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Balzac para sociólogos: utopia e disposições sociais no século xix
Balzac para sociólogos: utopia e disposições sociais no século xix
Balzac para sociólogos: utopia e disposições sociais no século xix
E-book192 páginas2 horas

Balzac para sociólogos: utopia e disposições sociais no século xix

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Sobre este e-book

Honoré de Balzac é considerado o criador do realismo literário. Esteve mergulhado no palco em que brotaram as sementes do que viria a ser o conceito de sociedade formulado pela nova ciência Sociologia. Contribuiu, a seu modo, para a elaboração escrita das novas ideias organizadoras do caos social que emergira da Revolução Francesa, a qual ocorrera apenas dez anos antes do seu nascimento. Por ser escritor de ficção, Balzac não entrou na lista dos pensadores do social. No entanto, alguns dos mais importantes sociólogos eram aficionados da sua literatura, como Marx, que afirmava ter aprendido muito mais sobre a burguesia lendo Balzac do que em qualquer obra científica.

Partindo da premissa de que o realismo literário preparou o senso comum para a chegada das Ciências Sociais e da Sociologia, realizou-se uma análise da trajetória disposicional, conforme as teorias disposicionalistas de Pierre Bourdieu, Norbert Elias e à escala individual de Bernard Lahire, visando inicialmente a acrescentar dados subjetivos ao conhecimento do contexto do surgimento da Sociologia. No entanto, no decorrer da investigação, os dados acabaram lançando luz sobre uma dimensão insuspeitada do objeto: revelaram a importância de um tipo específico de disposição: a parapsíquica, também conhecida como paranormalidade, fazendo parte das disposições componentes da imaginação sociológica de Balzac.

O leitor encontrará aqui a síntese de reflexões sociológicas a partir de uma imersão em A Comédia Humana, em mais de 30 biografias de Balzac e na epistolografia do autor. Além disso, terá acesso a informações e pesquisas pertinentes ao tema, de especialistas em parapsiquismo científico.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de jan. de 2017
ISBN9788547303983
Balzac para sociólogos: utopia e disposições sociais no século xix

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    Balzac para sociólogos - Lília Junqueira

    Editora Appris Ltda.

    1ª Edição – Copyright© 2017 dos autores

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

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    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS

    Para Zéfiro.

    Agradecimentos

    A apresentação desta obra ao público leitor é um momento de grande comemoração íntima desta autora. Desejo agradecer a todos aqueles que ajudaram no trabalho, mesmo que não constem nesta lista. Agradeço a Mary Anne Junqueira, que possibilitou o levantamento bibliográfico na Universidade de São Paulo. Aos alunos da Universidade Federal da Paraíba que participaram das reuniões da pesquisa: Vanessa Lima, Natanael Alencar, Edmilson Silva Júnior e Sandro Alves de França. À consciencióloga Málu Balona pela consultoria para assuntos relacionados à Projeciologia e Conscienciologia, pela leitura cuidadosa e revisão do texto, e a todos os voluntários do Ceaec: Centro de Altos Estudos de Conscienciologia. Agradeço também ao meu esposo Edson e à minha filha Clarisse, pelo apoio indispensável.

    A autora

    João Pessoa, 17 de agosto de 2016

    Prefácio

    O senso comum atribui à literatura conotação de pura ficção e ao parapsiquismo sentimentos de extrema estranheza, desconfiança e curiosidade vazia, não raro derivando para a exploração de seus detentores mediante um sensacionalismo perverso ou simplesmente condenando-os ao rechaço social. Na compreensão da maioria das pessoas, se a literatura ocupa o patamar positivo de invenção de seu criador, o parapsiquismo figura, ainda hoje, como invencionice de uma criatura com capacidade racional no mínimo duvidosa. O parapsiquismo persiste associado, apesar de importantes contribuições de ciências como a Parapsicologia, a crendices ou esoterismos, carregando o peso do negativismo atribuído. É aqui que reside, a meu ver, o valor do corajoso trabalho de Lília Junqueira.

    Ao escrutinar vida e obra de um dos grandes nomes da literatura universal, Lília não somente apresenta ao mundo um outro Balzac, mas também propõe um novo olhar sobre o processo de produção artística, particularmente literária. E vai além. Retira o parapsiquismo do obscurantismo, evidencia os aspectos positivos que essa disposição pode significar na vida dos indivíduos, com inegáveis ganhos sociais, e ainda revela seu possível e concreto casamento com o saber científico, consubstanciando-se em novo paradigma na contemporaneidade: a Projeciologia e a Conscienciologia.

