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Uma Janela Para A Filosofia 2
Uma Janela Para A Filosofia 2
Uma Janela Para A Filosofia 2
E-book212 páginas2 horas

Uma Janela Para A Filosofia 2

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Sobre este e-book

Neste Uma Janela para a Filosofia 2 continuamos a narração da História da Filosofia, agora com a emblemática figura de Sócrates. A filosofia socrática reacendeu a discussão da sabedoria em uma época em que parecia ser sábio aquele que fosse esperto o bastante para enriquecer. Sócrates, nesse ambiente, aponta que a verdadeira sabedoria é a busca da virtude pelo autodomínio e que isso não poderia ser aprendido por aulas pagas a sofistas. Com isso resgatou a vocação da verdadeira filosofia: permitir a opção pela liberdade em um mundo onde os vícios aprisionavam e a política era um ato antes destrutivo do que uma vivência saudável entre os homens.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento14 de set. de 2016
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    Uma Janela Para A Filosofia 2 - Carlos Teixeira

    uma janela

    para a filosofia

    2

    Sócrates, sofistas e ‘socráticos’

    Carlos Roberto Teixeira Alves

    T266u

    Teixeira Alves, Carlos Roberto

    Uma Janela para a Filosofia 2 /

    Carlos Roberto Teixeira Alves. Ed.

    Clube de Autores. São Paulo-2016.

    90 p.; 16cm

    ISBN:

    1. filosofia 2. história da

    filosofia. I. Título.

    CDD:100

    CDU: 1.10

    2

    O Autor

    Eu, Carlos Roberto Teixeira Alves

    sou graduado, mestre e doutor em filosofia

    pela PUC de São Paulo. Escrevi artigos e livros

    sempre dedicados à pesquisa da Lógica,

    um ramo da filosofia não muito querido pela

    maioria dos matemáticos

    e pela minoria dos filósofos... Por causa da

    Lógica uma minoria dos grandes matemáticos foram

    renomados filósofos e a maioria dos grandes

    filósofos foram renomados matemáticos.

    Para minha esposa

    e filhos queridos.

    3

    1.A BATALHA DE SALAMINA

    No ano 480 a.C. o rei dos Persas, Xerxes, senhor

    de um Império cujas fronteiras tocavam a China,

    a Índia, o Cáucaso, a Ucrânia, a Líbia, o Sudão

    e o deserto da Arábia, decidiu dar uma lição nos

    gregos rebeldes, pois eles eram a província mais

    a ocidente de seu imenso reino e talvez por isso

    se achassem longe o bastante de Persépolis para

    provocarem o imperador, recusando-se pagarem os

    tributos anuais. Então Xerxes, Rei dos Reis,

    convocou soldados, máquinas, monstros,

    guerreiros e navios de todas as partes do

    império: 400 mil soldados de infantaria, 1700

    navios de guerra, 700 navios de apetrechos e

    alimento para o exército e marinha, e 60 mil

    cavaleiros com seus carros de combate. Marcharam

    para esmagar a Grécia e exterminar a falta grega

    de respeito. Alvo: Atenas. Ela deveria ser

    saqueada, incendiada, seus templos profanados.

    Objetivo: escravizar de vez a nação grega, todas

    as cidades, para que nenhuma outra província do

    Império Persa viesse a se rebelar novamente

    contra o Rei Divino.

    O ESPÍRITO DE ATENAS

    Atenas era uma cidade diferente dentro do império de Xerxes.

    Era moderna, cosmopolita, criadora de um sistema político novo,

    a democracia, fundadora de leis progressistas que dava direitos

    novos a cidadãos novos. Tornara-se orgulhosa, enriquecera com

    o comércio marítimo, e achou-se no direito de não dever tributos a Xerxes. Era uma cidade viva, cheia de estrangeiros dos quatro

    cantos do império persa, que ou só passavam por ali para

    comerciar ou mesmo fixavam residência, abrindo lojas, trazendo

    mais e mais dinheiro para a cidade. A democracia era bem vista

    porque apesar de somente os atenienses nativos participarem da

    assembleia, os estrangeiros sempre podiam pagar a um orador

    que defendesse as necessidades deles. Uma cidade libertária de

    costumes, onde o debate ocorria na praça do mercado – a Ágora

    – com a participação de todo que estivesse passando por ali no

    momento, homens, mulheres e até escravos, como Fedon de

    Elis. Atenas era o símbolo de um novo estilo grego de vida.

