Nkó Yorùbá: Aprendendo e ensinando Yorùbá: Gramática, Tradução, Conversação
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Sobre este e-book
Márcio de Jagun
MÁRCIO DE JAGUN É ADVOGADO, PROFESSOR UNIVERSITÁRIO, Bàbálórìṣà do Ilé Àṣẹ Àiyé Ọbalúwáiyé desde 2002, apresentador do Programa Ori desde 2009 na Rádio Metropolitana/Rio 1090 AM e na TVC/Rio (canal 6 da NET) desde 2013. Iniciado no Candomblé há 34 anos pelas mãos do Bàbálórìṣà Josemar de Ògún, Márcio de Jagun é conferencista, articulista e autor dos seguintes livros: Orí – a cabeça como divindade; Ewé, a chave do portal; e Candomblé: casa de santo, casa da gente. No ano de 2000, começou a militar no combate à intolerância religiosa e contra o clientelismo religioso, atuação que mantém até hoje. Foi um dos fundadores da Associação Nacional de Mídia Afro – ANMA, no ano de 2013. Ainda em 2013, foi convidado para as discussões de elaboração do Plano Curricular de Ensino Afro-Religioso da Rede Municipal do Rio de Janeiro.
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Orí: A cabeça como divindade: História, Cultura, Filosofia e Religiosidade Africana Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEwé: A chave do portal Nota: 0 de 5 estrelas0 notasYorùbá: Vobabulário Temático do Candomblé Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Sala de Aula não cabe no mundo: Compreendendo a Nagologia Educacional e suas metodologias singulares Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
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Nkó Yorùbá - Márcio de Jagun
Márcio de Jagun
Nkọ́ Yorùbá
subtREALIZAÇÃO: INSTITUTO ORI
Rua Inimutaba, 06 – Pedra de Guaratiba – RJ
ori@ori.net.br
2015 – 1ª Edição
Esta obra encontra-se devidamente registrada no Escritório de Direitos Autorais da Biblioteca Nacional e não poderá ser reproduzida, parcial ou totalmente, por quaisquer meios, sem prévia autorização do autor, com base na Lei 5.998/73.
Copyright desta edição © 2020 by Márcio de Jagun
Direitos em Língua Portuguesa reservados a Litteris Editora.
ISBN - 978-65-5573-010-4 (versão digital)
ISBN - 978-65-5573-014-2 (versão impressa)
Conversão: Cevolela Editions
Capa: Carlos Negreiros
Revisão: Josiane Dessandes
O Autor
Editoração: Josiane Dessandes
Fotos e Imagens: Divulgação/ reprodução
domínio público
litterisLitteris Editora Ltda.
Av. Marechal Floriano, 143 - Sl. 805 - Centro | 20080-005 Rio de Janeiro - RJ
tel (21) 2223-0030; (21) 2263-3141
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Agradecimentos
Agradeço aos iorubas por terem nos oferecido sua bela cultura, seu idioma e sua percepção do mundo, que muito nos engrandecem e inspiram.
Agradeço aos meus ancestrais, aos meus orientadores espirituais, a todos aqueles que me incentivam a prosseguir no trabalho.
Agradeço ao meu aluno e assistente Guilherme Carvalho, pelo apoio e dedicação que muito contribuíram para a elaboração desta obra.
Agradeço, agradeço e agradeço!
Dedico essa obra a todos que se interessam por descortinar a
cultura ioruba e a manter vivas suas memórias, honrando
o esforço dos heróis e heroínas anônimos.
Apresentação
O ioruba, língua falada pela etnia ioruba, em diversas Cidades-Estado do Sudoeste Africano, tais como Ọ̀yọ́, Kétu, Ifẹ̀, manteve-se em nosso país como forma de resistência cultural, como um elo de ligação ancestral, atemporal e sociorreligiosa.
No exercício do sacerdócio dentro de minha comunidade, o Ilé Àṣẹ Àyié Ọbalúwàiyé, percebo que inúmeros adeptos se interessam não apenas pelo aprendizado das ferramentas da oralidade ioruba (ainda hoje produzindo efeitos), mas também pelo aprofundamento gramatical e teórico acerca da língua ioruba e sobre a cultura que a permeia.
