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Apocalipse de Paulo
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E-book85 páginas1 hora

Apocalipse de Paulo

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Sobre este e-book

A partir de uma edição crítica e dos melhores manuscritos latinos do terceiro século, este livro traz a tradução de uma das mais importantes obras do cristianismo medieval: o Apocalipse de Paulo. Pela narração do Apóstolo sobre sua viagem ao além-mundo, à cidade santa e às câmaras infernais, para relatar a recompensa dos justos e os tormentos dos mais diferentes tipos de pecadores, a história nos permite vislumbrar o cristianismo popular de sua época, com suas percepções, sensibilidades e questões morais, sob uma perspectiva que dá ênfase à escatologia individual.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento26 de jan. de 2022
ISBN9786555624359
Apocalipse de Paulo

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    Apocalipse de Paulo - Paulus Editora

    I. Aspectos introdutórios

    É início do século V em Hipona, na província romana da Numídia. O bispo Agostinho já escrevera sua obra De Civitate Dei (A Cidade de Deus), após o saque de Roma por mãos dos visigodos, em 410, e suas preocupações agora estão cada vez mais voltadas para o problema do mal e a questão da morte. Ele está envolvido também em polêmicas com o monge Pelágio, da Bretanha (350-423), a respeito das bases da salvação. É provável que esse quadro explique por que um pequeno texto anônimo, produzido no Egito um século antes, tenha chamado sua atenção a ponto de merecer tal crítica:

    Houve alguns indivíduos vaidosos que, com uma presunção que denuncia a mais grosseira loucura, forjaram uma revelação de Paulo, repleta de todos os tipos de fábulas, que foi rejeitada pela Igreja ortodoxa; afirmando ser aquilo a respeito do qual ele havia dito que fora arrebatado ao terceiro céu, e ouvira palavras indizíveis que não é lícito ao homem pronunciar. Não obstante, a audácia de tal poderia ser tolerável, se ele dissesse que ouviu palavras que ainda não é lícito ao homem pronunciar; mas se ele diz que não é lícito ao homem pronunciar, quem são os que ousam pronunciá-las com tal atrevimento e insucesso?¹

    A tal revelação de Paulo, mencionada pelo bispo africano, é o livro conhecido como Apocalipse de Paulo, ou Visio Pauli. Agostinho dirige toda a força de sua oratória contra esse livro, reputando-o como espúrio e indigno de leitura entre os cristãos. Entretanto, apesar da contundência do bispo, o pequeno texto continuou aparecendo como leitura eventual de outros líderes do cristianismo antigo, em regiões diferentes do Mediterrâneo. A circulação desse apocalipse alcançou uma audiência tão larga durante sua história, que alguns estudiosos chegaram a sugerir que nenhum apocalipse cristão antigo, exceto o Apocalipse canônico, exerceu tão grande influência sobre a literatura e o pensamento medieval.²

    As razões para sua ampla circulação estão no seu foco. Diferente do Apocalipse de João, com símbolos e imagens complexas e frequentemente difíceis de serem compreendidas para não iniciados, o Apocalipse de Paulo é um texto que apresenta um moralismo simples, para não dizer ingênuo, imediatamente acessível a qualquer leitor. Sua preocupação é objetiva: apresentar a vida após a morte como o resultado direto de opções morais durante a vida. Essa preocupação com o destino das almas após a morte não aparece no Apocalipse joanino, mas é o elemento central da narrativa da Visio Pauli.

    1. Data e lugar de origem

    O Apocalipse de Paulo foi escrito originalmente em grego, no Egito, em algum momento do século III,³ o que poderia ser evidenciado por seu conteúdo e sua linguagem, mas também por, aparentemente, já ser conhecido de alguns cristãos egípcios por volta do ano 240.⁴ Algumas das penas do inferno teriam relação com a negação de doutrinas cristãs, tais como a ressurreição de Jesus, o nascimento virginal ou sua filiação divina. Não há alusões a outras controvérsias cristãs típicas do período posterior ao imperador Constantino (272-337), como, por exemplo, a polêmica ariana que culminou na convocação do Concílio de Niceia, em 325, ou o donatismo posterior ao Edito de Milão, de 313.⁵ A maioria dos pecados descritos nas listas de condenações é de natureza moral, como adultério, aborto ou falha na castidade, e a metade deles é alguma transgressão ao tipo de cristianismo idealizado por seu autor, como o monge que desiste do jejum, ou o cristão que promove palavras indevidas após participar da Eucaristia.

    Orígenes de Alexandria (185-254), em sua Homilia sobre Salmos (XII, 233), faz uma descrição do destino das almas após a morte que parece ser uma alusão ao Apocalipse de Paulo. Dionísio de Alexandria (morreu em 265), também no Egito, e Epifânio de Salamina (310-403), na ilha de Chipre, igualmente parecem ter conhecido o livro. Isso reforçaria a metade do século III como o período de produção.

    Após surgir entre os cristãos egípcios, a história do Apocalipse ganha um novo capítulo na Ásia Menor, onde um copista anônimo construiu um prefácio para abrir a parte propriamente revelatória. Enquanto o Apocalipse em si é uma descrição do que Paulo teria visto durante sua experiência visionária aludida em 2 Coríntios 12, o prefácio constrói uma narrativa ficcional a respeito da descoberta do texto. O propósito parece ser aumentar a legitimidade e autoridade do Apocalipse. Para Bremmer,⁶ a estratégia de autenticar um documento por meio da narrativa do descobrimento de um texto perdido era bem conhecida na Antiguidade, sendo um elemento comum a textos pseudônimos.

    Segundo esse prefácio asiático, ninguém ouvira falar do Apocalipse anteriormente porque ele esteve escondido na fundação de uma casa em que o apóstolo Paulo se hospedara por um tempo, na cidade de Társis, até que um anjo revelou ao proprietário, por meio de um sonho, a existência de uma caixa enterrada sob o local. O prefácio informa ainda que a descoberta se deu no tempo do consulado de Teodósio Augusto, o Menor, e Cinégio. A narrativa ficcional, em seguida, destaca que a caixa foi enviada para o imperador, que ordenou sua abertura, só então encontrando a revelação oculta de Paulo.

    Como a data da morte de Cinégio pode ser apontada com relativa precisão para o ano de 388, é possível indicar que esse prefácio surgiu no final do século IV ou no início do V. Alguns estudiosos chegam a precisar o ano 420 como o ano de sua produção.⁷ É provável, de qualquer forma, que a menção desse cônsul para situar a descoberta não seja arbitrária, já que ele era conhecido pelo seu fervor cristão na destruição de santuários pagãos da Síria e do Egito, e pela relação fraterna com os monges e ascetas do Egito.⁸ O autor pode tê-lo mencionado como forma de homenagem a uma pessoa amiga de seus princípios e ideais.

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