Violência nos Arrabaldes
De Lucas Maia
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Sobre este e-book
Lucas Maia
Lucas Maia é Graduado, Mestre e Doutor em Geografia pela Universidade Federal de Goiás; Pós-Doutor em Sociologia pela Universidade Federal de Goiás; Professor do Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG).
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Pré-visualização do livro
Violência nos Arrabaldes - Lucas Maia
Prefácio
Introdução: Não Há Exílio
Minha Cidade
A Volta Pra Casa
O Demitido
Visita Ao Templo
Grandes Rupturas Em Pequenos Contos
O Último Dízimo
O Outro
Semáforo S.A.
Última Linha: Nau
Cover
Índice
capabruzundangasLucas Maia
VIOLÊNCIA NOS ARRABALDES
Uma imagem contendo desenho Descrição gerada automaticamenteEdições Enfrentamento
Goiânia, 2021
© 2021, Edições Enfrentamento
Capa: Ediney Vasco
Revisão: Carlos Henrique Marques
Diagramação: Alexandra Peixoto Viana
Conselho Editorial:
André de Melo Santos/IFG
Cleito Pereira/UFG
Jean Isídio/UEG
Leonardo Proto/FTA
Lisandro Braga/UFPR
Maria Angélica Peixoto/IFG
Mateus Orio/UEG
Nildo Viana/UFG
Ricardo Golovaty/IFTM
Weder David de Freitas/IFG
Ficha Catalográfica
MAIA, Lucas.
Violência nos Arrabaldes/Lucas Maia. Goiânia: Edições Enfrentamento, 2021. 156 p. (Coleção Bruzundangas, v. 1).
ISBN: 978-65-88258-20-0 (Edição digital).
1. Contos. 2. Poesia. 3. Literatura. 4. Ficção. 5. Literatura Brasileira.
CDD 808.88
CDU 82
Índices para catálogo sistemático:
1. Literatura Brasileira. 2. Contos. 3. Poesia.
Uma imagem contendo desenho Descrição gerada automaticamentehttp://edicoesenfrentamento.net
edicoesenfrentamento@gmail.com
SUMÁRIO
Prefácio
Introdução: Não Há Exílio
Minha Cidade
A Volta Pra Casa
O Demitido
Visita Ao Templo
Grandes Rupturas Em Pequenos Contos
O Último Dízimo
O Outro
Semáforo S.A.
Última Linha: Nau
Prefácio
Eguimar Felício Chaveiro
Estava eu vestido de bermuda cinza-verdolenga. Sandálias soltas nos pés, esses que, no compasso de um pensamento inquieto e ansioso, batem sem parar no chão seco da sala de minha casa. Camiseta branca surrada certamente palpitando o despojamento adequado ao tempo. Mais lento que o habitual, entregue aos vaticínios das circunstâncias comandadas pela convivência com a pandemia do coronavírus, foi quando recebi o convite para escrever o prefácio deste livro.
Recebi o convite por uma mensagem do Zapp, respondi-a com a assertiva abrindo o arquivo com rapidez. Lá estava o livro: VIOLÊNCIA NOS ARRABALDES. Autor: Lucas Maia. O bom. O excelente Cabellon.
O convite gerou um clarão de contentamento em mim. O simples ato de ser convidado me conduziu a inspecionar a memória desse grande amigo que, embora novo, é um velho conhecido. Embora conhecido nunca deixa de me surpreender. E surpreende naquilo que é mais difícil na sociedade brasileira: a coerência humana, a firmeza de caráter, o jeito da pessoa proporcional ao que ela fala e propõe; a simplicidade sofisticada de um leitor voraz, de um observador arguto; de alguém que lê o mundo com balizas consistentes e tem consciência de seus desígnios vitais.
A vontade no momento era correr e abraçar o velho amigo, esse escritor novo e valente e simples e intelectual: Lucas Maia...
