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Péricles
Péricles
Péricles
E-book238 páginas2 horas

Péricles

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Sobre este e-book

Esse livro é fruto do relato livre de um jovem estudante, que decidiu fazer uma viagem no ano de 2010, pelo sul da América Latina, logo após perder precocemente seu pai. Durante todo o percurso percorrido, entre os países Brasil, Uruguay e Argentina, foi escrito em um diário feito de papéis de pão, os causos da viagem. Nesses causos, estão inclusos os pensamentos que lhe viam à mente, geralmente carregados de problemáticas confusas acerca do existencialismo. Como promessa inicial, os escritos dessa obra mantiveram-se fielmente iguais aos escritos do referido diário, inclusive no linguajar utilizado. Mesmo o autor do diário não concordando com muitos escritos passados alguns anos, a necessidade de manter íntegras as ideias e vivências daquela época, se faz importante, pois é constituinte de alguma maneira, daquilo que se tornou esse ser hoje. Considerando um possível momento de surto existencial, a personagem e ator dessa jornada se perde por diversas vezes da compreensão do que é, e de quem é realmente. Relata momentos extra-sensoriais intrigantes e incompreensíveis ao primeiro passo. Relata também, de forma cômica por vezes é verdade, as peripécias de um quase adulto, mas ainda adolescente mimado, que sai em busca de seus sonhos com a mochila nas costas, sem dinheiro no bolso e livre pela estrada. Os relatos vão desde os lugares e pessoas que Péricles conheceu, até a culinária de cada local, além dos fatos ocorridos aos olhos de um mochileiro de primeira viagem. Esta primeira edição é caracterizada pela rusticidade inerente ao autor do diário, desprovida pomposidade, não remetendo importância mor à estética, e sim ao conteúdo escrito, não normativo necessariamente.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento20 de ago. de 2016
Péricles

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    Péricles - Nossèe Loquepassa

    PÉRICLES

    (ou uma viagem dentro de si)

    Nossèe Loquepassa

    1ª Edição

    2016

    Péricles (ou uma viagem dentro de si)

    PÉRICLES

    (ou uma viagem dentro de si)

    Nossèe Loquepassa

    Florianópolis-SC

    1ª Edição

    2016

    NOSSÈE LOQUEPASSA 2

    Péricles (ou uma viagem dentro de si)

    APRESENTAÇÃO

    Esse livro é fruto do relato livre de um jovem estudante, que decidiu

    fazer uma viagem no ano de 2010, pelo sul da América Latina, logo após

    perder precocemente seu pai. Durante todo o percurso percorrido, entre os

    países Brasil, Uruguay e Argentina, foi escrito em um diário feito de papéis

    de pão, os causos da viagem. Nesses causos, estão inclusos os pensamentos

    que lhe viam à mente, geralmente carregados de problemáticas confusas

    acerca do existencialismo. Como promessa inicial, os escritos dessa obra

    mantiveram-se fielmente iguais aos escritos do referido diário, inclusive no

    linguajar utilizado. Mesmo o autor do diário não concordando com muitos

    escritos passados alguns anos, a necessidade de manter íntegras as ideias e

    vivências daquela época, se faz importante, pois é constituinte de alguma

    maneira, daquilo que se tornou esse ser hoje. Considerando um possível

    momento de surto existencial, a personagem e ator dessa jornada se perde

    por diversas vezes da compreensão do que é, e de quem é realmente. Relata

    momentos extra-sensoriais intrigantes e incompreensíveis ao primeiro

    passo. Relata também, de forma cômica por vezes é verdade, as peripécias

    de um quase adulto, mas ainda adolescente mimado, que sai em busca de

    seus sonhos com a mochila nas costas, sem dinheiro no bolso e livre pela

    estrada. Os relatos vão desde os lugares e pessoas que Péricles conheceu,

    até a culinária de cada local, além dos fatos ocorridos aos olhos de um

    mochileiro de primeira viagem. Esta primeira edição é caracterizada pela

    rusticidade inerente ao autor do diário, desprovida pomposidade, não

    remetendo importância mor à estética, e sim ao conteúdo escrito, não

    normativo necessariamente.

