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Ao me ver no espelho
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E-book172 páginas2 horas

Ao me ver no espelho

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Sobre este e-book

Juno, arte-finalista e estudante de Design Gráfico, tem o sonho de ser modelo destruído por Túlio, seu ex-namorado, mandante de um atentado com ácido clorídrico, por não aceitar o fim do namoro provocado por uma agressão deste contra a moça, uma vez que ela não aceita sair do Garota Verão, concurso considerado trampolim para o mundo da moda e Túlio, mesmo sendo um professor de inglês graduado, tem mentalidade obtusa e machista dos anos 50, não aceitando que sua então namorada desfile de biquíni para o deleite dos marmanjos nas praias e na televisão.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento31 de jan. de 2023
ISBN9780463416617
Ao me ver no espelho

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    Ao me ver no espelho - Maxwell Santos

    CAPÍTULO 1

    LUZ NA PASSARELA

    Orelógio de parede marcava 17:20. Juno estava no escritório da Gráfica Salvatore, localizada na Avenida Vitória, onde trabalhava como arte-finalista. O rádio estava sintonizado na Metrô FM.

    Vem aí o Garota Verão 2013. Você, entre 15 a 20 anos, é solteira, sem filhos, e sonha ter uma carreira de modelo, tire duas fotos, uma de rosto e outra de corpo inteiro, em trajes de banho, acesse o site www.tvvitoriense.com.br/garotaverao, e faça sua inscrição. Além da faixa, a vencedora ganhará um book fotográfico e um contrato de 50 mil reais em trabalhos com a agência de modelos JR Rodrigues, de São Paulo. Tá esperando o quê, menina? Realização: Vitoriense Eventos e TV Vitoriense. Patrocínio: Atena Cosméticos. Promoção: Metrô FM.

    Juno se imaginou num estúdio, fazendo fotos para a capa da Vogue ou da Cosmopolitan, desfilando na São Paulo Fashion Week, ou no desfile anual da Victoria's Secret, como uma das angels. A moça branca, 19 anos, cabelos castanhos e lisos, olhos verdes e 1,72 m, queria conquistar o mundo com sua beleza e graça. Enzo Salvatore, o dono da gráfica, 60 anos, a despertou do sonho:

    – Juno, minha filha, o doutor Azambuja me ligou furioso, querendo os cartões de visita pra ontem. Já terminou a arte?

    – Tá quase pronta, seu Enzo.

    – Quando terminar, imprima uma prova e deixe na minha mesa, sim?

    – Sim, senhor.

    Juno abriu o Corel Draw, finalizou a arte do cartão, imprimiu a prova, foi à sala do patrão, deixando-a na mesa.

    Seis da tarde. Fim de expediente. Juno estava na Avenida Marechal Campos, esperando o 051, que a levaria para o bairro Itararé. O ônibus chegou, e a moça entrou nele. Ela desembarcou na pracinha do bairro, parou na barraca da tia Nilza, comeu um pastel de carne com queijo com caldo de cana.

    A jovem seguiu sua caminhada pela Rua das Palmeiras e Avenida Robert Kennedy, até chegar ao Beco do Cigano, na casa de Johnny, seu amigo. Logo, ela apertou a campainha. O rapaz, 22 anos, estava deitado no sofá da sala, estava num sono tão profundo, que somente David Assayag, à época, levantador de toadas do Boi Caprichoso, acompanhado da Marujada de Guerra e da galera azul e branca, poderia acordá-lo. Juno apertou a campainha outras duas vezes. Na terceira, o belo adormecido levantou e foi abrir a porta.

    – Juno. Você por aqui. Que saudade! - disse Johnny, abraçando Juno.

    – Verdade, Johnny. Na correria de trabalho e faculdade, a gente não tem tempo pra ver os amigos.

    – Quer entrar?

    – Claro.

    Juno entrou na casa de Johnny e sentou-se no sofá. Ela disse:

    – Johnny, desde criança, eu tenho o sonho de me tornar modelo. Eu ouvi na Metrô FM sobre o concurso Garota Verão 2013, e quero participar.

    – Que bom, Juno. Com todo o respeito, te acho muito linda, e você tem tudo pra ganhar esse concurso.

    – Obrigada, Johnny. Além da faixa e do book fotográfico, a vencedora vai ganhar um contrato de 50 mil reais em trabalhos com uma agência de modelos de São Paulo.