    4

    A VITÓRIA SOBRE OS PERSAS

    Foi Atenas que encabeçou a resistência contra os persas. Contra

    os persas. As cidades gregas se reuniram num exército de uns

    100 mil guerreiros e 500 navios de batalha, dos quais mais da

    metade eram atenienses, pois sendo a mais rica das cidade,

    podia custear mais dessas caríssimas máquinas de guerra naval,

    a trirreme de construção coríntia, capaz de levar 150 hoplitas, o soldado grego. A inteligência ardilosa de um almirante ateniense, Temístocles, derrotou a gigantesca esquadra persa no apertado

    Golfo de Salamina. Xerxes subiu em uma colina próxima para

    assistir a derrota dos gregos, mas o que viu foi a destruição de sua temida esquadra. Aconselhado por seus generais, Xerxes

    abandonou a Grécia (não sem antes de fato incendiar Atenas) e

    voltou para o Deserto do Irã, para seu palácio em Persépolis.

    Salamina salvou a raiz da cultura ocidental. Se os gregos fossem derrotados, a filosofia teria perdido seu berço e se atrasado em muitas centenas de anos, talvez um milênio.

    A FUNDAÇÃO DO IMPÉRIO ATENIENSE

    Então, vitoriosa, Atenas revelou-se hipócrita. Os políticos

    atenienses, hábeis em discursos enganosos, convenceram as

    outras cidades que seria necessário manter a esquadra formada

    para o caso dos persas retornarem. Vender um medo externo

    também foi a técnica usada por Hitler para acuar a nação alemã,

    ameaçando-a com o fantasma de União Soviética. Como Atenas

    tinha amis navios e gastava mais para mantê-los, obviamente,

    seria a cidade-chefe da Liga de Delos. Todas as cidades

    ‘concordaram’ com a administração ateniense da frota e em

    fornecer tributos para a manutenção dela. Depois, quando

    algumas cidades não quiseram pagar, Atenas usou a frota para

    humilhar e cobrar essas cidades. Atenas tornara-se a capital

    opressora de um império. Ela era democrática apenas dentro de

    seus muros. Fora deles, dominava com mão de ferro. Atenas

    ficou mais e mais rica, atraindo mais e mais estrangeiros que

    traziam mais e mais dinheiro. Logo Atenas se tornou um lugar

    onde a corrupção pública estava em todo lugar, o suborno era

    comum, a bajulação era o discurso do dia e os políticos

    acreditavam que seu cargo era um emprego e não um serviço á

    comunidade. Ninguém reclamava porque o dinheiro corria solto

    pelas ruas de Atenas. Apenas um homem reclamou, mostrando

    que Atenas estava caminhando para o abismo: Sócrates

    5

    2.O MERCADO DE SOFISMAS

    Quando o rei perguntou a Pitágoras se ele era um

    sábio ( sophìs, em grego) ele respondeu que não,

    que era apenas um philosóphos, um "amigo do

    saber". Ele foi humilde, pois entendia que

    existia o aprendizado constante de quem busca a

    sabedoria. No entanto, na rica e corrupta Atenas

    do séc. V a.C. apareceu um grupo de homens muito

    vistosos, com belas roupas, excelente oratória,

    que na praça do mercado anunciavam deter todo o

    saber e que podiam ensinar o que o cliente

    viesse a querer, desde que pagasse caro, bem

    caro pelas aulas. Platão, mais tarde,

    denominaria esses vendedores de saber pela

    palavra grega sophistas que podemos entender

    como sabidões, espertinhos, no sentido que

    são malandros o bastante para tirar vantagem de

    palavras vazias.