A mesma demanda é constatada na prática de minha experiência docente junto ao Programa de Línguas Estrangeiras Modernas, na Faculdade de Letras da Uff (Prolem/Uff). Ao ministrar aulas de ioruba na modalidade extensão, noto que um grande contingente de acadêmicos, assim como frequentadores do Candomblé que são membros de outras comunidades, buscam conhecimentos relativos à língua e à cultura ioruba.
O ioruba chegou aqui no Brasil trazido por homens e mulheres escravizados, oriundos do sudoeste da África, região que ocupa a atual Nigéria. Com o passar dos anos, o idioma ioruba foi se tornando um código sociorreligioso, capaz de concentrar informações interpessoais e intersensoriais, servindo como linguagem de homens, divindades, culturas, ritmos, modos de fazer e agir.
Os territórios geográficos onde o idioma ioruba se torna oficial
, como veículo de todo esse legado, são os terreiros de Candomblé nagô e jejê-nagô.
Vale dizer que o idioma ioruba praticado nos terreiros, foi considerado patrimônio imaterial do Estado do Rio de Janeiro, através da Lei Estadual 8.085/2018.
A Cidade de Salvador, na Bahia, seguiu o mesmo movimento. O texto da Lei Municipal 9.503/2019 diz: Fica autorizada a declaração do idioma Ioruba, um dos valores da civilização africano-brasileira, falado no território deste Município, desde o tempo da cidade de São Salvador da Bahia de Todos os Santos, como patrimônio imaterial do Município de Salvador.
Junto ao IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), tramita também o Processo nº 01450.012503/2016-68, requerido em 2016 pela Associação Nacional de Mídia Afro – ANMA, para inclusão do idioma ioruba no Inventário Nacional de Diversidade Linguística – INDL.
Escrever as palavras corretamente no idioma ioruba é muito mais do que perfeccionismo, ou presunção. Trata-se de respeito a uma língua, a um povo, ao seu legado, ao patrimônio já reconhecido. Cada vez que uma palavra é grafada corretamente em ioruba, destaca-se que o sentido dado a ela deve ser preservado tal qual sua compreensão original. Sempre que uma palavra é escrita originalmente em ioruba, brotam do texto ecos da memória, personagens da história e esperança em forma de letras.
A estrutura do idioma ioruba é basicamente lúdica. E essa ludicidade se espraia pela forma de dizer e por todas as ferramentas da palavra: os cânticos, os poemas, as louvações, os encantamentos, as orações, os contos e os provérbios.
As metáforas fazem parte da filosofia ioruba e transbordam suas palavras. Nada é apenas o que parece ser. O entendimento é sempre profundo, sensível, espiritual.
Os verbos iorubas são polissêmicos, posto que possuem diversos significados, mesmo escritos e pronunciados com entonação igual. Esta peculiaridade, faz com que a comunicação em ioruba integre perfeitamente os interlocutores. Já que uma mesma palavra pode significar diversas coisas diferentes, é preciso observar nos olhos do outro se estou sendo compreendido.
O verbo kọ́ é assim, também polissêmico. Pode ser traduzido para o português como ensinar e aprender, simultaneamente.
A palavra kọ́, para os iorubas, talvez possa resumir toda a sua filosofia educacional. Uma única palavra monossilábica e duas semânticas infinitas: aprender e ensinar.
Embora possam parecer movimentos em oposição, aprender e ensinar, para os iorubas, compõem uma única proposta, um exercício único. São convergentes e indissociáveis.
Cada ato ensinativo propicia o movimento exúdico¹ do saber, mas não em direção única, vertical – partindo de quem ensina para aquele que aprende. Ensinar e aprender fluem horizontalmente, em mão dupla.
O que ensina, aprende mais quando repete a lição. Aprende melhor, quando escuta o que diz. Aprofunda seu conhecimento, quando é capaz de observar o efeito que o conhecimento transmitido produziu no outro. Ou seja, ao ensinar, está também aprendendo.
O que aprende, adquire novos saberes. Aperfeiçoa a informação que eventualmente já detinha. Se torna mais humilde, ao reconhecer que precisa do outro para desenvolver-se. Ensina ao outro paciência, didática, generosidade. O que aprende também está ensinando.
