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Phantastes
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E-book320 páginas3 horas

Phantastes

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Sobre este e-book

Em suas aventuras na Terra das Fadas, o jovem Anodos confronta os espíritos das árvores e uma sombra, peregrina pelo palácio da rainha das fadas e procura o Espírito da Terra. Uma busca que requer a entrega de si mesmo e revela as batalhas da condição humana.Escrita com um anseio caprichoso, mas comovente, a fantasia clássica de MacDonald influenciou bastante escritores, como C. S. Lewis e J. R. R. Tolkien.
IdiomaPortuguês
EditoraPrincipis
Data de lançamento1 de jan. de 2021
ISBN9786555527193
Autor

George MacDonald

George MacDonald (1824 – 1905) was a Scottish-born novelist and poet. He grew up in a religious home influenced by various sects of Christianity. He attended University of Aberdeen, where he graduated with a degree in chemistry and physics. After experiencing a crisis of faith, he began theological training and became minister of Trinity Congregational Church. Later, he gained success as a writer penning fantasy tales such as Lilith, The Light Princess and At the Back of the North Wind. MacDonald became a well-known lecturer and mentor to various creatives including Lewis Carroll who famously wrote, Alice’s Adventures in Wonderland fame.

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    Pré-visualização do livro

    Phantastes - George MacDonald

    capa_phantastes.jpg

    Esta é uma publicação Principis, selo exclusivo da Ciranda Cultural

    © 2021 Ciranda Cultural Editora e Distribuidora Ltda.

    Traduzido do original em inglês

    Phantastes: A Faerie Romance for Men and Women

    Texto

    George MacDonald

    Editora

    Michele de Souza Barbosa

    Tradução

    Adriano Neves

    Preparação

    Jéthero Cardoso

    Revisão

    Fernanda R. Braga Simon

    Produção editorial

    Ciranda Cultural

    Diagramação

    Linea Editora

    Design de capa

    Edilson Andrade

    Ilustrações

    Arthur Hughes

    Imagens

    Kanea/Shutterstock.com;

    Kamenetskiy Konstantin/Shutterstock.com;

    NextMarsMedia/Shutterstock.com;

    Obsidian Fantasy Studio/Shutterstock.com;

    Marcin Sylwia Ciesielski/Shutterstock.com;

    freepik.com

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD

    M135p MacDonald, George

    Phantastes / George MacDonald; traduzido por Adriano Neves; ilustrado por Arthur Hughes. - Jandira, SP : Principis, 2021.

    256 p. ; il. ePUB. (Clássicos da literatura mundial).

    Título original: Phantastes: A Faerie Romance for Men and Women

    ISBN: 978-65-5552-719-3. (E-book)

    1. Literatura inglesa. 2. Fantasia. 3. Mistério. 4. Fadas. I. Neves, Adriano. II. Hughes, Arthur. III. Título.

    Elaborado por Lucio Feitosa - CRB-8/8803

    Índice para catálogo sistemático:

    1. Literatura inglesa : 823.91

    2. Literatura inglesa : 821.111-3

    1a edição em 2021

    www.cirandacultural.com.br

    Todos os direitos reservados.

    Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, arquivada em sistema de busca ou transmitida por qualquer meio, seja ele eletrônico, fotocópia, gravação ou outros, sem prévia autorização do detentor dos direitos, e não pode circular encadernada ou encapada de maneira distinta daquela em que foi publicada, ou sem que as mesmas condições sejam impostas aos compradores subsequentes.

    Esta obra reproduz costumes e comportamentos da época em que foi escrita.

    Prefácio

    Tenho três motivos para oferecer esta nova edição de Phantastes, escrito por meu pai. O primeiro é resgatar a obra de uma edição ilustrada sem a autorização do autor, e de forma tão inadequada que os fãs do livro devem ter sofrido enquanto folheavam. Com os direitos autorais eu também adquiri toda aquela edição e a destruí.

    O segundo motivo é prestar um pequeno tributo a meu pai como forma de gratidão pessoal por esta, sua primeira obra em prosa, publicada há quase cinquenta anos. Embora desconhecido por muitos admiradores de suas maiores obras, nenhuma delas a superou em criatividade e poder de expressão. Para mim, ela soa com o acorde dominante do propósito e obra de sua vida.

