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Musicaria Brasil
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E-book737 páginas5 horas

Musicaria Brasil

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Sobre este e-book

Com o lema é “A música brasileira por em seus mais variados estilos e tendências”, o blog Musicaria Brasil vem encorpando-se a cada ano abordando e trazendo ao conhecimento do seu público os mais distintos temas e pautas como as que tenho escrito desde 2010, e que agora chegam, em parte, reunidas aqui através da abordagem de novos e velhos talentos, assim como também entrevistas exclusivas concedidas a mim entre 2010 e 2015. Devido a quantidade de matérias escritas essa coletânea acabou dividida em dois volumes, onde o primeiro abrange as pautas publicadas entre setembro de 2010 até fevereiro de 2013, enquanto o segundo volume relembra as assinadas por mim entre março de 2013 a setembro de 2015.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento11 de dez. de 2015
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    Musicaria Brasil - Bruno Negromonte

    Musicaria Brasil

    A contemporaneidade e o paralelismo dentro da Música Popular Brasileira

    - Volume 02 -

    Bruno Negromonte

    À Maria Luíza Negromonte, pela força que hoje você representa em mim e para mim.

    "Minha crença na arte em geral é que ela deve enriquecer a alma; deve ensinar espiritualmente, mostrando à pessoa uma parte dela mesma que ela não conhece: uma parte que ela não sabia que existia."

    (Bill Evans)

    Sumário

    Agradecimentos

    Prefácio

    Apresentação

    Renato Barushi abre concessões sem perder a coerência, mostrando o seu universo particular em um variado mercado sonoro

    Renato Barushi - Entrevista Exclusiva

    Ricardo Machado apresenta um tributo à altura do homenageado

    Ricardo Machado - Entrevista Exclusiva

    Atrelado a sofistificação, o Projeto CCOMA traz um misto de ousadia e vanguardismo

    Projeto CCOMA - Entrevista Exclusiva

    Em sensível amálgama sonoro, Mareike Valentin mostra ao que veio

    Mareike Valentin - Entrevista Exclusiva

    Daniella Alcarpe mostra sem subterfúgios que o seu tempo é o todo sempre

    Daniella Alcarpe - Entrevista Exclusiva

    De modo nada contumaz Leonardo Bessa mostra, de modo solo, aquilo que lhe constitui

    Leonardo Bessa - Entrevista Exclusiva

    Projeto traz a delicadeza, a sensibilidade e o garbo do feminino canto pernambucano...

    Eis a dissidência do óbvio...

    Coquetel Acapulco - Entrevista Exclusiva

    Dois compassos de delicadeza

    Cidadão do mundo, Flávio Renegado mostra, em forma de disco, que a sua sonoridade não tem fronteira

    Flávio Renegado - Entrevista Exclusiva

    Metamorfoseando a obra do pai...

    De Gnattali a Nazareth, o pianista Hercules Gomes atesta um talento congênito

    Sob a égide de um consistente repertório Valéria Oliveira deixa-se imergir em águas claras

    Qual é a sua tribo?

    João Taubkin - Entrevista Exclusiva

    Com Camaleão I Ademir Junior dá início a comemoração de seus 25 anos de carreira

    Ninguém passa incólume ao seu som...

    Wesley Nóog - Entrevista Exclusiva

    Original e versátil, Emerson Leal traz em CD homônimo um profícuo caminho para o futuro da MPB

    Emerson Leal - Entrevista Exclusiva

    Letícia Persiles expõe coisas cotidianas em "Cartas de amor e saudade"

    Cartas e confissões em forma de canções na voz de Cecilia Bernardes

    Cecilia Bernardes - Entrevista Exclusiva

    A esmerada personificação do samba

    Luiz Henrique - Entrevista Exclusiva

    Com a carreira sedimentada na Europa agora eles querem alcançar o Brasil

    Velez - Entrevista Exclusiva

    Erich Cardia apresenta a trilha sonora do seu litoral

    Erich Cardia - Entrevista Exclusiva

    Manchete do Tico-Tico, Uma ode à beleza da fauna, da flora e dos costumes nacionais

