançou para frente e para trás, tentando encaixá-lo em sua coluna.

    – Eu gosto de conversar com você vô, você sempre me entende! É tão diferente dos meus pais. – Victor apenas riu e concertou o travesseiro, balançava a sua Belinha de um lado ao outro e ao mesmo tempo mexia com os dedos como se estivesse acompanhando uma música.

    – Sua mãe nunca te contou sobre a minha vida? Sobre o espelho que ganhei e que mudou drasticamente o meu viver?

    – Espelho!? Você não ia me contar sobre como agiu quando os seus pais te enchiam a paciência?

    – Calma! Vamos começar do começo. É uma longa história. Ainda quer ouvir?

    – Sim, quero. Conta, vô! – Seus olhos brilhavam de curiosidade.

    – Bem, tudo começou... – Ele contava a história da sua vida como se fosse um maravilhoso filme e Alex podia mergulhar no interior de cada cena, vivenciando cada vírgula, cada ponto de uma história que mudaria a sua maneira de ver a vida.

    * * *

    Alguns anos atrás

    São Paulo – Brasil

    Victor– dezesseis anos

    É tolice tratar os outros com desprezo; o homem prudente prefere ficar calado. (Provérbios 11:12)

    O que deve caracterizar a juventude é a modéstia, o pudor, o amor, a moderação, a dedicação, a diligência, a justiça, a educação. São estas as virtudes que devem formar o seu caráter. (Sócrates)

    Quando se é jovem, tudo é tão intenso. Os sentimentos fluem com tanta facilidade. Os sonhos brotam como rosas em um jardim, repleto de cores e variedades. O sorriso sai tão facilmente e ganham tamanhos exagerado em nossos rostos, o coração está aberto para novas conquistas. Os passos são rápidos e vão e vêm de um lado ao outro com tanta agilidade. São tantas lugares para serem explorados, são tantos caminhos para serem percorridos. O céu pode ser tocado com as mãos e o universo parece caber inteirinho dentro do peito. Ah, tudo é mágico! Tudo está perto... Todas as coisas são possíveis... O tempo coopera e o mundo poderá ser conquistado por nós, jovens, fortes e capazes...

    – Droga, pai! Para de querer que eu viva a sua vida! Eu sei muito bem o caminho que eu quero seguir.

    – Filho, eu só quero...

    – Me deixa! Estou cansado de vocês! – Victor gritou e bateu a porta do quarto com força. – Eu odeio vocês! Eu odeio essa casa... Eu odeio...

    – Filho...

    – Me deixem em paz! – Victor se jogou na cama e colocou o fone nos ouvidos, o

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