    Meu terceiro motivo é que mais pessoas possam conhecer o livro. Para isto, fui muito felizardo ao ajudar o velho amigo de meu pai, que fez a primeira versão ilustrada.

    Greville MacDonald

    Setembro de 1905

    Phantastes

    Um conto de fadas

    Fantasmas de sua fonte, todas as formas derivadas,

    em novas vestimentas podem desaparecer rapidamente.

    Os contos da ilha púrpura – Phineas Fletcher

    Os contos podem ser pensados sem contexto, mas com associação, como os sonhos. Poemas meramente melodiosos e repletos de belas palavras, mas também sem sentido ou contexto, no máximo estrofes individuais compreensíveis, como fragmentos das mais variadas coisas. Essa verdadeira poesia pode ter no máximo um sentido alegórico em grandes dimensões e um efeito indireto, como a música. É por isso que a natureza é tão puramente poética quanto o quarto de um mágico, um físico, uma creche, uma pilha e um depósito.

    Um conto de fadas é como um sonho não relacionado. Um conjunto de coisas e incidentes maravilhosos, como uma fantasia musical, as consequências harmônicas de uma harpa eólica, a própria natureza…

    Em um verdadeiro conto de fadas, tudo deve ser maravilhoso, misterioso e coerente; tudo animado, cada um de uma maneira distinta.Toda a natureza deve ser estranhamente misturada com o mundo dos espíritos; aqui vem o tempo da anarquia, ilegalidade, liberdade, o estado de natureza da natureza, o tempo do mundo… O mundo do conto de fadas é o mundo da verdade absolutamente oposto e, por isso mesmo, é tão semelhante quanto o caos é semelhante à criação perfeita.

    – Novalis

    Capítulo 1

    Um espírito…

    O poço ondulante e silencioso,

    E riachos agitados, e escuridão da noite,

    Agora aprofundando os tons escuros, para a fala assumindo,

    O herói comunga com ele, como se ele e aquilo foram tudo o que foi.

    Alastor – Piercy Shelley

    Acordei em uma manhã com a confusão mental que sempre acompanha o retorno à consciência. Enquanto estava deitado e olhava pela janela leste do meu quarto, um risco pálido cor de pêssego cortado por uma nuvem que acabara de se erguer no horizonte anunciou a chegada do sol. Quando meus pensamentos, que haviam sidos desmanchados por um sono profundo e aparentemente sem sonhos, novamente assumiram uma forma nítida, os estranhos eventos da noite anterior se apresentaram mais uma vez à minha consciência confusa. O dia anterior fora o dia do meu aniversário de vinte e um anos. Além de outras cerimônias que meus direitos legais concediam, foram­-me entregues as chaves de uma velha escrivaninha, na qual meu pai guardava seus documentos pessoais. Assim que fiquei sozinho, acendi as luzes do cômodo em que ficava a escrivaninha, as primeiras a iluminar o local em mais de um ano, pois, desde a morte de meu pai, o lugar não conheceu movimentação. Mas, como se a escuridão fosse uma habitante do local por tempo demais para sair facilmente e tivesse tingido de preto as paredes nas quais se havia agarrado com um morcego, as velas iluminavam muito mal as cortinas escuras, e pareciam lançar sombras ainda mais escuras nos buracos profundos das cornijas. Todas as demais partes do cômodo estavam envolvidas por um mistério cujas dobras mais profundas se reuniam ao redor do gabinete de carvalho escuro, do qual agora eu me aproximava com um estranho misto de reverência e curiosidade. Talvez, como um geólogo, eu estivesse prestes a revelar alguma camada escondida do mundo dos homens, com seus restos fossilizados carbonizados pela paixão e petrificados pelas lágrimas. Talvez eu estivesse prestes a descobrir como meu pai, cuja própria história era desconhecida para mim, havia tecido sua teia de histórias; como ele descobrira o mundo, e como o mundo o havia deixado. Talvez eu devesse encontrar apenas registros de terras e moedas, como foram adquiridas e guardadas; vindas de homens desconhecidos e tempos turbulentos até a mim, que pouco ou nada sabia delas. Para solucionar minhas dúvidas e afastar o temor que estava rapidamente se formando ao meu redor, como se os mortos estivessem se aproximando, fui até a escrivaninha e, ao encontrar a chave da parte superior, consegui abri­-la com certa dificuldade; trouxe para perto uma pesada cadeira de encosto alto e me sentei diante de uma multidão de pequenas gavetas, inclinações e escaninhos. Porém, a porta de um pequeno armário no centro atraiu particularmente meu interesse, como se ali morasse o segredo de um mundo havia muito escondido. Achei a chave daquela porta.