    – Onde é que eu entro?

    – Eu preciso de duas fotos: uma de rosto e outra de corpo inteiro, em trajes de banho, pra fazer a inscrição no site do concurso. Sinceramente, sou uma péssima fotógrafa. Até minhas selfies saem tremidas. Sei que você é um fotógrafo bom, e precisava dessas fotos pra participar do concurso. Façamos um trato: você tira minhas fotos, em troca, mando fazer 1000 panfletos e 1000 cartões de visita pra você conseguir uns trampos.

    – Fechado! Tava precisando mesmo dos cartões e dos panfletos. Tá tão ruim de trampo que falta grana pra pagar a gráfica e fazer os materiais de divulgação. Amanhã, pela manhã, a gente vai à Ilha do Boi, e faz essas fotos.

    – Obrigada, Johnny.

    Juno chegou em casa, colocou sua mochila no sofá, foi para cozinha, e conversou com a mãe, Carmen:

    - Oi, mamãe. Você sabia que vou participar do Garota Verão? Ouvi a propaganda no rádio da firma.

    - Que bom, minha filha. Deus te abençoe. Você vai ganhar esse concurso, porque é muito bonita, tem um sorriso lindo, que cativa as pessoas.

    - Já combinei com o Johnny amanhã, pra gente ir à praia tirar fotos minhas com biquíni.

    - Querida, já tô na torcida por você. Avante!

    - Obrigada, mamãe. Papai já chegou?

    - Ele avisou que vai chegar de madrugada, porque tá instalando móveis planejados na casa do dono de uma granja em Santa Maria de Jetibá. Na facção, há uma grande encomenda da Glória Salinas de biquínis pra Europa. Não repara se eu chegar tarde da noite.

    - Sem problemas, mamãe.

    O quarto de Juno refletia sua personalidade doce e romântica, em que as cores azul-esverdeado e o rosa apessegado davam o tom. As cortinas e almofadas foram costuradas pela dona Maria, avó da jovem, com muita delicadeza.

    Os móveis, fabricados por Francisco, seu pai, um marceneiro de mão cheia, eram de tons claros. Havia uma cômoda, na qual Juno guardava suas maquiagens e produtos de beleza. Do lado direito, havia uma escrivaninha, onde a moça fazia as ilustrações e os logotipos que lhe eram encomendados. A mesa digitalizadora e o MacBook Pro também estavam em cima do móvel, com os quais a designer gráfica finalizava as ilustrações e os logotipos. Em cada parede, havia nichos, com livros de arte, design e romances bestseller, como Um amor para recordar, de Nicholas Sparks, além das fotos com parentes e amigos.

    A aspirante a modelo recebeu um telefonema de Matheus, seu colega do curso superior de tecnologia em Design Gráfico na Escola de Belas Artes de Vitória. Ela pegou seu celular para atender:

    - Ei, Matheus. Boa noite. Tudo bom?

    - Oi, Juno, hoje eu tô muito nervoso.

    - Por quê, meu bem?

    - A Lucrécia, assistente administrativa do serviço social da EBAV, é muito elitista. Nutre um ódio figadal aos bolsistas do ProUni e aos bolsistas filantrópicos. Só trata melhorzinho quem paga do próprio bolso ou tem FIES. Por causa dessa peste, quase não consegui renovar o benefício da bolsa.

    - Por quê, Matheus?

    - Porque meu comprovante de residência não tá no meu nome. Ela exigiu que trouxesse o contrato de aluguel ou uma declaração de moradia assinada pelo proprietário, com firma reconhecida em cartório. Anteriormente, era só assinar o termo de renovação do ProUni. Ela tá de marcação comigo, porque, na qualidade de primeiro secretário do Diretório Central dos Estudantes, apontei várias deficiências estruturais da IES, fazendo que a EBAV não fosse transformada em centro universitário.

    - Eu, quando renovei minha bolsa, só precisei assinar um termo de renovação.

    - Graças aos deuses, a Marluce, a assistente social chefe do setor de serviço social da faculdade, pediu que assinasse apenas o termo de renovação da bolsa. Deu uma descompostura na Lucrécia, mesmo sabendo que ela é afilhada da Azedir, diretora-geral da EBAV.

    - Que bom, Matheus. Bom saber que tudo terminou bem.