Voltei a seta a mim e pensei o seguinte: está na hora de eu aprender a significar os meus contentamentos
. Esse convite, na pauta significativa de contentamento, vale um ano. Venci a pandemia, hoje beberei uma... Mas terei que ler o livro com atenção.
Pois bem! Arquivo aberto...
Antes de soletrá-lo com o vagar requisitado por uma leitura atenta, me veio à cabeça a intricada relação entre biografia e obra; entre autor e texto. Nesse exato momento a minha memória iluminou uma das aulas do mestre Alfredo Bosi, que tive na USP. A sua versão dialética fazia transcorrer um raciocínio precioso: o autor é sempre maior que a obra, pois esta não lhe diz inteiro; mas sem a obra, o autor não existe. Contudo, a obra escapa do próprio autor porque quem a delineia é o narrador, esse Outro de si mesmo; e o leitor que, transcorrendo os olhos em suas páginas, a faz viva e significativa. Daí, ela passa existir pela vibração pública num consórcio de vários negócios entre o leitor e o texto.
O leitor abre a obra e a enche com o seu mundo. Por isso, convém interrogar que leitura faz.
Lucas Maia é autor do livro VIOLÊNCIA NOS ARRABALDES. Ele próprio conhece a periferia dos confins urbano, de onde emergiu e para onde sempre vai, inclusive com a coletânea de contos desse livro. Luca Maia, convém repetir, é um leitor voraz que se contrapõe à via diletante de leitura e à erudição performática do academicês.
Como o escritor e ensaísta Cristovão Tezza, como o sociólogo goiano Nildo Viana, como os mestres Antonio Cândido e Alfredo Bosi, e, inclusive, como o escritor colombiano, Gabriel Garcia Marquez, Lucas Maia sabe que tudo pode mentir, menos a arte
. Reconhece que uma única frase é depositária da visão de mundo de quem escreve. Por isso, que os 8 (oito) contos do livro e o poema introdutório – NÃO HÁ EXÍLIO – solda o enlace entre realidade concreta e imaginação; história e criação. É uma obra literária feita de fios da ficção; é uma ficção feita sob o vislumbre de uma visão de mundo. Estética e política – pode-se dizer – dão as mãos e se casam.
O ponto de vista de classe, a atenção à violência social, à alienação, as fugas metafísicas contra a dor-de-mundo
do trabalhador; as operações ideológicas das instituições religiosas financeirizadas; o medo; os gestos de solidariedade entre os trabalhadores; o desafio de conviver com uma memória trágica; o golpe do patronato ganancioso; a luta sem-fim pela sobrevivência no sistema maldito
; a desgraça humana do desemprego; os lenitivos falsos do lazer, como a TV, e toda uma sorte de situações concretas que pousam sobre a subjetividade do trabalhador, sobre a sua moradia, sobre o seu corpo, e, também, o seu trânsito no mundo, os golpes sofridos e as linhas de fugas, são peças da arte do velho amigo, esse escritor novo, nesse livro.
Ao fazer a sua arte, dramatizando a realidade do trabalhador pela via do gênero conto, Lucas Maia está assinando, como fez a vida inteira, o seu ponto de vista, o seu sentido vital. Diferente e contra as narrativas cínicas pós-modernas; contra a verborreia da autoajuda e do esoterismo contemporâneo, e numa perspectiva diferenciada do identitarismo lítero-político que se expressa nas raias da esquerda contemporânea, as histórias do VIOLÊNCIA NOS ARRABALDES são forjadas com a consciência que o ato de narrar é acometido de relações de força. Dizer o mundo, em qualquer circunstância, inclusive pela literatura, é introjetar-se nele, comprometer-se com a classe de onde provém.
Quando narra...
"Não eram mais somente as múltiplas vergonhas que o assombravam. A elas, somou-se outra coisa mais. Ela era também repugnante, não só porque estava fedendo a tabaco e nicotina, não só porque o suor e a poeira davam-lhe um aspecto pegajoso.