    Trata-se de um trabalho de fôlego, inovador e ousado. De fôlego, pelo mergulho profundo em densa literatura. Inovador, por provocar guinada no olhar de seus interlocutores em 180 graus ou mais. Ousado, por encarar trilhar campo minado. Lília não se furta em pautar para o debate público temas evitados pelas ciências em geral e pela Sociologia em particular, campo de ação da autora. Seu intento é alcançado com o desenvolvimento de consistente Sociologia do Conhecimento.

    Na trajetória traçada, um dos principais contributos é o realce da crítica à dicotomia indivíduo X sociedade. Ao descortinar a utopia social de Balzac, não reconhecida pela maioria dos biógrafos e estudiosos por ter sido fundamentada na ordem da transcendência e não na ordem material, econômica ou política, lança luz sobre a importância do conhecimento da verdadeira natureza humana. Ao fazer isso, desvenda a natureza de Balzac, mas também dos indivíduos e da própria sociedade.

    Existem indivíduos com disposições, inatas e adquiridas, que os colocam na média de um significativo número de pessoas. Mas também existem aqueles com disposições que podem ser compreendidas como acima da média, quer sejam esses indivíduos reconhecidos e legitimados pelo corpo social ou não. Por outro lado, é a sociedade originária e resultante da ação do conjunto desses sujeitos com todas as suas disposições menos, mais ou superdotadas. Não o oposto, como as Ciências Sociais e Humanas, há séculos, empenham-se em fazer crer. Ou seja, são os indivíduos que determinam a sociedade, não o contrário.

    Em sua utopia social, Balzac defende a verdade de que o homem tem direito ao Cosmos, potencialidade que a humanidade subtraiu de sua realidade cotidiana pelo surgimento, desenvolvimento e consolidação das ideias materialistas/capitalistas, processo que Honoré testemunhou em seu nascedouro, na Europa da passagem do século XVIII para o XIX. Ao fazer a denúncia realista da corrupção moral de sua época, o literato experienciava e registrava para a posteridade em seus romances, a parte de crítica, de desconstrução dentro de um movimento cronológico mais amplo, de uma dialética, nos termos sociológicos expostos por Walter Benjamim e Miguel Abensour.

    Grosso modo, dialética constitui um pensamento crítico reflexivo sobre uma tese à qual é confrontada uma antítese decorrente da problematização subjacente ao processo analítico com vistas ao alcance de uma síntese. A utopia social de Balzac pressupunha, portanto, o

    processo pelo qual a sociedade analisa a si mesma, faz um levantamento sincero do que é, separando aquilo que quer, daquilo que não quer ser no atual ponto em que chegou, para avaliar e decidir, de fato, o que é, para todos, agora, um futuro melhor.

    Essa dialética é, enfim, a utopia em construção, em pleno devir, no curso de concretização das ideias novas no plano do mundo material.

    Nada mais atual no século XXI que a utopia de Balzac em sua destinação do Cosmos à humanidade. Não preciso me delongar na abundância de exemplos diários que atestam a falência das premissas materialistas/capitalistas e o clamor dos indivíduos por uma outra ordem social que confira atinente sentido às suas existências. Também não preciso dizer que não me refiro, e muito menos Balzac, à conquista do Cosmos pela humanidade em excursões colonizadoras interplanetárias ou, quiçá, intergalácticas. Refiro-me ao conhece-te a ti mesmo, de Sócrates, e ao conhecereis a verdade, a verdade de tua natureza. Refiro-me ao inalienável direito humano à liberdade, que aqui Lília Junqueira exerce. E eu endosso.

    Raldianny Pereira

    Professora do Departamento de Comunicação Social da UFPE

    Doutora em Sociologia pelo PPGS/UFPE

    Apresentação

    Honoré de Balzac foi um dos mais importantes escritores conhecidos, criador do realismo literário. Sua obra magna: A Comédia Humana, é estudada ainda hoje nas áreas da literatura e da língua portuguesa. Estudiosos de outras áreas científicas pesquisaram seus escritos, encontrando ideias, fatos pesquisados pelo autor, descrições densas da realidade, que trazem inúmeras e ricas informações sobre a modernidade, as quais podem ser exploradas pelo campo científico. A Sociologia francesa se apropriou de muitas destas informações para expandir-se e consolidar-se como ciência.

    A vida do autor foi também bastante estudada no meio científico, e ainda o é, até os dias de hoje. Há uma pluralidade de biografias do autor escritas por pesquisadores dos mais diversos países e áreas científicas, que consideram a trajetória de vida do autor tão importante para a modernidade quanto a obra escrita.

    O presente livro apresenta traços desta discussão, pouco conhecida no âmbito da Sociologia nacional, por meio de um estudo sociobiográfico apoiado na teoria das disposições sociais. As disposições sociais são inclinações, tendências que aparecem nas práticas sociais dos indivíduos vivendo em sociedade, e nos falam muito sobre a forma como esta sociedade se organiza e organiza seus membros num todo hierarquizado.