    Sob a égide da viola, Gonzaga Leal atemporaliza-se em sintonia com a saudade

    Gonzaga Leal - Entrevista Exclusiva

    O erudito e o popular em versões para violão e violino

    Duo Calavento - Entrevista Exclusiva

    Nirez, 80 anos

    O talento que sobrepujou a despretensiosidade

    Duzão Mortimer - Entrevista Exclusiva

    Uma homenagem que acabou rendendo uma simétrica parceria

    Andrea Amorim - Entrevista Exclusiva

    Roberto Menescal - Entrevista Exclusiva

    Paulinho Pedra Azul - Entrevista Exclusiva

    Sob a luz de Candeia, Graça Braga corrobora para o fim do negativo estigma criado em torno do samba paulista

    Quatro cobras que resolveram encantar-nos de modo inebriante

    Quando o talento é à vera

    Mila Ribeiro - Entrevista Exclusiva

    A cativante e bela sonoridade dos rincões do Brasil

    Sob o aval de grandes nomes eis um promissor talento de nossa música

    Márcia Tauil - Entrevista Exclusiva

    Para cada década um presente

    O violão com um toque feminino

    Carmem Di Novic - Entrevista Exclusiva

    Entre a contemporaneidade e a tradição um bandolim entoa loas

    Marcos Frederico - Entrevista Exclusiva

    O antropofágico Cláudio Brasil

    Cláudia Amorim sacia sua sede em profícuas fontes

    Claudia Amorim - Entrevista Exclusiva

    Duas nacionalidades fundem-se em uma só paixão: a música

    Uma janela de visão ampla e irrestrita

    Márcio Celli - Entrevista Exclusiva

    Que se voltem novamente os holofotes

    Z'áfrica Brasil completa duas décadas

    Entrevista Exclusiva - Z'áfrica Brasil

    Xico Bizerra - Entrevista Exclusiva

    Em momento oportuno, Luiz Henrique reverencia, em garboso projeto, Silas de Oliveira

    Entrevista Exclusiva - Luiz Henrique

    Fernanda Cunha reitera seu talento e qualidade musical em Olhos de mar

    Fernanda Cunha - Entrevista Exclusiva

    Agradecimentos

    Gratidão. Primeiramente aos artistas e suas respectivas assessorias. Todos aqui presente corrobororaram inconscientemente para que esta ideia se concretizasse. Consequência: desses entrevistados, muitos fugiram da mera formalidade inicial e hoje posso chamá-los de amigos. Sem vocês este projeto não existiria.

    Não poderia também deixar de agradecer também o modo carinhoso com que o amigo Joaquim Macêdo Júnior escreveu o prefácio deste material. Sem palavras para agradecer, e caso viesse a ter não teria a capacidade de um agradecimento de tamanha eloquência.

    Um agradecimento especial também ao amigo, confidente (e companheiro de viagens) Wheslley Mathias, por ter me estimulado a dar o pontapé inicial para que tudo chegasse ao que vocês poderão conferir nas páginas seguintes. Sem contar que coube totalmente a ele a cara deste projeto desempenhando com maestria, dentre muitas habilidades, o seu ofício de design gráfico.

    Por fim agradeço aos amigos cultos, incultos e ocultos que diariamente vão ao Musicaria Brasil. Coube a muitos a presença de alguns nomes que constituem este material aqui através dos contatos e sugestões de pautas.

    Prefácio

    Joaquim Macêdo Júnior¹

    Mesmo antes de conhecer Bruno Negromonte, era leitor do Musicaria Brasil. Não tenho nenhum receio de dizer que, no caso em tela, a criatura tornou-se mais importante do que o criador. E sei que, ao dizer isto, não estou tirando qualquer valor de seu mentor, mas colocando o portal de musica em seu devido lugar – um dos melhores e mais completos sítios especializados de todo o país. O que, penso, era o que o idealizador queria.

    E como conhecer o Musicaria, sem qualquer indicação prévia, orientação de um ou outro amigo ou mesmo a sorte de fazer parte do circuito de amizade do Bruninho. Foi relativamente fácil. Como pesquisador e redator de artigos e crônicas para o Jornal da Besta Fubana (desde março de 2012), notadamente sobre assuntos musicais, minhas buscas via google e outros apetrechos da internet me levavam na maioria dos casos a um tal de Musicaria Brasil.