Ampliar o ângulo acadêmico acerca da educação nagô, é também oferecer à sociedade um olhar mais plural, não contaminado pelo preconceito, mais tolerante e inclusivo com este recorte brasileiro.
Esta é a proposta da presente obra: aprender, compreender a cultura ioruba, ao mesmo tempo em que praticamos, trocamos, difundimos – aprendendo e ensinando – o ioruba: nkọ́ yorùbá!
Neste trabalho, ofereceremos esclarecimentos sobre a etnia ioruba, a história da sua formação idiomática, os conceitos filosóficos que permeiam sua cultura e que transbordam para sua língua; bem como orientações teóricas e exercícios para compreensão desse idioma. Os exercícios são acompanhados de um caderno de respostas e de um anexo com textos de apoio, a fim de favorecer o estudo. Sugerimos, sempre que possível, que esse mergulho seja feito em conjunto. Como o próprio verbo título desse livro sugere (kọ́ – ensinar e aprender), a proposta não é solitária, é gregária.
Que possamos unir e fortalecer; refletir e fazer; aprender e ensinar!
Àṣẹ!
Índice
Abreviaturas
Capítulo 1
As bases da cultura ioruba
Capítulo 2
Os nàgó/yorùbá
Capítulo 3
A origem do idioma ioruba
Capítulo 4
Fonética
O alfabeto e som das letras
As vogais puras e as vogais nasais
As vogais alongadas
Os caracteres, os acentos e os tons da fala
Capítulo 5
Elisão
Capítulo 6
Pronomes Pessoais
Capítulo 7
Verbos
Conjugação dos verbos
Negativa dos verbos
Capítulo 8
Advérbios de tempo
Capítulo 9
Pronomes Possessivos
Capítulo 10
Pronomes Objeto
Capítulo 11
Pronomes Demonstrativos
Capítulo 12
Gênero
Capítulo 13
Pronomes Indefinidos
Capítulo 14
Pronomes Interrogativos
Capítulo 15
Pronomes Relativos
Capítulo 16
Aumentativos e Diminutivos
Capítulo 17
Plural
Capítulo 18
Substantivos
Tipos de Substantivo
Formação dos Substantivos
Capítulo 19
Artigos e Preposições
Capítulo 20
Adjetivos
Capítulo 21
Conjunções
Capítulo 22
Numerais
Dezenas e centenas
Formação dos múltiplos de vinte
Formação dos não múltiplos de vinte
Centenas e milhares
Capítulo 23
Tradução
Noções sobre hermenêutica
Semiótica
Capítulo 24
Conversação
Caderno de Respostas
Textos de Apoio
Notas
Referências Bibliográficas
Bibliografia
Abreviaturas
O autor utiliza abreviaturas e, às vezes, sinais; os quais servem para facilitar a compreensão acerca dos vocábulos, ou para fazer remissões de interesse do leitor. Passamos a descrevê-los:
Capítulo 1
As bases da cultura ioruba
A palavra é a matéria prima da cultura ioruba. Ela é portadora de àṣè2. A palavra é condutora de energia e tem força. As rezas, os encantamentos e as invocações são, ao mesmo tempo, transmissoras dos mitos, das crenças, da história, das emoções e, também, de força realizadora. A palavra é dotada de encantabilidade, pois é capaz de envolver os elementos em energia, ou até de fazer transformar ou transbordar a energia que os mesmos detêm. Junto com a palavra é emitido o hálito, elemento sagrado para os iorubas. Portanto, a ela agrega-se uma parcela cósmica.
E neste alicerce cultural, a representação do poder da palavra é simbolizada por uma divindade: Èṣù3 – o Senhor da Comunicação.
Para a compreensão da cultura ioruba, é preciso entender seus princípios alicerçais. Se eu fosse cristão, uma palavra do nosso vocabulário bastaria para destacar a importância desses esteios da cultura ioruba: crucial
. No entanto, como sou candomblecista, proponho aqui um neologismo balizado na importância de Èṣù enquanto energia e simbologia estrutural desta cosmopercepção: exúdico
– alicerçal, fundante.
A cultura ioruba, assim como na matriz africana, está sedimentada no Brasil a partir dos seguintes esteios exúdicos: a oralidade, a naturalidade, a temporalidade e a senioridade.
| A oralidade |
A cultura ioruba é ágrafa.