    O SHOW SOFISTA

    Esses professores ambulantes de conhecimento chegavam com

    estardalhaço em Atenas. Eles não iam para lá por acaso, sabiam

    que lá havia maus políticos interessados em um belo discurso e

    sabiam que Atenas tinha muito dinheiro. Os sofistas chegavam

    montados em belos cavalos, trazendo seus escravos, vários

    discípulos bajuladores e eram apresentados na praça pelos mais

    ricos de Atenas. Obviamente, os sofistas foram trazidos de longe por esses ricos que pagavam todas as despesas. O sofista

    apontava o homem rico – um político, um general, um juiz – e

    explicava à multidão que ele estava contratando o melhor

    professor de toda a Grécia para seus filhos, que se tornariam os futuros juízes e governantes de Atenas, o que mostrava o zelo

    daquele chefe de família pelo futuro da cidade. Os sofistas então pediam aplausos para si mesmos e se empertigava orgulhoso da

    fama que os precediam. Então o homem rico, mais orgulhoso

    ainda, solicitava que o sofista fizesse uma breve preleção sobre um tema, talvez as leis de Atenas, talvez as artes, talvez a

    necessidade de manutenção da Liga de Delos ou sobre os

    traidores espartanos. O sofista sorria e com largos gestos

    começava seu discurso. Era nessa hora que aparecia Sócrates.

    6

    A FIGURA DE SÓCRATES

    Considero a melhor figura feita de Sócrates a brevíssima

    descrição que Gore Vidal, escritor norte-americano, fez em seu

    belíssimo livro Criação: Sócrates como pintor de paredes, calmo e preso de reflexões. É uma obra ficcional, mas tem alta

    probabilidade de ser verdade no que cabe à figura de Sócrates,

    uma vez que o pai do pensador era oleiro e deve ter ensinado o

    filho a moldar tijolos, erguê-los em paredes e caiá-los. É

    fascinante imaginar um trabalhador manual, trajando roupas de

    serviço sujas de cal e gesso, voltando de um dia de pintura de

    paredes da casa de um ateniense rico, com a sujeira branca da

    tinta no cabelo e na barba, cansado, preocupado em comprar na

    Ágora – a praça do mercado, – com as poucas dracmas que

    recebera algo para suas filhas e sua esposa Xantipas comerem

    no jantar. Ele passaria despercebido entre as pessoas e

    ninguém daria a ele crédito a partir de sua aparência, tão

    contrastante era com a figura do sofista. Era por isso que ele

    conseguia se aproximar do sofista sem alarde: o povo formava

    uma roda à volta do ‘vendedor de sabedoria’ para ouvir o

    discurso e pouco a pouco Sócrates ia abrindo caminho até ficar

    frente a frente com ele. Então, de modo despretensioso, lançava

    suas temíveis perguntas.

    O CONSTRANGIMENTO PÚBLICO

    Sócrates não se preocupava se estava ou não constrangendo o

    sofista em praça pública. Certa vez ele se aproximou de Hípias

    Menor, sofista famoso, que lamentava que na Lacedemônia

    nada ensinara, porque lá se cumpria a lei das próprias famílias

    educarem os filhos. Sócrates, de pergunta em pergunta, acabou

    por fazer Hípias ‘provar’ que deveria ser contra a lei as famílias educarem seus próprios filhos e que o certo era pagar salário a

    ele, o estrangeiro Hípias, para educá-los para virem a ser

    verdadeiros cidadãos atenienses. Ninguém concordaria com

    uma proposta tão ridícula (pelo menos naquela época, hoje

    fazemos exatamente isso com nossos filhos). Obviamente, os

    ouvintes riram-se da ideia de Hípias. Em geral, depois de ser

    levado ao ridículo, em praça pública, por um pintor de paredes

    sujo de cal, o sofista se sentia mal. A diferença, depois, era que Sócrates iria dormir em sua própria e pobre casa, enquanto o

    sofista dormiria hospedado na casa do juiz, onde no jantar falaria contra o ‘tal Sócrates’ e daria falsos argumentos contra ele.