    Umas das dobradiças enferrujadas rachou e quebrou quando abri a porta, revelando vários pequenos escaninhos. No entanto, estes eram rasos comparados aos que rodeavam o pequeno armário, e os mais distantes alcançavam o fundo da escrivaninha; concluí que devia haver algum espaço acessível atrás, e descobri que eles realmente tinham uma estrutura própria, que permitia que toda a peça fosse removida de uma vez. Atrás, achei uma espécie de grade flexível com pequenas barras de madeira dispostas horizontalmente e próximas umas das outras. Depois de uma longa busca e de várias tentativas de movê­-la, finalmente descobri em um lado uma ponta de aço que quase não se projetava. Eu a apertei repetidamente e com força com a ponta de uma ferramenta velha que estava ali perto, até que finalmente cedeu para o lado de dentro; e a pequena inclinação, voando repentinamente, revelou uma câmara; estava vazia, exceto que em um canto havia um pequeno monte de folhas secas de rosa, cujo aroma há muito havia desaparecido; e, em outro, um pequeno maço de papéis, amarrados com um pedaço de fita cuja cor havia ido embora com o aroma das rosas. Quase temendo tocá­-los por terem tão silenciosamente testemunhado a lei do esquecimento, recostei­-me na cadeira e por um momento os observei, quando de repente surgiu na soleira da pequena câmara, como se tivesse acabado de sair de suas profundezas, uma minúscula figura feminina, de formas tão perfeitas que era como se fosse uma pequena estátua grega trazida à vida. Seu vestido era de uma espécie que jamais ficaria fora de moda, porque era simplesmente natural: uma túnica trançada em uma faixa ao redor do pescoço, presa por um cinto, e que ia até os pés. No entanto, foi só depois que notei seu vestido, embora minha surpresa não fosse de maneira alguma tão grande como a que uma aparição pode naturalmente causar. Porém, vendo, suponho, algum espanto no meu semblante, ela veio até um metro de mim e disse, com uma voz que estranhamente me fazia lembrar do anoitecer, e de margens estreitas de rios, e uma leve brisa, mesmo neste cômodo sem vida:

    – Anodos, você nunca viu uma criatura tão pequena, não é?

    – Não – eu disse –, e certamente não acredito que vejo agora.

    – Ah! É sempre assim com vocês, homens; vocês não acreditam em nada da primeira vez; e é muita tolice esperar que a mera repetição os convença do que consideram inacreditável. Porém não discutirei com você, mas lhe concederei um desejo.

    Aqui não pude evitar interromper seu discurso tolo, do qual, porém, eu não tinha motivo para me arrepender.

    – Como uma criatura tão pequena como você pode conceder ou negar alguma coisa?

    – Esta é toda a filosofia que acumulou em vinte e um anos? – ela disse. – Forma é muito, mas tamanho não é nada. É apenas uma questão de referência. Suponho que vossa senhoria de um metro e oitenta não se sinta nada insignificante, embora para outros você pareça pequeno perto do seu velho tio Ralph, que é mais alto do que você no mínimo uns quinze centímetros. Mas tamanho é algo tão irrelevante para mim que eu bem poderia me adaptar a seus preconceitos tolos.

    Dizendo isso, ela saltou da escrivaninha para o chão, onde se tornou uma dama alta, graciosa, de pele pálida e grandes olhos azuis. Seus cabelos escuros caíam por sobre os ombros, ondulados, porém sem cachos, até a cintura, e contra ele sua forma contrastava com a túnica branca.

    – Agora – ela disse – você irá acreditar em mim.

    Dominado pela presença de uma beleza que eu agora conseguia notar, e atraído por ela de uma forma tão irresistível quanto incompreensível, acho que estendi meus braços em sua direção, porque ela se afastou um ou dois passos e disse:

    – Tolinho, se você pudesse me tocar, eu o machucaria. Além do mais, eu tinha duzentos e trinta e sete anos na véspera do último solstício de verão; e um homem não deve se apaixonar por sua avó, sabe?

    – Mas você não é minha avó – eu disse.

