O Marxismo na História
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Marcus Gomes
Marcus Gomes é Doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília.
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O Marxismo na História - Marcus Gomes
O MARXISMO NA HISTÓRIA DO CAPITALISMO
Marcus Gomes
O marxismo já possui uma longa história. Os seus primeiros passos foram dados em 1844, num breve escrito de Karl Marx¹ e que recebeu diversas outras contribuições desse autor e, em menor grau, de Friedrich Engels. Com o passar do tempo, as ideias que formam, em seu conjunto, o que foi denominado posteriormente como marxismo
, começam a se espalhar e receber variadas interpretações
, bem como alguns começam a utilizar um ou outro aspecto do pensamento de Marx – expresso em suas obras publicadas ou, no caso de alguns, comunicadas pessoalmente ou por cartas – desconsiderando sua totalidade. Já no final da vida de Marx, a circulação de suas ideias começa a se ampliar e após a sua morte os seus livros já possuem tradução em diversos idiomas², tendo alcance mundial.
A difusão das ideias de Marx, sua popularização, sua vinculação com organizações políticas – tais como alguns sindicatos, os partidos social-democratas e suas dissidências. A emergência de distintas interpretações
, diversos complementos
, variadas polêmicas em torno de Marx e do marxismo data do final do século 19 e início do século 20 e vai se ampliando cada vez mais. Os dois textos aqui publicados tratam do marxismo na história e, portanto, fazem uma reflexão sobre esse processo. Por isso é importante discutir a história do marxismo e as análises dessa história apresentadas por Paul Mattick, em 1978, e Steven Gouldner, em 1990.
Tratar da história do marxismo traz uma primeira questão, que os dois autores não tratam, que é a sobre o significado do marxismo. Afinal de contas, o que é o marxismo? Karl Korsch apresentou a melhor definição de marxismo e que supera os limites e problemas de outras definições: o marxismo é a expressão teórica do movimento operário revolucionário³. Essa definição resolve o problema das definições que se baseiam em algumas ideias destacadas da totalidade para definir o marxismo. O vínculo com o proletariado e seu projeto de autoemancipação impede a confusão do marxismo com as concepções que se autodeclaram marxistas
, mas não possuem tal vínculo. Assim, não é possível entender a social-democracia e o bolchevismo, entre outros, como marxismo.
Poderíamos colocar como três grandes momentos da história do marxismo o seu surgimento, com o marxismo original de Marx (e, em menor grau, com as devidas ressalvas, de Engels), o momento de sua retomada com o comunismo de conselhos no bojo das revoluções proletárias inacabadas (a partir de 1920), e sua nova retomada contemporânea com o marxismo autogestionário a partir das lutas operárias e estudantis do final da década de 1960⁴. Além disso, outras manifestações de marxismo, com certa ambiguidade, existiram, como destaque para Rosa Luxemburgo e o autonomismo (tal como expresso do grupo Solidarity e Maurice Brinton) e algumas sem ambiguidade (em certo momento do seu desenvolvimento), como Sylvia Pankhurst e a chamada Esquerda antiparlamentar inglesa
, entre outros.
A história do marxismo acompanha a história do capitalismo, o que significa acompanhar a história da sociedade capitalista em geral, com suas mutações, e a história das lutas operárias. As mutações do capitalismo atingem o marxismo sob várias formas, pois ela atinge a classe operária e suas lutas, seja no sentido de amenizar ou radicalizar tais lutas – o que num caso o enfraquece e noutro o fortalece –, ela traz novas questões que precisam ser compreendidas (forma e ação estatal, organização do trabalho, ideologias, etc.), gera uma mutação cultural (gerando novos paradigmas, com sua renovação linguística, etc.) que se torna alvo de críticos ou efetiva impacto nos autores e militantes marxistas, entre outros processos sociais que impacta o seu desenvolvimento.
No interior dessa história do capitalismo, ganha destaque as lutas operárias, pois elas são fundamentais para compreender a história do marxismo, seus avanços e recuos, entre outros processos relacionados. O vínculo entre marxismo e movimento operário, sendo o primeiro a expressão consciente, teórica, de tal movimento, o coloca em dependência do segundo. Não se trata, obviamente, de uma dependência total, pois atuam outras determinações, mas é sua determinação fundamental. O avanço teórico do marxismo, por exemplo, ocorre com a radicalização das lutas operárias. Porém, em momento de refluxo do movimento operário é possível um avanço teórico significativo, o que pode ser explicado por uma análise desse caso concreto para compreender suas determinações. Um intelectual marxista isolado, pode, por exemplo, efetivar um avanço teórico importante. No entanto, esse avanço teórico pode não ter ressonância, pois entrará em contradição com a hegemonia burguesa e com as expressões culturais próximas do proletariado, o que dificulta sua aceitação e difusão. Assim, essa contribuição de um indivíduo isolado (que pode ser também de um coletivo, por exemplo, dependendo do caso) pode ser teórica, mas sem reconhecimento e difusão, ficando acessível a poucos indivíduos ou lugares. No futuro, com uma nova ascensão das lutas operárias, pode ser resgatado e ter sua colaboração teórica incluída por uma nova geração de teóricos e militantes. Esse foi o caso, por exemplo, de Makhaïsky, que foi um dos primeiros a efetivar uma crítica à social-democracia e bolchevismo revelando o seu caráter de classe⁵.
Os dois textos aqui abordam o marxismo na história do capitalismo. Paul Mattick aponta para analisar o marxismo em seu passado, presente (da época dele) e perspectiva de futuro. Steven Gouldner analisa as apropriações e assimilações do marxismo no decorrer do desenvolvimento capitalista. Isso inclui uma análise das deformações do marxismo pelo pseudomarxismo e as assimilações, que são, no fundo, atualizações e desenvolvimentos da concepção marxista. Não cabe aqui uma análise profunda de ambos os textos, mas apenas algumas considerações gerais para fornecer subsídios interpretativos para o leitor.
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