This Is America

De Filipe Da Costa Kerber

Uma narrativa bem-humorada sobre viagens. O autor narra em forma de crônica algumas idas e vindas e os percalços que enfrentou ao longo destes roteiros. Bem longe dos tradicionais summer jobs , por universitários brasileiros, no livro são principalmente relatadas as mais diversas experiências do autor nos Estados Unidos, desde o trabalho escravo até o modo como enganou uma companhia aérea para conseguir voltar para casa.

• Idioma: Português
• Editora: Clube de Autores
• Data de lançamento: 25 de set. de 2015

Pré-visualização do livro

Filipe Kerber

Is this America?

4

Rotina de trabalho

19

Enfim, Nova York

24

Caminho do fracasso

35

Vida nova na Califórnia?

42

Hora de dar tchau

56

Outras histórias

61

A Sandy, o cocô e o milho

61

Caminhada santa

68

A Copa do Mundo é nossa

74

Rio 40 graus

79

Adentrando o Peru

82

2

This is America

COMO LER ESTE LIVRO

Se você está lendo esta frase, é

basicamente o suficiente. Bom trabalho, e

continue assim.

(ignore esta parte)

3

Filipe Kerber

IS THIS AMERICA?!

O melhor do intercâmbio, afinal, eram

as conexões aéreas. Ora, nem tudo era

sofrimento e desespero. Porto Alegre – São

Paulo – Rio de Janeiro – Boston – Nova Iorque

- Los Angeles. Nada melhor que lordose, cifose

e escoliose por horas a fio, em uma poltrona

apertada, sem sentir o sangue fluir pelas

pernas, à beira de uma trombose. Sou do time

das oses. Alguns são das ites. Graças a deus

fimose não dá dor nas costas – "Momento:

That’s what she said".

Me lembro bem dos filmes "Sessão da

Tarde" que passavam na tela acoplada à

frente do meu assento (macacos que jogam

Hockey, Freiras que ensinam Gangsters a

cantar e etc.), além dos amendoins banhados

em sal que adquiríamos como almoço. Para

comer, eu os batia contra a bandeja retratável,

assim como se bate a carne recém tirada da

churrasqueira. Se fosse hipertenso certamente

4

This is America

entraria em coma. Eutanásia não seria má

ideia. Talvez melhor do que agüentar as horas,

que não passavam, naquele inferno.

As aeromoças, diferentemente do que

se passa em sonhos e filmes, onde todas são

lindas, francesas, cheirosas (apesar da

contradição

óbvia),

e

com

cabelos

esvoaçantes, pareciam tias obesas e más, que

envenenam sua comida e roubam seus doces

enquanto dorme. Aquela mesmo, que disse

pra você que o homem-do-saco existe e até

hoje você não consegue à noite ir buscar água

na cozinha no escuro.

Nada confortáveis eram os banheiros

dos aviões, sem espaço para as pernas,

durante o exercício da defecação, ou para o

eventual coito. Sempre que voei, sempre

necessitei dos usos referentes à evacuação

(bem provavelmente para expelir o sal

acumulado pelos amendoins). É aí que eu

passava os piores momentos da minha vida. O

5

Filipe Kerber

papel higiênico, quando havia (fazendo com

que eu não precisasse dar adeus às minhas

meias), era mais adequado ao uso em cavalos

– tão áspero que a fricção causava assaduras

de 3º grau.

Assustava-me a descarga, que de

solavanco puxava todos os dejetos. Tenho

interesse em saber onde estes são

armazenados: se simplesmente a merda é

jogada na atmosfera, a 9000 km/h, ou se tudo

era guardado em um depósito qualquer. E digo

mais: avião tem retrovisor, espelhinho? E

limpador de para-brisa? Dúvidas minhas.

Olhando da janela do avião percebia-se

que, sim, eu estava no vôo 365? da American

Airlines para Miami (não sou bom com

números. Talvez reflexo de um trauma criado

pela percepção tardia de que a fórmula de

Bhaskara nunca terá qualquer utilidade na

minha

vida).

Aliás,

odiava

aqueles

probleminhas de matemática, que a gente

6

This is America

tinha no colégio: "João tinha 32 barras de

chocolate. Comeu 29. O que ele tem agora?".

Diabetes. João tem Diabetes.

Outra coisa: nem todos os americanos

são loiras estúpidas com peitões ou pessoas

com mais de 30% de gordura corpórea. Não

que clichês sejam sempre uma mentira.

Por exemplo, propaganda de perfume é

a coisa mais clichê que existe. Geralmente é

um/uma modelo semi-nu/nua ou com uma

roupa de grife (sempre muito magros),

andando em direção à câmera em slow

motion. Aí ou ele/ela suspira algo sem sentido

e coisas mais sem sentido ainda ocorrem,

como estátuas se quebrando sozinhas ou

papel machê caindo do céu. Quando o/a

modelo não começa a correr sem rumo,

ele/ela olha para o frasco por cima do ombro

e, se for mulher, passa a fragrância

lentamente pela