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Em busca da subjetividade transcendental
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E-book251 páginas3 horas

Em busca da subjetividade transcendental

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Sobre este e-book

Este livro, Em busca da subjetividade transcendental, de Margareth Carvalho, aborda o entendimento da subjetividade em variados campos de saberes, que vêm da Filosofia, da História, da Ciência, da Literatura, do Cinema, da Poesia, da Pintura, numa busca de pensadores originais para o campo da Psicologia.

Este livro, inspirado nas obras de Baruch Spinoza, Gilles Deleuze, Félix Guattari, Claudio Ulpiano, entre outros, quebra a rigidez das teorias clássicas da Psicologia, e refaz suas linhas de sustentação, liberando novas trajetórias para o entendimento do mundo interno do ser humano em suas experimentações na vida.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento25 de abr. de 2022
ISBN9786525238517
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    Em busca da subjetividade transcendental - Margareth Carvalho

    EM BUSCA DAS IDEIAS

    Como a linguagem se tornou o instrumento mais eficaz para a construção da subjetividade humana? Como a formação de uma linguagem clássica construiu a gênese da subjetividade moderna?

    O que gostaríamos de entender é porque a linguagem de uma lógica abstrata clássica teve esse poder incrível de formar uma subjetividade moderna. Esta análise da linguagem se dá através da cultura do humano ocidental, e não existe outra maneira de se aproximar dos mecanismos da linguagem a não ser através dos pontos relevantes que levaram esta linguagem a ter esta potência para a formação da subjetividade. O nome desse estudo é uma palavra, denominada filosofia, por isso tento recortar na história da filosofia ocidental os pontos relevantes que tornaram a linguagem do homem e da mulher uma potência formadora da subjetividade; e, dentro desse estudo de pontos relevantes, a questão neste trabalho é de expor uma lógica da linguagem que se tornou maior devido a uma lógica abstrata que é o fundamento dela.

    A ferramenta que pretendo usar é a lógica filosófica como instrumento, como veículo para reverter o conceito socrático, platônico, aristotélico, kantiano, pois estes foram pensadores geniais que geraram o conceito e a lei como valores transcendentes que governam a subjetividade.

    Iremos, a partir do conceito socrático, tomar o fio da meada da constituição da subjetividade. A princípio iremos expor a natureza da lógica abstrata e confrontar esta com uma lógica menor, concreta, que a maioria dos sujeitos humanos não pensam, porque foram estruturados dentro de uma lógica maior.

    Sócrates gerou a base da filosofia quando descobriu o conceito. Dar o conceito significa dar a razão, explicar, dar a definição. Sócrates foi buscar na geometria grega formas estáticas, definidas - e isso é a estrutura lógica para a minha formação de conceito. Sócrates quer reduzir a multiplicidade de condutas e ações humanas a um certo número de formas particulares, a um certo número de virtudes, tais como a justiça, a temperança, a coragem. Ao fazer isso, ele aplica a intuição intelectual para chegar aos conceitos de: O que é a justiça? O que é a temperança? Dizer o que é algo significa dar a razão desse algo, dessa coisa, dar o logos - é desta palavra logos que vem a lógica e tudo o que a ela se relaciona. Antes de Sócrates, logos significava palavra e, com ele, logos passa a ser dar a razão de algo. Logos é o que hoje chamamos de conceito, e, quando Sócrates pede que indiquem qual é o logos da coragem e da justiça, o que ele pede é o conceito. A questão da filosofia é chegar a dar conceitos puros e perfeitos das condutas, para que a virtude possa ser aprendida pelos humanos tal como eles aprendem geometria.

    Sócrates viu que os seres humanos estavam desconectados do pensamento, e não sabiam o que era o bem nem o que era o mal. A intenção de Sócrates é organizar a vida por meio do conceito moral, dar o logos, dar a razão de alguma coisa. O logos geométrico seria a condição de possibilidade para o Bem, por meio da lei moral. A lei moral seria o acordo entre os humanos e esse acordo seria um contrato regido por conceitos oriundos do logos e da moral. Nasce o conceito.

    Por isso neste trabalho associaremos o nascimento do conceito ao nascimento de uma lógica abstrata, porque ela está totalmente fundamentada em formas espaciais estáticas que se baseiam no fato de que a razão funciona para ordenar a ignorância. A ideia de conceito em Sócrates é um conceito de uma clínica. Gilles Deleuze usa a crítica e a clínica como conceitos, mas, à diferença de Sócrates, Deleuze utiliza uma lógica menor para reverter o conceito socrático.