    7

    3.SABEDORIA É SABER-SE NÃO-SÁBIO

    A história de Sócrates começa com uma profecia

    do Oráculo de Delfos. Querofonte perguntou ao

    oráculo quem era o homem mais sábio de toda

    Grécia. A Pítia – a sacerdotisa que em transe

    falava pelo deus - surpreendentemente respondeu:

    Sócrates. Ora, Querofonte conhecia Sócrates:

    eram amigos desde crianças, ele era um bom

    pedreiro que se distraía pensando em problemas

    que ninguém entendia, tinha esposa e filhas e

    sempre estava na Ágora, em roupas sujas do

    trabalho, conversando até tarde ou até quando

    sua mulher, Xantipas, viesse arrastá-lo de volta

    para casa. Imagine só: Sócrates, o

    despretensioso pintor de paredes de Atenas era o

    homem mais sábio da Grécia!

    SÓCRATES BUSCA UM SÁBIO

    Sócrates foi o primeiro a ser tomado de surpresa. Por qual razão o deus o teria indicado como o mais sábio da Grécia se ali em

    Atenas os sofistas já brigavam por esse título e pareciam tão

    sábios, conhecedores de tanta coisa? Então ele, muito

    humildemente, saiu procurando uma verdadeira sabedoria,

    convicto de que o deus fora mal interpretado. Mas não teve

    sucesso. Por exemplo, Sócrates já ouvira aos artesãos dos

    estaleiros, experts em construir, em navegar e em fabricar navios, jactarem-se em praça pública de serem verdadeiros

    sábios. Sócrates foi questioná-los a respeito dessa sabedoria.

    Num icônico resumo cômico, a conversa poderia ter sido assim:

    - Senhor construtor naval, o que é um navio?

    - É algo que transporta cargas e pessoas por sobre as águas

    - Então uma ponte é também um navio, certo?

    - Não. Um navio flutua sobre a água

    - Então um tronco de árvore é também um navio, certo?

    - Não. Um navio é construído.

    - Então uma casa levada na enchente é um navio, certo?

    - Não. Todo navio tem velas, remos e marinheiros

    - Então a jangada, que não tem velas, não é um navio, certo?

    - É um tipo de navio, sim, mas sem velas e remos

    - Não compreendo. Afinal, o que é um navio?

    8

    - São as coisas que construo, caro Sócrates, isso! E pronto!

    - Se você fabricar um tambor ele será um navio?

    "- Suma, daqui, Sócrates, senão te afundarei num dos navios!

    - Navios afundam!? Então pedras são como navios, certo?

    Nessa hora o cidadão já estava apedrejando Sócrates. Este

    havia verificado, tristemente, que o construtor de navios não

    sabia o que fazia algo ser um navio e não outra coisa, como uma

    parede para se pintar, não sabia a definição, o conceito.

    Deixando de lado o texto humorístico, sabemos que o mesmo

    acontecia com todos os outros entrevistados por Sócrates: o

    ferreiro, o vidraceiro, o guerreiro, o poeta, o político e, por fim, o sofista. Este era o pior de todos. Sócrates perguntava a ele o que é um sábio? e ele dizia: sou eu! O sábio sou eu!

    A SABEDORIA HUMANA

    Obviamente, Sócrates não se preocupava com a construção

    naval, pois caiar paredes já era suficientemente complicado. Ele se preocupava com o tema mais grave que envolvia a vida social

    de Atenas: saber ser virtuoso. Sócrates havia descoberto o

    caminho da sabedoria: aceitar que não se sabe. Se aceitasse

    que não sabia, sempre deixaria a mente aberta para aprender. O

    sofista e a maioria das pessoas haviam fechado essa janela,

    pois diziam saber tudo. Ao se dizerem conhecedores dos objetos

    de suas profissões, fecharam-se para o aprendizado. Sócrates

    não, e isso o fez merecer o título de sábio dado pelo oráculo.

    Verificou que a verdadeira sabedoria era uma sabedoria

    humana, um saber sobre si mesmo, um saber sobre nossa

    natureza humana. Sócrates fez a pergunta muito difícil o que é o ser humano? e concluiu que o ser humano é a razão, a mente racional, a consciência, a personalidade intelectual e moral,

    aquilo que está acima do corpo físico.

    A PERGUNTA

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