    – E como você sabe? – ela retrucou. – Ouso dizer que você sabe bastante a respeito do passado de seus bisavôs do que isto; mas que sabe muito pouco sobre suas bisavós. Agora, vamos ao ponto. Sua irmãzinha estava lendo um conto de fadas para você ontem à noite.

    – Sim, estava.

    – Quando ela terminou, ela disse, enquanto fechava o livro: Irmão, existe alguma terra das fadas?. Você respondeu com um suspiro: Acho que sim, se alguém conseguisse descobrir como entrar lá.

    – Eu falei, mas quis dizer algo bem diferente do que você parece pensar.

    – O que eu pareço pensar é irrelevante. Amanhã você vai encontrar o caminho para a Terra das Fadas. Agora, olhe nos meus olhos.

    Eu o fiz avidamente. Eles me encheram de um anseio desconhecido. De alguma forma lembrei que minha mãe morreu quando eu era bebê. Olhei mais e mais profundamente, até que os olhos dela se estenderam ao meu redor como mares, e mergulhei em suas águas. Esqueci de todo o resto, até que me encontrei na janela, cujas cortinas sombrias estavam recolhidas, e onde fiquei contemplando um céu cheio de estrelas, pequenas e brilhantes à luz da lua. Abaixo estava o mar, parado como morto e branco sob a lua, alcançando baías, penínsulas e ilhas até longe, longe, não sabia para onde. Ai de mim! Não era um mar, mas um pequeno brejo iluminado pela lua. Certamente existe um mar assim em algum lugar!, disse a mim mesmo.

    Uma voz doce e baixa ao meu lado respondeu:

    – Na Terra das Fadas, Anodos.

    Eu me virei, mas não vi ninguém. Fechei a escrivaninha e fui para a cama no meu quarto.

    Lembrei-me de tudo isso enquanto estava deitado, de olhos entreabertos. Em breve eu descobriria a verdade sobre a promessa da dama, de que naquele dia eu encontraria o caminho para a Terra das Fadas.

    Capítulo 2

    Onde está o riacho?, ele gritou, em lágrimas. Veja, suas ondas azuis não estão acima de nós? Ele olhou para cima e veja! O riacho azul estava correndo suavemente sobre suas cabeças.

    Heinrich von Ofterdingen – Novalis

    Enquanto esses estranhos eventos passavam pela minha cabeça, eu, como alguém que desperta para a consciência de que o mar tinha estado gemendo ao seu lado por horas, ou de que a tempestade tinha uivado em sua janela a noite inteira, repentinamente percebi o som de água correndo perto de mim; e, olhando para fora da cama, vi que uma grande bacia de mármore verde, na qual eu costumava me lavar e que ficava em um pedestal baixo do mesmo material em um canto do quarto, transbordava como uma fonte; e que um fluxo de água cristalina corria sobre o tapete, por todo o quarto, saindo não sei para onde. E, mais estranho ainda, onde este tapete, que eu mesmo havia desenhado de forma que imitasse um campo de grama e margaridas, encontrava o curso do pequeno riacho, a grama e as margaridas pareciam mover­-se com uma leve brisa que seguia o fluxo da água; enquanto sob o riacho elas se inclinavam e agitavam a cada movimento da corrente inconstante, como se estivessem prestes a se desmanchar nela, e, abandonando sua forma fixa, tornavam­-se fluentes como as águas.

    Minha penteadeira era um móvel velho de carvalho preto, cheia de gavetas. Nelas havia folhagens elaboradamente esculpidas, sendo de hera a parte principal. A extremidade mais próxima dessa mesa permanecia exatamente como era, mas na extremidade mais distante uma mudança singular havia começado. Aconteceu de eu fixar o olhar em um pequeno cacho de folhas de hera. A primeira delas era evidentemente obra de um entalhador; outra tinha aparência curiosa; a terceira era sem dúvida uma hera; e logo após ela um raminho de trepadeira havia se enroscado ao redor do puxador dourado de uma das gavetas. Em seguida, ouvindo um leve movimento sobre mim, olhei para cima e vi que os galhos e folhas estampados nas cortinas da minha cama estavam se mexendo suavemente. Sem saber qual seria a próxima mudança, achei que era hora de me levantar; saindo da cama, meus pés descalços pousaram sobre uma relva verde e fresca; e, embora eu houvesse colocado a roupa rapidamente, me vi completando a vestimenta sob os galhos de uma grande árvore, cujo topo se movia no feixe dourado do amanhecer com muitas cores se alternando, e com sombras de folhas e galhos deslizando sobre folhas e galhos, enquanto o vento frio da manhã a agitava para a frente e para trás, como uma onda do mar.