    Uma vez exposta essa lógica abstrata, o problema será como reverter esta lógica maior (mecanicista, portanto abstrata) para uma lógica menor (vitalista, portanto concreta). Através da linguagem menor iremos pensar um outro tipo de subjetividade. Com isso, a subjetividade deixará de ser inexpressiva para se tornar expressiva, deixará de ser extensiva para ser intensiva, deixará de ser funcional para ser complexa. Por isso a preocupação com o estudo filosófico ao longo deste trabalho, pois é através da filosofia que iremos liberar os mecanismos da linguagem abstrata e compreendê-la. Embora sendo uma lógica de grandes gênios, pode-se dizer, até mesmo sem desqualificá-los, que eles seriam os artesãos de uma subjetividade moderna abstrata desconectada dos sistemas que se caracterizam dinâmicos, e que são a base de todo o processo micromolecular que gerou a vida na Terra e os instintos primários do ser vivo.

    Os textos filosóficos aqui trabalhados são apenas uma síntese filosófica, totalmente voltada para a criação de uma lógica menor, uma lógica que não pretende formatar o senso comum, pois cada um tem sua própria lógica. A lógica maior aristotélica pretende formatar o senso comum para que as pessoas se comuniquem, é uma lógica para governar o caos. Estes textos foram montados para servirem de alicerce para sustentar e para se entender a lógica menor da ideia intensiva, que é o que se pretende alcançar ao longo desta pesquisa.

    A primeira parte deste texto tem como objetivo pensar os processos de uma imagem clássica e dogmática de pensamento cujas origens, a meu ver, se encontram na orientação de pensamento de Platão, Aristóteles, Kant e Freud. Foram grandes pensadores. Talvez com um único sonho: encontrar o Bem, a Verdade, a Lei, o Conceito.

    Tentaremos analisar por que a lógica platônica do modelo-cópia se adequou tão brilhantemente na edipianização do homem moderno. Como se deu esse processo? Como se deu essa sedução de se pensar o desejo na história da humanidade? Quais os processos que serviram de condição de possibilidade para esta transição do pensamento platônico para a vida cotidiana moderna? Quando foi que esse pensamento voltou com tanta força? Não seria a igreja católica o marketing da filosofia platônica? E a literatura moderna não seria também uma continuidade da filosofia platônica formando a subjetividade moderna, tal como a literatura de Shakespeare e de Balzac?

    Como foi que essa lógica baseada neste conceito socrático cresceu, através de Platão e de Aristóteles, criando uma estrutura a ponto de chegar a Shakespeare e Balzac com uma força tão intensa, que gerou a possibilidade da criação da formatação da mente moderna ocidental? O Homo sapiens moderno ocidental nasceu quando esse conceito socrático se infiltrou e se apoderou das sensações através de uma linguística elaborada por Shakespeare e Balzac, que seriam os grandes escritores dos sentimentos e condutas humanas.

    Quando Kant apareceu, esse humano moderno ocidental, que começou a ser educado dentro de um conceito socrático, filosófico, linguístico e shakespeariano, estava pronto para aceitar o aparecimento de uma lei pura que lhe desse autonomia para criar o seu próprio estado, estado do núcleo familiar - a família como núcleo privado constituída no conceito abstrato e na lei kantiana, forma pura, sem conteúdo. Vontade autogovernável ou autônoma, porque a vontade se submete à forma pura da lei da razão como condição de possibilidade para a liberdade moral.

    Sócrates quer o conceito, ou seja, dar a razão, dar a definição. Gilles Deleuze quer o conceito para destruir o conceito socrático e inventar o conceito não socrático, que é o conceito informal, pois para ele o conceito não é formal, nasce e morre a cada instante.

    Repito que o conceito da filosofia é o conceito socrático enquadrado em uma estrutura espaço-temporal, uma moral adicionada à geometria grega baseada nas formas geométricas estáticas. Foi justamente nisso que Kant se baseou para construir sua filosofia moral, ou seja, a moral se aliou às formas da geometria estática, e uma vez que as formas geométricas e estáticas são calculáveis e previsíveis, a moral se torna uma repetição, daí a lei, que é a repetição das formas previsíveis, como queremos demonstrar neste trabalho. Por isso o humano moderno ficou tão fascinado pela lei, porque o ser que vive no conceito socrático-kantiano se torna capaz de organizar a sua vida, pois ele é dono de sua própria lei, a lei a priori da razão.