    De pronto, fiquei encantado com o nome. De onde viria, qual a origem, quem inventou? Na hora me veio algo como danceteria nacional ou petiscaria do Pina. Depois, fiquei sabendo pelo próprio Bruno que advinha de uma expressão solta dita por Gilberto Gil, que levava a crer que os que faziam música eram musiqueiros. Ele pinçara a expressão para compor seu Musicaria Brasil. Na minha maneira de ver, o nome releva algo metafórico como petiscos de nossa música, com entrada e prato principal.

    "Dize-me o que és que te darei o que poderás fazer" é a paráfrase que uso para dizer que Bruno Negromonte tem a cara, o jeito e a bagagem de quem faria um portal com semelhante importância.

    Formado em pedagogia, BN possui pós-gradução em gestão educacional, tendo iniciado comunicação social, sem, no entanto, concluir o curso. Antes de tudo, porém, tem berço musical. Já na mais distante idade, aos 8 anos, ele era atraído pela música via televisão, comercial de tv, em que o MPB4 cantava "A Lua, Quando Ela Roda, É Nova!..."

    Que maneira inusitada de ser abduzido pelos deuses musicais. Nada menos que o MPB-4 em uma de sua canções mais singelas e para diferençar, não buarquiana. Depois foi a descoberta de "Amigo é Pra Essas Coisas", de Aldir Blanc e do sempre citado, mas nunca afamado Silvio Silva. Era mais uma não buarquiana canção do conjunto de vozes mais brilhante deste país, e que se tornaria o coro de pano de fundo das composições de Chico Buarque de Hollanda.

    Depois, o pré-adolescente mergulhou de cabeça em Caetano Veloso e Djavan, via "Linha do Equador". Dali em diante, o jovem passou a exigir, até da mãe, que presentes, se lhe fossem dados em forma de música, que tivessem o selo musical de um Djavan, de um Caetano, de um Chico Buarque.

    Cresceu ouvindo rádio AM e todo o universo sonoro que o rodeava. Figuras como Samir Abou Hana, Paulo Marques e os forrozeiros Ivan Ferraz e Elias Lourenço o apresentaram a nomes como Ari Lobo, Marinês e sua gente e uma série de nomes que a intelectualidade então considerava brega.

    Cantores como Nelson Gonçalves, Roberto Carlos, Silvinho, Núbia Lafayette e Noite Ilustrada eram presença constante na radiola de sua casa.

    Foi percorrendo uma rota que só aos mais antenados era dado perseguir: o tudo que há e o que havia de bom na chamada MPB, essa tradução urbana de todas as tradições musicais brasileiras, transpondo o samba-canção para a bossa-nova, o bolero para o soul, o balanço temperado com o swing.

    Vieram para o acervo Geraldo Azevedo, Alceu Valença, João Bosco, Tim Maia. No primeiro momento, ele, como tantos outros amantes, mergulha no zoom de besouro e se deixa ficar à deriva na música cativante e avassaladora do autor de ‘Seduzir’. Quem não conjugou o verbo djavanear não aprendeu a namorar direito, nem a entender letras alegóricas e difusas, postas a serviço da melodia. Quem não djavaneou? Eu continuo a fazê-lo!

    Neste meio tempo, enquanto alimentava a alma e o sentimento com as canções de então, Bruno, o ser pensante, crítico, curioso e proativo começou a ver na música mais do que aquela parte das artes universais que nos ilumina a mente e faz bem à saúde, meramente por hedonismo.

    Bruno quis ir mais além. E foi. Viu que antes destes seus primeiros ídolos dos anos primários, havia um Brasil de musicalidade e ele bravamente se pôs a conhecer. Vêm daí o ecletismo, a isenção, a distância cautelosa de julgamentos e a repulsa a qualquer preconceito.

    Já leitor cativo do portal, tive a satisfação de conhecer o Bruno pessoalmente por uma deliciosa coincidência – é amigo pessoal de meu primo Silvio Macedo. Por um bom tempo, fiquei tomando notícias e esperando um contato com ele. Eu ia a Recife e as agendas não batiam. Finalmente, pude abraçá-lo num aniversário da casa de meu tio, Jorge Macedo.

