Homem x Mulher: Pressão e desequilíbrio social
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Homem x Mulher - Marilda Vasconcelos de Oliveira
Nota inicial
Este trabalho se baseia em pesquisas, hipóteses comprovadas e reflexões coerentes de autores respeitáveis. Todo o conteúdo explorado pertence ao século passado, o que ajuda a evidenciar a grande dificuldade na evolução de conceitos, criações e descobertas, sobretudo aqueles relativos ao enfrentamento dos dois sexos. Dessa lenta evolução, temos inúmeros exemplos, próximos e distantes do tempo atual.
Do século passado, e bem perto de nós, fica em relevo, a cada dia mais forte, a extraordinária previsão de Marshall McLuhan, que se divide em duas Intuições luminosas: O mundo é hoje uma aldeia global
e O meio é a mensagem
.
O sábio mestre mostrava, como exemplo, a lâmpada, meio para a revelação de um ambiente escuro e desconhecido. Se acesa, ela forneceria toda a informação necessária. No entanto seus conceitos e intuição foram revidados por muitos. Hoje, o telefone celular como meio, ao mesmo tempo, mostra o mundo como aldeia global e é o extraordinário agente das mensagens. Quatro décadas depois de sua morte, não obstante a imensa possibilidade de comunicação a que chegamos, tecnicamente enriquecida para todos nós, caminhamos numa contínua distância social. Nem sempre criações, conceitos e descobertas se expandem rapidamente. Há uma distância entre os humanos, da qual os cinco continentes são vitimados. O desejo de ter e poder, sem considerar o outro, faz parte da natureza humana ou é fruto da cultura? Agimos como se o impulso pelo comando estivesse embrionário nas primeiras gotículas de coacervado. Muitos milhares de séculos do Homem sobre a Terra, e ainda não conseguimos ver o outro como igual. Dividimos, particularmente, homem e mulher, em categorias diversas.
Acentuamos diferenças, criamos mitos, somos por eles retorcidos, alienados, seus amigos ou inimigos, mas neles nos apoiamos e deles, dificilmente, nos libertamos. De transformação lenta, sobretudo quando relativa aos papéis sexuais, são eles convicções sociais nascidas e fixadas em cada grupo. Assim, através do tempo, adquirem nova modalidade sem perder a essência.
A partir dos anos 70, e mais fortemente nos anos 90 do século XX, concretizam-se em novos matizes, nem sempre éticos ou morais, posturas e atitudes inusitadas, nas quais há mais conteúdo revolucionário do que sentido de evolução. Quando Paulo de Tarso disse, há dois mil anos, Somos todos irmãos
, houve grande revolta, e ainda estamos longe de acolher o outro como igual.
Vários testemunhos aqui registrados, colhidos de autores do século passado, sobretudo a partir dos anos 60, com ênfase nos anos 90, levam-nos a crer na força de uma levedura
já em processo há mais de um século; porém, quando se trata de papéis masculinos e femininos, não só a renovação é lenta, como os modelos existentes são enraizados. As constantes e variantes do comportamento programado para os dois sexos e a força cultural criada para comandá-lo são o principal objeto desta reflexão.
Tarefa exigente para estudiosos do problema, porque, até hoje, nenhum gênio foi ou seria capaz de revelar os limites entre natureza e cultura. Não podemos distinguir em nós mesmos nem na criação, material ou abstrata, traços e tendências que pertençam exclusivamente à natureza, se até a genética humana foi alterada por usos e costumes dos nossos antepassados. O ambiente onde vivemos e somos socializados é fruto da conjuntura de códigos, símbolos, normas e valores criados e definidos pelo Homem. A força nascida dessa mistura nos modela e orienta, regulando nossos passos e nossa concepção. Aí vivemos como peixes n’água. Para nós, as exigências do grupo ao qual pertencemos fluem como leis da natureza. Nunca pensamos nessa pressão abrangente que determina nossa maneira de ser e de conhecer. O efeito dos modelos sobre nós, tanto ideológicos quanto comportamentais, e a expectativa do grupo, determinam nosso pensamento, comportamento, gosto e decisões. Bebemos e respiramos a cultura sem a menor consciência de que ela é uma realidade construída e pode ser transformada por nós, não obstante a atenção devida aos valores perenes e reverenciáveis encontrados em todas as organizações sociais. Imitamos, recriamos, muito raramente criamos e, ainda assim, sobre o mesmo lastro, usando traços e complexos do contexto cultural existente em torno de nós. Somente à medida que nos conscientizamos, tentamos exercitar a nossa individualidade e redefinir o espaço onde vivemos.
Mas essa atitude, para resultar em renovação e crescimento, exige de nós a consciência da necessária coesão social e de sua função para manter o equilíbrio das estruturas socioculturais. Cada indivíduo ou grupo que se proponha a mudar ou renovar traços integrados nesse complexo, deverá ter presente a tessitura que envolve e articula toda a sociedade visada e o cuidado para não ferir os grandes valores que amparam a humanidade. Mesmo aqueles que não admitem a imortalidade espiritual do ser humano sabem de uma força que o anima a criar, tanto quanto o revigora até a morte.
A essa força, ao seu lado ético em função do humano, devemos respeito. Daí a dificuldade na evolução das mudanças; e hoje, quanto mais éticas, mais difícil a aceitação de novas perspectivas.
Vamos aqui seguir linhas de estudos histórico-antropológicos, sem esquecer a contribuição da Sociologia e, particularmente, da Psicologia Social. Elegemos hipóteses verificadas em pesquisas de significado reconhecido e textos de autores confiáveis para fundamentar nossa reflexão; esforço dirigido a unir pontos de estudos favoráveis à maior apreensão do problema, isto é: elementos que distanciam os gêneros e os colocam em oposição, dentro do mesmo contexto social. Pretendemos discutir e analisar esse fato, marca de nossa história de vida pessoal e grupal, na tentativa de encontrar causas que expliquem a permanência do fenômeno androcêntrico. Compreender, se possível, os agravantes de um relacionamento tortuoso entre homem e mulher, que poderia, ao contrário, ser a mais prazerosa