    Por outro lado, as obras de Gilles Deleuze e Félix Guattari nos revelarão pensadores da filosofia, ciência e arte que rompem com esse modelo dogmático de pensamento, trazendo outras possibilidades de viver e de pensar. É uma nova ética, é uma nova estética. São processos de individuação que escapam da lei, da culpa, da interioridade, da Verdade e do Bem para expressarem outros mundos possíveis. Essa é a busca da subjetividade transcendental, a busca de um eu dinâmico, criador, livre, impessoal, contrário à busca da subjetividade psicológica regida pela imagem dogmática, cujo eu é estático, narcisista, culpado.

    O que queremos ressaltar nesta obra é que o transcendental, o tempo puro, seria a condição de possibilidade do físico e do psicológico. Deleuze separa o transcendental das formas da consciência e cita em sua obra pensadores do transcendental, pensadores do tempo puro, pensadores que rompem com a imagem dogmática do pensamento, trazendo outras imagens do que seria pensar.

    Mas o que é o transcendental? O transcendental é uma realidade não existente, mas não é uma figura da imaginação. Ele estaria na base do físico e do psicológico; ele não teria forma nem estrutura, seria disforme, inexistencial. O objeto da filosofia transcendental dos estoicos, por exemplo, é o não-ser, o extra-ser. O ser pertenceria ao físico e ao psicológico, tem existência, mas o transcendental não tem existência, mas insistência; seria uma realidade virtual e esta é a gênese do físico e do psicológico. Nos estoicos o transcendental é identificado como superfície metafísica. Ir ao interior do transcendental é entrar no paradoxo, no caos, no vazio, na não existência. O círculo quadrado não tem existência, mas tem duas propriedades: circular e quadrado. Ele não existe, mas tem propriedades. Todos os seres têm propriedades, não há indivíduos, nada é formalizado dentro dele.

    Os elementos que habitam o transcendental são as singularidades selvagens e nômades, pequenos diferenciais, eus larvares, que constituem a gênese dos indivíduos físicos e dos sujeitos. O transcendental em si é a-subjetivo. Na filosofia dos estoicos o ser é metade indivíduo, metade transcendental.

    Que é um campo transcendental? Ele se distingue da experiência, na medida em que não se remete a um objeto nem pertence a um sujeito (representação empírica). Ele se apresenta também como pura corrente de consciência a-subjetiva, consciência pré-reflexiva impessoal, duração qualitativa da consciência sem mim. Pode parecer curioso que o transcendental se defina por tais dados imediatos: em oposição a tudo isto que faz o mundo do sujeito e do objeto, falar-se-á de um empirismo transcendental. Há algo de selvagem e potente num tal empirismo transcendental (DELEUZE, A Imanência: uma vida, 1995, p.160).

    Deleuze concebe o transcendental como condição de possibilidade do físico e do psicológico, um princípio genético, não simples princípio de reflexão como em Kant. O transcendental kantiano é interiorizado no sujeito, paira na interioridade. Deleuze exterioriza o transcendental graças à ideia de exterioridade das relações. É no encontro que o transcendental se arma, ele fervilha entre. Quando se abre o mundo pululante das singularidades anônimas e nômades, impessoais, pré-individuais, pisamos, afinal, o campo do transcendental.²

    Não interessa a Deleuze pensar o indivíduo como pronto e acabado, mas sim pensar a gênese do indivíduo, isto é, por um lado o campo das singularidades pré-individuais, e por outro, os processos de individuação. Gilles Deleuze parece excluir do transcendental kantiano as formas da consciência, o que coincide com as ideias de Gilbert Simondon.

