Batuque De Umbigada
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Batuque De Umbigada - Emerson Mathias
Emerson Feliciano Mathias
BATUQUE DE UMBIGADA:
IDENTIDADE E MEMÓRIA BANTU
NO OESTE PAULISTA NA
CONTEMPORANEIDADE
2020
1
Sumário
1. A Umbigada, instrumentos, dança, modas e elogios10
2. Um olhar para África Ocidental .............................. 24
3. A Memória dos Mestres batuqueiros do Oeste
Paulista ........................................................................... 42
4. A festa de São Benedito e a noite do batuque de
umbigada ........................................................................ 53
Considerações finais ....................................................... 60
Bibliografia ..................................................................... 65
Outras fontes ................................................................... 69
Sites ................................................................................ 70
2
Introdução
Batuque de umbigada, quando nos deparamos com essa expressão cultural afrobrasileira não imaginávamos a complexidade e a riqueza dessa tradição, nascida durante a travessia do Atlântico na diáspora forçada dos povos africanos. As pesquisas realizadas nos levaram a perceber que a cultura africana está ligada com a vida social do sujeito. A religião, o trabalho, o lazer, a política, enfim, tudo está conectado na sua cosmogonia1. Percebemos que essa característica cultural, atravessou o Atlântico junto com as diversas etnias africanas que aqui foram escravizadas.
Outro traço fundamental da cultura africana é o valor e o respeito que dão a memória, principalmente e exclusivamente dos mais velhos, a tradição oral manteve 1 Definimos cosmogonia como uma filosofia da vida social africana, onde todos os elementos da natureza estão ligados à sua origem e dão sentido a seu Universo. Ou seja, para o africano seus atos políticos, econômicos, culturais e religiosos não são dissociados.
3
viva a identidade dos africanos que foram trazidos na diáspora negra e ajudou a (re) construir uma nova no território brasileiro. Negando a máxima de Hegel, de que a África não tinha História, pois não possuía escrita.
Hoje em nosso contexto podemos pesquisar as tradições afro-brasileiras exatamente por essa afirmação ser totalmente equivocada, pois, por meio da memória, a cultura africana sobreviveu no período da escravidão e se transformou em diversas expressões por todo território brasileiro. Em nossas pesquisas constatamos que o universo cultural das tradições afro-brasileiras em diversas regiões do Brasil possuem semelhanças entre si. Para BA (1982), o sábio de Bandiagara, Tierno Bokar, crítica a preponderância da escrita na sociedade Ocidental e afirma que, a escrita é uma coisa e o saber é outra. A escrita é a fotografia do saber, mas não o saber em si. O saber é uma luz que existe no homem, a herança, a lembrança de todos os nossos ancestrais que se encontra latente pronta para ser 4
transmitida. Assim como o Baobá já existe em potencial em sua semente.
Ele é a palavra, e a palavra encerra um
testemunho daquilo que ele é. A
própria coesão da sociedade repousa
no valor e no respeito pela palavra.
(...) a tradição oral é a grande escola
da vida, e dela recupera e relaciona todos os aspectos. Pode parecer
caótica
àqueles
que
não
lhe
descortinam o segredo e desconcertar
a mentalidade cartesiana