    A expectativa foi superada substantivamente no que havia projetado em relação ao Bruninho, como costumo chamá-lo. Rapaz simpático, de contato fácil e imediato, dono de uma fleugma e uma lhaneza indeléveis e sujeito de muito boa conversa, bate-papo, mesmo que o assunto não seja o seu predileto, a música. Hoje, tenho orgulho de ser amigo do Bruno, também colega colaborador de nosso querido Jornal da Besta Fubana.

    Com o lema A Música Brasileira em seus mais variados estilos e tendências, Bruno Negromonte criou, em 1º de janeiro de 2008, o Musicaria Brasil pelo qual expressa o amor que tem pela música brasileira, afirmando, em tom de chiste, que não carrega o menor talento como instrumentista, cantor e nem compositor. Sua musicalidade, digo eu, se expressa principalmente quando acompanha com a batida na caixa de fósforos os sambas do ‘príncipe’ Paulinho da Viola e então ele torna-se um músico universal como qualquer um de nós, sem uma nota na cabeça, mas com toda a voracidade de conhecer e apresentar a musica nacional.

    Adepto das tradições gonzaguianas, admirador do frevo e torcedor do Sport, nasceu no Recife em 1981, vivendo em Olinda desde a infância, Bruno é daqueles pernambucanos que superaram nossa dicotomia relacionada com o domínio holandês, a restauração pernambucana e a assimetria histórica que compõe a trajetória das duas cidades-irmãs mais próximas e distantes entre si, talvez de todo o país.

    Sua geração pulou, saltou, dançou e brincou ouvindo Carlos Fernando, a geração mangue-beat, Silvério Pessoa, Mestre Ambrósio, Isaar, DJ Dolores, Lirinha e o Cordel do Fogo Encantado.

    Caminhemos. Apenas para ter a ilustração na mão, acabei de navegar por 10 minutinhos pelo Musicaria Brasil e olhe, não gosto de exagero, mas vou dizer: ôh bichinho tecnológico bem feito que dá gosto.

    Você entra e ele já toca uma musiquinha agradável. Sempre agradável. Se quiser pausar (?) para concentrar-se mais numa matéria, vai lá embaixo e desliga o pitoco. A configuração é bonita demais: o cartunista responsável pelo desenho, vinhetas, estética, cores e apresentação é craque. Faz aquela charge certeira, em que o sambista se debruça na janela, esperando o sambar aparecer.

    É de bom tom (ops) que se diga. Lá no alto da página não tem para ninguém! É Cartola e Pixinguinha no panteão, que ali é lugar de fundador.

    O mais característico e atraente do ‘Musicaria’ é que você nunca ficará na mão em sua opção musical. Ele vai de Nelson Gonçalves e cantoras do Rádio, até Novos Baianos, Walter Franco e Jards Macalé, bifurcando em Ritchie, Rita Lee, Os Mutantes, Spock, Duda e Orlando Silva.

    É música de todo gênero, com discreta prerrogativa: que seja de boa qualidade. Recheado de perfis, biografias, pautas diferenciadas, informações de serviço e muito acervo, o Musicaria já está encorpado e amadurecido. Entrevistas com Roberto Menescal, Paulinho Pedra Azul, entre outros. Hoje, conta com 15 mil visualizações/mês.

    Sem patrocínio, vive da resiliência de seu criador. Se a ausência de patrocínio pode, de um lado, significar a independência plena de sua linha editorial, de outro, é de se reconhecer que não é fácil levar no dia-a-dia, na labuta e quase sozinho, um veículo de tamanha importância para a nossa cultura.

    Para fechar esse primeiro ciclo de 8 anos bem vividos, Bruno Negromonte e seu Musicaria Brasil devem entrar na nona jornada anual com alguns presentes a seus leitores e admiradores.

    Em 2016, o Musicaria pretende trazer muitas novidades, entre as quais a publicação regular de um colunista distinto a cada dia da semana. Às terças já conta com o paraibano Leonardo Davino, que vem assinando a coluna desde o início do ano e às quintas quem assina Luciano Hortêncio, dono de um relicário no youtube e que sempre traz vídeos para o deleite dos leitores.