    Por fim, no entanto não menos importante nesta primeira edição,

    levando em consideração a conjuntura política atual, pela qual minha terra

    natal atravessa, Fora Temer!

    Boa leitura!

    NOSSÈE LOQUEPASSA 3

    Péricles (ou uma viagem dentro de si)

    Dedico esse livro aos presentes durante toda essa

    jornada construtiva, que me ensinou muito daquilo

    que acredito ser hoje. Em especial ao Carlitos,

    Lázaro, Chapo, Natália, Libetad Catarina, Maicon, e

    ao Maurí. Muitas caminhadas. Uma só alma, um só

    amor.

    NOSSÈE LOQUEPASSA 4

    Péricles (ou uma viagem dentro de si)

    Caminhar é preciso…

    Era uma segunda feira fria e chuvosa. Aos chuviscos do Pantanal,

    bairro neoboêmio da capital catarinense. Eu e Maquelelê caminhávamos

    embriagados com a chuva pelas calçadas. A cidade já despertara entre

    andorinhas arrevoantes e galos bicudos indo trabalhar. O caminhar

    displicente entre bons amigos era o prenúncio de que o momento chegara.

    Havia decidido há alguns meses já que viajaria. Não defini nem data, nem

    local de partida e tampouco onde chegaria. Comprei um mochilão desses

    bem resistentes, uma capa de chuva, e uma barraca. Ganhei um pote de mel,

    um canivete e três pacotes de chás essenciais. Tinha na bagagem a certeza

    que Descartes era um pífio ao pronunciar seu conceito de machine

    animatae, e um fogareiro a gás portátil . Refleti por muito tempo sobre as

    peripécias de Alexander Supertramp. Entre uma pausa e outra, para o gole e

    para a prosa, um momento de silêncio pairou sobre nós. Dei um abraço em

    Maquelelê, que me retribuiu então com outros tantos abraços. Deixei aquela

    moto 150cc preta que nunca foi paga e nem tinha documentos com as

    chaves no contato para Maquelelê. Fiquei com o restinho da cachaça e fui.

    Assim! Como todos os nômades vão. Temporários ou perenes, eles

    simplesmente e sempre vão.

    Nunca em vão por certo.

    *****

    ***

    NOSSÈE LOQUEPASSA 5

    Péricles (ou uma viagem dentro de si)

    Eu já estou com o pé nessa estrada…

    Consegui me despedir de quase todos. Alguns obviamente não teve

    como. E outros eu não quis me despedir. Nada de ruim. Em todos os

    momentos fazemos escolhas e não credito à elas serem certas ou erradas.

    Cada momento tem seu veredicto e temos apenas milésimos de segundos

    para pensar sobre, na grande maioria das vezes. Eu em alguns momentos,

    por exemplo, me despi e não me despedi. E ele – meu ímpeto de viajar,

    simplesmente não tinha arrumado nada. Mas sabia minuciosamente cada

    artefato remanescente de suas doações e o que levaria. Somente o

    necessário. Mesmo que o conceito de necessário se mostrasse totalmente

    volátil em outros dias. Não dormi na última noite. E eu vi quem sou. Passei

    meus momentos com os irmãos. Coxixi e Maquelelê foram muito

    importantes na força para que meu eu tomasse a coragem necessária para

    então sair de casa. E sai…

    (Nossa Senhora do Desterro, SC, 20 de Setembro de 2010. Nublado.

    Lua Crescente.)