    Estudando as disposições sociais de Balzac, foi possível para esta autora entender melhor o momento histórico de transformação social profunda no qual ele viveu. Mas também a levou a repensar a sociedade moderna por meio de parâmetros ignorados pela nascente Sociologia, os quais também foram quase ignorados pela Sociologia contemporânea. A modernidade se iniciou eivada de transcendentalidade, desenvolvida por indivíduos com disposições parapsíquicas. O parapsiquismo é uma predisposição para acessar dimensões além do mundo material conhecido. Balzac tinha imaginação sociológica e era parapsíquico. Como ele resolveu esta difícil equação identitária? Produzindo ideias pertinentes a uma utopia social que viria a se realizar no futuro.

    Sumário

    INTRODUÇÃO 

    I LITERATURA, CIÊNCIAS SOCIAIS E METAFÍSICA NO SÉCULO XIX 

    1. Paris e a modernidade 

    Kant, a escrita e a esfera pública 

    2. O campo dos escritores 

    Mudanças no mundo da literatura 

    Balzac representante da geração de 1830 

    Literatura e Ciências Sociais 

    Literatura e Ciências Sociais 

    3. Metafísica social 

    Magnetismo animal 

    II RETRATO SOCIOLÓGICO DE HONORÉ DE BALZAC 

    1. Os pais 

    2. Inícios da escrita (1799-1814) 

    3. Disposições, competências e atributos internalizados na adolescência 

    4. Profissionalização (1815-1828) 

    5. Disposições, competências e atributos internalizados na juventude 

    6. Refinamento da escrita (1829-1837) 

    7. Disposições adquiridas na vida adulta e profissional 

    8. Maturidade (1838-1850) 

    9. Disposições desenvolvidas na maturidade 

    10. Análise disposicional 

    III IMAGINAÇÃO SOCIOLÓGICA E UTOPIA PARASSOCIAL 

    1. Imaginação Sociológica em A Comédia Humana 

    Senso de hierarquia 

    O Social incorporado e objetivado 

    Articulação entre micro e macro elementos 

    Ethos 

    Senso das disposições e competências sociais 

    Parapsiquismo e disposições de superdotação 

    Escrita caleidoscópica 

    Teoria da Vontade 

    Percepção social extrafísica 

    Pensamento Utópico 

    2. Utopia social 

    Pensar sociedades futuras 

    Utopia na dimensão material 

    Utopia na dimensão simbólica 

    Literatura e saberes do social 

    IV UTOPIA PARASSOCIAL REALIZADA 

    1. Outsider positivo consciente: a condição social dos parapsíquicos científicos 

    2. Projeciologia e Conscienciologia 

    3. Espaço social e autonomia 

    V CONCLUSÃO 

     REFERÊNCIAS 

    Introdução

    I

    A Sociologia surgiu enquanto necessidade de reorganização social e científica, pela aplicação prática das novas concepções iluministas do mundo na Europa, em um contexto sócio-histórico pós-revolucionário.

    Se analisado do ponto de vista das teorias das disposições sociais, esse fato, ainda hoje visto como desvantagem para a constituição do pensamento social como ciência, pode ser pensado de forma diferente, como vantajoso para a Sociologia, na medida em que indica a existência de muito mais elementos, presentes em outros campos do conhecimento além das Ciências Sociais, passíveis de serem investigados para uma compreensão mais ampla e profunda do surgimento dessa ciência. Esse posicionamento vem do fato de termos hoje as teorias sociológicas disposicionalistas, que construíram ao longo dos anos os instrumentos necessários para estudar tais momentos onde os acontecimentos e contextos não se encontravam ainda classificados e organizados em alto grau, na forma que o Ocidente estruturou paulatinamente as ciências desde a modernidade. O estudo das trajetórias individuais baseado em investigações históricas, de memórias e de biografias (Halbwachs, Elias, Durkheim, Bourdieu, Lahire) desenvolveu-se bastante nesses estudos, de forma a atingir hoje uma empregabilidade metodológica otimizada. Até meados do século XX ainda não tínhamos essa possibilidade, posto que o disposicionalismo ainda não estava ainda desenvolvido.

    Efetivamente, o disposicionalismo, auxiliado pela história, permite voltar à visão de mundo pré-sociológica dos séculos XVIII e XIX, recolocando em evidência o indivíduo, e mais ainda, os primeiros pensadores no centro da investigação sociológica. A Sociologia, em seu início relegava o indivíduo a segundo plano. Assim como as demais ciências humanas abandonaram o estudo do indivíduo no início do período moderno¹, substituindo pelo foco nos grupos, instituições e sociedades-nação, também a Sociologia teve a mesma necessidade. Essa perspectiva

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