    Em frente, Bruno, vamos todos nos juntar para fazer de 2016 um ano de grandes novidades e de constante aprofundamento da qualidade do nosso já excelente Musicaria Brasil. Evoé!

    Apresentação

    Acho que deste que me entendo por gente que sou apaixonado por música, em especial pela bela e rica música popular brasileira.

    A mais remota lembrança que trago de minha relação com a MPB vem de quando eu tinha por volta dos oito anos. Como toda criança, comigo não era diferente. Adorava televisão e passava horas assistindo aos programas exibidos, e entre um intervalo e outro me deparei com a propaganda de um LP. Foi o primeiro disco ao qual gostaria de ter tudo por conta de uma música que abordava as fases da lua: "Quando ela roda, É Nova!... Crescente ou Meia... A Lua!... É Cheia!. Esses versos permearam a minha cabeça até o dia em que finalmente eu estava com o LP do grupo MPB-4 nas mãos. O disco tratava-se do álbum Amigo é pra essas coisas – Ao vivo" e foi o meu primeiro disco fora do universo infantil ao qual estava habituado.

    Depois vieram mais alguns até que o dia em que "Linha do Equador", de autoria do Caetano Veloso e do Djavan me arrebatou de vez. Foi a partir desta canção que minhas predileções musicais ganharam a ganhar forma e consistência. A curiosidade aguçada através de algumas poucas rádios que tocavam MPB me fizeram mergulhar de cabeça na obra do Djavan e, por conseguinte, pedir à minha mãe o seu mais recente LP.

    Por coincidência era o disco que continha a canção "Linha do Equador" (também tema de uma das novelas exibidas na época).

    A arrebatadora paixão já existente aguçou-se ainda mais ao tomar conhecimento de canções como "Se..., A rota do indivíduo, Violeiros" e todas as outras existentes naquele décimo disco da carreira do cantor e compositor alagoano. Precisava urgentemente recuperar o tempo perdido e tomar conhecimento de toda aquela sonoridade que até então eu desconhecia... (detalhe: eu só tinha onze anos).

    Foi a partir daí que comecei a comprar LP’s dos artistas da chamada MPB e chegou aos meus ouvidos as obras de nomes como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Geraldo Azevedo, João Bosco, Tim Maia e tantos outros que a partir de então seriam capazes de me acompanhar nos mais distintos momentos de minha vida. Parando bem para pensar já se foram mais de duas décadas desse primeiro momento para cá. Nestes vinte anos de perdas e ganhos perdemos nomes como Tom Jobim, Johnny Alf, Tim Maia, Chico Science; mas em compensação ganhamos talentos todos os dias neste nosso país de dimensões continentais como venho atestando desde 2008 quando resolvi criar o Musicaria Brasil, um blog que nasceu da minha necessidade de expressar o amor que tenho pela música brasileira de algum modo, uma vez que não tenho o menor talento como instrumentista, cantor nem compositor.

    Com o lema é "A música brasileira por em seus mais variados estilos e tendências", o blog vem encorpando-se a cada ano abordando e trazendo ao conhecimento do seu público os mais distintos temas e pautas como as que tenho escrito desde 2010, e que agora chegam, em parte, reunidas aqui através da abordagem de novos e velhos talentos, assim como também entrevistas exclusivas concedidas a mim entre 2010 e 2015. Devido a quantidade de matérias escritas essa coletânea acabou dividida em dois volumes, onde o primeiro abrange as pautas publicadas entre setembro de 2010 até fevereiro de 2013, enquanto o segundo volume relembra as assinadas por mim entre março de 2013 a setembro de 2015.

    Não termino estas linhas com a sensação de dever cumprido, mas acredito que o primeiro passo já tenha sido dado lá atrás quando com a criação do Musicaria Brasil comecei de modo ínfimo a contribuir não apenas a defesa da música de qualidade, mas principalmente por ter a oportunidade de trazer ao conhecimento de muitos artistas que não chegam ao conhecimento do grande público devido a todo um contexto desfavorável para a nossa cultura de maneira geral. Hoje, com a publicação deste apanhado de escritos, apenas reitero esse voto de defesa à música que tanto amo.