    Após me lavar da melhor forma que pude no riacho cristalino, levantei-me e olhei ao redor. A árvore sob a qual eu aparentemente havia passado a noite inteira fazia parte da guarda avançada de uma densa floresta, para a qual o ribeirão corria. Rastros vagos de uma trilha, bem coberta de grama e musgo, e até com anagális aqui e ali, eram visíveis ao longo da margem direita. Pensei: Esta certamente é a trilha para a Terra das Fadas, que a mulher da noite passada prometeu que eu em breve encontraria. Atravessei o riacho e a acompanhei, mantendo a trilha na margem direita, até que ela me levou, como eu esperava, para dentro da mata. Então a deixei, sem nenhuma razão aparente: e com a vaga sensação de que deveria ter seguido seu curso e tomado uma direção mais para o sul.

    Capítulo 3

    O homem usurpa todo o espaço,

    Ele te encara, na rocha, no mato, no rio, na face.

    Nunca teus olhos contemplaram uma árvore;

    Não é o mar que tu vês no mar,

    É apenas uma humanidade disfarçada.

    Para evitar teu companheiro, teu plano inútil;

    Tudo o que interessa ao homem é o próprio homem.

    Henry Sutton

    As árvores, que eram bastante separadas por onde entrei e davam passagem livre aos raios de sol uniformes, fecharam­-se rapidamente à medida que eu avançava, e logo seus troncos reunidos bloquearam a luz solar, como se fosse uma espessa grade entre mim e o leste. Eu parecia estar avançando em direção a uma segunda meia­-noite. Em meio ao crepúsculo que vinha antes, no entanto, antes que eu entrasse no que parecia ser o ponto mais escuro da floresta, vi uma camponesa sair de sua profundezas e vir até mim. Ela aparentemente não estava me vendo, pois parecia concentrada em um ramalhete de flores silvestres que trazia na mão. Eu quase não conseguia ver seu rosto, pois, embora ela tivesse vindo até mim, nunca levantou os olhos. Mas, quando nos encontramos, em vez de passar, ela virou e andou junto a mim por alguns metros, ainda com a cabeça baixa, e ocupada com suas flores. Porém ela falava rápido, o tempo todo, em um tom baixo, como se falando sozinha, mas evidentemente direcionando o conteúdo de suas palavras a mim.

    Ela parecia temer estar sendo observada por algum inimigo à espreita.

    – Confie no Carvalho – ela disse –, confie no Carvalho, e no Olmo, e na grande Faia. Cuide da Bétula, pois, embora ela seja honesta, é jovem demais para não ser instável. Mas evite o Freixo e o Amieiro; pois o Freixo é um ogro, e você vai reconhecê­-lo por seus dedos grossos; e o Amieiro o sufoca com sua teia de cabelos, se você deixar que se aproxime à noite.

    Tudo isso era dito sem pausa nem mudança de tom. Então ela se virou repentinamente e me deixou, ainda caminhando no mesmo ritmo. Eu não consegui entender o que ela quis dizer, mas me contentei em pensar que haveria tempo suficiente para descobrir quando houvesse necessidade de usar seu aviso, e que a situação o revelaria. Cheguei à conclusão de que, pelas flores que ela carregava, a floresta não poderia ser toda tão densa como a parte em que eu agora caminhava; e eu estava certo. Pois logo cheguei a uma área mais aberta, e aos poucos atravessei uma ampla clareira gramada, na qual havia vários círculos de um verde mais vivo. Mas mesmo aqui eu estava chocado com a total quietude. Nenhum pássaro cantava. Nenhum inseto zumbia. Nenhuma criatura viva passava por mim. Mas de alguma forma todo o ambiente parecia apenas estar dormindo, e mesmo em seu sono tinha um ar de expectativa. Todas as árvores pareciam ter uma expressão de mistério consciente, como se dissessem para si mesmas nós poderíamos, e se fizéssemos. Todas tinham uma aparência expressiva. Então eu lembrei que a noite é o dia das

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