    *****

    Depois de entulhar tudo o que queria dentro da mochila, olhei para o

    quarto triplamente ocupado da moradia estudantil da UFSC. O Sol

    começava a entrar por entre a janela do térreo. O Sol por entre as frestas da

    janela com aquelas telinhas protetoras de insetos, iluminando o Mineiro,

    que ali roncava em seu quinto sono. Parti sem muitas delongas e logo

    embarquei no coletivo lotado das manhãs de pico. Indiferente ao mundo

    pelo cansaço, passei sem perceber e sem ser percebido pela multidão no

    terminal do centro, e também pela rodoviária. Tomei um bus cinza rumo ao

    sul de Santa Catarina, para a praia desconhecida mais próxima.

    NOSSÈE LOQUEPASSA 6

    Péricles (ou uma viagem dentro de si)

    ***

    Cheguei na Guarda do Embaú e almocei em um restaurante na vila.

    Alcancei uma trilha que dava no morro, na encosta junto ao mar. Encontrei

    um bom lugar, montei acampamento e adormeci ali perto do meio dia.

    Quando acordei estava chovendo. A barraca certamente aguenta a água. Mas

    rasgará em breve tenho certeza. O vento está muito forte e logo abaixo

    verifico que o mar também não se apresenta com movimentos que melhores

    amigos ofereceriam. Pela tarde tinha golfinhos no mar. Isso enquanto as

    águas não se remexiam tanto quanto sapatilhas trinta e sete em noites de

    forró. Já me encontrava em meio a escuridão no meio do mato. Aos poucos,

    fui dando conta que comecei a fazer um de meus sonhos realidade. Na pura

    verdade e sem demagogias, quantos sonhos tornamos realidade? Não falo

    de coisas legais que conquistamos e dizemos para nós mesmo: poxa,

    consegui! Digo sonhos mesmo. Aquele devaneio que dia ou outro você

    expõe na roda de boteco ou de baseado, ou de boteco e baseado. Ou

    algumas vezes em cochicho ao pé de ouvido daquele amor platônico.

    Realizado por uma noite daquelas de mesa em mesa, de carreira em carreira,

    onde finalmente você soltou a voz. Agora estou desprendido de tempo, de

    casa e ou comunicação. Sou eu agora meu próprio tempo. Sentia a viagem

    começando. A noite anterior ainda acalentava meu corpo. Eu poderia

    simplesmente voltar e dizer que não iria mais viajar. Ou qualquer outra

    coisa, só pelo meu conforto. Mas o desprendimento se fazia necessário e

    meu ego que, ao que parece irá me acompanhar por parte da viagem, não

    me deixaria voltar. Mesmo diante da noite pavorosa que estava se formando

    ao leste junto ao mar.

    (Guarda do Embaú, SC, madrugada de 21 de Setembro de 2010.

    Chuvoso. Lua Crescente.)

    *****

    A noite acampado foi a noite mais pavorosa de que eu poderia

    reclamar. Um pescador disse pela manhã, que os ventos chegaram a 80

    quilômetros por hora. Isso dentro de uma barraca e em um costão à beira do

    mar revoltoso, parece até a morte. Muitos raios caíram durante a noite. Para

    NOSSÈE LOQUEPASSA 7

    Péricles (ou uma viagem dentro de si)

    alguém cheio de parafernálias e um medo infantil de choque, era assustador.

    Ainda mais acampado sobre montanhas rochosas em campo aberto ao lado

    do mar. Cheguei a pensar sobre a existência divina no auge do descontrole.

    Ainda chove. E ainda estou no mesmo posto desde a hora do almoço. Não

    sei. Mas a chuva agora veio em boa hora. Assim como o carisma e a

    musicalidade brasileira. A chuva afastou da pista o cachorro que quase foi

    atropelado bem na minha frente. Eu voltaria pra casa se acontecesse o

    atropelamento. Não aconteceu. O carisma me tornou novamente homos

    herectus. A musicalidade brasileira me colocou a andar somente para

    colocar pés sobre pés. A carona é que não veio de maneira nenhuma. Sigo

    caminhando neste momento pelo acostamento da BR 101. Enquanto não

    chego em Imbituba, vou pensando sobre o kitsch. Esteticamente e

    empiricamente tento desvendar meu kitsch. Pensei em livros. Pensei como

    um livro sobre etimologia me ajudaria com o kitsch agora. Pensei nos livros.