    Bruno Negromonte

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    Renato Barushi abre concessões sem perder a coerência, mostrando o seu universo particular em um variado mercado sonoro

    Imaginem uma sortido mercado onde os principais produtos expostos são versos e melodias que procuram mostrar a música mineira contemporânea. Isso que parece ser inimaginável faz-se possível graças a um novo talento que chega para contribuir com renovadas ideias e uma sonoridade consistente onde procura perpetuar, a seu modo, a boa fama que a música mineira vem construindo nacionalmente desde ó início da década de 1970, quando o Milton Nascimento lançou o antológico álbum "Clube da Esquina", um disco considerado o marco inicial de uma revolução dentro da música produzida em Minas e que se estendeu mundo a fora.

    Pois bem, Renato Barushi, mineiro de Cataguases (cidade da zona da mata mineira localizada a cerca de 320 km da capital Belo Horizonte) é o responsável por este mercado de variedades rítmicas. Na composição dessas variantes vemos o quão ele foi influenciado não só por toda essa geração antes citadas, como também por outros elementos sonoros, formando assim uma rica e belíssima vitrine onde são expostas a diversidade na qual está imbuído o seu som. Percebe-se que Barushi soube absorver e fundir inspirações e influências de modo bastante seguro a partir de uma sonoridade toda particular baseada nesta gama rítmica.

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    De família grande e apreciadora da boa música, Barushi nasceu em 10 de fevereiro de 1981 e desde a infância já procurava desenvolver habilidades artísticas. Gostava de atuar e cantar, e aos 10 anos já brincava de escrever músicas. Essas aptidões artísticas foram estimuladas e valorizadas e como prova disto, aos 11 anos ganha o seu primeiro violão. Daí em diante resolve iniciar de fato a sua formação musical indo estudar no conservatório musical existente em sua cidade. Vem desse período as suas primeiras referências musicais e que o acompanham até os dias atuais como se é perceptível na audição deste seu álbum de estreia. A forte influência da chamada MPB e do Rock em suas composições mostra que o artista soube dosar de modo interessante tanto esses dois gêneros como outros que acabaram sendo posteriormente aglutinados em sua formação. De certo modo, "Renato e mercado" evidencia essa teoria, pois vem impregnado dessa diversidade rítmica sem se deixar cair no lugar-comum.

    Aos 17 anos Renato percebe que Cataguases acaba tornando-se pequena para os seus anseios e resolve aventurar-se em Belo Horizonte. Chega à capital mineira trazendo em sua bagagem suas primeiras composições, aquelas que seriam o cerne para o seu desenvolvimento enquanto compositor e músico de modo geral. O aperfeiçoamento veio com as diversas experiências na capital mineira, dentre as quais a sua passagem pela banda "Machinari'" como vocalista, instrumentista e compositor, pois foi como integrante do grupo que começou a dedicar-se com mais afinco à elaboração do seu trabalho autoral, criando em parceria com grandes amigos várias canções até o dissolvimento da banda em 2004.

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          Mesmo com o fim da banda e as adversidades existentes, Renato Barushi tinha planos traçados e metas determinadas. Sua força motriz encontrava-se justamente neste determinismo que alimentava seus sonhos e desejos, por isso não desanimou e continuou a acreditar que já era hora de registrar em disco suas letras e músicas a partir de composições peculiares, carregadas fortemente pela fusão da música negra, do rock e da tradicional MPB.

    É bom trazer ao conhecimento de todos que o nome "Renato e o mercado" surgiu em meio à conversas informais com parceiros e amigos e trata-se de um título que faz alusão às muitas vertentes que influenciaram o trabalho do músico ao longo dessa sua jornada musical. É um título pra lá de apropriado devido a diversidade sonora presente neste trabalho de estreia.

    A diversidade sonora dá ao álbum uma textura peculiar, mostrando uma heterogeneidade rítmica coesa e moderna a partir da execução das nove composições presentes no disco e que contam com o acompanhamento dos músicos Marcílio Rosa (guitarra), Paulo Maitá (baixo e produção musical), Tininho (bateria), Luiz Peixoto (guitarra),

    Boca Brown (percussão),  Daniel Diniz (teclados), Edgar Sozzi (guitarra), Marcelo Silvah (violão) e Nequinho (backing vocal). "Renato e o mercado" ainda conta com a participação do rapper Lil'dawg.