    - A Lucrécia me enoja. Não passa de mulherzinha pobretona, que mora de favor numa quitinete em Porto de Santana com o filho portador de necessidades especiais. Não tem no furico o que o periquito roa, mas tira a maior onda, porque é afilhada da Azedir. Se dependesse de mim, dava justa causa.

    - Querido, já procurou a ouvidoria da faculdade?

    - Juno, aquela ouvidoria só existe pra cumprir tabela. Não serve de merda nenhuma. Há inúmeras queixas contra a bonita por grosseria e mau atendimento. Ela age que nem a Carlota, a empregada da novela mexicana Maria do Bairro, uma verdadeira leva e traz, ouvindo as conversas dos outros por detrás das portas. É uma bocuda, linguaruda, que sabe da vida de todo mundo na faculdade. Alguém precisa dar um paradeiro nessa mexeriqueira.

    - É lamentável que ela viva a semear fofocas e mexericos.

    - Se ela se limitasse ao seu trabalho, falasse menos, e não fosse preconceituosa e elitista, já tava bom demais.

    - Eu também acho, Matheus.

    - Juno, não é segredo pra seu ninguém que a Azedir não desejava aderir a faculdade ao programa de bolsas do governo, com a desculpa de que se aderisse ao ProUni, teria que dar menos bolsas do que o programa de bolsas filantrópicas que a instituição mantém. Lorota. Na real, ela quer manter o caráter elitizado e pequeno-burguês da centenária faculdade. Porém, a EBAV aderiu ao ProUni pra abater dívidas previdenciárias. A princípio, só ofertou as licenciaturas, mesmo assim, com bolsas parciais. Depois, ofertou bolsas integrais pra quase todos os cursos.

    - Entrei no curso de Design Gráfico ano passado, como bolsista integral do ProUni.

    - Antigamente, havia o bacharelado em Desenho Industrial. Seguindo as tendências do mercado de criar cursos pra inserção rápida no mercado de trabalho, o bacharelado em Desenho Industrial foi extinto, sendo criados os cursos superiores de tecnologia em Design Gráfico e Design de Produto. Somos da primeira turma de Design Gráfico.

    - O filho da Lucrécia, 12 anos, tem autismo clássico. O menino é muito agressivo, chegando a agredir a professora regente, a professora de AEE e a cuidadora. A mãe precisou ir à escola pra ministrar Neuleptil, deixa ele dopado.

    - Meu Deus!

    - Noutra ocasião, a Lucrécia foi chamada pra uma conversa com a coordenadora de turno, a professora de AEE e a pedagoga. Foi pedido a ela que pusesse uma cueca no Allan, já apresentando a libido exacerbada, ficando de pênis ereto na sala de aula constantemente, e mostrando o membro pros colegas e pra professora. Lucrécia se negou a vestir a cueca no menino, afirmando que traria a cueca pra professora vestir.

    - Poxa, além de ser uma má profissional, é uma péssima mãe.

    - Lucrécia não leva o Allan à APAE, pra fazer acompanhamento, o que lhe ajudaria e muito. Fala que não tem o leve. Ora, por que não pede à Azedir pra flexibilizar sua carga horária pra cuidar do filho? O pai do Allan, Theobaldo, tenente-coronel do Exército, mora em Brasília e, diante destes episódios, entrou na Vara da Infância e da Juventude de Vitória requerendo a guarda do menino.

    - Matheus, meu querido, foi bom falar com você, mas vou jantar e dormir. Um beijo.

    - Outro, amiga.

    CAPÍTULO 2

    QUANDO O CIÚME PÕE TUDO A PERDER

    No dia seguinte, Johnny buscou Juno na casa dela, e foram em seu Corsa Wind 1995 à Ilha do Boi. De biquíni, Juno fez várias poses para as fotos de corpo inteiro e de rosto.

    – Juno, hoje tá quente, né? Que tal a gente entrar no mar e dar um mergulho? - perguntou Johnny.

    – Querido, eu bem que gostaria, mas não vai rolar. Vai que alguém da comunidade aparece, vê a gente dando um mergulho e cagueta pro Túlio. Do jeito que ele é ciumento, é treta na certa, nego – respondeu Juno, afagando o ombro de Johnny – Quem sabe outro dia.

    Na casa de Johnny, Juno selecionou as fotos que achou boas, entrou no site do Garota Verão e fez sua inscrição com sucesso.

    Naquela tarde

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