    Pensei como eles em estantes equivalem a um baú de lembranças no porão.

    Nem percebi, quando já chegava em Imbituba. Esse rolê pode se comparar

    agora, neste momento, a um chocolate derretendo na boca. Quanto mais

    contínua a apreciação, mais a ênfase do sabor. Acabo de sentir-me alinhado

    a um pássaro. Uma andorinha talvez. Nasci na cidade das andorinhas. Mas a

    verdade é que estou agora na cidade de Tubarão. Agora cheira a poluição

    industrial. Nada muito diferente da cidade das andorinhas pra falar bem a

    verdade. Deve ser pelo fato de eu estar em uma região rodo modal. Não me

    agrada muito a vegetação que cresce em meio aos escombros abandonados.

    Em contraste, porém não muito distante do cinza sideral, são apenas

    fúnebres arbustos. Minha primeira carona me trouxe até aqui. Foi breve e

    me deixou em um posto. Decidi que vou tomar um ônibus até Porto Alegre

    amanhã. Chove muito, mesmo que em trégua neste momento. E carona em

    fim de tarde e com chuva é difícil. O irmão que me deu carona é firmeza,

    porém já esqueci o nome dele. Acho que é muita pressão ter que lembrar o

    nome de todas as pessoas que conhecemos. Nunca me esqueci de uma só

    pessoa que conheci. Mas não me recordo do nome de quase todas. Recordo

    das amadas pessoas que conheci no dia a dia com os aprendizados. Não sei

    da qualidade de sistematizar nomes de A a Z quantitativamente em minha

    memória encefálica. As pessoas que conheci estão caminhando comigo, a

    cada momento, em cada ação minha. Sou feito dos outros em soma com eu

    mesmo.

    ***

    NOSSÈE LOQUEPASSA 8

    Péricles (ou uma viagem dentro de si)

    Acordei novamente pelos raios. Desta vez estou acolhido no chão de

    um posto de gasolina na BR. Chorei muito esta noite, novamente. Pensei em

    voltar. Mas não volto agora. Pela manhã, quem mandava a letra no rádio era

    Zeca Baleiro. O tom esverdeado de minha caneta acompanha o verde do

    ritmo que uso para colorir o céu pasmo sul catarinense deste dia. Dia muito

    importante. Noite muito importante. Não por que dia e noite resolveram

    encontrar-se nas mesmas medidas e proporções por um momento entre

    trezentos e sessenta e quatro tantos outros agora diante de mim. Mas a

    chegada da primavera deixa aflorar vida mesmo de dentro do mais cinza das

    sementes e corações. Junto com a primavera, comecei a ler Zen e a Arte da

    Manutenção de Motocicletas, de Robert M. Pirsig.

    Cheguei de noite em Porto Alegre.

    (Porto Alegre, RS, 22 de Setembro de 2010. Chuvoso.

    Lua crescente para cheia.)

    *****

    O hotel rodoviário de Porto Alegre é um estilo predial clássico. Lembra

    ares sombrios e militares. Edificado em um casarão desses estilo colonial

    antigo. Aproveitei a parada para o descanso, e apliquei argila branca em

    minhas rotas pernas. O osso lateral doía muito. Quando vi, o quarto já

    estava tomado por uma poeira branca por todos os cantos. Não sei como

    limpar essa bagunça. Acho que nunca tinha alugado um quarto de hotel na

    vida. Será que preciso limpar? To cansado! O café da manhã – incluso nos

    12 reais, tinha uma rodela de mortadela, meia fatia de queijo, manteiga, um

    pão francês, um pão de forma, café – poderia designar " chafé ", e de

    melhor: geleia de uva! Não, não era amido de milho modificado, com aroma

    idêntico ou igual ao natural

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