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    O disco vem munido canções assinadas tanto por Barushi  de modo solo como em parcerias, dentre as quais merecem destaque a existente com Robson Pitchier (que assina sete do total de faixas presentes). São faixas que acentuam uma contemporaneidade peculiar atreladas a valorizadas raízes. No som de Renato é possível encontrar pitadas das mais distintas influências a exemplo dos grooves e suingue dos grandes nomes da Motown, os acordes do pop rock nacional surgido a partir dos anos de 1980, além é claro de incursões no que há de melhor em nossa música. Tudo de modo preciso como é possível observar já na primeira faixa intitulada "Dela (balada romântica de autoria do próprio intérprete e que fala fundamentalmente sobre a presença da amada para dar outra conotação à sua vida). O disco continua com Onde quero chegar, uma das parcerias com Robson Pitchier  que retrata o desejo de coisas tão simples que infelizmente perdem-se em nossas caóticas rotinas. O disco segue com Filme em Cartaz" (mais um fruto da parceria entre Renato e Pitchier), que traz a participação do rapper Lil'dawg cantando e assinando a letra.

    O mercado continua aberto oferecendo produtos de excelente qualidade como é o caso do contagiante funk batizado de "Minha musa", mais uma parceria da dupla Renato e Pitchier, e que traz como tema algo que o próprio título já denota: uma inspirada declaração. Em "Sem reparo (mais uma parceria com Robson) as guitarras mostram que a influência do rock não é algo que restringe-se apenas ao release do álbum. Outra canção que a dupla assina é a balada O mar gelou o deserto", que retrata fenômenos naturais incomuns influenciados por uma situação afetiva.

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    A trinca final traz "Meu lugar, Malandragem e The end. A primeira trata-se de uma composição assinada pelo próprio Renato. As duas seguintes foram escritas à quatro mãos em parceria com Pitchier. Quanto aos temas eles retratam os mais variados assuntos. Em Malandragem, por exemplo, há o retrato de um sujeito preso as amarras do ilícito; Já em Meu lugar e The end surgem atreladas as peculiaridades das relações amorosas. Renato e o mercado surge mostrando no atual mercado fonográfico um cantor e compositor possuído de estilo e acordes que mesclam todas as fontes as quais teve a oportunidade de beber, fazendo uma sonoridade que até pode ser exposta na prateleira do seu mercado sob o título de Música Livre Brasileira", como o próprio artista define.

    Assim sendo, Barushi mostra-nos através da concretização desse antigo desejo, o seu rico e diversificado mercado sonoro. E apesar da diversidade existente, cada prateleira traz o seu produto específico, mostrando-se coerente o suficiente para acreditarmos que é inevitável que venham a surgir novas e profícuas filiais desse mercado. Desvinculado de rótulos, o artista mineiro chega à indústria do disco alimentando antigos anseios acrescidos dos desafios a enfrentar nesse mercado muito menos lírico que os violões e canções que o criado por esse cataguasense, que vem mostrando ao que veio.

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    Renato Barushi - Entrevista Exclusiva

    A música independente em nosso país vem ganhando força e espaço ao longo dos últimos anos, principalmente através das novas tecnologias e redes sociais. Advindo deste cenário, o Renato Barushi vem galgando o seu espaço dentro da fértil cena musical mineira e ganhando adeptos de sua sonoridade por onde tem levado o seu som. Depois de ter passado longo período tocando nas noites de Belo Horizonte, o cantor e compositor decidiu, após cerca de treze anos, que havia chegado a hora para a gravação do seu primeiro registro fonográfico. A longa espera deu-se devida a absorção da maturidade necessária para o artista encarar todos os percalços existentes no caminho que escolheu.

    Perseverante, Barushi procurou superar cada uma das dificuldades que cruzaram o seu caminho se virando na raça como ele mesmo costuma dizer. E o resultado dessa tenacidade vocês podem conferir na pauta publicada recentemente aqui mesmo em nosso espaço cujo título é "Renato Barushi abre concessões sem perder a coerência, mostrando o seu universo particular em um variado mercado sonoro. Nesta matéria é mostrada toda a versatilidade deste mineiro de Cataguases a partir de um disco que não poderia ter título mais sugestivo: Renato e O Mercado".