    A imanência não se remete a Alguma coisa como unidade superior a todas as coisas nem a um sujeito como ato que opera a síntese das coisas: é quando a imanência é imanência apenas a si que se pode falar de um plano de imanência. Assim como o campo transcendental não se define pela consciência, o plano de imanência não se define por um Sujeito nem por um objeto capaz de o conter. Dir-se-á que a pura imanência é UMA VIDA, nada mais {...}Uma vida é a imanência da imanência, a imanência absoluta: ela é potência e beatitude completas. Na medida em que ultrapassa as aporias do sujeito e do objeto. (DELEUZE, A Imanência: uma vida, 1995, p.161)

    Gilbert Simondon apresenta em seu livro L’individu et sa genèse physico-biologique uma teoria muito singular do processo de individuação. Ele nos mostra que tradicionalmente a filosofia pressupõe indivíduos já formados, já constituídos, seja numa visão atomista, seja no modelo hilemórfico de Aristóteles, que concebe uma forma moldando a matéria. Para Simondon, a gênese do indivíduo pressupõe um ser pré-individual, que seriam as singularidades se atualizando no indivíduo. A condição prévia da individuação seria a existência de um sistema metaestável (nem equilíbrio de sistema, nem desequilíbrio buscando estabilidade), provido de singularidades pré-individuais, isto é, quantidades intensivas heterogêneas. A gênese do indivíduo pressupõe um sistema de atualização de energia potencial. Este sistema é individuante na medida em que se realiza uma ressonância interna da matéria em vias de tomar forma, considerando-se que em tal sistema ainda não há forma definida, pois é ele, no seu devir e dinamismo, que vai atualizar novas formas. O ser pré-individual é o ser sem fases, enquanto o ser posterior à individuação é o ser fasado. O devir do ser acompanha o processo de individuação. E o que vemos é uma individuação pela intensidade, ou seja, um campo problemático e intensivo no processo de individuação. A ideia é que o pré-individual está associado ao indivíduo como fonte de estados metaestáveis futuros. O ser jamais é UM, pois nele coexiste um sistema metaestável de singularidades que o tornam mais que uma unidade, que seria a característica do ser individuado e idêntico a si próprio. Os antigos só conheciam a estabilidade e a instabilidade, mas não conheciam a metaestabilidade; aqui, pensa-se a energia potencial de um sistema. E a individuação seria a resolução de um sistema metaestável. O ser vivo resolve problemas não só se adaptando às circunstâncias, modificando o meio, mas modificando a si próprio, inventando novas problematizações e novas resoluções. É essa natureza pré-individual, associada ao indivíduo, que permitirá novas individuações, pois o devir é uma dimensão do vivo, e por isso é uma individuação metaestável permanente.

    Para Claudio Ulpiano (2013, p.217), Um novo sujeito: singularidades nômades que, na exposição de Simondon, não deriva da experiência, pelo contrário, dá condições para o individual, o vivo; e para a personalidade no mundo social.³

    Para Gilles Deleuze, o transcendental está fora da consciência, sendo, portanto, sinônimo de inconsciente. Tanto para Deleuze como para Simondon, o inconsciente não é psicológico.

    Freud valoriza a subjetividade psicológica, o consciente; o vivido e o inconsciente, o porão dessa estrutura psicológica. Ele divide a estrutura da personalidade em id, ego e superego, e para ele o indivíduo, na origem da vida, é constituído pelo id, que seria a estrutura da personalidade básica, exposta tanto às necessidades somáticas do corpo como aos efeitos do ego e do superego. O id é o reservatório de energia de toda a personalidade; ele próprio, entretanto, é caótico, amorfo, e antes do contato com o real ele é essencialmente inconsciente, indo às cegas para onde seus impulsos e instintos o levam. Sob a ação do mundo real, uma parte do id se transforma em ego e este, diferente do id, implica consciência, subordina o princípio do prazer (id) ao princípio do real, controlando os instintos e as pulsões, que, ao serem rejeitados pelo ego, tornam uma parte do id recalcada. O superego se desenvolve a partir do ego e atua como juiz sobre as atividades do ego. É o depósito dos códigos morais, a agência psíquica da lei.

    Se o inconsciente é, por natureza, egoísta, ou seja, se ele vai às cegas na busca do prazer, dessa maneira ele nunca poderá conviver com ninguém, porque ele quer tudo para si, e, sendo egoísta, ele não socializa. Como o indivíduo precisa se socializar, é necessário que ele recalque o egoísmo, recalque os instintos. Para Freud, inconsciente quer dizer o mesmo que recalcado. O inconsciente é uma entidade psicológica porque o egoísmo é psicológico. Com Deleuze veremos que o inconsciente não é psicológico, portanto, não é egoísta. O inconsciente é maquínico, criativo, inventivo, transcendental, ou melhor, é condição de possibilidade para o

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