    Hoje Renato gentilmente volta ao nosso espaço para nos conceder esta entrevista onde aborda um pouco de sua trajetória, as dificuldades inerentes aos artistas independentes e surpreende-se com uma agradável notícia sobre o Prêmio da Música Brasileira como vocês podem conferir, na íntegra, logo abaixo.

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    Em sua biografia consta que a sua família apesar de grande não é, digamos, propensa a música; porém você desde cedo se deixou envolver-se por ela. Como aconteceram esses primeiros contatos com a música em sua infância?

    Renato Barushi - Com exceção de um tio paterno que sempre tocou muito bem violão, autodidata, ele dizia que eu ficava vidrado quando pegava o violão e sempre cantava junto, adorava quando tocava a canção peixe vivo, inclusive, foi comigo e minha mãe escolher o meu primeiro violão em Juiz de Fora, um Di Giorgio, no pré-primário a professora também havia notado que minha voz destacava, eu devia ter apenas 5 anos.

    E a estória de que você desde os 10 anos de idade já compunha é verdade? Você lembra de alguma coisa referente a essa composição algum verso ou o porquê do surgimento da inspiração para escrever?

    RB - Aos 10 anos, pegava canções conhecidas e brincava, trocava suas letras, lembro-me perfeitamente de uma música do grupo SPC que fiz isso, a canção chamava-se domingo, na verdade, até hoje faço isso... (risos), coloco a letra que me referi abaixo, ganhei meu primeiro violão aos 11 anos, a partir daí comecei a prestar mais atenção nas letras e melodias, comecei escrever frases soltas, creio que após os 14 anos comecei a compor, foi muito natural, mas assim como tocar um instrumento, escrever é um exercício.

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    Segue a letra:

    Titulo: Segunda

    Segunda, tenho que estudar

    Acordar bem cedo e ir pro colégio

    Aturar as professoras, até enjoadas

    A de português e a de geografia outra vez

    Refrão:

    Quando eu vou estudar

    Vai ter que ser bom

    Se não vou trabalhar, numa padaria

    Vai ter que ser a do meu pai

    La eu só entrego pão

    Depois ganho um dinheirão

    Só por uma entrega, amor... só por uma entrega, amor, amor, amor..

    Só por uma entrega, amor... amor, segunda...

    Em dado momento de sua vida, você resolve aventurar-se na capital mineira trazendo com você coragem, fé e expectativas para dar continuidade aos projetos traçados em sua cidade. Você pode nos falar um pouco dessa decisão de vir a Belo Horizonte? Essa decisão fez com que você abrisse mão de algo?

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    RB - Fui aos 17 anos para Belo Horizonte, sem muitas pretensões, queria somente tocar na noite, conhecer outros músicos, somar e se possível viver de arte, e foi o que fiz, fazia jingles, trilhas, direção e produção musical e executivo, em paralelo trabalho minhas canções autorais e escrevendo minhas leis de incentivo, creio que o artista hoje está cada vez mais desenvolvendo múltiplas funções em suas carreiras. Eu abri mão de ficar perto de meus familiares, amigos de infância e musicais, e por ser de família pobre tive que me virar, bancar o meu sustendo, mas feliz por sempre fazer o que amo. 

    Diversos músicos afirmam que não há laboratório mais válido do que a experiência de tocar na noite. Você teve a oportunidade de vivenciar essa experiência antes da gravação do seu álbum à frente da banda Machinari. Há algo que se evidencia em sua música e que seja fruto dessa época?

    RB - Claro, concordo que a noite é um grande laboratório, e com o Machinari foi o período que mais toquei, eram cerca de três a quatro shows semanais, a banda começou seus ensaios no final de 1999, iniciou os shows no início de 2000, seu ultimo show, por incrível que pareça foi dia primeiro de abril de 2004, na casa chamada Pop Rock Café, tenho o convite até hoje. Em 2002 gravamos um EP com três canções autorais, essas canções estão no site http://palcomp3.com/renatobarushi/.

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    Você costuma

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